sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O Doce Amanhã




Fale suavemente, olhe para cima, e atire menos, com mais cuidado. 
Cante mais docemente e olhe um pouco mais e logo você vai estar lá. 
Aqui, tudo o que temos é o céu. Como o céu tão azul, como o azul, mais um colorido, mais um colorido.

Um advogado chega à uma pequena cidade no interior do Canadá. Sua intenção é convencer a todos a processarem a empresa responsável pelos ônibus escolares exigindo uma indenização. No caso, um acidente provocou a morte de mais de vinte crianças, todos os pequenos da cidade morreram e o luto se abateu sobre toda essa comunidade. Mitchell Stephens (Ian Holm),o advogado, também possui seus próprios traumas, ele perdeu sua filha para as drogas. 

"O doce Amanhã" é um filme calmo, lento, instrospectivo e singelo, um drama em que somente com o passar dos minutos, vamos compreendendo toda a dor de seus personagens. 

O longa aborda três histórias, sendo vividas em tempo distintos, mas isso só percebemos com o decorrer dos minutos. Há uma trama nos apresentando a cidade e seus moradores antes do acidente. Cores vivas, um sol quente, sorriso por todas os lados e crianças brincando, a felicidade está na simplicidade dos pequenos atos e os moradores da cidade se sentem assim. Nesse meio, conhecemos cada família que será de grande importância para a trama e também, com o denserolar dos acontecimentos, vamos conhecendo também as imperfeições desta cidade, aquele lado que todos queremos esconder, mas que ainda sim, existem em nós: nossos pecados. Temas como traição e incesto são abordados de forma muito leve e quase natural.


Vemos também um outro tempo, a cidade após o acidente de ônibus. Após esse trágico acontecimento, todos morrem em vida, todos parecem mortos, pálidos, frios, distantes e amargurados. O frio do inverno ganha presença, nem o calor da lareira consegue esquentar essas pessoas. Nesse momento é que entra a fígura de Stephens. Ele representa toda dor que quer ser expurgada, ser esquecida. Ele incita, provoca, manipula e direciona os sentimentos. Ele deseja com que todos da cidade tenham um responsável a quem culpar, a quem direcionar sua raiva, mas nessa vida, náo há culpados, nem responsáveis ou  vítimas, há simplesmente a vida. 

Uma terceira trama caminha juntamente com todos os acontecimentos da cidade.  Stephens também tem seus traumas. Sua filha se perdeu no mundo das drogas e ao seus olhos, ela já está morta. Ele não consegue mais encara-lá, busca-lá ou acreditar que esteja bem ou viva. A morte é a solução para ele. Assim como os moradores desta cidade, ele quer também encontrar um culpado. Quando sua filha era pequena, ela ficou entre a vida e a morte, mas ele a salvou, a tirou daquilo que poderia causar sua morte, mas agora não. Quem é o culpado por esse fato? Por esse destino? Nesse momento, vemos um homem com suas limitações e dores. 

Essas três tramas correm paralelamente e se intercalando constantemente. Metáforas, são com elas que o diretor irá trabalhar toda o longa. É o carro numa lava-rápidos que tem todo o seu exterior lavado por águas e seu interior ainda sim intocado. É o frio que congela a alma e que nenhum calor é capaz de fazer vencer esse inverno, a madeira envelhecida pela ação do tempo e a mais bela de toda as comparações. 

Um flautista deseja se vingar de uma cidade devido aos moradores desta terem agido  com desprezo para com ele, então ele resolve, com sua flauta mágica, levar embora todas as crianças da cidade para um outro mundo, um local onde jamais seus pais poderão vê-las. Um lugar de vida, encanto e cores fortes. E assim é feito, só que uma destas crianças não consegue ser levada. Ela tem um "defeito", um "pecado", é manca e por causa dessa "incapacidade", ela não consegue acompanhar as outras e fica presa a este mundo. Essa garota é representada por Nicole (Sarah Polley) e assim como a criança da história, ela também é marcada pelo pecado e pela impureza, no caso, sua inoncência lhe foi arrancada. 


"Um doce amanhã", drama do diretor Atom Egoyan, é um filme soberbo. Trabalhando com temas fortes como a morte, traições, incesto e a mais pura dor, ele não se rende às lágrimas fáceis e entrega uma película cheia de nuances, detalhes e metáforas e em que a dor e angústia estão presente em cada semblante, em cada gesto e olhar dos moradores desta cidade. Um filme em que a ferida é tocada da forma mais peversa possível. 

A todo momento, o drama nos dá a entender que algo irá acontecer, que toda dor será vivida ferozmente, mas não. Ao final, a angústia permanece, mas a vida continua. Dois personagens não se rendem aos argumentos de Stephens. Nessa vida não há culpados e também nesse acidente não teve. Quem poderia ser culpado por tal fato, a motorista, o prefeito da cidade ou o dono da empresa de ônibus? Com fortes conotações cristãs em seu interior, o filme aborda o pecado, o castigo e o perdão. 

A trilha sonora é excelente. O instrumental soberbo, a canção que inicia o longa cantada por Sarah Polley é doce e pura. A todo o momento, essa canção e esse instrumental tentam dar leveza a tanto peso, a tanta dor e tentam amenizar a algo que é pesado. 

A direção não deixa a nenhum momento o filme cair no melodrama e nem a provocar lágriamas desnecessárias. O roteiro, tratando de divertos temas, mas sem dar destaque a nenhum deles, deixa o longa ainda mais interessante. 

O único ponto a abordar aqui nessa trama é a dor, simplesmente a dor, a angústia de viver, de morrer e de continuar a se manter vivo. 


domingo, 20 de janeiro de 2013

Hemingway e Gellhorn


  
Hemingway foi um dos grandes escritores que a literatura já conheceu. Com uma personalidade forte e bruta, escreveu obras que marcaram e ainda marcam. "Por quem os sinos dobram" é invocada e mostrada nesse filme e é nos mostrada como se deu sua inspiração. 

Em meio a uma guerra espanhola, há um amor, um romance e um casamento marcado por duas pessoas com personalidades fortes e intensas. Gellhorn foi uma das maiores conrrespondetes de guerra que o jornalismo ja teve. Foi a terceira esposa desse escritor e a única a pedir o divórcio. É sobre esse encontro, esse romance e término que esse filme também vai abordar. 

Nicole Kidman e Clive Owem dão vida a essas duas personalidades. Ele, homem, forte, viril, dono de uma língua afiada e uma escrita poderosa. Ela, linda, aparentemente delicada, mas ousada, forte, destemida que sente que deve relatar ao mundo os horrores que são escondidos por belas imagens divulgadas pelos meios oficiais dos estados. 

"Hemingway e Gellhorn" é a história de duas vidas que se encontram e veem no horror da guerra, o motor para suas vidas, para ele, o combústivel para seus romances, para ela, não apenas em sua escrita, mas em sua vida. A guerra civil espanhola foi algo que marcou fortemente os dois, pois ela representou como o homem pode ser falso, insensível e frágil. Vidas são lançadas em campos de batalha por ideais, sonhos, desejos e são usadas e mortas. 

Estas duas vidas nao foram marcadas pela morte, mas tiveram sua visão sobre o mundo fortemente abaladas e ceifadas, pior do que morrerem em guerra, morreram aos poucos em vida, perderam a fé no homem, na existência, no amor, na esperança, enfim, na vida. Quanto mais morriam em vida, mais se lançavam em empreitadas perigosas até chegarem ao seu limite. 

A morte incomoda, ficar de frente a dor nos fere. Muitos foram as vidas que se perderam, muitas foram as cenas que viram. Gellhorn relata em entrevista que duas foram os fatos que a abalaram fortemente, uma foi a guerra civil espanhola e outra foi as vidas perdidas no campo de Dachau. Não como há não ver essas cenas e não se chocar ou se impactar diante de tal imagem. E foi que aconteceu a esses dois. Ao f inal da vida, os dois sairam feridos, cansados, marcados e machucados. 




Um drama impecável e uma direção mais do que glamurosa. Conseguir captar os pensamentos ou sentimentos de duas pessoas que existiram em vida é uma das coisas mais difíceis. Pensamentos são tão abstratos, tão complexos e tão obscuros, não podemos jamais compreender o que uma pessoa sente, teme, receia ou deseja, mas podemos apenas tentar e tentar e esse filme é uma tentativa. Se tudo isso os marcou realmente, jamais saberemos. Esse drama não é apenas sobre a história de amor de dois personagens, mas sobre como estes foram marcados pela vida.

Kidman está incrível como Gellhorn. Com uma atuação avassaladora, ela traz peso e sentimentos a essa personagem. Seu olhar delicado que tenta a todo tempo impressionar, com o passar dos minutos é cedido por um semblante de uma mulher ousada, determinada, mas ao mesmo tempo frágil e limitada. Todos temos um limite e ela nao é diferente. Kidman, depois de se lançar em projetos que nao deram muito certo, parece que encontrou o caminho certo. Com esse drama, encerra um ano com boas interpretações. Owen também leva o destaque, um homem de presença, forte, viril e que transpira ousadia, mas faltou algo a ele. O elenco de apoio está ótimo, temos até um Rodrigo Santoro com um personagem belo e idílico. 

A trilha sonora brilha, apesar de quase não há percebermos. Misturando cenas de documentário da época a ficção, o longa tenta compor um olhar de documentário sobre ele. A todo momento, imagens em preto e branco se mesclan a imagens de arquivos. Apesar de ser um filme para TV, ou seja, ter um orçamento menor, o longa naão faz feio. 

Ao final, o que fica é o drama e a história e de certa forma, uma tentativa de mostrar quem foi em vida, a terceira esposa deste que foi um dos grandes escritores que a história já teve. Ao começo do longa, temos uma frase de peso, dita por Gellhorn "não foi minha intenção ser nota de roda pé de um livro", talvez é assim que ela tenha se sentido durante toda vida, como apenas mais uma esposa dentre as várais mulheres que esse escritor já teve. Mas o que esse filme veio mostrar é que ela não foi apenas mais uma, mas teve forte presença e sua vida continou e ao seu modo, ela marcou a história também.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Lucía e o Sexo


 

Drama apresenta personagens interligados pelo destino, moldados pela vida, numa pequena colcha de retalhos.

Um casal numa praia, eles fazem amor, apesar da intimidade, nao se conhecem. Nem nomes, nem nada sabem um do outro. A noite está bela e a lua intensa. Eles apenas marcam bem o rosto um do outro, para que um dia, possam se reconhecer. 

A seguir, vemos uma moça agitada ao telefone, está brigando com o namorado. Sai do serviço as pressas, mas encontra o apartamento vazio. O namorado simplesmente sumiu, o  telefone toca, uma voz no telefone pergunta se ela conhece Lorenzo (Tristán Ulloa), ela não responde e desliga o telefone aflita, pensa no pior, será que ele está morto? Vai ao quarto, pega algumas mudas de roupa e parte para uma ilha bela e deserta. 

Seu namorado sempre quis voltar a esse pequeno paraíso e aos olhos dela, vindo a esse local, comprenderá o que aconteceu a seu namorado e tentará dar um rumo a sua vida. Ela se chama Lucía (Paz Vega), e fechando essa introdução, o longa nos apresenta ao primeiro prólogo intitulado Lucía. 

Nesse primeiro momento conhecemos essa garota, como ela chegou a Lorenzo, um escritor que ela sempre admirara e como os dois se envolveram. Junto a essa história, corre em paralelo outra trama, de pouco peso, que num primeiro momento, não conseguimos compreender. Esse começo segue até o momento em que Lucía deixa a cidade e parte para a ilha, ele nos serve para conhecermos essa moça e esse rapaz. 



Num segundo momento, conhecemos uma outra parte dessa trama, conhecemos um personagem que também será de extrema importância, se não, a fígura mais importante deste filme, o Sexo. A química que há entre Lucía e Lorenzo, apesar de haver o amor, foi o sexo em si. Foi por meio desse elemento que todos estes personagens se cruzaram e o drama chega a esse fim trágico e redentor. 

"Lucía e o Sexo" é uma drama espanhol que tem como ponto forte sua trama. Num começo, parece ser simples, mas com o passar dos minutos, um fato está ligado a outro e vemos como há algo de grande preso a todos estes personagens. Dor, morte, vida, angústia, raiva e medo. O Sexo representa nossas ações, marcadas pelo momento, pela incapacidade nossa de pensar frente a um acontecimento. Esse elemento nos mostra como somos instáveis ou até selvagens e Lucía talvez represente o amor, um sentimento mais puro, capaz de perdoar e compreender o erro e o outro. 

Com fortes cenas de sexo e excelentes momentos dentro da trama que fíguras metafóricas são utilizadas para descrever cenas que não são mostradas, esse drama trabalha com a dor, com a perda e uma possível redenção. O mesmo elemento que trouxe a vida foi o que provocou a morte, como se a vida seguisse um ciclo: vida, morte, morte e vida. 

Com um competente elenco e uma direção segura, Lucía e o Sexo é uma boa aposta de filme, uma drama que nao chega a ser intenso, porém que não decepciona.