quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Antes que o Mundo acabe

 
Simples e singelo,uma pérola do cinema nacional.

Antes que o mundo acabe, produção gaucha é simples em sua produção, narração e até mesmo na história, entretanto consegue exprimir com veracidade, beleza e sutileza uma das fases mais importantes da nossa vida, a adolescência.

Daniel é um adolescente como todos os outros, têm planos, vive no game e MSN da vida. Seu dia se resume a estudar, ficar em frente a uma tela de computador, brigar com sua irmã mais nova e andar de bicicleta por toda cidade onde mora, com sua namorada Mim e o seu melhor amigo Lucas.

Porém, com o passar do tempo algumas coisas mudam e mudanças nunca vem com muita aceitação, mas assim é a vida. Mim pede um tempo no namoro, seu melhor amigo é acusado de um roubo e está tendo uma aproximação muito forte com a ex e por fim seu pai, que ele nunca viu ou conheceu começa a lhe mandar cartas com fotos e textos sobre ele. Diante desses fatos, Daniel faz tudo o que um garoto na idade dele faria, ou seja, tudo errado.

 
Desconfiando que Lucas e Mim estão juntos e principalmente, estão mentindo para ele, Daniel o coloca numa saia justa com o departamento da escola. A ação que é cometida num momento de raiva torna-se clara, somente depois quando vêm as conseqüências.

Porém, nesse momento, um Laptop é roubado e a acusação do roubo cai justamente sobre os ombros de Lucas, sendo assim Daniel acaba se sentido culpado.

Para deixar a situação um pouco mais emblemática, começam a chegar para ele correspondências com fotos e cartas de seu pai que está na Tailândia, que depois de 15 anos sem conhecer o filho, resolve procurá-lo.

Num primeiro momento, Daniel reluta, pois afinal o que sente é raiva, mas depois passar a ler e ver as fotos numa tentativa de compreender esse homem.

É nesse instante que entendemos o título do filme. Antes que o mundo acabe é um projeto de Daniel, pai de Daniel, de fotografar povos, culturas, tribos que com o tempo, devido à forte “evolução” ou globalização dos países em busca um desenvolvimento econômico, estão entrando em extinção.

Lugares ainda não tocados pelas mãos humanas, pessoas distantes dos grandes centros comerciais ou metrópoles, enfim, tradições milenares ainda intocadas pelas trocas de valores são fotografadas para, pelo menos nas imagens, permanecerem eternas antes que elas não sejam mais.

Nessa busca por informações, nessas experiências que Daniel, por obrigação, vai vivendo, ele, infelizmente, aprende uma lição tão valiosa e importante que todos temos pelo qual passar, a aceitação.

 
O filme consegue captar a beleza desta fase tão importante e confusa. A fotografia é exuberante, obtem lindas paisagens mostrando um pedaço desta cidade que ainda consegue manter os ares de interior.

A trilha sonora é espetacular e gostosa, molda as cenas e situações de uma forma muita interessante. Os sons ambientes são usados ao máximo também no longa: o ruído as águas, dos rios, das crianças cantando e pedalando ganham vida e se tornam fundamentais no filme, pois representam a cidade e sua essência. O silêncio também é muito bem colocado, tudo é posto de maneira proposital.

O elenco é composto por praticamente nenhuma figura global, todos os atores são desconhecidos. Os adolescentes que formam o trio na história estão muito bem nos seus papéis, conseguem dar veracidade aos seus dilemas. Destaque para a irmã de Daniel, ela é simplesmente uma graça. Ela é a parte cômica da história e também a nossa narradora em off que nos põe na tela metáforas e comparações incríveis sobre a vida.



A montagem é muita bacana e divertida. A troca de tomadas, alternando a vida de Daniel pai e Daniel filho numa sequência única, ao fundo com uma trilha mais calma e serene para o pai e com batidas agitadas para demonstrar o filho foram excelentes. A direção é segura, não entrega um melodrama, mas também nem algo engessado.

Antes que o mundo acabe é isso, um filme extremamente cativante e belo. Um longa divertido que tem em sua essência toda aquela sensação nostalgiante da adolescência em todas as suas dificuldades e belezas.

Esse filme simplesmente consegue embalsamar esses momentos únicos dessa fase e provocar em nós uma identificação nata com Daniel, em todos os seus sentimentos e ações, sejam elas boas ou más.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Minha Vida sem mim

Sensível, profundo e triste. Extremamente belo.

Rir, chorar, brincar, pular, coisas tão simples e as vezes tão insignificante, ganham peso, vida e fôlego nesse filme tão terno, intenso e comovente. Sem ser piegas ou se prender a clichês, o longa mostra a vida em direção a iminente morte e como momentos bobos podem trazer tão impressionante voracidade e desejo pela vida.

Ann (Sara Polley) é uma jovem mãe de duas pequenas garotinhas, casada com um homem brincalhão, Dom (Scott Speedman) que trabalha num emprego não tão bom assim. Eles moram num trailer no jardim da casa da mãe dela, apesar da estarem próximas, Ann e sua mãe não teem uma relação muito afetiva.

Enquanto seu marido trabalha durante o dia, ela descansa, pois seu turno de trabalho é a noite, limpando os chãos de uma universidade. A vida não é fácil e ela não se sente feliz. Uma consulta ao médico devido a alguns problemas com a saude faz com que ela descubra que tem um câncer em estágio terminal e sem muitas chances de tratamento. Ann ao saber dessa notícia fica balanceada, mas resolve não tratá-lo, não quer passar os últimos dias de sua vida num hospital internada e ver sua família a vendo debilitada.

Ela guarda a doença para si e resolve fazer um balanço de sua vida e colocar numa lista um singelo número de metas que deseja realizar antes de morrer: pintar o cabelo, almoçar num especifico restaurante, pintar as unhas com cores coloridas e ter um caso. Por fim, pede para que o seu médico entregue uma série de fitas gravadas por ela ao marido, sua mãe, seu breve caso e suas filhas, explicando o motivo de não ter contado a eles sobre a doença e como ela deseja que eles continuem com suas vidas.


Com passos lentos, de forma singela e bem intimista, o longa vai nos mostrando esse caminho por qual Ann atravessa e como aos poucos ela vai realizando esses desejos.

O filme tem uma sensibilidade tão crível com cada personagem que nem mesmo a traição dela fica como algo subversivo. Lee (Marc Ruffalo), o amante, é um homem amargurado pela vida, de fala mansa e pouco diálogo. Ele se interessa por Ann, mesmo ela dizendo que os dois nunca ficarão de fato juntos. Apesar dela ser casada, a forma como essa história é guiada, faz com que torçamos por eles, mas nessa drama, a felicidade não se dá tão facilmente.

Da mesma forma, a vizinha que Ann conhece próximo ao final do filme e que ela vê como possibilidade para ser a mãe das filhas delas e esposa de seu marido quando ela não estiver mais por perto, é trágico, doloroso e tocante. Porém como ela mesmo fala a certa altura, a vida deles continuarão e tudo prosseguirá e ela se preocupa com isso.


 
A trilha sonora é soberba, a melodia que guia o filme é lenta, suave, bela e profunda, capaz de despertar uma tristeza que nos faz chorar, em falar nisso, lágrimas é o que mais se derramará nesse filme. A música que inicia o longa e é tocada em diversos momentos é realmente muito linda. A cena do supermercado é extremamente bonita, revelando o tom que o filme quer nos propor: apreciar a beleza em momentos não tão belos assim.

A fotografia gélida ajuda a manter o drama um pouco distante, deixando um certo equilíbrio na história, para não tornar o longa muito melodramático. Outro recurso usado para amenizar esse detalhe está no fato de não mostrar algumas cenas: o momento em que ela revela para Lee sobre a doença e sua vida, o momento de sua morte, a do marido e sua mãe ouvindo as fitas. Esse recurso é bem utilizado, já que o drama é intenso, a trilha é profunda e faz um contrabalanço, deixando o longa mais limpo e menos trágico.

A direção é de Isabel Coixot, essa diretora tem feito trabalhos excelentes que vão nessa mesma linha: filmes de poucas palavras, porém com muitos sentimentos. É dela também o ótimo A vida secreta das palavras. Uma diretora talentosa que sabe retirar das imagens, dos momentos silenciosos e do belo trabalho com a trilha o melhor que esses elementos podem oferecer, sem apelar para cenas clichês e melosas.

Minha vida sem mim é um belo drama sobre viver mesmo que essa seja, em alguns momentos, tão miserável. Afinal, rir, chorar, sofrer, pular e brincar são atitudes tão simples, mas que nos mostram que ainda estámos vivos, e se estamos vivos, podemos lutar, pois depois da morte não há mais nada, nem dor, alegria, receio ou arrependimento.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O outro pé da Sereia




"Olhos, vale tê-los,
se, de quando em quando,
somos cegos e o que vemos não é o que olhamos,
mas o que nosso olhar semeia no mais denso escuro.

Vida, vale tê-la
Se de quando em quando morremos
e o que vivemos não é o que a Vida nos dá
nem o que dela colhemos
mas o que semeamos em pleno deserto.

Este mundo não é falso. Este mundo é um erro"


É com ternura, pois outra palavra não poderia exemplificar melhor essa ideia, que o autor Mia Couto faz ao escrever esse livro tão intimista e sensível, mas ao mesmo tempo irreal e realista. Nessa obra, o autor coloca em debate a identidade da cultura negra e do africano. É por meio de personagens tão singulares que Couto faz um balanço, uma análise e levanta uma lamentável realidade em torno deste continente.

A história se divide em dois tempos que correm paralelamente. O único ponto de ligação entre essas narrações está na imagem de uma santa. 

Mwadia  mora com Madzero Zero  numa vila distante de tudo, intitulada pelo marido como Antigamente. Nesse pedaço de vazio vivem os dois, numa relação amigável em que a simplicidade reina de uma forma impressionante. 

Depois que um pedaço de metal caiu do céu e Zero pensando que fosse partes de uma estrela que morreu e veio apenas descansar na Terra, ele resolve enterrá-la com a ajuda da esposa na floresta perto da vila. Um local cheio de segredos e história. Segundo Madzero, essa parte da floresta é guardada pelos seus ancestrais. Ao enterrar esse objeto, uma estranha figura imerge das águas. Uma figura que lembra uma imagem de uma santa, ao mesmo tempo que remete ao de uma deusa adorada pela tribo dos seus ancestrais.

Eles resolvem retirá-la de lá e levam para Lázaro Vivo , o curandeiro mais perto de Antigamente. Porém as respostas dadas pelo curandeiro não são nada animadoras. Segundo ele, se a imagem da santa não descansar num lugar sagrado, o espírito que paria sobre aquelas águas que ainda deseja vingança pela sua morte, sucumbira sobre Zero o levando a morte. Mwadia   então resolve partir para sua antiga cidade para depositar essa imagem numa igreja e assim salvar a pobre alma do seu marido. Porém, para voltar a sua cidade não é tão simples assim. Essa história se passa em 2002

Após esse fato, voltamos ao tempo, em torno de 1560, quando o padre D. Gonçalo da Silveira  mais seu seguidor a bordo do navio Nossa Senhora estão indo para a África, com a missão de evangelizar os pobres negros e conhecer de perto mais essa nova colônia da Portugal. Porém, a viagem até essas terras não será nada fácil e fatos estranhos estarão para acontecer que mudarão terrivelmente a vida desses dois sujeitos.

Mia Couto constrói uma história cheia de singularidades, graciosidade e engraçada sobre o "ser" negro e as raízes africanas. Porém, de todo o enredo apresentado a nós, as situações mais interessantes e divertidas deste livro giram em torno de como o europeu e até nós mesmos vemos esse continente e sua cultura. Visão essa, segundo o autor, já muito deturpada e irreal, pois imaginar um povo preso ao passado, em que a tecnologia não os contaminou é quase impossível.

Mas não é apenas nesses questionamentos apontados pelo autor que reside o grande dessa obra. O livro tem uma estrutura tão poética, passagens profunda e muito intimistas. Há um “q” de existencialismo percorrendo esses personagens, questões que de breve lembram as inquietações nas obras de Sylvia Plath e Virgina Woolf

Outro ponto interessante são com relação aos personagens apresentados durante o decorrer da história. Todos tem suas singularidades e são trabalhados com muita complexidade. Todas as ações cometidas por estes são reveladas e compreendidas ao desenvolver da narração. Todos ali tem algo a esconder e apenas nós que iremos descobrir todos os segredos escondidos no mais profundo de suas almas.

Mwadia que é a nossa personagem que faz a ligação entre esses dois tempos, guarda uma complexidade e uma dúvida que paira até a última frase do livro. Ela foi predestinada a pertencer aos dois mundos: o dos mortos e dos vivos, sendo como um canal, podendo ter uma relação de vivência com estes dois sem perceber. Devido a isso, jamais sabemos realmente se todos os personagens que passam por ela estão vivos ou mortos. Se são pessoas dotadas de folego de vida, ou espíritos ainda preso a esse mundo, caminhando sem saberem sobre a verdade que lhe cercam. São os passos de Zero que não ficam cravados na terra, as mãos geladas da antropóloga brasileira, o não reflexo do barbeiro Arcanjo diante do espelho, os quadros pendurados na parede. Todas essas dúvidas não são respondidas claramente, deixando apenas para que está lendo, interpretar os fatos e tentar compreender essas indagações.

Passagens que marcam são várias, personagens tocantes são todos praticamente. Em todo começo de capítulo, há uma frase dita por algum personagem que poderia, de certa forma, resumir toda a ideia dos acontecimentos que virão em seguida.

O outro pé da sereia é uma obra fascinante, cheia de nuances, ternura e profundidade. Com um tema que merece nossa atenção e uma mensagem que nos faz pensar e refletir: tudo é uma questão de ponto de vista, uma mesma imagem pode representar para alguns  a Nossa Senhora, da mesma forma que para outros  irá representar Nzuzu, ou Kianda, a deusa das águas. É nesse hemisfério que Couto quer trabalhar. A África ainda continua lá, com seus povos e suas tradições, mas estas como todas as outras, são transformadas com o tempo, porém, não os faz diferentes de outros povos. Se declarar como negro, ou como branco não nos faz diferentes ou únicos, pois somos todos iguais, sem distinção de pele, raça ou credo. Segundo o autor, antes de termos cor, uma crença, uma etnia, somos humanos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O violinista que veio do mar

 

Uma produção simples, com um estilo bem britânico estampado em todos os seus detalhes. Por meio de uma história cativante, conhecemos um pedaço dessa região da Inglaterra tão meiga com seus lares e suas casas contornados com belas paisagens. No drama, as duas irmas Ursula (Judi Dench) e Jane (Maggie Smith) encontram Andrea (Daniel Brühl) um rapaz desacordado na praia. Elas o socorrem e salvam a vida desse jovem. Por ele ser estrangeiro, elas ficam meio perdidas em como dialogar com o rapaz, mas aos poucos vão ganhando confiança e criando um estreito laço de amizade com esse jovem que balanceará fortemente Ursula.

Essas duas irmãs, apesar de desejarem o bem do rapaz, possuem sentimentos distintos por ele. Enquanto Jane é mais razão, tendo conhecimento que sua obrigação com ele é salvá-lo e dar as condições necessárias para que ele possa seguir adiante, Ursula é mais meiga, o lado sentimental, pois desenvolve por ele um afeto que vai além de um carinho. Com o decorrer dos dias descobrem que Andrea tem um talento soberbo para com o violino. Sobre o passado dele, elas poucas descobrem, já que ele não tem como explicar em sua língua o que de fato aconteceu. O jovem em pouco tempo, torna-se notícia na pequena vila e motivo de desconfiança, devido a detonar ser alemão. A história se passa em meio a Primeira Guerra Mundial.

Paralelamente a essa história, somos apresentados a Olga (Natascha McEllone) uma mulher que veio a essa pequena cidade para descansar. Ela fica encantada pelo talento de Andrea já ele fica fascinado com a beleza dela. Essa relação entre os dois provocará um ciumes no médico, que está com interesse na jovem e em Ursula  que vê em Andrea um amor impossível.



O drama é bem simples em seu contexto. O lado de amizade que se forma entre Andrea e as duas irmãs é o ponto positivo do longa. Umas das cenas mais interessantes e bacanas do filme é quando Ursula tenta ensinar o inglês a ele. Por meio de objetos ela tenta fazer com que o Andrea fale alguma coisa: um nome, um país, um objeto ou qualquer coisa com que se possa saber algo sobre ele.

O mais fascinante desse filme é como a comunicação e o elo de amizade se dá entre eles apesar de toda barreira da língua. Eles não se compreendem, não falam o mesmo idioma, porém conseguem transmitir todos os sentimentos possíveis por meio dos gestos, atitudes e olhares.

O final do longa é meio súbito. Nada que estrague o trabalho todo do filme. A direção do drama é correta e clássica. A trilha sonora é envolvente e marcante. O elenco é ótimo, Judi Dench e Maggie Smith, grande duas atrizes do palco inglês, aqui dividem espaço em boas atuações e fazem desse filme, apesar de sua simplicidade e pouco ambição, um interessante drama de época.


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Malu de Bicicleta

Uma comédia romântica bem suave, leve e despretensiosa.

Com um roteiro que apesar de soar batido, consegue se manter bem construído e se aproveitando ao máximo de seu bom elenco, o longa Malu de bicicleta é uma boa opção para se divertir. Sem ser marcante, a comédia não decepciona e entrega uma história inteligente, com momentos hilários e situações divertidíssimas.

Marcelo Serrado é Luiz, um paulistano tipico machista que tem suas conquistas como troféus. Se envolve com várias mulheres com personalidades distintas. Tudo seguia normal até que uma ex descontente o ameaça de morte. Por conta disso, vai passar uns dias no Rio. Lá andando distraído pela calçada, apenas reparando a beleza da cidade, é atropelado por Malu (Fernanda de Freitas) numa bicicleta. Pronto, é atração a primeira vista. Ele tenta o nome dela ou algo do gênero, mas não consegue nada.

Como bom pegador que é, não desiste tão fácil e a espera constantemente na praia até que a encontra novamente. Os dois passam a tarde conversando, se conhecendo e terminam, bom, juntos. Durante sua estadia no Rio, ele sai todos os dias com ela, conhece os amigos dela, os bares e lugares que ela frequenta e tudo mais. Com o tempo ele percebe que ela adora a praia, é despreocupada e não gosta de marcação cerrada. Normal e de certa forma é até interessante, pensa ele. Mas com o tempo, Luiz devido ao seu passado nada fiel, vai imaginando traições em todas as ações dela, pois seu maior medo é achar que ela seja uma versão dele.


É com um leve humor que o diretor irá trabalhar as piras desse personagem. Ele conhece todas as desculpas e escapadas e por esse motivo, por ela sempre usar das mesmas palavras e muitas vezes ações, vai desconfiar dela constantemente. São em suas imaginações e devaneios por medo de ser traído que acontecem as melhores e mais engraçadas cenas. O pensamento em off corre ao solto e são eles que nos guiam nessa história.

Todo drama do filme acontece pela perspectiva dele, sendo assim, há na tela sempre uma versão meio machista desse caso. Nunca realmente sabemos os pensamentos dela, tirando pelo final, em que ela escreve uma carta para ele. Fora essa cena, suas atitudes, medos, ideias, enfim, nada é revelado a nós, sendo que até nós mesmos não temos certeza da fidelidade dela. O filme tem um certo tom de Dom Casmurro, já que o drama segue a linha do pensamento dele e todo esses ciúmes é desencadeado por uma carta que Luiz acha nas coisas dela.

O que ajuda muito esse filme é que os atores estão muito confortáveis em seus papeis. Alternando comédia e drama, todo o elenco, tanto o principal, quanto o de apoio, dão conta do recado. Marcelo Serrado mostra que tem fibra como ator, a novata Fernanda de Freitas, sósia de Débora Secco, também impressiona, assim como Marjorie Estiano e Daniele Suzuki que aparecem para dar frescor ao elenco com suas presenças.


A direção do longa ajuda compondo situações suaves, nada é muito aprofundado. O objetivo aqui não é propor nenhuma análise, mas apenas mostrar uma história engraçada, sem ser tosca ou ridícula.

O roteiro, que por ser baseado num livro, consegue ser bem transportado para o cinema. Talvez essa proeza tenha sido pelo fato de que Marcelo Rubens Paiva, autor da obra, também tenha participado da produção do roteiro, ajudando assim, a manter a essência do livro no filme.

Malu de Bicicleta é um longa bacana, modesto, com boas doses de comédia, situações cômicas sutis, uma boa direção, belas paisagens e uma sintonia mais que agradável entre seu elenco.

Por fim, essa postagem é tensa, pois é a de número 100, yatthaaa.

sábado, 6 de agosto de 2011

Cópia Fiel


É com sutileza, apoiado num ótimo roteiro, excelentes diálogos e atuações soberbas que Copia Fiel se sustenta

James Miller (William Shimell) chega a uma pequena cidade para lançar seu livro e falar um pouco sobre o tema da obra. Elle (Juliette Binoche) chega no meio da palestra, fica por pouco tempo, deixa um recado com o amigo do escritor e vai embora. Mais tarde, a pedido dela, ele a encontra em sua loja, os dois saem pela cidade para conversar sobre o tema do livro e outros diversos assuntos. Durante a conversa, a cada momento, assumem papeis distintos, enganando quem vê a cena e a eles próprios, num jogo constante que perdura até momentos finais do filme.

O drama num começo, questiona principalmente a questão que rege o livro que justamente é o título do filme. Durante essa conversa, o que há entre eles é um debate acalorado por posições extremamente diferentes. Ela, amigável em certos momentos, áspera em todos os outros. Ele, sempre tentando ser cordial, porém deixando-se levar pela implicância dela em algumas situações.

Porém, um dos pontos mais do que positivos do drama é com relação a discussão que se abre em torno da importância da cópia diante da original. Segundo James, é somente na existência de uma réplica que se dá a autenticidade da peça original. Mas se for realmente analisar ainda mais esse posicionamento, todos os trabalhos produzidos são na verdade, uma imitação, uma cópia fiel, não existindo assim uma originalidade em nada existente, pois tudo é uma tentativa de reproduzir um momento, uma ideia, uma pessoa. Um retrato/quadro original é uma cópia de uma pessoa, de uma paisagem que se tem num certo momento, de um pensamento que se materializa por meio de uma reprodução artística.





Contudo, outro tema ganha proporção com o decorrer da conversa. Um assunto mais delicado, mais presente que é a questão do amor que se perde e se transforma com o tempo. Depois que se acaba aquela paixão fulminante entre um casal, o que fica? Aos olhos dele é apenas uma amor moldado pelo respeito mútuo e um zelo. Pela visão de Elle há ainda esse sentimento, entretanto, ele tem que ser trabalhado, vivenciando, não deixando com que os pequenos entraves da vida o abandone. No caso, essa posição dela, se revela apenas ao final, pois no começo e durante boa parte da discussão ela se mostra cética quanto ao amor.

Em meio a questões como originalidade/imitações e a transposição do tempo sobre o amor, o autor também exalta em seu filme o antigo, o simples, o rústico. Essa valorização se dá em meio a algumas imagens, escolhas, estruturas. A loja de Elle que é somente especializada em artefatos antigos, o restaurante com seus vinhos e azeites a mostra na janela. O hotel que encerra o filme ou ate mesmo a própria cidade por onde andam, com suas ruas estreitas, café pequenos moldados pela passagem do tempo e ambiantes que respira simplicidade.



Além desse roteiro que se apóia no forte diálogo, o drama tem em seu beneficio um elenco extremamente competente. Juliette Binoche que obteve o prêmio de melhor atriz em Cannes 2010 por essa atuação, está encantadora. Sua expressão ao falar, ao fitá-lo durante as conversas, seu sorriso terno e sincero pedindo uma resposta à sua pergunta ou o seu comentário são autênticos e verdadeiros.

Um dos momentos mais interessantes do filme que se estende em várias cenas é quando a câmera os filma de frente e tanto ele, quanto ela olham fixamente para a lente, como se estivesse nos encarando e diante do nosso olhar, conversam sorriem e tentam ganhar uma intimidade com nós. É como se nos encarassem e nós ficássemos frente a frente.

Esse é um daqueles filmes em que a voz da experiência está em todos os detalhes do longa, seja no elenco, composto por atores já vividos, seja na direção, na estrutura com que o drama é guiado ou na escolha dos cenários e composição da trilha. Uma história em que e figura do tempo está presente e se faz presente.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cenas da Natureza SexuAl

 
Um filme simples, porém muito bem feito e interessante.
Amor, sexo, desejos, traições, sonhos, desilusões, reencontros e rompimentos estão nesse longa de origem inglesa que tem em seu elenco fortes nomes como Ewan Mc Gregor e Mark Strong e um argumento que apesar de soar batido, consegue obter excelentes resultados.
O drama conta a história de sete casais que se esbarram e se encontram numa tarde num parque. Essas pessoas estão se descobrindo, terminado, se conhecendo, tentando, enfim, vivendo.
O que guia esse longa é como tentamos nos relacionar com o outro e como este é tão importante em nossa vida. Uma amor do passado, uma garota provocante, uma tentativa de ter uma transa, uma namorada de aluguel, o desejo de ter um filho. O longa que a primeira vista pode soar bem provocante dando a entender uma história pra lá de quente, nada tem disso, é uma história sobre pessoas comuns com seus problemas comuns.


A história que se inicia com um casal, é interrompida para nos apresentar outra história e assim consecutivamente. Alguns dramas são fechados ainda no começo, outros são levadas até o final, outros ainda se esbarram com um anterior ou com o seguinte, como se fosse um elo entre todos os personagens.
Como é o caso do jovem que entra na segunda história, faz uma ponta em outras duas e ainda por cima aparece no final. Seu único objetivo é tentar ter uma relação sexual nessa tarde, mas tudo é tão difícil e complicado que ele não consegue dar uma dentro, em falar nisso, esse é o personagem, que apesar de ter seu momento sério, é o alívio cômico do filme. E dessa forma somos apresentados a todos os sujeitos desse drama.
Alguns casos são delicados, outros engraçados, alguns sensíveis e outros ainda mantém uma certa linha tênue entre o dramático e o hilário, mas ainda conseguem dar ares, peso e estrutura ao filme.


 

Entre os destaques das histórias, temos a do casal de idosos que por um acaso da vida se encontram num banco do jardim. Ela sempre vai lá as quarta e ele as quinta. Nós não ficamos sabendo quem é que errou, dar a entender que foi ela, mas devido a esse detalhe, descobrimos, ou melhor, eles descobrem, que são antigos amantes que se encontraram algumas vezes e se apaixonaram perdidamente um pelo outro, mas devido a terem suas vidas, resolveram não arriscar e prosseguiram com seus caminhos. Essa é a história mais intensa e delicada do longa.
A maturidade da vida e a voz da experiência dão as cartas. Os diálogo em torno da vista que eles querem ter do parque serve com maestria para a vida: a visão do alto da colina parece ser melhor, mas é somente uma impressão, ela possui a mesma beleza e formosura da de baixo, mas somos nós que criamos expectativas onde não há, ou agregamos ilusão à vida que queremos ter, porém não temos.
O casal gay que possui uma relação aberta, mas sentem que precisam assumir mais responsabilidades nesse compromisso é outra história com peso no filme. Ted (Ewan Mc Gregor) quer adotar uma criança, mas seu parceiro não deseja. No desenrolar da conversa percebemos que Ted tem uma vida bem aberta e por mais que ele queira uma família, seus desejos sempre falarão mais alto e seu parceiro compreende isso. Há amor entre eles, mas não um compromisso de fato por parte de Ted e isso machuca o seu parceiro, apesar dele não demonstrar claramente esse sentimento.


 
Outra história que também chama a atenção é do homem que se encontra com uma mulher, seguem caminhando e conversando sobre todos os tipos de assuntos. Ele pergunta a ela porque gosta dele, quais os motivos que a levam a ter algum sentimento por ele. O que vemos nesse drama é uma sinceridade incrível entre os dois, um casal consciente e adulto que se dão muito bem, mas tanta perfeição esconde a ilusão de uma vida.
E a história mais engraçada, uma moça briga com seu namorado, ele a deixa, ela fica sozinha prestes a chorar ou gritar de raiva, quando do nada aparece um garoto enchendo a paciência dela. O que se tem depois disso é uma troca de diálogos, ora áspera, ora sensível ou cheia de insinuações e até em certo ponto direta. Vale o drama destes dois pelo roteiro direto, as atuações engraçadas dos dois sujeitos e principalmente dela que vai da frieza a raiva, chegando a uma voz mais terna e o rapaz apenas tentando manter uma conversa com ela. O que ele quer é simples: ele a acha bonita, ela estava mal, ele com tesão, pensou ele, porque não? Talvez um sexo daria certo entre eles.
São com dramas desse tipo e histórias nesse nível que o filme mantém o espectador. No fim, uma frase dita pelo casal de idosos explica tanto acasos no filme: “Como esse parque é grande”. É a vida.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O leitor

Com um filme frio e distante, O leitor tenta abordar a questão da culpa alemã sobre o Holocausto e o peso do nazismo sobre seus descendentes.

Como entender uma geração que torturou e assassinou inúmeras pessoas, crianças, jovens, adultos e velhos, tendo como motivo a superioridade. Como compreender e aceitar a culpa por esses crimes? Essa é uma questão até hoje muito complexa. Difícil para quem é de fora entender, mais emblemático para quem é de dentro.

Passado várias décadas pós Segunda Gerra Mundial, somente agora é que surgem no cinema e na literatura algumas produções e obras voltadas a esse cunho: uma geração tentando olhar para trás e compreender o que seus pais e avós cometeram ou se não, por qual motivo permaneceram em silêncio. Chegar a uma reposta é complicado, praticamente impossível, talvez o máximo que se pode obter é uma reflexão sobre como os alemães estão se sentido diante dessa culpa.

Michael Berg conhece Hanna na adolescência. Após visitá-la algumas vezes, passa a ter um relacionamento com ela. Ele vê nessa relação seu primeiro grande amor, aquela paixão que lhe devora a alma, já ela vê apenas como um caso, uma troca de prazeres. Durante a relação, conforme vão ganhando intimidade, ela pede para que ele sempre venha a ler uma história para ela. O que começa de forma esporádica torna-se num ritual, sempre da mesma forma, primeiro a leitura, depois o prazer. Assim passam todo o verão, mas simplesmente num dia Hanna desaparece e ele não a vê por muitos longos anos.


 

A história é divida em três partes, três momentos históricos. Nesse primeiro tempo, conhecemos a perda da inocência de Berg e como ele é sensível e emotivo, capaz de fazer de tudo por Hanna. Já ela é mais distante e quieta.

Passado algum tempo, Berg já na universidade estudando direito, se inscreve num seminário sobre a culpa nazista. Como parte do seminário, os alunos tinham que acompanhar alguns casos em que mulheres eram condenadas por participarem do campo de concentração. Dentre as acusadas estava Hanna que logo Berg reconhece. Após esse reencontro, o que se vê é a dor, raiva, ódio, medo e temor de um jovem ao ver a mulher que ele amou sendo acusada de ter cometido e participado de diversos crimes.

Num sentimento de culpa envolta de incompreensão, O leitor nos guia a diversas cenas marcantes, diálogos com peso, ousadia e enfrentamento. Uma das cenas mais interessantes do filme é em que o juiz está questionando Hanna do motivo dela ter feito o que fez e não ter tentando impedir toda aquela atrocidade. Simplesmente ela o olha e questiona: O que o senhor teria feito no meu lugar? Uma pergunta simples, mas que coloca em xeque toda a história. No final dessa parte se dá o veredito.



Hanna possui um segredo que pode absorve - lá, mas se recusa a comentá-lo. Berg logo descobre, lembrando dos momentos que passou junto dela qual é esse terrível segredo. Ele quer contar, dizer a verdade, mas se sente preso por sentimentos que vão da raiva à dor de ter sido abandonado.

Baseado na obra de Bernahard Schlink, O Leitor, nos proporciona essa análise sobre esse momento tão delicado da história. Esse longa propõe simplesmente a tentativa de compreender essa ferida que continua aberta e que dificilmente se cicatrizará.

O drama aborda de forma séria esse fato, expondo os dois lados: os das vítimas e dos acusados. Ao final, o que se vê é apenas a dor, incertezas, incompreensão e talvez um certo alivio. O personagem de Berg representa um país tentando rever seu passado, tentando compreender os próprios atos, erros e motivos

A fotografia do longa ajuda o drama a manter esse clima gélido no ar, assim como a trilha sonora e a direção que é segura e seca. No mais, é um drama conciso, seco e sem sentimentos ou calor humano. Na tela, apenas vemos e observamos, mas nunca conseguindo compreender o que os personagens realmente sentem, pensam ou desejam. Dor e arrependimento caminham lado a lado.

Indicado ao Oscar de melhor filme e vencendo na categoria de melhor atriz para Kate Winslet numa atuação marcante em que ela conseguiu trazer humanidade a uma personagem tão gélida, o filme retrata um assunto que provavelmente terá novas histórias levadas ao cinema.