quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O primeiro que disse


Homossexualismo é trabalhado de forma leve e despretensiosa, porém com seriedade e honestidade.
Tommaso (Ricardo Scamarcio) é o caçula da tradicional família Cantone, proprietária de uma fábrica de massas de macarrão do sul da Itália. Morando em Roma com o namorado e tentando emplacar um livro, ele resolve retornar à sua casa para assumir sua sexualidade perante a sua família, pra assim poder viver a vida que tanto deseja.
Tudo vai como o planejado, o problema é que antes dele revelar essa verdade, Antônio (Alessano Preziosi), seu irmão mais velho, toma a dianteira e se assume gay. O pai deles, Vincenzo Cantone (Ennio Fantastichini), não aceita esse fato e o expulsa de casa e da empresa da família em que trabalha, para depois ter um enfarte. Tommaso não sabendo o que fazer, fica na retaguarda e em silêncio. A pedido do pai, assume os negócios da família, mesmo a contra gosto e vê a chance de poder contar aos seus pais que é gay cada vez mais distante da realidade.
É com essa comédia bem agridoce que o diretor abordar essa difícil missão: a aceitação por parte da família. Aqui no caso, a situação só tende a ficar mais negra pro lado de Tommaso. Seu pai não aceita o filho gay, sua mãe não entende em que pontos eles erraram. Sua tia fica em choque, a irmã apenas confirma o que já sabia e a avó, é a única que aceita a situação toda.

Ele, a cada dia, se prende a essa vida que não queria ter, mas sabe o peso de se assumir neste momento, então ele mantém a seriedade. Mas com a chegada de alguns amigos de Roma que vieram junto de seu namorado para visitá-lo, sua situação se complicará ainda mais, já que estes são super discretos.
O filme tem uma mistura super agradável entre a comédia e o drama. Há o momento cômico da história e elas acontecem com mais impacto na chegada dos amigos de Tommaso a casa de sua família. Eles simplesmente roubam a cena com seus trejeitos e com suas tentativas de se passaram por homens hétero e sérios, mas que sempre dão uma bola fora. Esse é o lado mais divertido do filme, pena que eles aparecem somente ao final, se tivesse entrado antes, renderia cenas ainda mais engraçadas, dando mais leveza a esse tema tão delicado.
Porém o longa também tem uma linha dramática quando o momento pede e é a trilha sonora com um instrumental muito bonito que dá essa mostra. Há na tela a dificuldade por parte do nosso protagonista em contar um assunto tão delicado, que não envolve apenas ele, mas toda a sua família e a difícil aceitação dos pais dele em assumir a homossexualidade do filho mais velho. O que há ali é a falta de conhecimento, talvez tolerância ou uma tentativa de compreender o que outro sente.


Há dentro do filme uma história paralela acontecendo, dando a entender que essas ações ocorrem no passado e tem ligação com avó de Tommaso, a matriarca da família. É por meio da resolução da história dela é que podemos compreender a aceitação que ela tem com relação aos seus netos. É errando e enfrentando a todos que se vive e se busca a felicidade.
O filme é leve, não força o tema e o trata com muita suavidade. Talvez por isso seja tão honesto é divertido. No elenco, Ricardo Scamarcio encarna Tommaso. Uma atitude um tanto corajosa, já que ele é considerado na Itália o grande galã do momento, algo como Cauã Reymond ou Bruno Gagliasso por aqui ou até mesmo Thiago Lacerda. Em falar em elenco, todos estão muito bons. A trilha é gostosa, ótimas canções. A tiradas cômicas são certeiras e o drama envolvendo cada personagem é terno e muito comovente. É percebível claramente uma solidão em Luciana (Elena Sofia Ricci), um amor não correspondido por parte de Alba (Nicole Grimaudo) com relação a Tommaso e por assim em diante.
O primeiro que disse é hilariante, divertido, um tanto reflexivo e um tanto intenso na medida em que o drama pede.  


terça-feira, 22 de novembro de 2011

True Blood 4ºano: Tenso, muito tenso


A vida é muita vezes injusta. A dor está ao nosso derredor de todos os modos, da mesma forma que a morte, o medo, a sensação de fraqueza e a limitação também. O que podemos fazer diante de tal fato? Apenas aceitar e continuar respirando, continuar com os sofrimentos, com os dias e as noites. O que vem após a morte é uma incógnita, porém mesmo diante dessa incerteza, ainda cremos que se há vida lá do outro lado, essa possa contornar a dessa, é nisso que nos confortamos e, de certa forma, esperamos. É nesse aspecto que a quarta temporada de True Blood se concentra.

O quarto ano mostrou-se superior a terceira temporada em vários aspectos. Com histórias mais costuradas, uma maior interligação entre as tramas paralelas e o melhor desenvolvimento de alguns personagens. A batalha final, como de costume no seriado, foi o fraco da temporada. Poderia ter havido um maior confronto e tensão entre as bruxas e os vampiros, mas tudo se resolveu muito rápido.

Após Sookie descobrir a verdade sobre Bill, ela o expulsa de sua vida. Segue amargurada para o cemitério, único lugar de descanso para ela, pois nesse local, ela não pode ouvir as vozes dos que estão a sua volta e pode ficar mais perto de sua avó. Nesse momento surge Claudine e a leva embora, para um outro lugar onde ela poderá se sentir mais em casa e protegida. O terceiro ano acaba aí. É nesse exato instante que começa a quarta temporada.



O mundo das fadas proposto por Ball lembra muito o do filme “Sonhos de uma noite de verão”. Um cenário meio tosco, uma luz clara e forte, envolta de uma árvore meio antiga e rústica. Lá estão varias pessoas que assim como ela, têm a capacidade de lerem mentes e dentre essas está o seu avô. Só que nesse local, nem toda a beleza é de fato bela, ou nem todo paraíso é de fato um verdadeiro paraíso. Esse refúgio das fadas guarda um tom sombrio e quando ela percebe em que terreno está pisando, Sookie tenta fugir com seu avô, que estava nesse reino há anos. Após esse primeiro confronto com uma possível vilã, ela consegue retornar para a sua casa. Ao voltar, é pega pela informação que se passaram 18 meses desde que ela deixou Bom Temps e nesse meio tempo, muita coisas haviam mudado.

Após essa informação, vamos vendo como está casa personagem pós um ano praticamente, alguns mudaram outros nem tanto. Arlene fica cada vez mais aflita com relação ao seu filho, achando que ele possa ser algo perigoso. Jess e Royt lidam com a difícil tarefa de viver um casamento. Sam conhece um grupo de metamorfos e com eles passa a descontrolar a sua raiva. Seu irmão é acolhido por Maxine como filho e tenta manter a pose de bom moço. Jason adquire mais responsabilidade ao tomar conta da tribo dos homens-panteras.

Tara passa a viver em Nova Orleans, começa a se relacionar com uma outra garota e ganha a vida  em torneios de luta livre e seu primo, Lafayte junto de Jesus, vão tentar entender a razão dos seus poderes. A mudança mais radical fica por conta de Bill, que após o confronto com a rainha, consegue eliminá-la e torna-se mais novo Rei do pedaço, ficando acima de Erick, esse que por sua vez já declarou seu amor por Sookie e espera o retorno dela. Ainda nos primeiros episódios somos apresentados em passos lentos às bruxas e, pouco a pouco, vamos vendo como elas dominarão a temporada.



Algumas tramas foram encerradas ainda no começo da temporada, como é o caso do Jason, sua louca paixão por Cristal e sua relação com a tribo da garota. Os pais de Sam deixam a temporada, mas antes provocam mais tensão na trama, colocando em ápice um personagem que já estava meio apagado. Com Tommy sendo o responsável pela morte deles, uma nova mitologia adentra o universo de True Blood. Essa ideia rendeu bons momentos e também selando a participação desse personagem no seriado ao estilho mais intenso e trágico possível. Eu, particularmente, gostei muito do modo como sua história foi encerrada na série.

O filho de Arlene que até a última temporada dava contornos que seria algo macabro revelou outra coisa completamente diferente. Está certo que Ball frustrou as perspectivas de praticamente todos diante desse baby, mas não pode-se negar o tom leve, suave e sensível proposto pela história. O que move essa quarta temporada é a nossa incapacidade de mudarmos as condições de nossas vidas e como isso nos fere e essa personagem que interage com essa criança representa fielmente isso. O arco abordado envolvendo essa louca família interligou com o drama de Lafayate, fechando assim as histórias e promovendo uma união entre os diversos núcleos. Da mesma forma que o terreno envolvendo Jessica, Hoyte e Tara foram se convertendo para o eixo principal: bruxas.

As bruxas são humanos que possuem uma certa sensibilidade para com os elementos sobrenaturais. Odiadas pelos vampiros, devido a um fato do passado, elas buscam vingança. Antônia, a vila desta temporada, possuiu o corpo de Marmie para que ela pudesse se vingar dos vampiros, já que estes abusaram dela e de outras como ela em tempos antigos. Por elas serem figuras muito poderosas, capazes de até dominarem esses seres da noite, o confronto entre eles renderam boas batalhas.

Um dos elementos que chamaram a atenção desse quarto ano foi a perda da memória de Erick. Após confrontar Marmie, ele perde todas as suas lembranças e Sookie passa a protegê-lo. Essa ligação foi um dos fatos mais bacanas. Já havia entre eles uma certa química e tensão, com esse novo elemento, a fadinha pôde conhecer um outro lado desse vampiro sanguinário, se rendendo aos prazeres carnais com ele. Além desse ponto, vários foram os outros elementos que deram fôlego a essa série, como a mudança mais do que bem vinda de Tara e sua aproximação com as artes de bruxaria. A personagem de Holly ganhou mais destaque e conjuntamente de Sookie e Tara deram um ponto final a todo esse lance de espíritos e feitiços.

Episódios bons foram vários, destaque para o que abre a temporada, o oitavo e os três que encerram o ano. Como de costume e dando a entender como uma característica da série, toda a trama se desenvolveu no penúltimo episódio, com apenas uma extensão de poucos minutos no episódio final. Mas toda sesalon finale foi usada para apresentar novos temas e assuntos que serão abordados na temporada seguinte.

O episódio final lembrou muito outra série trabalha por Ball, A sete palmos. A morte esteve constantemente ligada a todos os personagens da série de uma forma muito terna e delicada. Seja na aceitação da vida por meio da personagem de Marmie, no retorno dos espíritos ou na relação final entre Lafayate e Jeses que ao meu ver foi a mais terna.



“Continue respirando”.

Sem dúvida essa foi a trama que mais me chamou a atenção, tanto pela naturalidade como abordaram o homossexualismo, sem esquecer do preconceito em torno deste tema, quanto pela questão da morte enquanto vida. Lafayate resume o tema principal desse ano, a dor está em suas mãos, em seus olhos. O que fazer quando não há mais motivo para se viver, quando há a sensação de que a vida e o destino foram injustos e amargos com você? Nada, não se pode fazer nada, apenas continuar respirando e deixar com que a raiva se amenize para que um dia ela torne-se suportável. Não podemos mudar os traços e escolhas de nossas vidas, não podemos controlar o nosso destino, podemos apenas aceitar a vida, a morte, a dor e apenas continuar, simplesmente continuar.

Umas das críticas feitas a série é que nela haviam muitos personagens que estavam dispersos da trama principal e isso ficou muito claro na terceira temporada, sendo um recurso que não deu muito certo. Já nesse quarto ano, houve uma maior conexão entre os núcleos da série. Outro ponto positivo foi o massacre ocorrido nesse quarto ano, ao todo oito personagens tiveram suas vidas ceifadas.

True Blood está caminhando para seu quinto ano. Ao meu ver, a série já está chegando naquele momento em que se deve pensar num final para ela. Está certo de que os livros das quais ela é baseada tem mais de oito publicações, mas elas são duas obras distintas, uma é literatura e outra cinema.

Allam Ball já deu algumas entrevistas de que não pensaria na série ultrapassando sete anos, pois aos seus olhos, não seria interessante e além do mais, os atores envelhecem e como isso faria sentido aos vampiros que são eternamente jovens. True Blood ainda continua intensa e ótima, mas seu final já tem que ser pensando e suas tramas fechadas. Muitas séries provaram da longevidade e não deram muito certo, mesmo tendo ótimos arcos e um excelente argumento e roteiro, pois o fim chega e não há como negar isso.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Som no Cinema: O ruído Expressa


“Todos os ruídos têm um sentido, todos são ritmados [...]. Tão mais inebriantes quanto são os sentimentos da solidão” (WEILL apud MORAES, 1983, p. 34).
Os ruídos expressam idéias, pensamentos, circunstâncias, interferências, condições da vida e tantas outras situações que se pode ou deseja ter conforme o objetivo daquele que pretende repassar algo. Pode-se colocar como ruído todo e qualquer tipo de som que está ligado a paisagem sonora (SHAFER, 1991) . Desde sons que movem a cidade ou o campo, dos mais característicos aos mais imperceptíveis. Devido ao homem receber grandes quantidades de informações sonoras atualmente, é de extrema complexidade conseguir distinguir ou decifrar todos os ruídos que lhe cercam, somente quando estes lhe causam algum mal ou irritação é que se pode percebê-los.
Após a Segunda Guerra é que começou de fato os estudos sobre os ruídos na construção da música. Se antes era visto como algo que poderia prejudicar a harmonia, com o avanço dos estudos, compositores passaram a utilizá-lo.
No filme Dogville, do diretor Lars Von Trier, o ruído é trabalhado de forma interessante. Ele desempenha a função de complementar o cenário construído pelo diretor. Toda a cidade elaborada por Trier fica instalada num palco. Todas as casas, ruas, jardins são representados por desenhos no chão, ou partes de estruturas que dão a idéia de um cenário. Nesse universo, o que complementa a veracidade desta cidade são os ruídos que representam as ações e movimentos convencionais da realidade. É o som da porta ao ser aberta, a maçaneta girando, o cão latindo ou o som do vento. Os sons produzidos imitam os do ambiente, tão presente no cotidiano da sociedade, mas nunca percebido. O peso da mensagem se intensifica com o uso dessas características próprias do meio que são colocadas a se perceber. Esses ruídos podem ser encontrados abundantemente no meio, porém devidos a vários fatores não são percebidos, mas ao se escutá-los, o espectador consegue notar e compreender a mensagem do diretor, mesmo quando essa se passa de forma indireta e subliminar.
Outra produção cinematográfica interessante invocar é o filme brasileiro Mutum da diretora Sandra Kogut. O longa retrata a história de Thiago, um garoto que vive num local isolado em Minas Gerais. Nesse filme, em comparação com Dogville, a trilha sonora é usada de forma semelhante e distinta ao mesmo tempo. Semelhante, pois a diretora utiliza o som ambiente para ilustrar as cenas, dando mais veracidade a história, distinta, pois em Mutum não há trilha sonora instrumental, como usado na produção de Trier, mas apenas os ruídos e o som ambiente. O que se ouve são os sons que rodeiam a vida desse personagem. As risadas das crianças, as brigas dos adultos, os animais correndo, o som do riacho, todos os tipos de sons presentes nesse cotidiano tão simples e que estão na película ressaltando de forma indireta as características desse local, que é humilde em seu contexto.
Apesar dos avanços, poucos foram os estudos produzidos nessa área. Segundo Shafer (1972), um dos grandes teóricos da música, o “ruído é o som indesejável [...] qualquer som que interfere [...] quanto mais selecionamos os sons para ouvir, mais somos progressivamente perturbados pelos sinais sonoros que interferem [...] o mundo está repleto de ruídos” (1972, p. 23). Seu trabalho foi direcionado na transformação da paisagem sonora do meio ambiente proveniente das mudanças econômicas e industriais do novo século.


O Silêncio Fala
“O silêncio não existe. Sempre está alguma coisa acontecendo que produz som” (CAGE apud VALENTE, 1999, p. 89).
Assim como os estudos sobre o ruído, as pesquisas sobre o silêncio começaram após a Segunda Guerra. Nesse momento, ele deixou de ser usado como um recurso expressivo para ser observado como elemento de grande relevância.
Um experimento de John Cage realizado na década de 1950 sobre a questão do silêncio é de extrema importância citar para poder compreender como esse elemento encontra-se no meio sonoro. Cage se trancou numa câmara anecóica, uma sala blindada em que as paredes, chão e teto são cobertos por um material absorvente que impede e elimina qualquer onda mecânica como o som. Após ter feito isso, o único ruído que pôde ouvir era o da corrente sanguínea e do seu sistema nervoso.
A conclusão que ele chegou é que ao eliminar qualquer sonoridade ou fonte sonora, ainda sobrará algo como o som do corpo. “A rigor, fisicamente e em termos absolutos, ele (o silêncio) não existe na biosfera. [...] O que chamamos costumeiramente de silêncio corresponde a uma infra-audição do ruído” (Neves apud Valente, pg. 89). Não há ausência completa do som, pois mesmo quando todos os ruídos são extirpados, ainda resta a sonoridade do corpo, o ritmo da vida, ou seja, “o silêncio essencial é a morte” (SHAFER, apud VALENTE, 1999, pg. 77).
Assim é o silêncio: introspectivo e profundo. Ele age “atuando como recurso expressivo, causando tensão, em conseqüência de expectativa” (VALENTE, 1999, p. 89). Sua presença quase não é nítida. Ele está ali, mas ao mesmo tempo não, quando todos os sons adormecem e todas as vozes e cantos morrem, resta o silêncio que sempre esteve naquele local, sendo usado para todos os fins possíveis, desde os metafóricos a explicativos ou contemplativo. Segundo Shafer (1991, p. 71) “(o) silêncio é negro [...] é um recipiente dentro do qual é colocado um evento musical [...] é uma caixa de possibilidades. Tudo pode acontecer para quebrá-lo [...] o silêncio soa”.
A questão e importância do silêncio evoluíram com o tempo. Até os estudos de Cage, trabalhava-se o silêncio como marcação para as partituras ou uma pausa entre os ritmos, uma forma de o ouvinte perceber a divisão dos ritmos proposto pelo instrumentista, mas com o desenvolvimento dos estudos de Cage, o silêncio começou a ser percebido como algo a mais, algo que vai além da ausência de som para ganhar novos contornos. Esses novos dizeres podem ser na esfera musical, artística, filosófica ou psicológica. “A ausência de som pode funcionar como ruído de código” adverte Valente (1999, p. 46) nos seus estudos sobre o ruído e o silêncio na contemporaneidade.
Em se tratando de cinema, o silêncio tanto pode ser utilizado na composição instrumental da trilha sonora, quanto como elemento metafórico no enredo da história. Nesse caso, há um silêncio para denotar algo, transmitir uma mensagem, fazendo toda uma referência aos personagens. “O silêncio é fundamental para a composição do filme, pois é nesse intervalo que os sentidos se comunicam. É no silêncio que as sensações se traduzem” (COSTA, 2001 apud COSTA, 2006, p. 110). O silêncio também pode ser colocado com outros intuitos, em certas cenas para denotar que há uma barreira, uma parede ou uma mordaça que impedem os personagens de falarem ou dizerem algo.

COSTA, Fernando Morais. O som no cinema brasileiro: revisão de uma importância indeferida. 2006. 268 f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro. 2006.
MORAES, J. J. .Música da modernidade: origens da música do nosso tempo. São Paulo: Editora Brasiliense. 1983
SHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Editora UNESP. 1991
VALENTE, Heloisa de Araújo Duarte. Os cantos da voz: entre o ruído e o silêncio. São Paulo: Annablume. 1999. 

domingo, 13 de novembro de 2011

True Blood 3ª temporada: Vampiro Mal, muito mal, rsrsr


Na terceira temporada o que prevalece é a questão de se descobrir quem realmente nós somos. Todos os personagens buscam, diretamente e indiretamente, compreender quem realmente são e isso por meio do seu passado, dos seus erros ou dos seus desejos.
Sam, o passado que envolve sua família; Sookie, o segredo que está relacionado a quem ela realmente seja; Erick, que ainda tem sentimento humanos; Jéssica, entre ser uma vampira e uma garota que quer apenas viver um amor e Tara, tentar encontrar um caminho em meio aos seus erros e buscando ser alguém que não seja apenas uma vítima da história, mas também não mais aquela mulher rude que não deixa ninguém se aproximar. Eles buscam um meio termo, uma explicação ou algo que lhes possibilite desvendar os segredos que cercam seus medos e receios.
Um dos pontos em que a série foi amplamente criticada negativamente foi com relação ao leque de histórias que abriu ao decorrer da temporada. O tema que regia esse terceiro ano foi revelado ainda no começo, no caso, quem sequestrou Bill e por quais motivos. Porém, outros assuntos foram ganhando espaço, sendo que ao final da temporada nada foi finalizado ou explicado. Sam e sua excêntrica família, Jason e seu novo relacionamento e responsabilidades, Lafayette e sua relação com Jesus. O filho de Arlene, dando a entender que ele será algo meio macabro e por fim, a deixa para a quarta temporada com a presença das bruxas que dominarão o ano seguinte. Além do mais, o vilão deste terceiro ano, O Russel, o rei dos vampiros, não foi morto, propondo um retorno mais adiante. O único ponto que foi revelado é o verdadeiro motivo que levou Bill à cidade e que na verdade ele não é tão bom assim.

Em falar nisso, esses foi um dos aspectos interessantes desse terceiro ano. Bill que até a temporada passada era mostrando como correto, sem falhas e disposto apenas a tentar conviver em sociedade com os humanos, revelou totalmente o oposto. De falso a manipulador, deixou a pobre garota ser ferida e apanhar quase até a morte para que ele pudesse salvá-la e dar do seu sangue, criando assim um laço inquebrável com Sockie. Nesse sentido, não se sabe se a paixão que ela nutre por ele seja real ou algo plantando e controlado pelo sangue do vampiro. Já com Erick foi oposto, sempre zelador para com a loirinha e revelando seus sentimentos ao final da temporada, fez com que ela ficasse meio perdida em seus pensamentos.

Mas também houve bons momentos, muitos bons momentos como as crises de Arlete com a sua gravides, as ótimas tiradas de Pam e seu relacionamento com seu criador, Ercik. As cenas quentes e nada normais entre Bill e sua vampira criadora e não podendo esquecer, o ótimo vilão deste ano, Russell, que após a morte de seu amado ficou completamente louco. Nan deu os ares de sua presença, confirmando seu lindo e sarcástico sorrisinho ainda mais no quarto ano.
Quanto a fotografia, impecável. O jogo de sombra e luz na cena da casa de Sockie, quando essa foi atacada por Russel e sua turma, estava ótima. Na trilha sonora, boas canções, não apenas boas, mas excelentes, jazz, blues e todos os ritmos estiveram presentes. No elenco, Denis O'Hare como Russel, o melhor e Raquel Ewan Wood, encantadora e perigosa na medida certa.

Minhas Tardes com Margueritte


Germain Chazes (Gérard Depardieu) é um homem simples, grande e meio sem jeito com tudo o que lhe cerca. Tem uma relação conturbada com a mãe, baseada em brigas e um passado não muito agradável. Sem saber muito se expressar, acaba sendo sempre enganado pelos outros. Trabalha com a venda de verduras e não possui praticamente nenhuma ambição na vida. Tem uma relacionamento com Annette (Sophie Guillemim), ela deseja ter um filho, mas ele não, acha que não será um bom pai, nem ler direito sabe, quanto mais ensinar algo para alguém.

Numa de suas visitas ao parque, ele conhece a simpática Margueritte (Gisèle Casadeus). Uma senhora aparentemente frágil e sozinha. Depois de algumas poucas conversas, ficamos sabendo que ela mora ali perto, num asilo. Seu sobrinho que a mantém lá com todas as despesas do local, mas com a visita dele ela não pode contar. Porém mesmo vivendo sempre sozinha ela não se sente solitária, já que seus livros a fazem companhia. É nessa amizade entre esses dois que o filme irá focar e trabalhar.

Germain a partir desses encontros, resolve se voltar novamente para a leitura, algo que ele deixou há anos. É nesse meio tempo que conhecemos o seu passado, quando ainda era criança e as constantes humilhações que sofrera, devido a sua dificuldade para aprender, tanto pelos professores, quanto pela sua mãe que o desprezava a qualquer momento. Já com Margueritte, não conhecemos muito do seu passado, apenas o que acontecerá a ela num futuro próximo, fato esse que fará com que Germain busque novamente aprender e se esforçar para ler com perfeição.

No longa, há alguns recursos excelentes que conferem um toque a mais ao drama, como nas cenas em que vemos a imaginação de Germain  se projetar tentando compreender os textos que são lidos por Margueritte. Literalmente ele imagina o texto como é lido, sem se apegar as passagens metafóricas ou simbólicas. No começo ele não entende o que aqueles escritos querem dizer, somente ao pouco, sua mente vai se abrindo a esse conhecimento. Mas o filme aqui não quer necessariamente trabalhar com essa mudança de comportamento por meio da leitura na vida de Germain, mas focar nessa amizade verdadeira e singela entre essas duas vidas.

O drama é simples em seu roteiro, não há mais nada de grande nessa história, apenas a amizade entre eles, mas a forma como ela é guiada e direcionada fazem toda diferença. Os dois atores estão muito bem em seus papéis. Eles encantam e dão carisma e sinceridade a cada palavra e atitude. Eles, sem a menor sombra de dúvida, carregam o filme nas costas.

Minhas tardes com Marguirette não vai além disso, mas é uma experiência gostosa e cativante. É por meio de sua simplicidade que somos conquistados.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As cronicas de narnia


Edmundo (Skandar Keynes) e Lucy (Georgie Henley) estão morando com seus tios e um primo insuportável temporariamente. Numa das brigas entre eles, o quadro da parede do quarto parece ganhar vida e de repente, tudo é inundado em águas. Nesse momento, eles são transportados para o reino de Nárnia. No começo eles estranham, pois desde que deixaram esse mundo, a paz reina nessa terra, mas em poucos minutos, descobrem que um grande mal está ganhando força e espaço nesse reino. Caspian (Ben Barnes), Rei de Nárnia, com a ajuda dos garotos, partem em direção a sete espadas. Somente elas, colocadas sobre a mesa de Aslan (Liam Neeson), poderão deter esse mal.

Em As crônicas de Nárnia: a viagem do Peregrino da Alvorada, o filme retorna um pouco ao seu primeiro longa da franquia. Apresentando uma história mais simples, sem muito peso de um grande estúdio por traz ou a promessa de ser um épico baseado numa grande literatura, o filme apenas cumpri sua missão: diverti. A fantasia trabalha de modo até bacana a passagem da infância para adolescência, utilizando-se das metáforas desse grande e vasto reino e nos apresenta um novo possível grande herói para essa história.

Quando o primeiro filme foi lançado, muitas foram as promessas em torno dessa fantasia. A Disney, produtora do longa, desejava que esse pudesse ser o substituto para a grande produção O Senhor dos Anéis. Por conta disso, investimentos não faltaram, tanto que a trilha sonora, as lutas e o cenário construído se inspiraram muito no filme de Peter Jackson, porém a ideia não vingou.

Mesmo assim o estúdio não desistiu e lançou o segundo episódio, O príncipe Caspian, mas com esse, a tragédia foi ainda pior. Tentando alcançar novos públicos, o drama modificou as cores e enquadramento, propondo tons mais escuros e ambientes mais fechados, uma maturidade guiava o filme. A ideia forçada de amadurecimento interligada a um tom mais sombrio fez com que o filme não se relacionasse de fato com o primeiro longa. Não tendo o sucesso esperado, para esse terceiro episódio, a Disney saiu da empreitada e no lugar entrou outro estúdio menor e mais modesto.


Como que em Nárnia quem cresce não pode entrar mais, fato que aconteceu a Susan (Anna Popplewell) e Peter (William Moseley) e por consequência, também acontecerá a Edmundo e Lucy, outros heróis terão que guiar essa trama, nesse sentido, entra em cena, Eustace, um garoto arrogante, prepotente e orgulhoso.

Ele é a própria redenção que o filme tanto aborda ligada a questões da moralidade. A ele também será dado as melhores falas, com um certo humor inglês maravilhoso. Como ele não acredita em nada disso, todas as cenas serão descritas por ele com sacarmos e ironia. Nesse ponto, com esse personagem, o diretor brinca com a fantasia, em como ela pode ser vista por alguém que não acredita nessa existência.

O primeiro longa eu achei bacana, do segundo eu não gostei, mas esse terceiro achei muito interessante. É uma fantasia claramente cristã direcionada às crianças. Nunca há de fato um perigo iminente. Não há sangue nas batalhas, malícia entre os personagens, nem nada que possa levar a um grau de maturidade. Por conta disso, analisando esses detalhes que são encarnados de corpo e alma pelo filme, o longa agrada.

Algumas passagens são ótimas, como as da cena em que Lúcia deseja ser bela assim como sua irmã, ou a cena final, em que Aslan se despede dos dois irmãos. Há entre eles um ótimo diálogo e também é percebível toda a carga cristã em cada palavra ou vírgula dessa despedida. 


Nesse novo longa, volta-se a trabalhar claramente com um público infantil, o moralismo permanece, em alguns momentos chega a ser tosco, contudo é aceitável,  a trilha é suave, os efeitos, comparado com os outros, são mais simples e as cores são mais vibrantes. Porém, o que faz esse filme dar certo é a ótima química entre os atores, o novo personagem apresentado, Eustace (Will Poulter), que é uma figura, o trabalho com a edição que deixam o longa mais acelerado e com a noção de não ter tempo a perder e a simplicidade de tentar ser apenas uma fantasia, sem mais grandes ambições. 

No elenco, há pequenas participações especiais da ótima Tilda Swinton como a Feiticeira Branca. Barden convence no papel, está confortável e os personagens de Lucy e Edmundo estão bem afinados, mas quem leva o destaque é o insuportável Estauce. Os efeitos especiais também levam o destaque pelo cuidado estético impressionante.

A montagem vai direto ao ponto, sem perder muito tempo com lorotas toscar e bravuras desnecessárias como nos anteriores. Bom, nesse longa há ainda alguns discursos toscos aqui, frases clichês sobre coragem e determinação são proclamadas lá, mas em comparação com os anteriores é bem menos, nesse ponto é só passar pra frente que a tortura disso acaba rápido.

Um ponto interessante a ressaltar é que esse terceiro longa seria como um termômetro para a continuação dessa franquia. Para realizar esses filmes, demanda de muita grana e por conta disso tem que haver a segurança de um bom retorno. Com isso, caso esse episódio não fosse bem como seu anterior, tudo ia literalmente afundar, mas o longa deu certo. Dentro dos Estados Unidos a fantasia foi fraca na bilheteria, mas a da Europa e Brasil compensaram.

Para o quarto filme, as aventuras continuam e pelo que tudo indica, a ideia do produtor/diretor é tentar levar para as telas do cinema todos os livros da saga As crônicas de Nárnia.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O despertar da Adolescência



O drama O despertar da adolescência, (ou como sugere o título original O garoto Mudge), apesar de seus bons clichês e algumas cenas desnecessárias, consegue ser um filme cativante e sensível. Tendo como protagonista o ator Emile Hirsch em início de carreira, o longa caminha mostrando a vida de um garoto que ainda está em fase de descobertas, ao mesmo tempo em que é confrontado pela perda da mãe que morrera recentemente.

Duncan Mudge (Emile Hirsch) é um garoto tímido. Sua relação com o pai é extremamente fria. A mãe faleceu a pouco tempo, quando nós não sabemos, mas os dois ainda estão em profundo luto. O pai, Edgar (Richard Jenkins) tenta suportar a dor mantendo-se em silêncio, sempre sozinho, sempre distante. Não sabe como criar o filho e não consegue ser afetivo para com ele. Mesmo quando o momento pede ele usa de palavras ásperas.

Já Duncan é fechado e sem amigos. É dito por muitos como um garoto anormal, já que caminha por toda cidade junto de uma galinha que ele trata com muito apego. Tem o hábito desaprovado do pai de vestir as roupas da mãe. Edgar, vendo esses atos, não sabe o que fazer e o rapaz, de certa forma, ultrapassa os limites da compreensão. Num certo dia passa a conversar com Perry (Tom Guiry), após esse primeiro encontro, os dois mantém um singelo laço de amizade. O jovem o acha estranho e ele é sincero com Duncan sobre esse fato. Quando os dois saem juntos com os seus outros amigos, Perry meio que o protege, pois sabe que o garoto é frágil e motivo de piada.



Tudo segue normal, porém algumas mudanças vão acontecendo. Duncan meio que desenvolve por Perry uma atração, talvez motivada pela admiração ou não, mas desenvolve. O rapaz por sua vez, percebe esse detalhe numa ação dele, o recrimina com um movimento brusco num instante, mas vendo que foi muito duro, leva como brincadeira e descontração. Mas podemos perceber pouco a pouco, pelo olhar de Perry em Duncan, um outro desejo, que vai além da proteção até que o ato de fato acontece. Após o acometido, temos as consequências e o final dessa história.

O que vemos nesse filme e que o diretor soube abordar com cautela é a questão das descobertas e o medo de aceitá-las, é do confronto da dor e do passado. Duncan é sensível, meigo e frágil e sua obsessão em vestir as roupas de sua falecida mãe entra como uma forma, talvez, de refúgio. O pai sabe que ele precisa enfrentar essa realidade e o fato de sua mãe ter morrido, mas não sabe como se comportar como um pai diante dele, sem ser autoritário ou rude. O próprio rapaz se depara com dúvidas sobre sua sexualidade, sobre seus sentimentos, mas ao desfecho o que vemos é aceitação e uma confrontação de Duncan diante dos seus medos e a cena final metaforiza isso de forma espetacular. Seu animal de estimação representa essa inocência e ingenuidade que é devorada por ele. Se o nosso protagonista passa por esse momento de aceitação, Perry é o de negação, tanto das certezas, quanto das dúvidas.



O drama tem algumas cenas desnecessárias, como a do carro em que Duncan deseja impertinentemente buscar o chapéu que caiu na estrada ou a da garota que sente ciumes do Perry com sua amiga, já que ela também ficou com ele e pensa que entre os dois poderia ter algo a mais do que apenas sexo. Mas outras são também muito tocantes e fortes, entre elas as que estão próximas do final.

Emile Hirsch, com esse longa, mostra desempenho e ousadia por participar de um filme em que há forte conotação homossexual e várias são as cenas com esse quesito: a do estupro com ele vestido de noiva é uma dessas, assim como do carro entre os dois é também muito terna e forte. Ali há tantas dúvidas, medos, desejos e receios e o momento em que ele se afirma para Perry e seus amigos é outro ponto interessante.

Esse é um drama simples, com uma boa direção e uma trilha sonora adequada. O que me surpreendeu nesse longa mesmo foi mesmo o seu desfecho. Talvez tenha sido de forma brusca, mas ainda sim interessante, pois fica aquele desejo de entender e saber o que aconteceu aos seus personagens depois disso. Um longa um pouco antigo, é do ano de 2003, e que dificilmente temos acesso com facilidade, porém muito bacana.