quarta-feira, 21 de março de 2012

Albert Nobbs



Personagens presos a suas condições de vida, mergulhados em ilusões que servem de escape para a realidade. Assim é Albert Nobbs, novo filme do diretor Rodrigo Garcia que nos apresenta uma gama de personagens marcados pela dor, pelas dificuldades, marcados por uma tristeza estampadas em seus semblantes.

Albert Nobb (Glenn Glose) é um garçom que trabalha dedicadamente ao serviço. Sempre o primeiro a acordar e o último a se deitar. É reservado, atencioso, conhece os gostos dos hóspedes e tudo mais, enfim um funcionário exemplar. Tanta dedicação esconde um segredo, ele é na verdade é uma mulher, escondida nos trajes de um homem. Estamos no século XIX, Irlanda, numa sociedade em crise, sérias dificuldades econômicas e numa época em que ser mulher e sozinha é algo muito complicado e perigoso, as chances de sobrevivência são mínimas.

Nesse mundo está Nobbs. Para sobreviver, esconde sua essência e muda completamente os seus trejeitos, esquecendo até mesmo de quem é realmente. Na verdade, ela tem um objetivo, juntar o dinheiro suficiente para comprar um pequeno comércio de tabacaria. Para isso, junta moeda por moeda e as guarda com todo o cuidado. Não gasta com nada e assim foi por ano e anos.

Num certo dia, Sra. Baker (Pauline Collins) pede para que Hubert Page (Janet McTeer), o pintor do Hotel, fiquei no quarto de Nobbs, para poder passar a noite e finalizar o trabalho pela manhã. Nobbs fica apreensivo, afinal, seu segredo pode ser descoberto e não dá outra, mas nessa verdade, é ela quem fica abismada, pois na verdade Page também é uma mulher, que trabalha como homem e além do mais, é casada com uma mulher mesmo. 

 

Todos esses fatos impressionam Nobbs e a faz pensar se seria possível o mesmo acontecer a ela. É possível ver um brilho de esperança e chance de felicidade em seus olhos. No hotel, um novo funcionário aparece para trabalhar, Joe (Aaron Jhonson), um jovem arrogante e com o objetivo de viajar até a América tentar uma nova vida. Ele vai se envolver com Helen (Mia Wasikowska), uma garota bonita e ingênua. Ela por sua vez, será o interesse de Nobbs, Joel sabendo disso, vai tentar usar Helen para conseguir as coisas desse humilde garçom, desde bebidas até dinheiro para poderem viajar para América.

É com uma história trágica e fria que o diretor traz para as telas do cinema Glenn Glose num papel que merecidamente lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz como Albert Nobbs. Esse filme foi feito para ela, sendo que foi por insistência dela que esse projeto saiu do papel. Baseado numa peça de teatro em que a própria Glose interpreta esse garçom, ela entrou nesse projeto como produtora, roteirista, atriz principal e até a música que toca ao final, ajudou a compor. Apesar do filme ter uma bela atuação de Glose, ele não foi recebido muito bem pela crítica, talvez pelo fato dela se sobressair em cima do drama, não dando a possibilidade das pessoas perceberem o valor real dessa obra.

Rodrigo Garcia é um diretor que consegue trabalhar como ninguém temas ligados às mulheres. Destino Ligados e Coisa que você pode dizer só de olhar para ela são exemplos disso. Dramas calmos, calados, onde o foco estão nos olhos, nas expressões, onde nada se diz, mas tudo pode se compreender. E aqui nesse filme não é diferente. O olhar de Nobbs, a delicadeza de Helen, a impetuosidade de Joe, o esforço de Page são nos passado pelos seus olhares, não precisam falar o que pensam ou o que sentem para podermos entender.

 

Um ponto interessante a perceber nesse filme é como seus personagens estão presos a sua vidas. Uma prisão dura, que os levará às suas próprias ruínas. É Nobbs preso no corpo de um homem, sendo que há momentos em que nem ela sabe quem é realmente. É Helen presa a sua condição, Joe aos seus sonhos, Page ao seu modo de ser e até os frequentadores deste hotel estão presos a uma tentativa de vida baseada em mordomias que não possuem de verdade. Pois afinal, qual é o motivo que levaria um grupo de pessoas a morarem fixamente num hotel? 

O personagem de Jonanthan Rhys Meyers até poderia dizer que está lá de graça, mas não, ele também representa um sujeito preso aos seus desejos sexuais. Em uma certa cena, percebe-se essa verdade, apesar de não se falar nesse assunto, essa é uma verdade que está lançada sobre a vida dele, que ele tenta esconder, mas que ainda prevalece: seu homossexualismo.

Outro ponto que se percebe é como o diretor joga com a ideia de ilusão e realidade. Todos os personagens estão amordaçados a uma ilusão de vida e a essa irrealidade se lançam. O principal personagem que exemplifica esse fato é mesmo Nobbs e a cena final mostra maravilhosamente bem isso. 

 Em falar em desfecho, o desse drama é tocante, comovente, gracioso e doloroso. Ele/ela caminhando para o seu quarto com o único intuito de fechar os seus olhos e descansar e sonhar com sua tabacaria é extremamente belo. Nesse momento, pode-se ver claramente a grande atuação de Glose, outra cena que merece destaque é a dela correndo pela praia com trajes de mulheres, ela sentindo uma real liberdade que há anos não experimentava. Ali ela sabe que é livre, é ela mesmo e seus olhos expressam isso.

Enfim,, Albert Nobbs é um filme delicado sobre verdades e mentiras, sobre como nos enganamos, nos iludimos e como essa ilusão pode nos levar a nossa ruína, afinal, o desejo de liberdade de Nobbs foi que o prendeu a essa situação e o que levou a esse fatídico destino. 

Alguns disseram que o drama poderia ter trabalhado melhor com a questão do homossexualismo, já que o filme indiretamente trata desse assunto, mas não vejo que o objetivo do diretor tenha sido abordar esse tema, mas sim a questão de como a vida pode ser injusta e como criamos situações das quais não podemos mais nos desvencilhar. Ficamos presos a nossa própria vida, sem podermos respirar. 

 

terça-feira, 20 de março de 2012

Tão Forte e Tão Perto



Oscar (Thomas Horn) é um garoto excepcional. Possuí uma inteligência bem aquém para um garoto da sua idade, é um bom observador, nato para a matemática e uma verdadeira biblioteca falante. Adora jogos, desvenda charadas com facilidade e tem no seu pai, seu melhor amigo. Oscar tem Aspegerr, uma síndrome pouco conhecida ainda na sociedade. Os portadores dessa doença tem dificuldade em si interagir com outras pessoas, dificuldade na comunicação, são muito ligado a rotinas, não gostando da imprevisibilidade. Possuem uma repetição compulsiva de gestos e falas, enfim, dá trabalho entendê-lo e o único a aparente a fazer isso é o seu pai. Ele se esforça constantemente para que Oscar saia de casa, converse com as pessoas, faça amigos e perceba a vida do lado de fora, mas é complicado.

Tudo ia bem, porém uma tragédia acontece. Thomas (Tom Hanks), o pai de Oscar, morre nos atentados ao Word Trade Center, Intitulado pelo garoto como o pior dia da existência, a partir desse fato, ele se fecha em seu mundo. Sua mãe, Linda (Sandra Bullock) tenta entendê-lo, mas isso não é nada facil e Oscar passa a contar os dias e horas e sempre fica ouvindo as mensagens de voz enviadas pelo seu pai na secretária eletrônica antes de morrer.

Um dia, mexendo nas coisas de seu pai, ele encontra dentro de um vaso um envelope escrito Black, com uma chave dentro. Então, por conta própria, ele resolve fazer uma busca em toda Nova York atrás dos possíveis Black. Oscar acha que essa chave é uma mensagem do pai dele, e ele vê nessa busca uma forma de tê-lo novamente.

No meio dessa busca ele se depara com inúmeras pessoas, como a personagem de Viola Davis e outros personagens ainda mais hilários. Passada algumas buscas, ele terá ajuda de um senhor que não fala, que o o acompanhará nessa viagem para encontrar o dono dessa chave.


 
O diretor Stephen Daldry faz aqui um drama bem melodramático, cheio de momentos que tentam nos levar as lágrimas fáceis. Não que isso seja errado ou chato, é apenas uma tentativa as vezes frustante. Tirando esse detalhe, o filme é um belo drama sobre um garoto que tenta seguir adiante e se apega nessa sua única chance de tentar ter por perto alguem que ama por mais um tempo.

Como de costume nesse tipo de filme, as pessoas que ele conhece é o ponto mais rico do drama, famílias, pessoas solitárias ou não. Essas pessoas enriquecem esse pequeno garoto de uma tal forma que ele não consegue perceber, pois seu único objetivo é encontrar o dono da chave. Em falar nisso Oscar pode muito bem representar esse Estados Unidos tão sistemático, arrogante, egocêntrico e amedrontado pós 11 de Setembro. Assim como esse garoto, os americanos estão com medo de tudo e de todos, inseguros, mas ainda sempre buscando um responsável por esse atentado.



Um ponto interessante a perceber no longa é a cor azul sempre presente, seja nas roupas, nos objetos ou propriamente na cidade de Nova York. Uma cor que lembra calma, sossego, tranquilidade, uma tonalidade que está ali para tentar trazer um pouco de refrigério a todos esses personagens, um pouco de paz. O que essa cor pode trazer de significados alem desses já mencionados, não saberia dizer. Todos estão em busca de algo, confusos, cabisbaixos, tristes, amedrontados, enfim preocupados e essa cor está ali para tentar trazer uma calma a essas vidas.

Todos temos problemas, medos, receios, limitações, pendencias do passado, algo que jamais poderemos concertar. São palavras que não foram ditas ou não foram declaradas, talvez essa seja a maior dor existente nessas pessoas, aquilo que poderiam ter sido feito, mas não foi, porém, infelizmente, a vida continua, com esses arrependimentos ou não. Seja na vida do senhor que não fala, no personagem em torno da chave, ou no próprio Oscar, a dor do arrependimento os consome, mas essa é uma sensação com a qual terão que viver e conviver.

Ao final, as lágrimas descem facilmente e a certeza que vimos um drama altamente meloso prevalece. Mas apesar de sermos manipulados pelos sentimentos, fica uma história cativante, terna e sensível sobre o seguir adiante, mesmo com o passado sempre batendo a porta. Ser forte não é tão fácil como poderíamos ter imaginado.



segunda-feira, 19 de março de 2012

A chave de Sarah


Esse poderia ser mais um drama sobre judeus que sofreram os horrores do holocausto, mas vai muito além disso. Aqui a história é mais delicada e retrata um período ainda nebuloso e pouco conhecido da França. Há o holocausto sim, há também judeus sendo enviados a campo de concentrações, mas não pelas mãos do alemães e sim pelos franceses, como forma de apoio a ocupação nazista a época da Segunda Guerra.

Julia (Kristin Scott Thomas) está debatendo a pauta com seu editor e dois jornalistas. Um dos temas a serem levantados é sobre judeus deportados. Os dois jovens presentes a sala não tem conhecimento dessa história. Então ela resolve trabalhar em cima dessa reportagem. Julia tem seus 40 anos, um marido e uma filha de 16 anos e se descobre grávida novamente. O novo apartamento em que irá morar pertencia a uma dessas famílias que teve seus moradores deportados. Ela se intriga pela história da pequena Sarah (Mélusine Mayance) e seu irmão.

Em meio a essas informações, somo também levado ao passado para conhecer a história dessa garota. Quando os franceses estavam deportando todos os judeus para prisões e posteriormente para campos de concentração, Sarah na idéia de proteger seu irmão mais novo, o esconde no armário de casa. Em sua mente, ela em breve voltará, mas ao perceber que isso de fato não acontecerá, ela tentará fugir o mais rápido possível para poder salvá-lo.

Nesse meio tempo, enquanto ela tenta retornar ao seu lar, vemos Julia procurando e tentando montar esse quebra-cabeça para ao final se questionar qual o fim levou Sarah. Muitos personagens trafegaram nesse caminho e o destino não foi nada aceitável para essa pequena garota. Em cada momento de sua partida à prisão, algumas pessoas a ajudaram, demonstrando uma certa contrariedade contra os princípios nazistas, posição essa assumida pelo governo francês, pós término da guerra. Entretanto, ainda que poucas pessoas tenham tentado ajudá-la, ainda permanece a figura do estado francês como único responsável por essa barbárie.



É com essa linha que o diretor quer trabalhar. É com essa ferida que ele quer debater. Este é um tema delicado, não há registros deste acontecimento nos livros de história e poucos são os franceses que também conhecem esse fato, mas isso aconteceu. William (Aidan Quinn), personagem que aparece ao final da história, simboliza essa escolha, essa geração que não aceita esse passado e muito menos tinha conhecimento disso, mas que faz parte dessa parte da História.

O drama pesa muito a mão em todos os momentos do filme. Não há espaço para instantes de ternura, seja no passado com a pequena Sarah, seja no presente com Julia. Em falar nisso, essa personagem, apesar de fazer uma ponte entre estes dois tempos, tem um arco paralelo correndo com o filme sem muita importância com o eixo central da trama. Sua gravidez pode até fazer um sentido, mas isso não fica muito claro. É por meio dessa possível criança que virá ao mundo, que ela se questiona e toma essa reportagem tão pessoal, indo até o final, querendo realmente saber o paradeiro dessa garota.

Ao final da história, dá a entender que o diretor se perdeu no caminho, nem mesmo ele sabe onde isso vai acabar. Talvez uma falha no roteiro, mas a primeira parte do filme compensa essa desorientação e falta de rumo na parte final. Não que o desfecho seja fraco ou bom, mas não condiz com o tamanho da história criada na primeira parte da película. O diretor optou pelo caminho mais trágico e doloroso.



No elenco, Kristin Scott Thomas e a pequena Mélusine Mayance como Sarah ficam com o destaque. Outros atores que trafegam pelo filme também fazem bonito Mas o que impressiona nesse filme é a força de sua história e a garra e coragem de suas personagens em buscar o que desejam e por meio disso, fazerem o impossível e indo até o seus próprios limites, sem descanso ou sem nenhuma sombra de dúvidas sobre o que querem.

Um bom filme sobre o holocausto, mais um sobre essa história, pois afinal, o número de vitimas que se perderam nesse trágico acontecimento são inúmeras, e estas foram vidas e não apenas números. Para cada vida, há uma história para se contar.


 










domingo, 18 de março de 2012

C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor


Com uma história divertida, bem regada a boas músicas, filme faz um trabalho bem interessante, convincente e verdadeiro sobre a descoberta da sexualidade e a difícil ideia da aceitação.

Zachary (Marc-André Gondrin) é um garoto como todos os outros. Nasceu no dia 25 de dezembro, em pleno natal, por esse motivo, sua mãe acha que ele pode ser especial, ter um dom, uma habilidade que o faça diferente. Ele cresce e as dúvidas vem junto com a idade. Zac é mais sensível, adora rock rebelde da época e sente-se um pouco diferente, não pelo dom que possa ter, mas pelo que sente. Ele é gay e aos poucos irá perceber isso.

Tem quatro irmãos, Christian (Maxime Tremblay) é o mais velho e intelectual da família, Antoine (Alex Gravel)é o esportista, pegador, Raymond (Pierre-Luc Brillant) é o rebelde, adora comprar brigas com todos, em especial com Zac e por fim Yvan (Félix-Antoine), um gordinho comilão. Apesar do filme ter como título C.R.A.Z.Y, fazendo uma referência aos cinco filhos, a história se concentrará apenas em Zac e sua difícil compreensão dos seus desejos e Raymond. Os dois sempre se rivalizarão durante toda vida e estes dois causarão grandes dores de cabeça a Gervais (Michel Côté), o chefe da da família, um homem extremamente machista. Zac pela sua sexualidade e Ray pelas drogas.



O drama chega ser um pouco longo. O filme acompanha boa parte da infância desse garoto. Já nesse momento, pode-se perceber seus gostos e desejos. Talvez pelo fato do filme ficar muito tempo nessa fase, ele torna-se cansativo no começo, já que a melhor parte da história se concentra na adolescência e juventude de Zac.

No longa é percebível um tom cristão que toma a trama por inteiro, Zac por três vezes escapa da morte milagrosamente, no começo, ao meio do filme e no seu desfecho. Apesar de se notar essa estrutura fazendo uma referência a fé, o longa não se fixa nesse foco. A ideia é abordar a descoberta da sexualidade por um garoto em plena Itália na década de 80, vindo de uma família extremamente conservadora, fazendo uma própria metáfora a sociedade da época, em que o termo gay nem era debatido, apenas condenado.

Zac, como qualquer garoto de sua idade, vai tentar e tentar, mas sempre vai se ver atraído pelo outro. O que é mais interessante desse trabalho é que tudo se dá com muita naturalidade. É o jeito dele quando criança, sua forte ligação com a mãe, a tentativa constante de se aproximar do pai, a admiração pelo irmão mais velho, a rebeldia e o namoro convencional, a fúria por sentir o que sente,enfim, é a difícil aceitação.

Ao final, não se tem um desfecho feliz, em que todos vão viver felizes para sempre e que ser diferente é normal. Pelo contrário, o drama continua, a perda vem, a dor permanece e a lição fica ainda como não aprendida, porém somente com os anos, com as tentativas, enfim, com o tempo, que tudo se inclina e volta ao “normal”. O tempo aqui é trabalhado extremamente bem, seja para com Zac que percebe quem realmente é, ou pelo seu pai que compreende que na vida nada sai como esperamos.

O longa teve pouca recepção no Brasil, distribuído de forma independente, conquistou uma boa parte das críticas. Um filme bacana, divertido, com ótimos momentos engraçados e um bom drama ao final. Um elenco competente e uma ótima trilha sonora.



Sentimento de Culpa



Por meio de um drama cativante e simples, diretora nos mostra um lado interessante do homem.


Ajudar faz bem, a solidariedade nos comove, nos faz sentir mais bem com nós mesmos. É bom ajudar o próximo, o que está perto de nós ou aquele distante dos nossos olhos. Porém, fazemos isso porque realmente queremos, ou apenas para nos sentirmos bem, como uma forma de retirar de nossa consciência um peso, já que temos uma boa condição de vida e muitos outros não teem nada. Se formos por essa viés, então, ao ajudarmos, estaríamos fazendo isso apenas a nós mesmos e o mundo que simplesmente se dane. É com essa temática que os personagens deste drama irão se confrontar constantemente.

Kate (Catherine Keener) é uma mulher com uma boa condição de vida. Junto com o marido, eles tem uma pequena loja de decoração e algumas relíquias. Eles compram de pessoas que perderam seus entes queridos esse móveis por um preço bem vagabundo e os vendem a preços exorbitantes. Na visão deles, todos saem ganhando, eles que irão vender esse material e lucrar com isso e os familiares, que se livrarão dos pertences dos seus pais, avós ou quem quer seja.



Esse casal tem um apartamento alugado e querem reformá-lo, mas para isso, eles precisam comprar o ap do lado, que pertence a uma senhora com um pé bem próximo da cova. Ou seja, o que eles tem a fazer é apenas esperar o ceifeiro bater a porta desta velha. Essa simpática senhora tem duas sobrinhas, Rebecca (Rebecca Hall), doce e delicada, ajuda a vó em tudo e é sempre destratada por ela e Mary (Amanda Peet), uma garota arrogante e egocêntrica. As duas passam a visitar avó constantemente e acabam por se relacionarem com os vizinhos. Kate e Alex (Oliver Platt) tem uma filha adolescente que está passando por uma fase de não aceitação de tudo o que tem. Aos olhos dela, ela não tem nada de interessante, enquanto todos os outros teem.

É com esse grupo de personagens que a diretora irá trabalhar o tema culpa. É em Kate que se sente culpada por ter uma vida boa, por se aproveitar de pessoas num momento tão delicados da vida delas e obter lucro com isso. Para se sentir mais aliviada, ela sempre está ajudar os outros, mas por mais que ajude, ainda se sente angustiada e culpada por tudo isso.

Rebecca trabalha numa clinica com mulheres que fazem tratamento de câncer. Apesar de ser cansativo, ela se sente bem, pois está ajudando essas paciente num momento de dor. Sua irmã, pelo contrário, tenta parecer forte, decidida, despreocupada com tudo, passa a ter um caso com Alexl e simplesmente finaliza esse relacionamento do nada, mas na verdade ela também está sofrendo e se culpando pelas coisas que aconteceram em sua vida e culpando a todos por isso.

 
É nesse rol de culpas e sobrecarregamento que o filme vai abordar como podemos ser hipócritas e insensíveis ao mesmo tempo. Essa culpa que carregamos por vários motivos, está muitas vezes ligada a nossa própria busca por uma felicidade utópica. Nascemos e crescemos achando que buscando uma carreira, uma família ou respeitando os bons costumes seria o necessário para que pudéssemos ser felizes e quando alcançamos isso e a felicidade não vem, nos sentimos meio desorientados, infelizes,culpados e com raiva do mundo ou apenas cansados.



Apesar do filme ser simples, ele é cativante. Caminha entre o drama e a comédia com uma delicadeza impressionante. As vezes tenta ser algo que não é, uma obra super alternativa com ares de cult, mas fica mesmo sendo um drama simples, bem feio, com um olhar interessante sobre o homem. O que há de mais interessante aí ainda é o elenco, composto por um grande time de atores. Kenner se sobressai, Rebecca impressiona e Amanda agrada. Pool é outro que faz um bom papel, apesar ser mal aproveitado no cinema, sempre obtendo papéis de coadjuvantes, ele sempre merece destaque.

A trilha sonora é gostosa, o instrumental que abre o filme é muito bom, o roteiro sempre se mantém até a última cena. Nada muito meloso, apenas correto, simples e sincero, em falar nisso, a cena final é de uma beleza impressionante, a troca de olhares entre as personagens de kenner e Rebecca conseguem expressar mais do que palavras ou duzias de orações.

Um filme básico, que alguns diriam que é bem “feito para mulheres”, já que se sobressai aqui a figuras das mulheres e há apenas dois homens na história, sendo esses dois frágeis e nada lembrando aquelas figuras masculinas. Mas não, há sim muita delicadeza em cada passo, em cada gesto e em cada ação, mas o foco aqui é um todo, não apenas essas mulheres que são independentes, mas todos, inclusive os homens também. Afinal, a culpa nos persegue de forma igual, claro, alguns se sentem mais pressionados por esse mal estar do que outros, mas ainda assim, todos nos sentimos assim em certos momentos de nossas vidas, simplesmente culpados por algo que não compreendemos.