quinta-feira, 31 de março de 2011

The Big C


Não há como não se divertir com essa história, não há como não se emocionar com esse drama
Laura Linney é uma atriz de talento e com muita credibilidade no meio cinematográfico. Vinda do teatro, ela fez poucas incursões no cinema, porém com belas atuações e sendo em sua maioria, papeis que lhe renderam excelentes críticas e ótimos resultados, fazendo dela uma grande atriz, pois não são todas as atrizes que com menos de quinze filmes em seu currículo conseguem duas indicações ao Oscar para o prêmio de melhor atriz.
E foi por meio desse caminho vivido dentro do cinema que lhe possibilitou dar vida a essa série tão carismática e sensível. Atuando como a atriz principal desse drama, ela assume também o cargo de produtora executiva da série, sendo que foi ela que conseguiu convencer uma pequena produtora, a Showtime, a investir nesse roteiro e produzir esse seriado que foi a surpresa desse ano de 2010 e que abocanhou uma indicação ao Globo de Ouro de melhor série comédia ou musical e rendeu a Laura Linney o prêmio de melhor atriz por sua atuação.
O drama conta a história de Cathy (Laura Linney), uma professora que tenta fazer de tudo para agradar a todos. Casada com Paul (Oliver Plat), percebe que não há mais paixão ou amor entre eles há tempos, mas permanece com o casamento, pois afinal, para que desmanchar esse relacionamento de anos, além do mais, seu filho Adam é ainda muito criança aos olhos dela, mesmo ele beirando os 15. Ela tem um irmão ainda mais problemático, fissurado por questões ambientais, ele vive na rua como mendigo, apenas por se posicionar contra o consumo degradante da sociedade capitalista.




Numa visita ao médico para verificar uma mancha que apareceu em suas costas, Todd, seu médico, realiza alguns exames, refaz todos por completo, mas descobre o pior: que ela está com câncer de pele em estágio terminal e que tem pouco tempo de vida e os tratamentos para tentar barrá-lo ou curá-la são limitados, devido ao grau de avanço em que se encontra a doença.
No começo ela não acredita, pois afinal, se sente bem e muito bem por sinal, só que aos poucos a ficha dela cai e vê o grau da verdade nessa notícia. Saindo do consultório, ela olha para toda sua vida e simplesmente se sente feliz, o motivo: ela não precisa mais se importar com os outros, pode mandar todos para o inferno e fazer tudo o que lhe tem de direito, pois afinal, ela tem câncer e irá morrer mesmo antes de esperado. Numa atitude espontânea ela expulsa o marido de casa, realiza uma jantar somente para ela, derrama vinho no sofá dela e o queima em seguida e resolve construir uma piscina no quintal de sua casa. Loucura não é, mas é com atitudes ao extremo, situações hilárias e uma história forte e intensa que The Bic C nos proporciona uma outra visão sobre essa doença. Ao invés de Cathy chorar pelos cantos, ela agradece e dá saltos e piruetas de alegria, pois sente que está finalmente viva e livre para fazer o que realmente deseja.






A série que teve uma temporada com 13 episódios mostrou essa professora em fortes altos e profundos baixos, sempre tentando recuperar o tempo perdido. Imaturidade, esse é o sentimento que ela quer viver, já que durante toda a vida optou pelo que era correto e certo. Ela se vê num posicionamento em que não há realização em seus anos, apesar de ter uma família, uma profissão, uma casa e tudo mais, ela acha que isso a sufoca, ao invés de consolá-la. O caminho que enfrentará para entender o que tem será lento, calmo e cheio de complicações, nada se dará de graça e tudo será de forma bem trabalhada, todos os erros, todos os comentários, atos e tentativas horríveis e desastrosas de se perceber a vida e vivê-la intensamente.
Nesse caminho louco, ela esconderá de todos a doença, se negará a fazer qualquer tipo de tratamento, pois em sua opinião, ela prefere morrer como está do que tentar uma cura que a maltratará e desencadeará fortes efeitos colaterais, sendo que ao final, a morte é o que estará a espera dela ao final de tudo, ou seja, tanto sofrimento em vão. Ela expulsará seu marido de casa, ele não entendendo nada, tentará convencê-la de receber ele de volta, só que essas tentativas apenas servirão para mostrar a ela o quanto ela perdeu tempo em sua vida. Com relação ao filho, sabendo que é mimado, ela vai fazer o possível e o impossível pra colocá-lo no caminho certo, sendo durona e muito próxima dele e proximidade é o que mais tentará com ele, obrigando ele a passar o verão com ela, conversando com ele sobre assuntos relacionados a sexo, e até vendo um filme pornô com ele e de certa forma, ultrapassando todos os limites de mãe: ligando para a garota que ele está interessado para dizer a ela que seu filho é muito tímido e que é ela quem terá que tomar as atitudes no relacionamento.






Mas também outros personagens terão presença na vida dela, depois de uma briga por causa da piscina, ela conhecerá e terá uma forte ligação com Marlene, sua vizinha. Ela será aquela em que ela poderá contar seus receios e medos, pois ela descobrirá que Cathy está doente e isso de uma forma muito estranha e nada comum e será Marlene também que irá abrir os olhos dela sobre o que está fazendo de sua vida. Outros personagens levam destaque, como seu médico Tood, que será mais do que um médico para ela, e sim um amigo e por fim, Mag, sua aluna, é outro objetivo de vida: não interessada nos estudos, Cathy assumirá o compromisso consigo mesma de tentar mostrar para essa aluna cabeça dura a importância dos estudos e como eles podem mudar a vida dela e propor uma melhor condição de vida.
Todos esses fatos serão mostrados com muita irreverência, será por meio da comédia que o drama ganhará presença e é devido a esse ponto que esse seriado conseguiu ser tão carismático. Há seriedade em todas as abordagens que fizeram, há o drama de ser ter essa doença, mas também há o desejo de tentar viver sem ter a noção sempre presente de ter uma doença que em breve consumirá toda a sua vida. Algumas pessoas criticaram a proposta do seriado no fato de Cathy não comentar sobre a doença com seus familiares, mas como a própria atriz comentou ao analisar o projeto, o ato de não contar faz parte de um caminho pelo qual a personagem terá que passar que a aceitação dessa doença. É somente após ela perceber a vida e todos os elementos dela e do que realmente significa a morte para ela e todos ao que estão ao redor dela, que ela dará valor ao viver e a real importância de se lutar pelo que tem.






Essa série lembra muito outro seriado que abordou a questão da morte de uma forma muito bela e sincera, sem ser muito sentimental e melosa que a “A sete palmos”. Naquele seriado, a morte estava presente constantemente em todos os episódios, pois era pela presença deste elemento que os integrantes daquela família conseguiam compreender a vida, já aqui a morte não se mostra tão claramente, mas apenas a sua ideia, a sua presença nivelada pelo fato de que em breve ela virá, sendo assim a personagem de Cathy vive com esse temor de que seus minutos são os últimos, suas ações serão as últimas, pois cada segundo valerá a pena, cada burrada, cada erro, cada tudo. É por meio dessa certeza que o seriado encontra um caminho e um rumo em abordar um tema tão forte que é a questão da morte, mas contrabalancear com o fato de que ainda há a vida e se ainda há fôlego, erros serão cometidos, mas acertos também.
Ao final da temporada,um personagem querido deixa a série. Para se perceber a vida, tem que haver a morte e a série encerra esse arco de forma muito sensível. The Big C foi renovada para uma segunda temporada, nesse sentido, Cathy terá mais um tempo de vida, só que agora, não haverá tanto espaços para erros. Alguns sentimentos foram revelados, alguns fatos foram compreendidos, digo isso pelo filho dela que entendeu o que significa ela ter essa doença. Se esse seriado terá mais de 4 temporadas é difícil dizer, pois afinal, já foi dado no começo da série a informação de que ela tem pouco tempo de vida, basta ela viver esse tempo da melhor forma possível e render a série ótimas histórias e temas interessantes.


domingo, 27 de março de 2011

Howl


Um filme que particularmente gostei bastante. A história do julgamento de uma obra que influenciou jovens e despertou uma geração e provocou revoltas nos mais moralistas e conservadores.

Howl, um drama divido em várias linhas narrativas, aborda a vida de Allen Ginsberg (James Franco) no momento em que criou a sua obra mais importante, o poema Howl, uma profunda declaração de seus sentimentos regadas por fortes passagens com termos ousados e pornográficos que retratava a visão de um jovem em suas viagens.

O poema, conjuntamente de outras obras, entre elas On the Road (Pé na estrada), marcou fortemente a literatura, sendo até conhecida até os dias atuais como a geração beatnik. Porém, esse poema, repleto de palavras obscenas, sofreu um processo nos Estados Unidos, devido ao seu conteúdo abusivo, sendo quase proibido a sua edição no país. É sobre esse fato que o filme trata, mas não apenas isso, por meio dessa história, o longa faz uma homenagem a esse poema e reconta a vida desse autor e dessa geração, com seus estilos, pensamentos e desejos.


A linha narrativa se divide em três momentos que se intercalam constantemente. A primeira é iniciada por meio de uma entrevista em que Ginsberg conta detalhes de sua vida a um jornalista. Por meio dessa narração, conhecemos a vida deste autor do momento em que ele entra na universidade, onde conhece seus primeiros amigos que o marcarão fortemente, até a escrita desse poema.

Por sua vida passam diversas pessoas e também amores, sendo ele homossexual, tem uma fraqueza em se interessar pelos seus amigos que são heterossexuais, nesse sentido, aparecem em sua vida três jovens que serão de grande importância para a sua escrita Jack Kerouac, que o influenciou fortemente, Neal Cassady, por quem desenvolveu uma forte paixão e Peter Orlovsky, seu companheiro de longa data.

A segunda linha é o processo em si que está sendo realizado. Na defesa, um advogado que tentará convencer o juiz da importância da obra e do seu real valor e na acusação outro usará todos os argumentos possíveis para mostrar como o livro não se enquadra no gênero literatura e que é apenas um amontoado de palavras desvairadas sem nexo cheia de conotações pornográficas.

E por fim, a terceira linha narrativa é a declamação pela primeira vez deste poema pelo próprio autor no ano de 1955 em São Francisco, junto de vários amigos, marcando assim a primeira manifestação pública do Movimento Beat, e para tentar representar as ideias contidas nas linhas deste poema, o longa mostra uma série de desenhos surrealistas do ilustrador Eric Drooker, que caminha conforme a declamação do texto de Ginsberg.


 O longa tem seu maior trunfo na entrega total de seu elenco e na direção ousada e gostosa. Seus personagens são profundos, a história contada é cativante e comovente e o longa consegue obter uma bela proeza que é repassar todos aqueles sentimentos despertados pela literatura, por meio de suas imagens, seja pelas cenas em preto e branco mostrando um jovem em busca de suas realizações pessoais e de se entender consigo mesmo ou dos desenhos hilários mostrados no decorrer do filme que são sensíveis, loucos e divertidos ao mesmo tempo, conseguindo assim, retratar esse poema tão emblemático.

Por meio dessas histórias, conhecemos um pouco melhor a pessoa que criou tal obra e quais foram os sentimentos despertados nele para criar esse poema. Talvez uma falha do filme, do roteiro no caso, esteja no fato dele não aprofundar os relacionamentos do autor com seus amigos mostrados no longa.

Todos são apresentados com certo trabalho e sensibilidade, mas nenhum com muito aprofundamento, outro erro foi em mostrar um Ginsberg sem falhas, muito didático. A relação com seu último namorado era aberta, mas isso não foi visto no longa, apenas comentado em texto ao final do drama e seria legal colocar essa informação dentro do filme, pois essa era uma característica do autor, de sua vida e que de certa forma, estavam refletidas em seus textos.


Mas apesar destes detalhes, o filme tem ótimos pontos positivos. Franco está formidável como Ginsberg, numa entrega total do ator em que até o tom da voz está ótima. O elenco de apoio também é composto por grandes nomes em boas atuações, Jown Harran como o advogado da defesa, apesar de aparecer em poucas cenas, estava bem seguro, os especialistas chamados para compor sua opinião sobre a obra também, Jeff Danils, como sempre, obtém uma pequena participação, porém boa e interessante.

Outro fator legal é a direção que mistura um estilo documentário, nas cenas em que Ginsberg concede uma entrevista retratando sua vida, ficção, nos momentos em que acompanhamos a vida dele, ainda na universidade, numa bela fotografia em preto e branco, reconstituindo fatos reais, e muita ousadia, ao colocar ilustrações para expressar e representar as ideias do poemas.

A três linhas caminham juntas, porém, uma passa a ter mais peso sobre a outra, pessoalmente considero a mais interessante a da vida do autor, rodada em preto e branco, seguida por declarações do autor sobre esses momentos, as cenas em que ele declama o texto também ficaram muito bacanas. Nela, todo o texto é lido de uma forma tão incrível, forte e extrema pelo ator, é essas cenas as mais cheias de sentimentos e por fim, a cena da audiência, da um tom importante ao filme, devido ao debate que se lança sobre a obra ser considerada uma literatura ou não, e se ela é de importância para o contexto social. Uma frase dita nessa cena marca bem o filme e explica muito, se esse livro seria importante ou não, o fato de estar sendo censurado e julgado já fez dela emblemática, a ponto de entrar para a história, como de fato aconteceu.


sexta-feira, 25 de março de 2011

Eu sou o amor

Filme italiano sobre família, tradições e desejos resguardados. Esse é um daqueles dramas bem arrastado, calmo, que parece que nunca caminha, mas que vai jogando situações de forma singela. Somente após ver o longa é que o espectador perceberá como o drama é profundo, convincente e que apesar de caminhar lentamente, ele guarda uma boa história com um bom desfecho.

O longa conta a história da família Recchi, a partir do momento em que o patriarca resolve deixar toda a herança para o filho Tancredo e seu neto Edo. A surpresa fica por conta do neto ter herdado conjuntamente do pai a empresa, já que ele nunca esteve ligado aos negócios da família. Edo possui um amigo que é chefe de cozinha, Antonio, que tem o sonho de abrir um restaurante servindo pratos mais requintados, da alta gastronomia e Edo o ajudará nessa empreitada. Nesse caminho, Antonio conhecerá Emma, a mãe de seu amigo, que aos poucos se envolverá com ele numa paixão tórrida e intensa.

O filme é isso, mas ele tem muitos mais detalhes. Edo é um homem extremamente sentimental e super ligado a mãe. Ele está noivo e em breve assumirá os negócios da empresa sem ter a menor noção de que seu pai e seu irmão estão com planos de vendê-la. Sua irmã mais nova não sabe o que fazer da vida, se lança ora na pintura, ora na fotografia, mas essas questões serão esclarecidas em breve quando ela perceber o que realmente quer. Emma, sua mãe, descobrirá esse segredo e ficará presa a uma sensação de não conhecer por completo seus filhos e que eles não estão mais ligados a ela. Ela por si só é russa, mas ao se casar com Tancredo, deixou todo o seu passado e sua nacionalidade para traz, dando vida a uma nova mulher, até inclusive, adotando um novo nome, Emma. Ela tenta ser como eles, uma italiana que segue os padrões de uma família apegada às tradições, engessada que não expressa os sentimentos e que vive na total aparência, porém por mais que tente, ainda ela não consegue, ela se destoa de todos, seja por sua postura ou por seu porte físico único que chama a atenção de longe.


Todos ali seguem a linha de uma família convencional, mas que guarda situações e sentimentos. O filho, Tancredo, está prestes a vender a empresa quando o pai queria que ele permanecesse com ela. A mãe percebe que a curiosidade de Emma por Antonio não está apenas nos pratos que ele prepara, mas ela nada faz ou nada comenta, como se esse detalhe fosse normal ou convencional acontecer. A filha de Emma percebe que está afim de sua professora e que gosta de mulheres, o único a quem ela conta isso é Edo, porém sua mãe descobre por acidente, mas permanece em silêncio até que sua filha pessoalmente conte a verdade. Nesse sentido, todos vivem escondendo o que pensam e o que sentem, como se isso fizesse parte deles, como se isso fosse comum.

O longa trabalha muito bem com as cores para demonstrar o exterior dos cenários e o interior dos personagens. Um clima frio, com uma fotografia gélida e cores em cinza para as paisagens em plano geral da cidade e tonalidades quentes e cores fortes para mostrar a casa dos Recchi. Por fora são frios, mas por dentro são quentes e calorosos.

A trilha sonora é outro ponto interessante do longa. Ela entra nas cenas mais fortes meio que guiando as sequências de imagens, lembrando muito os desenhos antigos da Disney em que a música era o enredo do filme. Nesses momentos, em que a trilha toma o comando da cena, não há mais a presença de falas ou ruídos ambientes, apenas a música numa sinfonia que causa angústia, dando a entender que algo vai acontecer e será algo tenso. O final do longa também é genial, há toda uma sequência de ação num pleno silêncio de palavras que se contrabalança com uma música que intensifica seu ritmo conforme os atos vão sendo cometidos. Não há explicação para tal fato, apenas tudo acontece de uma forma que ninguém previa, já sabíamos que isso iria acontecer e quais eram os motivos, porém mesmo assim, essa cena causa perplexidade e isso se dá devido ao trabalho excepcional da trilha sonora.


No elenco, os elogios vão para Tilda Swinton. Seu tom de voz e sua postura, seja na forma como ela olha o Chef de cozinha o desejando ou seja no medo de ir atrás dele, são excelentes. Uma ótima atuação que com certeza merecia uma indicação ao Oscar. Em falar nisso, essa é uma atriz que merece destaque, nos vários filmes em que esteve, sempre obteve ótima presença e postura e com atuações fortes, seja como a vilã em As crônicas de Nárnia ou como uma mulher de meia idade em O curioso caso de Benjamim Buton ou ainda com uma pequena participação, mas que deu muito certo em Flores perdidas.

O longa em si não é excelente, mas segue a linha dos filmes dramáticos que com calma, seriedade e tranquilidade, nos entrega um obra fascinante e cheia de detalhes que se percebe conforme vem as lembranças do filme ou quando o vê novamente. O longa não consegue prender muito a atenção de todos, já que ele é bem arrastado e não são todos que levam o filme até o final da película, entretanto é um é um drama que vale a pena conferir. Mais um detalhe, o título do longa Eu sou o amor é tosco, meloso e estraga as possibilidades de alguém querer vê-lo, um nome mais bacana seria Emma, já que o drama gira em torno dela. 




Ondine


Ondine, fábula moderna do diretor Neil Jordan, o mesmo do ótimo “Entrevista com um vampiro”, do suspense meia boca “A premonição” e do dramático e bem aceito pela crítica “Fim de caso”.

Nesse novo drama, Jordan se volta aos contos de fadas e sua terra natal para contar a história de Syracurse (Colin Farrell), um pescador que num certo dia puxa para o seu barco uma linda e misteriosa mulher (Alicja Bachleda) através de sua rede. Ela se intitula Ondine, aquela que veio do mar. Sem lembranças de quem é ou de como foi parar no mar quase morrendo afogada, ele a acolhe em seu lar. A filha de Syracurse, Annie (Alison Barry), é uma garotinha com sérios problemas de saude e ao saber de Ondine, acha e tem praticamente certeza que ela é uma sereia, uma criatura mágica, ou como dito por ela, uma espécie de foca que é capaz de se transformar numa mulher por um certo tempo. Enquanto Annie tenta provar para si mesma de tal fato, seu pai se apaixona perdidamente pela moça. Porém, assim como em todos os contos de fadas, há um perigo que os ronda e que está muito próximo deles.

Tudo no filme soa entre a realidade e a magia. Alguns acontecimentos fazem com que Syracurse pense realmente sobre a possibilidade de Ondine ser uma sereia: o excelente momento com a pesca que vem vivendo, em que nem ele acredita que esteja realmente acontecendo, o jeito como ela, simplesmente cantando, consegue atrair toda sorte de peixes e espécies marítimas, mesmo em época difíceis ou com condições mínimas para obtê-las e o principal, a forma como ele vai percebendo que pode ser feliz novamente. Tudo isso faz com que ele deseje essa fantasia ou queria apenas vivê-la.




O desejo dela em não ser vista, faz com que ele pense que ela seja uma ilusão, já que ele está em processo de abstinência e tem trabalhado muito nos últimos meses, mas ele também quer que essa história seja real, pois afinal, tanta realidade sobre a vida dele o fez um homem amargurado e triste. Com a filha doente e vivendo com a mãe alcoólatra, já que não conseguiu a guarda da menina e sempre esperando pelo pior, Syracurse insiste em acreditar nessa fantasia, pois seria para ele voltar a ter esperança, algo que ele havia perdido há muito tempo.

O drama segue essa linha da ambigüidade, sempre mostrando tudo pela subjetividade, nunca afirmando, mas também nunca contrariando esse pensamento surreal.

Rodado no norte da Irlanda, o filme possui belas paisagens em que o clima nórdico mais a fotografia fria, gélida e acinzentada dão um toque envolvente, terno e mágico ao longa. A trilha sonora é marcante, o destaque vai para a música cantada por Ondine e o instrumental utilizado sempre quando algo sobrenatural ou irreal está prestes a acontecer. Outro ponto bacana são os contrastes entre a luz e a câmera em certos momentos promovendo belas imagens.



A direção é sempre fantástica. O jogo de ilusão/verdade se perdura até os momentos finais. Até o espectador quer realmente saber se tudo o que presenciou é verdade ou apenas coincidências da vida. O elenco está formidável. Farrell faz muito tempo em que não conseguia uma atuação tão contida e verdadeira. Seu personagem é fechado e nada otimista, apenas mantém uma seriedade constante, até quando tudo parece irreal e isso é passado com firmeza pelo ator. Bachleda como Ondine é incrível. Sua atuação é firme e misteriosa, faz com que você realmente não saiba qual é a dela. Além de ser muito bonita, ela tem uma bela voz que é usada nas canções do filme, pelo menos isso tem uma explicação real, ela na verdade é cantora.

Barry como Annie começa legal, uma garota que apesar de ser pequena, não faz o tipo menina sofrida, doce e ingênua. Ela sabe de suas limitações e dos seus problemas e não aceita facilmente, mas vive e isso é transmitido corretamente pela atriz, infelizmente os elogios a ela duram pouco tempo, no meio para o final do longa, ela fica muito chata, a forma como leva essa história a sério a deixa insuportável.


E aí temos o final, após ficarmos minutos em frente a tela vendo uma história comovente, bela, mágica e real, temos o desfecho. Algo deve ser fechado e a resposta para tudo deve ser dada, pelo menos, dar a entender e esse é o único pecado o filme. Até eu que sou extremamente realista, e prefira mais a realidade do que a ilusão, gostaria que o filme seguisse essa linha dos contos de fadas. Tudo é explicado, há coerência e ligação entre os todos os pontos do drama, porém fica aquela sensação de que um conto poderia ser melhor.
Apesar desse detalhe, pois isso é um mero detalhe, ainda fica o conjunto da obra, um filme terno, simples, envolvente e mágico, que usa e abusa da dúvida e da incerteza para prender o espectador e entregar um instigante filme, não uma obra-prima, mas um bom filme. Afinal, a verdade está naquilo em que você acredita.





quinta-feira, 24 de março de 2011

Gattaca - Experiência Genética

Esse filme é bem antigo, década de noventa, para ser mais exato, o ano de lançamento foi 1997. O longa, uma ficção científica, aborda uma sociedade moderna (o ano não é estipulado) em que é possível, graças aos avanços da tecnologia e dos segredos da genética, escolher o filho que deseja ter, renegando as falhas, imperfeições, doenças e males que a criança poderia ter ao decorrer dos anos, ou seja, por meio de um processo, poderia se escolher o sexo do bebe, a cor da pele, dos olhos, cabelos e até ter conhecimento das tendências psicológicas. Nesse sentido, não haveria homens e mulheres imperfeitos, fracos ou limitados, pois todos seriam nascidos para obter os melhores resultados, estes são chamados “filhos da ciência”. Porém, em meio a tantos avanços, ainda haviam aqueles que adotavam o método antigo, inferior, natural, enfim, convencional. Esses por meio de apenas uma gota de sangue, poderia se ter conhecimento de todas as probabilidades a doenças, distúrbios psicológicos e até a estimativa de vida, dado as suas características genéticas.

Nesse novo mundo está Vincent Freeman (Ethan Hawke) um garoto que nasceu do acaso, da natureza e que possui inúmeras fraquezas genéticas que o faz inválido diante da sociedade praticamente perfeita. Nessa nova sociedade, não há mais questão de raça, cor de pele ou etnia, mas apenas os válidos, escolhidos geneticamente em laboratórios e os inválidos, nascidos do acaso, do modo convencional. Vincent é o primogênito dos seus pais, porém seu irmão nasceu em laboratório, escolhido a dedo pelos seus pais, isso fez com que ele sempre se sentisse inferior ao irmão em todos os quesitos, inclusive no amor dos pais. Prova desse sentimento é que seu irmão mais novo herdou o mesmo nome do pai.

Mas a vida ainda se complicaria mais com o passar dos anos, além de ser dito a ele que sua expectativa de vida era por volta dos 30 anos e que ele provavelmente morreria devido a problemas cardíacos, os sonhos de Vincent morreriam antes mesmo dele tentar colocá-los em prática. Seu sonho é ser astronauta, mas jamais poderia obter esse desejo, pois sua condição genética não o permite. Porém, anos se passam e ele para conseguir esse feito, se infiltrará numa corporação chamada Gattaca usando a identidade de outra pessoa, um válido. Quando seus objetivos estão prestes a serem realizados e ele poder obter a autorização de ir a uma viagem ao espaço, um assassinato acontece na corporação e isso coloca sua real identidade em exposição e sua fraude em jogo.


A abordagem desse filme, apesar de estar ligada mais a ficção, ela tem um pé em várias questões, como o preconceito sendo repaginado a outras questões, a busca por um sonho, mesmo que este seja inalcançável, os perigos envolvendo as questões genéticas e como essas podem trazer mais barreiras e problemas ao invés de soluções e como essas ainda podem ser falhas, tanto para o bem, quanto para o mal. Além disso, há questões familiares, um sentimento de solidariedade percorrendo o longa, mesmo que de forma indireta e uma questão existencial percorrendo um personagem.

Eu vi esse filme apenas uma vez, mas sua história me marcou muito. Se antes a ideia de homens criados em laboratório, com todas as perfeições que poderia existir como livres de doenças, das mais diversas até as mais complexas, era um fator interessante e positivo, nunca cheguei ao pensamento que isso poderia ocasionar um novo tipo de discriminação e preconceito, enfim, um problema Essa ideia exposta no filme, nos faz questionar como esses sentimentos de superioridade que nos percorre com relação aos outros possuí raízes ainda mais emblemáticas. Outro ponto forte do longa é com relação a perfeição destes homens, apesar de serem escolhidos para serem os melhores, eles ainda não escapam do fator destino incerto, prova disso é o personagem de Eugene Morrow (Jude Law), um homem com todas as características perfeitas para ser um grande vencedor, mas que devido a problemas e um acidente, ficou paraplégico ou o assassino que é descoberto ao final da história, que não possuía nenhum trajeto em seu código de tendências violentas.


O personagem de Vincent, apesar de ser o protagonista, é um dentre os vários cheios de nuances e detalhes, seu sonho é ser um astronauta, mesmo todos dizendo não, ele parte para a ilegalidade buscando este desejo, nesse sentido, um ato ilegal é justificado por um objeto mais nobre, nesse caso, há uma inversão de valores no quesito herói. Ethan Hawke está ótimo nesse papel, numa atuação firme, sufocante e visceral como um homem que precisa esconder a sua identidade para assumir uma outra e renegar seus jeitos, modos para incorporar um sujeito totalmente distinto de si, enfim, uma atuação rica em detalhes. Uma Thurmam como Irene é envolvente, ela transpira segredos, mas ela tem também a esconder.

O personagem de Morrow, em minha opinião, é o mais interessante, um sujeito que tinha tudo, mas que não possui nada e tem que se contentar em repassar sua vida para outra pessoa, para que seus gastos e o seu padrão de vida continuem e ainda sofrer a dor de ver que aquele que está se passando por ele, seja melhor do que ele foi em toda sua vida. A dor de saber que perdeu faz com que entendamos seus motivos ao final do longa. Ele já não tinha mais vida, apenas suportava a si mesmo. Outro personagem interessante é do detetive que está na cola de Vincent, ele tem muita ligação com esse caso e a ele ficará uma surpresa ao final.


Apesar da história ter um olhar tão pessimista para as questões científicas, o longa mostra pequenos detalhes de ternura e solidariedade, isso de forma indireta. Pessoas que mesmo tendo conhecimento da fraude de Vincent o ajudaram, mesmo sem ele ter conhecimento. Esses personagens e suas ações demonstram que em meio a tanta imperfeição geradas por uma busca pela perfeição, há ainda sentimentos tão humanos. Eles veem a luta dele e entendem o esforço de Vincent e o final é extremamente comovente e belo. Nunca gostei de fim de filme que acabasse com voz em off, mas a desse longa é simplesmente espetacular, uma pequena frase, mas que consegue captar toda ideia, emoção e sentimentos do filme.

A direção fica por conta de Andrew Niccol, esse sendo seu primeiro trabalho como diretor e roteirista mostrou um filme genial. Mesmo se passando mais de dez anos, a história do filme ainda continua bem atual em algumas questões como os estudos sobre o código genético a respeito das doenças que poderemos ter quando adulto, males esses que podem ser descobertos ainda quando crianças. Niccol ainda fez ótimos trabalhos dentro do cinema, é dele a direção e o roteiro do gracioso e excelente “O show de Trumam”, o roteiro do interessante “O terminal” e do bem feito, direto e ousado “Senhor das armas”. Um diretor brilhante, com excelentes projetos, boas histórias e competentes filmes. Por fim, esse é um drama extremamente bacana, que possui diversas linhas de pensamento, se for citar todas as que percebi ao vê-lo, os texto ficará um pouco grande, mas há uma única certeza, esse longa é muito bom.  




quarta-feira, 23 de março de 2011

O abrigo

Shelter, ou “O abrigo” em português, é um suspense psicológico, que apesar dos inúmeros clichês, consegue ter uma boa história, drama e o principal, um final coerente e que não apela pra redenção de seus personagens.
Julianne Moore é Cara, uma psicóloga determinada a provar a inexistência de dupla personalidade. Ela trabalha averiguando e analisando diversos casos de assassinos que para tentarem escapar da pena de morte alegam esse fato. Sendo assim, ela consegue provar que este argumento não existe, levando os suspeitos a serem condenados. Apesar de se fixar na ideia de não aceitar o conceito desses assassinos, ela sente um peso por essas mortes e isso fica claro no começo do filme, quando após dar sua opinião profissional em torno de um caso e ele ser condenado.
Mas seu pai a apresenta a um homem que diz ter esse problema, ou melhor, aparenta ter. No começo, ela acha bobagem, mais um homem tentando alegar algo que não existe, em sua opinião, porém, com o desenrolar da história, ela percebe que há algo muito maior por de traz daquele sujeito, a levando a trilhar um caminho perigoso, em que possíveis barreiras serão quebradas.



Jonatham Rhys Meyers, o Henrique da série “Os Tudors” é Adam, o paciente que transparece ter não apenas duas personalidades, mas diversas, mostrando a Cara que seus argumentos são irreais. Passa a passo, quando ela cria novas teorias para quebrar a ideia em torno deste paciente, ele apresenta novos argumentos que a levam a questionar seus valores. Apesar de  Cara ser uma mulher que se apega a ciência para a explicação dos fatos, ela ainda não deixa de crer em Deus, mesmo sabendo que certas teorias podem ser compreendidas e alguns mistérios que cercam a mente humana desvendados.
O filme que começa com uma premissa de drama psicológico, tipo “A identidade”, se revela no decorrer da história como algo correlacionado com certas crenças, folclores, misticismos que estão ligados a religião é fé. O drama, como dito anteriormente, apesar de ser bem clichê e ter aquelas velhas fórmulas para assustar, consegue manter uma boa trama, tendo momentos únicos, situações desconexas e um final interessante.



A trilha sonora no filme é casual, normal, simples. Composta por um instrumental pesado e leve, angustiante, tenso, introspectivo e denso, ela consegue nos impactar, causar tensão nos preparar para o que veremos a seguir. O problema é que ela nos prepara tão bem que quando vem a cena, já não estamos mais surpresos.
A fotografia do longa, em alguns momentos, consegue nos dar ótimos planos. Prevalecendo cores escuras como o azul, cinza e tonalidades nesse meio, sempre cintilantes, com um visual sombrio, porém bem iluminado, o longa apresenta momentos únicos de beleza, como na cena em que Cara está num celeiro e há diversos papéis e folhas de partituras. A cena muito bem fotografada, capturada com um bom plano e fazendo um contra campo com o vermelho da roupa dela, nos dá a entender vários significados, dentre eles, hum, por qual motivo, aquele vermelho se sobressaiu, pois me recuso a aceitar que o diretor o usou apenas por achar que ficaria bonito na cena. As paisagens são também outro forte do filme, destaque para as florestas.



O elenco está muito bem, Julianne Moore, como em vários papéis ultimamente, consegue imprimir uma atuação séria, pesada, consistente, porém ao mesmo tempo, delicada e suave, ela simplesmente leva o filme. Uma protagonista com presença. Meyers também está bem no papel, apesar deste personagem exigir muito dele, ele consegue mostrar apenas com o tom da voz e expressão facial, as diversas diferenças em cada personalidade distinta.
O roteiro do filme é correto, bem amarrado e coerente. Apesar de no meio do longa, percebermos onde chegaremos e o que virá a seguir, ele consegue ficar bem coeso com todos os fatos apresentado no decorrer do drama. O único porém que fica são duas questões que não compreendi. A primeira é o motivo e a segunda está ligada a questão do tempo, como essa não o afetou. Isso não fica claro com exatidão.
O abrigo é um bom drama, com pitadas de suspense psicológico, que beira os segredos além dessa vida, que consegue fazer uma junção quase perfeita destes dois temas. O filme ainda não foi lançado no Brasil, nos cinemas no caso, mas não sei por qual motivo, pois tem tudo para obter uma boa bilheteria. Um bom e conhecido elenco (Morre e Meyers), uma boa direção, uma história bem contada e um final interessante. 




A arte de viver

Esse filme é um pouco antigo, é do ano de 1999 e bem pouco comentado, para se ter uma ideia, nem imagens consegui de fato na internet. A história é simples, há uns apelos embutidos no drama para que cause algumas lágrimas, mas o longa tem uma estrutura em cima da questão da imaginação e de como ela nos ajuda a suportar os males da vida, de uma forma muito bacana, comovente e até em certo ponto, meiga.

No longa conhecemos Mary, uma garota extremamente doente, sua irmã, Ann, para conseguir manter as despesas com remédios e os gastos rotineiros do dia como comida e lar, acaba por prostituir-se todas as noites e para suportar tal realidade, passa a usar drogas, ficando assim em boa parte dos programas drogada. Anos atrás Ann escreveu um livro de poemas que a ajudou financeiramente por um tempo. Um desse livro parou nas mãos de um prisioneiro, após ler os poemas, ele enviou uma carta para ela, agradecendo por ter escrito aquela obra, pois foi devido a ela que conseguiu suportar muitos dias na prisão. Ann, não querendo ler a carta, a deixa no canto, sua irmã a pega e ela mesmo passa a se corresponder com esse prisioneiro, iniciando assim, uma série de cartas. Ao mesmo tempo que isso acontece, um jovem muito silencioso e aparentemente sozinho se muda para o apartamento ao lado. Mary se interessa por ele e o convida para jantar, já sua irmã o acha meio estranho. Aos poucos, ele passa a também criar laços de amizade por Ann e por fim, as duas têm um grande amigo que as ajudam em diversos momentos, um professor, que em muitos casos, entra como um pai na história.

Dor, esse sentimento percorre a vida de todos esses personagens. A realidade tão dolorosa e dilacerante está presente na vida de cada um deles e todos tentam, de uma forma, sobreviver a ela por meio de um escape, uma fuga. É nesse ponto que se concentra a beleza desse filme. Mary se lança em sua imaginação, seja por meio de um livro, ou por meio de sua preocupação com um homem que está perdido no espaço. Ann mergulha cada vez mais nas drogas, o jovem vizinho delas, na música em que ouve todas noites, que o faz lembrar da sua família, o prisioneiro, nos poemas de Ann e nas cartas que escreve para ela e o professor, em seus livros. Mas por mais que tentamos nos desligar desse mundo, é a essa realidade que pertencemos, e uma hora ou outra, ela se levantará fortemente contra nós. Aceitá-la e continuar caminhando apesar de tudo é que tentamos aprender em nossas vidas.

O filme trabalha com a imaginação, percorrendo a personagem de Mary, de um jeito muito encantador. A todo tempo, realidade e sonhos se misturam. O quarto brilha intensamente, um sol aparece do nada na tela, o livro colorido dela ganha vida e nos mostra um astronauta perdido no espaço tentando alcançá-la e o final, que claro, não irei comentar, que também se utiliza desse recurso para deixar a cena menos trágica e mais sensível é de uma beleza única.

Dentre os atores, todos estão bem, mas o personagem do vizinho, que tem o seu nome revelado ao final do filme é o mais comovente e gracioso. Sua atuação é singela, quieta, segura, sem ser sofredora ou nos causar sentimento de pena. Sua aproximação com Mary será de forma delicada e com Ann também. É percebível o interesse dele pela Ann, porém mesmo assim, ele trata a pequena com tanta sinceridade e ternura que apenas fortalece essa amizade e até confunde os sentimentos dela. A única falha com relação ao seu personagem é pelo fato de não explicar corretamente o passado dele. O personagem do professor fica meio vago, perdido no drama. Ele está lá para ser um amigo, um pai, ou aquele que tenta mostrar a todos os custos a verdade para Ann, porém, mesmo assim, ele se destoa de todos do elenco. O prisioneiro foi bem inserido no filme, com sua história apenas sendo retratada por pequenas lembranças, isso faz com que nos identifiquemos com esse sujeito.

O trabalho com a iluminação separando flash, ilusão e realidade foi bem trabalhado. O drama é simples, possui alguns momentos muitos bonitos, como a relação de Mary com seu vizinho e a cena final, meio que metafórica, mas algumas cenas são desnecessárias, como as que estão próximas ao desfecho do longa.

Por falar nisso, esse fim que fica em aberto com a narração em off estraga o  desfecho. Ainda não entendo por qual motivo, todos os dramas usam esse recurso, mas tudo bem, a forma como o diretor guia todo o longa, misturando realidade e ilusão e nos mostrando como sonhar é preciso, não apenas por ser um escape, mas por ser uma forma de ainda percebermos a vida, compensa esse final meloso e nada criativo para um filme tão singelo e sincero nos seus sentimentos e nas suas propostas. 

terça-feira, 22 de março de 2011

Tudo é muito complicado



Lendo uma coluna no jornal de um domingo da Folha de Londrina, na seção Folha 2, havia uma leitora perguntando para a colunista se deveria se encontrar com um jovem que já faziam tempos que estavam conversando pela internet. Trocaram fotos, pensamentos e gostos, mas ainda estava com receio, se ele poderia achá-la meio fofinha e por conta disso, não continuar essa pouca relação que tinham.

Lendo, pensei, será que ela pediu para que essa informação ficasse em off, pois uma coisa é fato, sempre quando falar algo para um jornalista, diga isso, pois se não, o assunto torna-se em material e personagem principal de reportagem da semana.

A idéia a que cheguei é como somos frágeis, temos medo de tudo, até de levar um não por alguém que nem conhecemos realmente. Ousadia não é para todos e os que têm, a usam exacerbadamente, e isso também não é saudável.

Outro dia, vendo um filme, Amor aos pedaços, percebi que tudo é tão complicado, estar com alguém, esquecer de outro alguém, começar com alguém. É realmente complicado, ou somos nós que complicamos tudo. Eu penso pela segunda hipótese. Como sempre, temos medo, e então por isso, agimos complexando todos os detalhes que podem surgir em nossas vidas: um emprego, uma carreira, uma continuidade, um caminho a seguir, uma amizade, uma possível relação.

E o pior de tudo isso é perceber esses detalhes vendo um filme, já não basta a vida diante dos meus olhos, é, o ditado popular cai bem aqui, o pior cego é aquele que não quer ver.


 

Um pouco de literatura: Até mais, vejo você amanhã


Livros são algo complicado, saber comprar uma obra, dá muito trabalho. Ler e perceber que não está gostando é uma sensação muita chata, afinal, terminar ou não, mesmo se a leitura não está sendo das melhores. Às vezes, há uma esperança de que a trama resolva andar, ser mais atraente e tenha aquele ar de curiosidade em saber o que acontece mais adiante, mais ao final, ou, como que essa história será fechada?

Comecei a ler esse livro há um tempo, achei o começo meio enfadonho, insisti, não resisti e o deixei de lado. Após um tempo, depois de ter lido tudo o que podia ler e estava cansado dos livros sobre música, cinema, psicologia e violência (bibliografia do meu TCC) resolvi voltar as minhas atenções para essa história novamente, com o objetivo de ir até o final e para a minha grata surpresa, a obra guarda um drama sensível sobre erros que cometemos na vida e por mais que queiramos concertar, nada podemos mais fazer.

O livro é um pouco complicado, por isso o começo cause um estranhamento. Acompanhamos a vida de um homem que por curiosidade do passado, resolve voltar o tempo e contar sobre a sua história. Assim conhecemos um garoto que perdeu a mãe cedo, sendo um pouco fechado (ele tornara-se escritor quando adulto), aos olhos dele, foi o que mais sofreu pela perda. Seu pai, não muito ligado a demonstrar sentimentos, teve que arcar em cuidar de uma família grande com todos os filhos pequenos. Passado um tempo, pouco tempo frisado pelo narrador, seu pai se envolveu com sua professora de música e anos mais tarde, assim que pôde, para não causar falatório, se casaram. Eles se mudaram para outra casa bem mais confortável e lá ele não tendo amigos, permaneceu sozinho até que um dia conheceu um garoto. Esse menino era meio calado e com certa desenvoltura e ainda retraído resolveu brincar com ele em cima dos detalhados de uma casa em construção. Após esse primeiro contato, todos os dias esses dois garotos passaram a ter um encontro marcado naquele local: sem trocarem nunca uma única palavra, apenas brincavam.

Um fato marcou a cidade e também essa amizade tão silenciosa, um homem morreu, foi assassinado por um antigo vizinho. O acusado foi justamente o pai do garoto. Após isso, nunca mais o vera para brincar. Por meio desse fatídico acontecimento que já sabemos de antemão, somos levados a conhecer uma história sobre uma amizade entre dois homens que é abalada por um desejo e um amor complicado e perigoso. Tudo começa a ruir a partir do momento em que um se apaixona perdidamente pela mulher do outro e passa a ter um caso com ela. Nessa história de traições, o final não será nada feliz para todos os envolvidos.

Essa é a abordagem desse livro, misturando essas duas histórias, trafegamos por essas duas tramas, em uma, há um drama sobre um garoto que tenta superar a morte da mãe e o rápido envolvimento do pai com a professora e outra, sobre dois amigos que tem sua amizade finalizada de uma forma trágica por conta de uma traição, da mulher e do amigo.

A obra inícia com uma história, finaliza e começa com a outra e assim progressivamente. Elas apenas serão intercaladas ao final. O momento final é o fato que inicia a livro, a morte de um homem. Apesar de serem dois dramas num só livro, a autor consegue levar bem esses dois temas. Nos apegamos ao narrador e conseguimos compreender a sua dor, da mesma forma como nos sensibilizamos com os dois amigos e pela mudança nos sentimentos e nos caminhos que essas duas famílias tomam em suas vidas. Somos apresentados a esses dois homens, suas mulheres e seus filhos também, até o cão tem presença marcante no livro e um final tão comovente quanto doloroso.

A dor é dilacerante, todos somos afetados por ela e contra ela agimos de formas diferentes. É uma ferida que corrói até a última gota de alegria, ou sustentação da vida. Nesse livro, há dois garotos que são marcados terrivelmente pela morte de pessoas próximas a eles, no caso de um é a mãe e a do outro, o pai que após matar seu melhor amigo, se mata, se lançando num poço de água.

Mas além desse fato, há outro sentimento de dor que acompanha esse escritor que somente é nos revelado ao final do livro. Um ato que ele comete e que o atormenta e está ligado a esse amigo que ele teve por pouco tempo. Por meio dessa narração, ele tenta entender esse passado, suas dores e as dores desse garoto, mas não apenas as feridas, mas também os motivos que levaram todos a esse destino.

Uma obra instigante, bem escrita, envolvente, que apesar de começar calma e sem graça, ganha peso e estrutura com o desenvolver dos acontecimentos e chega ao um clímax de tensão e agonia e o mais interessante é que, o ponto em que culmina todo o drama, nós leitores, já temos o conhecimento. O autor trabalha com um fato já revelado para nos levar a entender como tudo aconteceu, nos leva a tentar compreender como isso chegou a esse ponto. Não há surpresas, mas uma história bem amarrada.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Vamos comigo


Vamos comigo, hoje percebo as chances que posso ter na vida. Vamos comigo por caminhos, estradas e destinos incógnitos, encontrar e sentir o desconhecido, entendê-lo e vivê-lo.
Vamos comigo a um lugar de brisa suave, aroma agradável, em que os nossos sorrisos serão de criança depois de ganhar um simples sorvete, correr por um campo, tão verde e manso, com um céu tão azul e nuvens com os tamanhos e as formas mais engraçadas.
Um olhar de curiosidade, uma mente aberta, um sorriso sincero, uma lágrima de ternura.
Há um lugar em que tudo isso pode ser real, e tão vivo e forte, como a batida da vida, como o ritmo que há em nosso coração e nos move por entre os descaminhos do nosso cotidiano.
Sorrir com um sorriso de uma criança, chorar com lágrimas de gratidão, correr como nunca, sentir um vento leve e suave como um mergulho.
Assim é sonhar, é imaginar, é viver. Isso pode ser tolo, bobo, ser piegas ou auto-ajuda, pode ser tudo e mais um pouco, tudo o que existe para ser, sem medos e receios.