sábado, 10 de novembro de 2012

True Blood: 5 Temporada



O que é você?

É com essa pergunta, de certa forma simples, mas ao mesmo tempo, complexa, que se resume o quinto ano de True Blood.

O que dizer sobre o quinto ano dessa série? Não foi ruim, porém, não foi boa. Faltou algo, mais drama, mais junção dos arcos, muitos personagens soltos, bom, os problemas são os mesmos de sempre. Mas neste ano, algo deu certo e algo também deu errado, hilário dizer isso e complicado compreender. Talvez, por eu ser fã da série, não consiga ver só falhas.

Para esse quinto ano, o tema principal voltou a ser a fé que cega, mas agora ligada a um outro ponto que já foi abordado pelos diretores, que é a questão política. Muito se falou sobre a Autoridade, mas nada sobre o que seria, como seria formada, sobre o que estava baseada. Neste ano, tem -se a resposta para algumas perguntas, mas ao final, novas são feitas.

Após o término da quarta temporada, o seriado deixou vários pontos em aberto. Todos os pontos se fecharam ainda no começo do primeiro episódio. Algumas tramas deram certo, outras nem tanto. Mas o que ao meu ver deu certo, é que essas pequenas tramas paralelas conseguiram prender a atenção e trazer bons momentos ao seriado. Nas primeiras duas temporadas, todo enredo da série se concentrava em apensa dois arcos ao máximo, a partir da terceira, personagens de apoio tiveram espaço e foram ganhando peso dentro da série, isso não deu muito certo, já que são muitos personagens, muitas tramas, muito difícil acompanhar. Esse lance de todos os personagens estarem envolvidos em algo é legal, mas perigoso. Legal pois os deixa dentro do mundo e não solto para aparecerem e falarem algo sem importância, deixam de ser um mero elenco de apoio e ganham vida dentro do contexto da série. Perigoso pois se há muitos personagens e não tiver um bom roteiro que una esses arcos, tudo se perde e foi isso que aconteceu principalmente na terceira temporada. 


Neste quinto ano, houve mais tramas, mas estas conseguiram ser bem trabalhadas. Tara e sua difícil aceitação como vampira, seus dramas com Sookie e Lafayette e posteriormente, sua boa interação com Pam, rendendo ótimos momentos. Jason e sua complicada relação com Jéssica e Hoyt, dando um dos finais mais ternos e sensíveis de todo seriado. Sookie, suas origens e sua relação com as fadas, Lafayette enfrentando seus demônios, já que adquiriu os poderes dos ancestrais de Jesus. Arlene e seus problemas envolvendo espíritos e fantasmas e por fim, a Autoridade, o grande tema da temporada.

Após Tara ser morta por Debby, ela é vampirizada por Pam, a pedido de Sookie. Tara como vampira, fica apreensiva e perdida nesse caminho, pois ela se tornou naquilo que ela mais desprezava e odiava. Essa trama envolvendo essa personagem passa por dois momentos, um drama comovente ao lado de seu primo e de sua melhor amiga, e numa segunda parte, sua relação com Pam, a educando e mostrando como é ser vampira. Esse momentos serão engraçados e intensos. Com essa trama, essa personagem recupera aquele carisma perdido ainda na segunda temporada.

Lafayette com o passar dos episódios, ganha uma história própria, ela não tem importância ao contexto da temporada, mas torna-se tocante pela despeda final entre ele e Jesus. A cena do carro possui tanta delicadeza, conforto e dramaticidade. Nada se diz, nada, apenas um olhar de despedida, de respeito e amor. Nesses momentos True Blood mostra seu potencial, apesar de ser uma série vampírica, sua grande força está nos dramas de seus personagens, em suas escolhas e nos seus medos.

Sookie nesse quinto ano fica meio apagada, sem relevância. A busca da verdade sobre seus pais a leva a conhecer seus poderes, sua essência e um perigoso segredo: ela está prometida a um vampiro muito antigo. Um dos seus parentes fez um pacto com sangue de fada e como oferta a ofereceu. Claude conhecia esse vampiro e o espírito dele aparece a jovem fada numa noite e além do mais, a fada anciã afirmou que toda sua ligação com vampiros está relacionada a esse pacto. 



 

Arlene serviu pra encher linguiça, mas eu gosto das tramas envolvendo essa personagem. A do quarto ano foi tocante, terna e envolvente. Perdão e redenção guiaram aquele arco, a desse está preso ao passado, aos atos cometidos. Todo pecado será cobrado e ele vem. O fim desse arco é forte, tenso e nos faz pensar o que é certo ou errado. Haveria outra forma?

O principal núcleo desta quinta temporada fica por conta da Autoridade. Não houve um vilão de fato neste quinto ano, mas apenas o mal que foi representado por uma ideia e um pensamento e esse se materializou em diversos personagens no decorrer dos episódios. Após Bill e Eric matarem Nam, eles fogem, mas são pegos pela Autoridade, no meio do caminho são libertos por Nora, irmã de criação de Eric.

Primeiramente conhecemos Roman, a autoridade. Ele é a figura máxima da ordem dos vampiros. Ele acredita fielmente mesmo numa coexistência entre humanos e vampiros. Para eles, os homens são à base de toda a existência e não apenas alimentos. Ligados a fé, teem como mãe de todos os vampiros, Lilith. Ela foi a primeira vampira e criada a imagem de Deus. Dentro dessa fé, há a explicação de toda existência vampírica, humana e de outras criaturas. 


Dentro da autoridade, outra linha de pensamento ganha força e adeptos. São os que vão ao extremo dessa fé e acham que os humanos são apenas alimentos e nada mais. Eles acreditam que os vampiros devem assumir sua posição de filhos e tomar a terra. Enfim, pregam uma guerra santa, estes são os sanguinistas e toda trama está ligada a esse movimento sanguinista e todos os passos são dados para que se cumpra esse desejo. A libertação de Russel, a prisão de Bill e Eric e a morte prematura na série de Roman.

Após ser revelado todos os planos, nos é mostrado os vilões, mas estes ainda sim não são. São os pensamentos e a fé que os guia. Sendo assim, Nora, Salomé, Bill, Roman são apenas objetos dessa fé. A própria figura que aparece, como sendo a própria Lilith é uma referencia a isso. Ela é algo em que eles possam acreditar, ela é a que causa toda morte e destruição. Segundo Godric, o vampiro criador de Eric, ela é uma deusa ateia, decida a propagar o terror. Para os vampiros ela é Lilith. Enfim, é a materialização de uma crença.

É nesse sentido que se encontra o grande dessa temporada. Unindo a ideia que deu certo na segunda temporada que foi a fé mais o tom político da terceira, tem-se uma mistura perigosa. Com os sanguinistas dentro da autoridade como força principal, inicia-se uma fase sanguinária, onde humanos são mortos descontroladamente. O governo dá um ultimato aos vampiros, se continuarem dessa forma, irão revidar propondo a extinção dessa raça. Romam sabia dessa probabilidade, por isso, pregava tanto a união pacífica. Mas os sanguinistas não, sendo guiados pela fé, irão até as últimas consequências.

Com os vampiros sedentos por sangue e várias mortes humanas acontecendo, o clima fica tenso e todos se voltam contra eles, incluindo as fadas. Ao final da temporada, um clima de guerra é estabelecido, mas não chega a ser tornar real. Como de costume e isso que deixou a série morna, toda uma carga de fatos acontecem nesse último episódio e nada se fecha e tudo se abre.

Apesar de todas as falhas e foram várias, muitos pontos deram certo. As tramas paralelas foram bem trabalhadas, muito bem trabalhadas, conseguindo dosar drama e comédia no tom certo. Até no arco envolvendo Arlene ou do Andy deram certo. Alguns personagens saem de cena, Hoyt é um deles e a despedida dele é uma das cenas mais comoventes de toda as temporadas de True Blood. Outras personagens ganham presença, como é o caso de Holly, como eu gosto dela, isso achei ótimo e o clã das fadas tiveram mais presença. Ainda falta estabelecer uma história melhor, envolvendo a rainha da fadas, aquela que enfrentou Sookie no começo da quarta temporada. 



 

True Blood soube abordar os dramas, os levando ao seu ápice, mas ainda sim, são muitos os personagens e isso cansa. Allan Ball fez seu último trabalho frente a série, agora o seriado ficará com outro diretor, isso pode melhorar o caminho desta série, ou arruinar de vez. Ball é um diretor ligado ao drama, nesse sentido, quando a série quis invocar estes momentos, foi muito bem direcionado. Seu olhar para o humano é ótimo. Porém, quando tentou criar algo grande, perigoso, aquele clima de tensão e batalha, foi falho.

O que é você? Ou, o que nós somos ou desejamos? Todos os personagens passaram por essa dúvida e ao assumir uma ideia, uma identidade, enfim uma resposta para esse pergunta, nos leva também a aceitar todos os lados dessa figura, o bom e o mal. Podemos mudar quem somos, mas se mudarmos, estaremos sendo nós mesmos. Mas se não gostamos do que somos, o que podemos fazer? São dúvidas como estas que nos movem, nos guiam e nos fazem ser quem somos, uma busca infinita de nos compreender e de tentarmos ser pessoas melhores.

Essa foi a busca dessa temporada e a esse fim alguns personagens chegaram. Jason e seu desejo por vingança contra os vampiros, Jéssica e seu total desamparo. Sookie e seu medo do que lhe poderá acontecer e Bill assumindo um lado escuro seu, buscando poder, ódio e rancor, o fazendo como o grande vilão do quinto ano e provavelmente do sexto também. 



domingo, 4 de novembro de 2012

Jovens Adultos


Sabe aquela fase pela qual todos passamos, em que percebemos que a vida não é perfeita, que nada é como realmente queremos, mas que simplesmente são assim e que devemos seguir adiante, deixando assim a adolescência/juventude e enfim, crescendo. Isso geralmente acontece a todos, essa é a ideia. Bom, mas nem todos passam exatamente por todas essas fases, alguns meio que param numa parte deste caminho e simplesmente não amadurecem, não crescem e Mavis (Charlize Theron) está nesse momento.

Ela é uma escritora, dona de uma série de livros adolescentes. A série teve ótima recepção quando lançada e lhe rendeu muito prestígio e dinheiro, mas acabou e ninguém mais quer saber. Ela ainda não percebeu esse detalhe. A editora quer um final para a trama e a cobra constantemente, porém ela não sabe qual seria esse final, pois afinal, nem sabe como dar um final aos seus próprios dramas. Achar um desfecho coerente, adulto e maduro para uma personagem que se assemelha a própria autora é complicado, pois esse drama é a pura trama de sua vida.

Ao ficar sabendo que seu ex está casado e acabara de ser pai, ela olha, pensa e pensa. Olha a foto da criança e não se contém. Quer voltar a sua antiga cidade, não apenas para rever todos, mas para tentar conquistar de volta seu ex, afinal, eles foram feitos um para o outro. Ele era popular, ela também, namoravam, algo não deu certo, ela não quer saber o que deu errado, apenas que tê-lo novamente. Ele sendo casado e pai é um empecilho, mas Mavis nem liga pra isso, é apenas um detalhe da vida.

Quando volta, percebe que quase nada mudou, somente as pessoas que estão as sua volta. Mas mesmo assim, tudo ainda permanece chato, sem graça e com aquela cara de interior, movidas por pessoas sem futuro que vivem um dia após outro de suas pacatas e ridículas vidas.  Ela, pelo contrário, é a materialização de tudo com que sonhou. Mora numa cidade grande, foi bem sucedida na carreira, mesmo que seu ápice tenha chegado ao fim, ainda continua bela e atraente, isso ainda nos seus 37 anos de vida. Ela está bem, vive bêbada, andando com um cão que não para de latir, tentando dar um fim a uma série, mas nunca conseguindo produzir nada. Sim, ela está bem, ela está muito bem, ela pensa.



É com esse drama solto, com um roteiro muito bacana que Jason Reitman e Diablo Cody voltam a trabalhar juntos. O primeiro filme “Juno” foi soberbo, divertido e gostoso na medida certa, lá uma adolescente dava o tom a história, aqui é uma mulher que tenta guiar e fazer a coisa certa, isso aos seus olhos, mas que sempre faz tudo errado, e quando você pensa que ela irá crescer, ela simplesmente mata um personagem e continua.

O drama tem uma direção bem maneira e deixa para Theron toda graciosidade dessa personagem. Mesmo Mavis sendo arrogante e egocêntrica, gostamos dela. Charlize embeleza essa personagem entregando uma atuação profunda, intensa e divertida. Suas crises de bebedice e até o ponto mais forte do longa são bem levados pela atriz. O restante do elenco dá um belo de apoio ao filme, mas é Charlize Theron que dá estrutura e forma ao filme.

A trilha é bem trabalhada e os atos impensáveis dessa louca escritora também. Não é fácil amadurecer, alguns jamais conseguem, outros ficam no meio termo. Aceitar tudo e partir para novos rumos, sem mágoas e seguir não é tão simples, mas isso faz parte da vida. Mas Mavis fica preso a esse idílico mundo de uma forma muito divertida, mas aos poucos ela percebe que tudo que era especial para ela, particular, não era tão bem assim. O melhor exemplo disso é a música que ela escuta inúmeras vezes no carro, aquela canção era especial para ela, representava toda uma era, mas essa mesma música também era especial para outras pessoas, essa quebra a desperta e faz perceber que sim, nem tudo é belo, “mas” ..., esse mas a mantém presa nesse paraíso de arrogância até que o pior ela faz.

Um filme divertido, solto, leve e descontraído, tentando mostrar como pessoas podem crescer, outras nem tanto, mas ainda sim, todos tentam e tentam, ao seu modo, viver e superar a perda, a dor, a não realizações dos sonhos e a tentativa de revivê-los. Todos tivemos um momento de nossas vidas que foram mais do que importantes e nos prendemos a eles, mas estes fazem parte do passado, simplesmente do passado, sem nenhuma ligação com o presente. Assim é a vida, é contínua, ele pode ser lembrado, rememorado, mas não, ele não pode ser mais revivido. Isso é doloroso, isso é a vida.


O despertar


Florence (Rebecca Hall) é uma cética quanto as questões que envolvem espíritos. Numa época pós Guerra, muitos fantasmas voltaram do além para dar mensagens a seus entes queridos, porém muitas destas aparições eram falsas, vindas de mentes que queriam lucrar com a dor alheia. Florence tem como trabalho quebrar e desvendar esses fenômenos, tendo como base de apoio a pura ciência.

Quando chamada para explicar as visões de um fantasma de uma criança que persiste a assombrar um colégio, Florence irá bater de frente com suas convicções e crenças que até então carregava consigo.

Com direção de Nick Murphy, criador e diretor das séries Glee e American Store Horror, esse drama segue a mesma linha destes seriados: baseado em clichês do gênero que tenta e tenta. O suspense tem suas qualidades e muitas, mas não chega a ser assustador, não chega a amedrontar. Fica nesse meio termo, mas ainda sim, é um bom filme.

Como de habitual nesse gênero, Florence chega a mansão, algumas pistas da verdade ainda são dadas no começo, mas elas ficam tão claras que o espectador já percebe que algo está errado com uma certa personagem, pois a forma como ela falou tal frase soou estranho demais. Mas como a verdade ainda não foi dita, nossa protagonista  segue e descobre e desvenda, mas em certa altura do campeonato percebe um ponto estranho no passado dessa casa. Essa mansão guarda segredos e é nesse passado que ela resolve focar. O problema que isso está ligado a ela. 




Nesse momento, o susto sede lugar ao drama e o filme ganha folego. Já não temos medo do espírito, afinal, nem todos são maus, assim como os homens e o drama caminha em direção ao um final de certa forma previsível e ambíguo.

Com uma excelente fotografia apoiada em tonalidades escuras, muito guiada pelo cinza e azul, e uma paisagem muito bela, “O despertar” é tipo uma síntese de tudo que já se viu em filmes de terror que envolve espíritos. A trilha sonora é boa, bem usada e tradicionalmente usada. Ela nos avisa a cena em que algo irá acontecer. A fotografia e a iluminação ganham vida e presença valorizando cenas, cenários e momentos. Os ambientes fechados são muito explorados, as salas escuras, o som que vem de um cômodo distante, os sustos que sabemos já sabemos de antemão, tudo é nos dado de forma muito normal, já vimos essas cenas em outros filmes. Enfim, “O despertar” é mais do mesmo

O melhor nesse drama fica por conta do elenco já que Rebecca Hall é uma excelente atriz. Ela encarna uma cientista muito competente, que tem um passado muito doloroso. No fundo, ela quer acreditar nessa verdade toda sobre espíritos, pois assim não se sentirá tão só ou solitária. Na visão que ela quer acreditar é que morrer não significa necessariamente partir. Completam o elenco Dominic West e Imelda Staunton. Essa última leva os créditos também. Consegue nos passar medo, pois sua aparência denota que ela sabe de toda verdade que está sobre essa casa, ao mesmo tempo que nos passa confiança e sinceridade em suas palavras.

A verdade está diante de nós o tempo todo, alguns a percebem no começo, outro no meio da película, mas infelizmente, essa realidade se vê facilmente e esse é o lado fraco do filme. Longas como “Os outros”, e “O orfanato” levaram essa verdade por mais tempo e nos deram mais momentos de dúvida, já este não. Mas ainda sim, é um bom drama, só pecando pelo final. Ao meu ver, ser mais claro com relação ao destino dessa personagem seria mais interessante.


J. Edgar


Com um drama lento, calmo, boa trilha sonora e um competente elenco, Clint Eastwood tenta humanizar uma figura muita emblemática da história dos Estados Unidos.

Edgar  (Leonardo Di Caprio) é uma das figuras históricas estadunidense mais instigantes. Criador do FBI, a polícia federal norte-americana, esteve a frente do cargo pelos incríveis 48 de existência, ou seja, desde a sua criação até o momento de sua morte, ele coordenou e dirigiu essa que é uma das agências mais conhecidas e fortes atualmente. Mas para se manter no cargo, precisou usar muitos recursos ilegais, chantagens e ameaças.

Sua vida particular nunca esteve a mostra, sempre muito reservado, nunca se casou e tinha como um grande amigo e único praticamente, Clyde Tolson (Armie Hammer). Essa relação é até hoje vista como segundas intenções. É sobre a vida deste homem, sobre o nascimento e concretização de sua FBI, passando por alguns detalhes de sua vida pessoal que esse filme vai abordar. E isso de forma sempre delicada e terna, sempre tentando compreender, nunca julgando, mas sempre tentando compreender o lado homem dessa figura, o lado de dor, de erro, de busca, de desejo, enfim, aquele lado nosso humano que esquecemos de abordar.

Buscando o passado, num momento de pura tensão entre capitalistas e comunistas, Edgar vai dando seus primeiros passos, ganhando confiança, fazendo e desfazendo amigos. No meio disso tudo, algumas pessoas de extrema importância irão trafegar por esse caminho, pessoas que serão determinantes em sua vida. Anne Marie Hoover (Judi Denchi), sua mãe, uma mulher de presença forte, muito ligada ao seu filho e conservadora. Helen Gandy (Naomi Watts), sua secretária, uma pessoa de extrema confiança, estará com ele a todo o momento, do nascimento do FBI até a sua morte e por fim Clyde, grande amigo de Edgar, que conforme alguns relatos, era seu companheiro e que esteve com ele em todos os momentos de sua vida, sejam eles bons ou não. 


 
Clint realiza aqui um filme magnifico e esse elogio se dá pelo fato que ele consegue imprimir  nessa biografia uma humanização sobre essa figura central, sem se esquecer de alentar os defeitos do protagonista. Ele não é perfeito, nós já sabemos disso e podemos ver isso em suas atitudes, pois ele é arrogante, prepotente, orgulhoso, sistemático e jamais gosta que sua opinião seja desacatada. Não respeita o próximo e manipula a todos ao seu bem proveito. Geralmente numa biografia, os diretores, para tentar dramatizar suas história, modificam a personalidade, amenizam os defeitos, manipulam opiniões. Mas aqui não, ele mostra os dois lados desse personagem, e faz com que venhamos ver como ele realmente é, um homem de desejos, ambições, medos e defeitos.

Essa não é a melhor obra de Clint, isso é claro, mas também não é a pior. Um dos pontos positivos, ao meu ver, é que ele segura um pouco o lado dramático do filme, deixando a película um tanto fria, não deixando com que o espectador venha derramar lágrimas facilmente. A história é densa, não melodramática. 

Em Menina de outro, por exemplo, o diretor trabalha todos os planos, tomadas e detalhes para nos comover e sofrer com ela. Já em Edgar, ele tenta deixar o drama o mais sóbrio possível e isso engrandece a película. Há dor nas cenas, podemos perceber seu olhar diante do espelho, na briga com Clyde, mas estes momentos nunca se sobressaem, tudo é muito bem orquestrado para não trazer lágrimas fáceis.

Um ponto interessante é ver como essa agência foi obtendo respeito e isso com a ajuda do próprio cinema e como todos os jogos políticos estiveram à frente de todas as ações e jogadas políticas. Nessa drama, vida privada e pública se entrelaçam, trazendo poder, mas também sofrimento à Edgar, pois seus desejos não podem ser simplesmente vivenciados e isso por medo, por reputação ou preconceito. 



Tudo está claro, mas nada confirmado, a relação com seu amigo se estabelece dessa forma. Tudo está a nossas vistas, a troca de olhares, os jantares, os pedidos, as brigas, mas não, não está nada declarado. Isso nos mostra um lado que façamos com que nos sensibilize com esse personagem, pois nesse momento, está aí a figura humana, dona de medos e desejos e não aquela registrada pelas fotos, pelas notícias ou pela história oficial, ali está um homem e não apenas uma figura histórica. 

A trilha sonora é competente, forte e intensa, mas não se sobressaindo sobre a imagem, presente e nem tão presente. A fotografia é meio gélida, com um tom clássico e o elenco está formidável, com todos os elogios para Leonardo Di Caprio. Um excelente ator que vem desempenhando papéis fortes e com atuações esplêndidas dignas de indicações ao Oscar. Judi Dench está correta, Naomi Watts fica apagada, não percebível, não é que ela esteja ruim, não, ela não está, mas também não se destaca e Ammy Hammer também surpreende, se bem que seus trejeitos tentando se passar por um velho soam meio falso. O único ponto falho no filme foi com relação a maquiagem nos personagens de Helen e Clyde, elas ficaram sobrecarregadas e falsas demais.

Apesar desse detalhe, é um filme muito bem feito, não é a melhor obra desse grande diretor, mas também não decepciona. Sóbrio, correto e forte, com boas atuações e uma história interessante.