segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sentidos do Amor



Amor, compaixão, solidariedade, amizade, medo. Sentimentos tão variados e abstratos serão colocados a prova nesse filme que mescla drama, romance e ficção, numa junção entre Ensaio sobre Cegueira de Fernando Meirelles e Contagion Steven Soderbergh. 

O que é o amor? Michael (Ewan McGregor) trabalha como cheff de cozinha num restaurante. Não é uma pessoa muito presa a relacionamentos e na primeira cena do longa podemos perceber isso. Seu amigo sempre lhe fala que um dia ele conhecerá o verdadeiro amor e irá sofrer por isso, como forma de castigo pela maneira que leva seus relacionamentos, mas ele tem algo a esconder. Num certo dia ele sai para fumar e simplesmente do nada conhece Susan (Eva Green)

Susan é jovem, bonita e possui uma carreira de sucesso, mas não tem a mesma sorte no amor, sente-se solitária. Vindo de um relacionamento que não deu certo, aos olhos dela, sente que jamais será feliz ou terá alguém para amar de verdade.

Os dois se conhecem, saem, trocam palavras, ficam juntos e se percebem apaixonados um pelo outro. Porém no meio desse vivenciamento, um fato muito estranho está acontecendo a todos no mundo. Sem nenhuma causa aparente, as pessoas estão entrando num profundo luto de dor e lágrimas para em seguida perderem a audição. O que começa com um, dois ou três sujeitos, se alastra para todos os continentes da terra. Na opinião dos profissionais da saude, isso não tem importância e é apenas passageiro. 

Mas aos poucos, todos vão perdendo a audição e quando uma fome voraz toma a todos para em seguida perderem o paladar, eles percebem que um grande mal está para acontecer e nada podem fazer para evitar esse fato. Medo e receio, afinal, o que acontecerá ao final, se todos os sentidos que nos move deixarem de existir. É com esse cenário apocalíptico que o diretor irá trabalhar sentimentos como amor, fé e esperança. 




Se num primeiro momento todos temem e se chocam, após o fato eles seguem adiante, pois a vida continua. O restaurante em que Michael trabalha exemplifica muito bem isso. Sempre após uma crise, uma perda do sentido, todos deixam de frequentar o local, mas com o passar dos dias todos retornam. É como se esse restaurante significasse essa aceitação da vida, dos problemas. Diante de uma tragédia o que se pode fazer? Nada, não adianta ter raiva, ódio ou se vingar do mundo, nos resta apenas aceitar nossa nova condição de vida, prova disso é a frase que sempre aparece no drama “a vida continua”.

Alternando drama, romance e existencialismo, o diretor nos entrega um filme extremamente tocante e reflexivo. Sem se deixar levar pelo fácil e finalizar essa história pela viés que todos desejam, ele ousa e entrega um desfecho soberbo. Não é objetivo do filme explicar esse fato ou tentar encontrar uma solução para ele, mas apenas analisar o homem diante do inevitável. Se tudo o que conhecemos está prestes a ruir, desmoronar, como nos deparar para com esse momento que está breve?

Com um fotografia gélida, fria e distante. Com um câmera que em certos momentos, fica apenas retida num canto, nos mostrando uma cena, uma ação ou um vazio e uma imagem num formato amador, quase sempre trêmula e que nos causa desconforto, esse drama nos conquista, nos confronta e nos faz pensar no que realmente temos de valor na vida.

“Sentidos do amor” gera desconforto, mas com o passar dos minutos, nos habitamos ao seu estilo e ao finalizar o filme, nem percebemos o seu modo tão particular. É essa temática que está impregnada no drama, com relação aos sentidos que se vão. No começo é estranho, complicado, inaceitável, mas com o passar dos dias, nos habituamos e aceitamos. E assim não é na vida diante de um mal, de um problema ou algo que não podemos de inicio compreender?

A voz em off assim como a trilha sonora são bem usadas. O silêncio é bem posto, conseguimos, por meio deste, sentir o que seus personagens sentem. A narração usada no começo e ao final dão um tom intimista ao drama, no meio do filme, isso meio que força a barra, não estraga a película, porém poderia ser evitada. O elenco esta ótimo, tanto Eva Green quanto Ewan McGrego desempenham seus papéis com sinceridade, ternura e voracidade. A cena final é a melhor, simplesmente nos perguntamos: então é assim?


domingo, 26 de agosto de 2012

O quinto passo


Jordan (Billy Bob Thornton) matou um homem e foi preso por esse crime. Pagou sua sentença e agora está livre, mas ainda ele se sente culpado, como se ainda não tivesse alcançado a verdadeira redenção ou o perdão desejado. O que fazer quando a culpa é maior que o arrependimento?

Após passar 23 anos na cadeia, ele resolve voltar pra sua antiga cidade e lá se depara com seu passado, quando por um motivo que até hoje não compreende, assassinou um garoto num loja de conveniência. Na cidade ele passa a ter a ajuda de um pastor, Mily Evans (Mogan Freeman), um homem sozinho que aluga o seu espaço como estacionamentos pra jovens que vão a um boate ao lado. Como forma de pagamento, os jovens tem que ouvir a palavra de Deus por 15 minutos.

Nessa cidade ele acaba por conhecer uma jovem, Sofia (Kirsten Duns), que sempre fica bêbada ao final da noite e precisa ser retirada da boate carregada. Ela é filha de uma que foi uma grande cantora, mas a realidade que aparenta ser não é tão bela assim de verdade. Ainda na cidade, ele sempre está de encontro com Adele (Holly Hunter), a irmã do jovem assassinado. Seu envolvimento com ela, levado pela curiosidade em saber como ela está toma caminhos complexos que nem ele entende.

Culpa e perdão, a busca pela redenção, por um recomeço, esse são os temas que vão nortear esses personagens. Com um tom intimista e dramático, longa busca na força da história e na culpa de seus personagens perdidos, anestesiados pela vida, pela dor e pelo passado uma forma de retratar como a vida pode ser dolorosa, como recomeçar é difícil e como o liberar o perdão verdadeiramente está tao distante de nós. Erramos, falhamos e agimos pelos sentimentos, a busca por nos sentirmos livres do passado é constante, porém esse passado jamais deixará de existir, o que fazer então?




 
Jordan acredita na busca de cinco passos para alcançar o perdão do pecado, o primeiro é reconhecer o que fez, o segundo o remorso, o terceiro, ser justo com seu próximo e tentar ajudar ao máximo, o quarto é pedir perdão a Deus e o quinto e último passo para se alcançar a redenção é estar no mesmo lugar e situação, porém agir de forma diferente. Na visão dele, esse passo jamais  poderá atingir, já que não tem como voltar o tempo.

Nessa busca de tentar e se ver diante de algo impossível, ele vai viver sua vida, sempre com um peso nos ombros e tendo o fantasma desse jovem o acompanhando em todos os cantos, como se fosse uma lembrança fixa e permanente do pecado cometido. É por meio dessa dor que ele quer expurgar, que ele ajudará Sofia a se encontrar na vida e aceitar sua situação e a Adele com seu filho que está passando por momentos delicados.

O filme tem um clima melancólico em todo momento, seja pela fotografia valorizando as cores frias e o cinza da cidade ou pelo inverno forte e gelado que permeia a todos. O diretor quer nos levar a sensibilizar com esses personagens. Talvez o único ponto fraco que faça desse drama mediano é o abuso da trilha sonora. Ora, menos é mais, porém aqui o diretor abusa desse recurso, deixando as cenas muito melodramáticas, tristes e dolorosas.

Apesar disso, o elenco está muito bem e o desfecho dado a esses personagens também foram bem interessantes. Algo simples, terno e verdadeiro. Nenhum perdão é dado do nada ou nenhum sentimento de culpa se dissipa derrepentemente, tudo é um processo lento e calmo.


sábado, 4 de agosto de 2012

Tiranossauro




Um  filme seco, cru e frio, onde não há espaço para momentos de ternura. Um drama em que sentimentos como amor e solidariedade são massacrados e a fé é provada constantemente. Assim é Tiranossauro.

Joseph (Peter Mullan) é um homem amargurado. Vive bêbado pelos cantos, provocando tudo e a todos. É solitário, seu único amigo, um cão, morre logo no começo do filme. Num acesso de raiva, ele o espanca, depois que percebe o que fez, o leva para casa, mas o animal não aguenta aos ferimentos. É assim como ele se sente na vida, como se matasse todos ao seu derredor, apesar de saber disso ele continua agindo da mesma forma. Ele culpa o mundo pelos seus problemas. Não gosta de receber ajuda, ou qualquer ato de bondade, é orgulhoso, arrogante e violento.

Num dia, quando algo lhe acontece, ele entra numa loja de roupas e lá fica parado, se escondendo da vida, do mundo e de todos. A dona da loja, Hannah (Olivia Colman), um mulher calma, sorridente e sempre disposta a ajudar as outros, tenta ajudá-lo, mas só recebe palavras ásperas. Sabendo que nada pode fazer por ele, o deixa ali.

No outro dia, ele retorna a loja para agradecer a ela, porém, termina por destratá-la novamente. Dessa vez, ela reage, o expulsa e chora, apesar dela não demonstrar, sua vida também não é um mar de rosas. Hannah é casada há anos, entretanto, sempre sofre nas mãos de seu marido todo e possível tipo de violência, seja física ou não. É humilhada, traída e espancada. Ainda nesse cenário tão dilacerante há um pequeno garoto que sempre conversa com Joseph. Ele sofre pela ausência de sua mãe e pelas provocações do seu “padrasto”. 



 
O diretor, com estes personagens, constrói um drama extremamente trágico, não que o filme siga a cartilha melodramático, porque o drama não é, mas não há momentos de felicidade para estas pessoas. A vida é dura, nem sempre temos sorte, e não há ninguém que possa nos socorrer, apenas nós mesmos. Somente nós podemos mudar ou tentar modificar o quadro de nossas vidas, seja a aceitando ou batendo de frente com ela.

Aqui temos dois personagens marcados pela dor e pela violência, um reage da mesma forma, outro aguenta calado tudo quanto sofre. Porém uma hora, toda dor sofrida será cobrada, será vivida, será expurgada. São com os extremos que o diretor toca nesse filme, encontrar um meio termo, entre reagir à violência e aceitá-la seria o mais “correto” para estes personagens. O diretor não os julga, apenas os mostra/coloca em situações extremas. E são nessas situações que seus personagens terão que lhe dar com seus sentimentos. A vida nos cobra e temos que pagar pelos nossos erros, pelos nosso atos, não há como fugir disso. Joseph pelo seus atos violentos, Hannah, pela suas ações provocadas pela dor e o ódio.

É difícil dizer que há uma momento de felicidade impregnado nos rostos destes personagens, mas é possível perceber uma clara e nítida aceitação da vida, aquela sensação de que não podemos fazer nada diante da vida, se não apenas abraçá-la aceitando o que ela tem a nos oferecer. Quando fazemos isso, já não sentimos rancor, dor, ódio ou raiva do próximo ou da vida, muito menos de nós mesmos. Uma paz nos toma, um refrigério nos acalma. 

A trilha sonora é bem trabalhada, a construção dos personagens é o que há de melhor. O elenco está ótimo. Não conhecemos muito do passado de cada um, apesar disso, nos apegamos a eles e defendemos seus sentimentos, compreendemos suas razões. Não há bons ou maus nesse mundo, há simplesmente pessoas e pessoas. Tiranossauro é um filme independente muito bem feito, com uma excelente análise de seus personagens, sempre se mantendo perto e longe ao mesmo tempo.



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Toda forma de Amor





Toda forma de amor, esse drama é sobre o amor, sobre esse sentimento tão nobre que não tem cor, sexo ou raça. Amamos e por meio do amor percebemos a vida. Mas não é apenas sobre esse sentimento que o filme quer abordar e falar. Quando nos sentimos perdidos, desorientados ou apenas desconexos do mundo, sem um motivo ou perspectiva aparente, o que podemos fazer? Ora, recomeçar não é tão simples, mas sim, ele é possível. Com um filme delicado e divertido, o diretor tenta nos dizer como é o “recomeçar” e como esse recomeço pode acontecer a qualquer momento ou diante de qualquer circunstância.

Oliver (Ewan McGregor) tem seus 40 anos e nenhum relacionamento estável que tenha dado certo. Ainda está vivendo o ludo do seu pai que faleceu a poucos meses. Se sente vazio, simplesmente, vazio. Numa noite ele conhece Anna (Mélaine Laurent) uma moça jovem, linda, divertida e que também não tem muita sorte com namoros. Se ele abandona seus relacionamentos, ela abandona a cidades, mudando sua vida, conforme os novos ares. Ou seja, esse relacionamento já se inicia fadado ao término, mas algo é diferente, ele está apaixonado por ela.

Enquanto isso, também conhecemos um pouco da história do pai de Oliver, Hal (Christopher Plummer). Após a morte da esposa, ele resolve se abrir para o filho e dizer que é gay, no caso, sempre foi. Numa época em que o homossexualismo era associado a doenças mentais, Hal buscou ajuda e renegou seus desejos. Casou, mas nunca escondeu para para sua esposa seu “problema”, mas também nunca a traiu ou vivenciou esse desejo. Porém, passado anos e tendo consciência de sua vida, e já viúvo, não há motivos, na visão dele, para não vivenciar sua verdadeira identidade. 



Oliver de cara leva um susto, pois afinal seu pai, o homem que sempre vislumbrou e admirou, mas ao tempo que nunca conheceu por completo, era homossexual. Porém, se esse “recomeçar” na vida de Hal foi uma mudança radical, outro fato acontece, ele descobre ter um câncer num estágio muito avançado. Recomeçar e recomeçar, tentar e tentar. É por meio das lembranças com seu pai, que Oliver vai buscar coordenar sua vida.

Toda forma de amor é divertido, e de certa forma arrojado. O longa começa com Oliver olhando para o cão de seu pai e conversando com ele, e de um jeito muito divertido, o cão também participa da conversa, respondendo ao seu dono. Com o passar dos dias, um entende o outro, um fica preso ao outro. O longa também se utiliza na montagem de narrações cheias de imagens, num discurso rápido, retratando a vida dos personagens e fazendo comparações com o contexto da época. O mundo estava mudando, mas ainda muitas eram as barreiras.

É percebível no longa uma clara defesa aos direitos dos homossexuais e a figura de Hal representa essa luta. Ele é um personagem marcado por sua essência, que se vê na condição de não poder vivenciá-la por causas dos preconceitos e moralismo de uma sociedade ou por tantos outros motivos que jamais compreenderemos. Mas quando ele decide recomeçar essa nova vida, ele sai do armário, bebe, festa e vive, cobra direitos, faz reuniões e se comove com a causa. Mesmo quando surge um novo imprevisto, um câncer, um mal, ele para, recomeça e se levanta novamente. 



Oliver é o outro tentando entender, observar e aceitar essa verdade. Ele se abala diante desse fato, tanto que ele nunca realmente se aproxima do namorado do pai no começo. Ele respeita, mas não aceita ou compreende de verdade. Só quando ele sente o amor como ele realmente é que ele aceita a morte do pai, a vida que possui e o que deve fazer para tentar ser feliz.

A trilha sonora do filme é bacana, divertida, a montagem é super genial, misturando acontecimentos reiais a ficção, sempre mostrando que essas duas realidades caminham juntas, com uma interferindo na outra. Mas o elenco é um dos pontos mais agradáveis, Ewan McGregor é um excelente ator que há tempos merece sua indicação ao Oscar. Carismático, introspectivo, consegue desenvolver seus personagens de forma única, porém Christopher Plummer fica com o destaque. Ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante por esse filme, ele empresta carisma, força e vida a um personagem marcado pelas condições da vida, sejam elas sociais ou não. 

O filme segue a cartilha independente, ora sendo guiado pela comédia suave, ora pelo drama sem ser muito trágico. Assuntos fortes são debatidos, defendidos e trabalhados, mas sempre com leveza e nada forçado. O elenco é ótimo, o cão merece também destaque pelas suas falas tão profundas. “Toda forma de amor” erra no título em português, mas não há problemas para um filme tão simpático e terno como esse.