quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Enquanto somos jovens'


Enquanto somos jovens, enquanto somos novos, enquanto somos muitas coisas ....

Em seu mais novo drama, Noah Baumbach traz para o centro da trama uma história tocante, terna, simples e cativante sobre um casal em plena crise de idade. Na casa dos quarenta anos, Cornelia (Naomi Watts) e Josh (Bem Stiller) possuem uma vida estável, bem estruturada, mas ainda falta algo. Eles são antenados as tecnologias, adoram sair em amigos, mas a idade não é como antes e o corpo já declama isso.

Josh é professor de cinema, está produzindo um documentário e está neste trabalho há dez anos. Nunca consegue finalizá-lo. Motivos são vários, medo de ser avaliado, de se perceber que não é tão bom quanto imaginava. Cornelia trabalha como editora de vídeos e seu pai é um grande documentarista. Por conta disso, a relação entre Josh e o pai de Cornelia nunca se dá de forma amigável.

Em uma de suas aulas, ele conhece um casal de jovens, Darbie (Amanda Seyfried) e Jamie (Adam Driver), dois jovens casados. Sempre sorridentes, sempre carismáticos, estes dois são o oposto de Josh e Cornelia. Possuem uma atração pelo passado, desprezam as tecnologias e tentam aproveitar os poucos momentos da vida de forma mais intensa.

Nesta relação de oposições, estes quatro jovens se relacionam, se entendem e trocam suas experiências. Jamie, assim como Josh, aspira a ser um grande documentarista e tem uma ideia diferente para a produção de um documentário. Josh acha a ideia um pouco estranha, mas resolve ajuda-lo nessa empreitada. Entretanto, quando os rumos deste documentário tomam proporções diferentes, começa a surgir entre estes dois amigos sentimentos de inveja, desconfiança e inimizade.



“Enquanto somos jovens” traz para o centro da trama vários questionamentos que nos envolve. Noah em seu mais novo drama faz uma referência há vários temas: o uso excessivo das tecnologias e como estas estão ditando as regras de nossas vidas; o medo e a insegurança que sentimentos com o tempo; a não aceitação da velhice e o medo de não realizarmos tudo o que havíamos planejados.

Noah possui uma carreira mais calcada no cinema independente. Seus filmes são sensíveis, trabalha sempre com beleza as complexidades de seus personagens, nada é tão simples de análise e este diretor coloca seus personagens ora em momentos desconfortáveis, ora em momentos tocantes. Seus personagens são movidos por dores, receios e medos.       

“Frances Há”, seu filme anterior, caminha neste sentindo. Se lá a personagem principal tinha que se deparar com uma verdade que causava uma certa dor, neste novo drama, Josh possui um desejo, mas ele sabe que no fundo não é excelente no que faz, sabe que não realizou todos os sonhos da forma como queria e sabe que não irá realizá-los. Aceitar o que tem, perceber a vida em sua simplicidade e suas qualidades, este será o caminho que este homem irá traçar.



Em seu filme mais comercial, “Enquanto somos jovens” tem ares de cinema alternativo. Com uma trilha sonora muito bem modulada e estruturada, uma bela fotografia e atuações esplêndidas, este drama nos toca.

A história é simples, porém muito bem construída. Há algo que podemos perceber de errado na perfeição toda em Darbie e Jamies, e aos poucos, conforme vamos percebendo as verdades e mentiras, vamos compreendo quem são estes dois jovens e por consequência, quem são Josh e Cornelia.

Este drama trabalha com maestria e beleza os contratempos da vida, suas desilusões,  frustrações e ambições. Nunca teremos que desejamos ter, nunca seremos completamente perfeitos ou inteiramente felizes. O que fazer diante de tal verdade, diante de tais fatos? É algo complicado, cada um tem seu caminho e “Enquanto somos jovens” tenta encontrar uma resposta para estes dois personagens. O final do longa não é grande, não há um desfecho de fato, mas é condizente com que o diretor deseja retratar ou abordar. Apenas isso, a vida.