sábado, 27 de julho de 2013

Eu e Tu




Lorenzo (Jacopo Olmo Antinori) tem 14 anos. É um garoto solitário e sem amigos, sempre calado e sussegado. Não encara a solidão como algo horrível, na verdade, ele nem liga muito para tudo isso. Acaba as aulas no colégio, ele se retira pra um canto do corredor e lá permanece apenas escutando músicas. Seus olhos viajam em sua solidão. Nada prende sua atenção.

Quando a escola está com planos de levar toda turma a umas férias para esquiar, Lorenzo mente para a mãe dizendo que irá, mas pega o dinheiro da viagem e gasta em matimentos. Sua ideia é passar essa semana inteira no sotão da casa sozinho, sem ninguém para o importunar. Esse é o seu desejo, uma semana longe de tudo, amigos, familia, professores ou qualquer ideia que possa se relacionar numa convivência com o "outro".

Tudo sai conforme o planejado até que Olivia (Tea Falco), sua meia-irmã por parte do pai, resolve aparecer pedindo ajuda. Ela está em processo de abstinência e precisa de um local para ficar. Os dois não tem uma convivência, na verdade, nem se conhecem. É nesse embate que de certa forma se entenderão. 

"Eu e Tu" é simples em sua estrutura. A história de dois jovens num local e que fazem desde alojamento todo o universo que eles precisam naquele momento. Essa retirada significa para ambos um refúgio, um esconderijo, um lugar de paz e sossego. Porém a presença do "outro" faz com que eles encarem à suas próprias falhas e medos. 
Nesse drama, apesar de reinar a simplicidade, alguns elementos fazem toda diferença. A figura do pai, apesar de ser sempre comentada, nunca se faz presente. Ora, um símbolo de autoritarismo, limites e imposição. Essa imagem não está ali, sua ideia sim, mas sua materialização não. Nesse sentido, estes dois jovens sempre ficam preso a esse pai que não está presente na vida deles, um medo real mas invisível. 

Essa fígura do pai despertará em cada um sentimentos diferentes, seja em Lorenso, partindo para uma admiração ou Olívia por uma renúncia. Cada um deles tem uma história diferente para com esse sujeito e cada um tem uma barreira em sua vida que precisa ser quebrada e enfrentada. Em Lorezenso é a incapacidade de se relacionar e o medo de viver, em Olivia são as droga e tudo o que ela pode representar. 

A figura da mãe de Lorenzo aparece pouco em cena, mas ela nos transmite uma ideia de superproteção, ao mesmo tempo que sugere elementos sexuais, isso se percebe pela conversa do filho para com a mãe. Por qual motivo esse assunto e esse diálogo foi inserido, fica a dúvida. Se bem que, o drama possui algumas falhas no roteiro, como o próprio personagem desse garoto. No começo do longa, numa conversa com um homem, algo fica meio que oculto sobre algo que aconteceu a Lorenzo, mas em nenhum momento da trama isso é revelado. 

Bernardo Bertolucci nos mostra aqui os dramas de uma juventude marcada ou pelo excesso de amor, ou pelo excesso de um autoritarismo e uma ausência. As mudanças que a vida pede, que ela exige eles a temem e fogem dela, seja pela solidão, ou pelas drogas. Lorenzo diante da irmã em processo de abstinência percebe a vida diante dos seus olhos. Olivia, diante do irmão, percebe uma chance para recomeçar. 

Após uma década, desde seu último trabalho, "Os Sonhadores", Bertolucci retorna aqui com uma produção mais simples, mas ainda sim, com seus olhos voltados aos jovens. Mas aqui não há mais as questões envolvendo política, jovens com posturas fortes e ousadas. Aqui há uma juventude com medo, receio, presa em seu mundo buscando uma ideia, uma pergunta, uma luta, enfim, uma vida. Tanto Lorenzo, quanto Olivia estão resguardados, com medo da vida, querendo, mas não sabendo como se exprimirem, por conta disso, se voltam para si em seus mundos criados por eles mesmo. Lorenzo em seu silêncio, onde não há vozes ou sujeitos e Olivia nas drogas, onde não há sensação ou medo. 

Com uma trilha sonora bem trabalhada, o longa tem uma boa edição e bem movimentado nas ações. A trama obedece aquela linha de estranhamento entre os dois sujeitos, um certo entrosamento e partindo para uma forte ligação. Alguns elementos poderiam ser trabalhados melhor no drama, como a relação do pai e como cada um se sente diante dele, ou como a vida de cada um seguiu e tomou rumos diferentes. 

Apesar disso, o diretor resolveu focar apenas no lado mais terno da relação entre estes dois irmãos que não se conhecem direito, mas que vê nessa possibilidade uma chance de se descobrirem e descobrirem o outro e perceber que em meio a tanta diferenças, entre eles há muitas semelhanças.