domingo, 3 de março de 2013

O Lado Bom da Vida

 

Bradley Cooper e Jennifer Lawrence brilham e se destacam nessa comédia sobre a vida, o amor e sobre como a loucura pode ser tão normal quanto pensávamos.
 
Cooper é Pat, ele perdeu o emprego, a casa, a esposa, a imagem e sua sanidade. Enfim, tudo o que tinha se foi. Em total estado de depressão e desconsolo, fica internato num sanatório por oito meses. Ao sair, com a permissão da justiça que sua mãe conseguiu, sem o consentimento do seu marido, pai de Pat, ele retorna ao lar.

Mas nada está normal em sua vida, ele deseja a todo custo voltar para a esposa, mesmo que ela tenha o traído com um professor do colégio. Esse passado nunca fica muito claro a nós, a única certeza que temos é que ele sofreu muito com essa traição, porém, ele a ama tanto que é capaz de perdoá-la.
 
Em sua vida, surge inesperadamente Tiffany (Jennifer Lawrence). Ela também não é nada normal. Após perder o esposo num trágico acidente, ela se lançou em numa séries de confusões que nem sua família consegue suportá-la mais. Ela é estourada, espontânea, divertida, engraçada e não poupa palavras.

Os dois se combinam, sejam em seus sofrimentos, ou em suas loucuras. E é nessa relação baseada na loucura que ambos tentarão se restabelecer novamente nessa vida. Seja ele, revendo seus medos e desejos, seja ela, redescobrindo uma paixão mais pura pela vida.




“O lado bom da vida” é uma comédia divertida, hilária, simplesmente sensacional. Com direção de David O. Russel, diretor experiente dos bons e intensos filmes como “O vencedor” e “Três Reis”, a comédia aposta num bom roteiro, num elenco formidável e numa direção mais do que segura, consistente e instigante para conquistar o público e nos contar uma história sobre a vida, sobre como amar pode nos ferir e nos roubar todos os alicerces da vida, mas como o amor pode nos curar e nos fazer perceber como a vida pode ser deliciosa, apesar de todos os seus “poréns”. 
 
Um ponto interessante no longa é como a normalidade é tratada. Todos tem algo que os deixam fora do convencional, seja a paixão louca de Ted pelos esportes e como ele acha que os sinais podem mudar o rumo dos jogos do seu time, ou Marck, o melhor amigo de Pat que não consegue se impor em seu casamento.
 
Na verdade, o que é ser normal? O que é a normalidade? Pat e Tiffany são apenas pessoas que sofreram com a vida e buscaram uma forma de se defenderem diante de tanto sofrimento, é nessa busca dos dois de se estabelecerem novamente que está o lado cativante desse longa. A química entre os atores é deliciosa, o ritmo do longa é agradável, tudo é natural e nada forçado. 

Comédia e drama caminham lado a lado, num filme que mostra o melhor do cinema independente norte-americano. Sendo indicado aos principais prêmios da Academia, o filme fez bonito no cinema. Um longa simples, nada grande, mas que sabe contar muito bem uma história. Inteligente, profundo e hilário. 

 

A delicadeza do amor


“A delicadeza do amor” é leve, suave e singelo. É um drama, um romance, uma comédia. Um filme que não pesa a mão no seu lado dramático e consegue ter leveza quando se enquadra no gênero comédia. 

Nathalie (Audrey Tautou) é jovem, conseguiu um bom emprego e acaba de ser pedida em casamento. Ela está feliz e se sente realizada. Nesse primeiro momento, conhecemos apenas ela. O longa começa como se ela acabasse de conhecer François (Pio Marmaï), seu namorado. Eles estão juntos já faz um bom tempo. Se amam, se sentem bem juntos e se completam. Apesar do filme focar nela com outro homem, essa relação dela com seu primeiro namorado é mostrada para que possamos compreender sua dor, sua insegurança e suas atitudes. O diretor quer que nos apeguemos a ela, tentar entender sua angústia, seu sorriso e sua busca. 

Na vida, nada dura para sempre e esse romance termina mesmo antes de começar de verdade. François falece e Nathalie cai num profundo período de dor e luto. Anos se passam e ainda sim ela não se interessa por mais nada, seus olhos demonstram um intenso vazio. 



Num certo dia, Markus (François Damiens), funcionário da empresa, entra na sala de Nathalie para pedir explicações sobre um projeto dela. Por um impulso, ela o beija. Esse beijo que do nada acontece, desperta nele uma série de dúvidas, pensamentos e sentimentos. A partir desse momento, conhecemos melhor um pouco sobre esse personagem. 

Marckus não é lindo, não é elegante, não é daqueles que inspira desejos ou desperta a atenção de todos numa noite. Um cara bem normal, reservado e que ninguém percebe. Ele é doce, engraçado e possui um sorriso sincero. Apesar destas qualidades, ele não se sente o melhor homem do mundo ou atraente. Sente e sabe que todos o olham com desprezo, mas se cala diante desse fato. 

Após o beijo, ele fica meio perdido, não sabendo o que sente ou que fazer. Ao vê-la de novo, é ele quem toma a iniciativa e a beija inesperadamente e ela quem fica constrangida. Então surge um convite para jantar, para um teatro, para conversar e almoçar juntos e aos poucos, vai nascendo entre eles um sentimento verdadeiro de respeito, ternura e amor. 

Conforme todos vão tendo conhecimento sobre os dois, rumores envolvendo preconceito e desprezo sobre eles vão ganhando força. Ele passa a ser notado. Nesse momento, o filme coloca em debate a questão da beleza e como ela é dita regras em nossa sociedade e como não ser “belo” pode fazer com que alguns sejam invisíveis.  


É com calma e muita tranqüilidade e naturalidade que estes dois vão se envolvendo, se apaixonando um pelo outro. “A delicadeza do amor” trabalha constantemente nesse ritmo. Se num começo nos apegamos a Nathalie e François, com a morte deste, também sentimos a dor da perda dela e compartilhamos do seu vazio. Da mesma forma também, quando Nathalie se sente cúmplice de Marckus, sentimos o mesmo e ficamos naquele desejo de saber como os dois terminaram juntos essa trama. 

Guiando um filme que não chega a ser intenso, porém respeitando o tema da morte, como ele deve ser respeitado, “A delicadeza do amor” flerta com a dor, suavizando-a e não negando seu espaço dentro dessa história. 

Um ponto interessante a invocar são as referencias à Bergman, grande autor que teve como tema em seus filmes a questão da morte, ora a revelando diretamente, ora indiretamente. Em "A delicadeza do amor", seja pelo quadro da parede mostrando o pôster do filme “Gritos e Sussurros” ou prela presença forte da cor vermelha sobre o longa, o diretor, nesse drama, tenta dessa forma nos mostrar como a morte está presente e não presente na vida de Nathalie. 

O fim está ali, perto de nós, perto dos seus personagens, porém tem que se percebê-lo, notá-lo. A dor dessa personagem nunca deixará de existir, esse vazio deixado pelo François estará sempre lá. Por mais que não venhamos comentar sobre a morte, ela se faz presente em nossas vidas e assim ela se faz presente na vida de Nathalie. Assim é a morte também em nossas vidas. Mesmo diante dos momentos leves, hilários, esse fim está presente, nos tocando indiretamente. 

Algumas coisas apenas se sentem, assim é a morte, assim é á vida. Assim é o amor.