segunda-feira, 25 de abril de 2011

True Blood


True Blood, ousada, sensual e diferente. Nunca uma história sobre vampiros foi tão sedutora, desde o excelente Entrevista com um vampiro
Vampiros suscitam o imaginário de muitos. Dotados (as) de força, beleza, sensualidade e tantas outras qualidades, eles atraem para si a atenção de vários. Em cada obra lançada sobre essas criaturas, ideias são levantadas, outras são retiradas, mas algo em comum todas tem: são criaturas fascinantes. Dentre as muitas obras lançadas para o cinema e uma febre que começou há poucos anos devido a saga Crepúsculo, que tem lá suas qualidades, uma série tem conquistado a admiração de muitos: True Blood, baseada na série de livros Southern Vampires da americana Charlaine Harris.
Numa época em que os japoneses conseguiram criar um sangue sintético capaz de substituir o sangue humano, vampiros que antes se alimentavam de humanos, puderam então sair das sombras para mostrar sua identidade à sociedade. Mas a convivência entre humanos e vampiros não será assim nada fácil. Colocados sempre como criaturas obscuras, os chamados vilões da história, aqui eles continuam sanguinários, mas deixaram de serem tão maus. Dotados de complexidade, eles são como os homens, estão entre o bem e o mal, ou melhor, entre o certo e o errado.  



Sookie é uma garota que tem a capacidade de ouvir pensamentos. Todos na cidade ou sabem disso ou desconfiam. Curiosa e meio inocente, numa noite acaba conhecendo e salvando de uns caçadores o vampiro Bill. Novo na cidade, Bom Temps, ele encontra nessa garçonete uma amizade e algo mais.
Ela tem um irmão, Jason, uma figura que só pensa em sexo, no decorrer da história a ele será atribuída as cenas mais quentes e cômicas da temporada. Ele e Sookie não se dão muito bem, devido a ele ser em alguns momentos irresponsável, mas os dois possui uma ligação muito forte, de proteção mútua.

Tara, melhor amiga de Sookie, é respondona, não tem papas na língua, sua mãe é uma mulher que vive bêbada, sem dar a mínima atenção a ela. Ela tem na Sookie uma irmã e no Jason, uma grande paixão não correspondida. Sua personagem na primeira temporada é engraçada e ousada, se envolverá com Sam, apenas por sexo e para não ficar tão só, mas perderá um pouco a graça na segunda com a chegada de Maryan.
Lafayate, que é o cozinheiro do restaurante e vende por fora sangue de vampiro, é primo de Tara e amigo de Sookie. Ele é homossexual assumido e por esse motivo não leva desaforo para casa. Entra em brigas para defender sua opção e sua prima que ele tem como irmã. Sam, o chefe do restaurante, sente uma atração por Sookie, mas se envolverá com Tara. Ele tem muitos segredos guardados a sete chave que será revelado aos poucos. Nesse universo o que mais aparecerão são criaturas bizarras e eloqüentes.



Bill pertence a ala “mal” da história. Misterioso, ninguém sabe o motivo de ter chego a cidade. Ele afirma que era para apenas rever sua cidade natal, já que ele era de lá, antes de entrar na Guerra Civil. Rapidamente se envolverá com Sookie, com ela terá as cenas mais fortes de sexo e sangue. Muito ligado a ela, tentará protegê-la de todas as formas. Mas sua relação não se deu de forma natural, no primeiro episodio ela é espancada e fica muito ferida, sendo assim ele dá do seu sangue para ela se recuperar, mesmo sabendo que a pessoa que toma do sangue de um vampiro, passa a ter uma ligação mental e carnal muito forte com este.
Erick é outro vampiro que surge na história. Sensual e perigoso, ele não tem a ideia fascinante de se envolver com a sociedade. Para ele, se alimentar de humanos é uma característica dele que ele não largará. Na primeira temporada ele não tem muita importância ou participação, mas na segunda será um dos grandes personagens. Dará de seu sangue para Sookie por motivos óbvios, criar uma relação com ela. Se envolverá com Lafayate apenas para tentar conhecê-la melhor e trará a vampira que matou e vampirizou Bill para abalar a relação de Bill e Sookie. Sempre negando que não tem nenhum sentimento para com ela, ele formará juntamente com Bill um triângulo amoroso perigoso.
Outros personagens vão ganhando destaque com o decorrer das histórias. Entre eles a vampira Pam, fiel a Erick e muito sexy, sempre estará por traz das armações do chefe. Jéssica, uma vampira adolescente com os hormônios a flor da pele, terá dificuldades de lhe lidar com a ideia de ser uma vampira e Hot, amigo de Jason, se envolverá com Jessica formando um dos casais mais engraçados e simpáticos de True Blood.

Com um tom gótico, abusando de cenas sensuais beirando filmes eróticos e histórias bizarras com direito a uma cena marcante de uma transa num cemitério e uma abertura eloquente ao som de música mais do que gostosa,  a série com direção do aclamado diretor e roteirista Allam Ball, premiado com um Oscar por melhor roteiro original por Beleza Americana e adorado pela crítica pela série A sete palmos, True Blood mergulha profundo nos costumes sulistas de um Estados Unidos conservador, religioso e fanático.
Nesta pequena cidade onde se passa a história, todos sabem sobre todos.Sempre muito religiosos, mas que vivem da mais alta e possível hipocrisia. Nesse cenário conturbado, temas como preconceito, homossexualismo, vícios, fanatismo e religião serão mostradas, trabalhos e usados como metáforas para histórias vampirescas. 



Se na primeira temporada tivemos como temática o preconceito contra o diferente e um assassino frio e doente movido por um forte ódio, na segunda a palavra central foi a fé. A fé é cega e pode nos levar a cometer loucura. Por meio da fé que houve várias mortes inocentes e que Maryan, a vilã desta temporada, se tornou uma figura poderosa.

No segundo ano, a história foi dividia em duas linhas: Maryan e sua chegada à Bon Temps trazendo desarmonia, loucuras e mostrando o pior e o melhor do homem e um arco envolvendo o vampiro Godric. 
Com Maryan houve a desarmonia nesta pequena cidade. Sendo vilã, ela conseguiu ser carismática e engraçada, seu único desejo é fazer com que os homens vivam seus amores e pensamentos mais escuros e desejos mais reprimistes. Já a história envolvendo Godric mostrará como a fé pode ser perigosa, fazendo com que atos sejam cometidos. Destaque o episódio Eu vou subir
O poder nos corrompe, a raiva nos consome, a vingança gera graves consquencias, a dor pode nos fortalecer, como pode nos levar ao mais profundo abismo. Esses vampiros são a soma de nossos medos e desejos mais profundos. Eles simbolizam o que no fundo queremos: vida eterna, prazeres, poder e força. Mas também eles tem em sua essência o que somos: nossas fraquezas, ambição, amargura e o medo da solidão, da eternidade, do vazio e da busca incessante por se compreender.
 Com relação às questões técnicas, a série tem uma estrutura impecável, com uma ótima fotografia, excelentes tomadas e planos, fazendo sempre um contrabalanço entre as sombras e a claridade. A trilha sonora é soberba e o elenco ótimo. No roteiro, excelentes tiradas, jogos de palavras, indiretas e insinuações. O humor negro é refinado e os atores se esbaldam nas referências e piadas.
Sangue é o que mais se tem, além de cenas quentes, muito quentes como as de Bill e Lorena numa transa nada comum e Erick com sua empregada Yveta, no começo da da 3ª temporada, mas também há momentos doces e simpáticos, enfim, leves com os mais bacanas da série, Jéssica e Hoyte em suas eternas brigas e desentendimentos.
True Blood é quente, intensa e subjetiva, pois pode ser vista como uma sátira, algo que não se deve levar nada a sério, mas também como uma metáfora sobre a vida e os desejos que nos matém. A morte sempre está presente, seja pelas que acontecem, ou na própria figura que são os vampiros. No fim, ainda o que fica é um grande temor com relação à morte, algo desconhecido, ao que não compreendemos.
A série foi duas vezes indicadas ao Globo de Ouro anos 2009 e 2010 nas categorias melhor atriz (Ana Paquin) e melhor série dramática, sendo que Ana Paquin levou a o premio no ano de 2009. A série teve varias outras indicações entre ela ao Emmy na categoria melhor abertura. 

 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A sete palmos


A morte é algo que por mais que tentamos, ainda sim, não aceitamos e não compreendemos. O que fazer, sentir ou temer? Dor, alegria, desejos, medos e perdas. Esses são os sentimentos que moverão os personagens de uma série que foi uma das mais aclamadas pela crítica e público. Criação de Allam Ball, ganhador do Oscar de melhor roteiro original pelo ótimo “Beleza Americana”, “A sete palmos” conta a história de uma família desunida que tem como negócio a morte, ou seja, eles são especializados em realizar os rituais fúnebres. Preparar corpos, negociar flores, caixões e toda burocracia ligada a morte. Dizem eles, a função da empresa é tirar do peso da família esse serviço, nesse momento tão doloroso ou na visão mais crua, ganhar a vida num momento tão delicado da vida das pessoas.  Com cinco temporadas produzidas e tendo cada uma treze episódios, a série conseguiu expressar a complexidade da vida.
Na primeira temporada conhecemos os personagens que compõem essa família e a série. Ruth, a mãe, é uma dona de casa que tenta guiar a família que é complicada. Extremamente sentimental, cobra dos filhos união, mas vê que não é nada fácil. Durante a temporada, descobrimos que ela possuía um caso com outro homem e mantinha essa relação já há anos.  Claire, a filha mais nova, é direta e não poupa palavras quando quer ferir alguém, está dando uma de rebelde, a maior reclamação da garota é que sua família não é como as outras. Ela bebe, fuma e no decorrer da temporada se envolverá com um rapaz nada fácil também.




David é o mais responsável, ou pelo menos tentar ser, esconde de todos que é homossexual e tem um namorado. Tenta levar os negócios da família, mas quando o pai falece se vê traído por ele quando descobre no testamento que a empresa vai ser dividida entre ele e o irmão mai velho, Nate que quando jovem havia saído de casa para tentar a vida, desrespeitando as ordens do pai. Ele volta à cidade para um encontro familiar, mas acaba ficando quando o pai morre. Se vê na obrigação de ajudar o irmão a tocar a empresa. Nate se relaciona com Brenda, uma mulher meio que misteriosa, porém que com o passar dos episódios descobrimos ser meio depressiva, cética e com uma família ainda mais problemática. O irmão dela, Jeremy, tem problemas mentais e depressivos e coloca sobre ela todo fardo de ter a obrigação de cuidar dele.
Ainda na empresa trabalha Federico Diaz, imigrante, aprendeu com o pai dos garotos tudo da profissão. Sabe como ninguém restaurar um corpo. Por não ser respeitado pelos irmãos como deveria ser e ser assediado por outra empresa constantemente, deixará a empresa da família.
Um ponto interessante a colocar é que no episodio piloto foram apresentados alguns produtos específicos ligados a morte, caracterizando bem o lado capitalista que a série queria propor, ou melhor, como a série iria mostrar como somos capazes de mercantilizar ações, momentos, pessoas ou como todos podem estar a venda. Outro elemento usado ao longo da temporada que deu muito certo é que cada pessoa que morria no inicio dos episódios permanecia ao longo dele, sendo assim, uma forma de mostrar um pouco mais sobre essa pessoa que morreu e dela dialogar com os personagens da série, os questionando e guiando em suas escolhas.



Com um tom delicado, temas fortes foram apresentados: religião, homossexualismo, morte, vida, adultério. O irmão que é gay passa a ser um conselheiro na igreja para agradar a mãe e também atrair mais clientes. A morte é debatida a todo momento, a morte do próprio pai os faz pensar nesse momento em que todos temos que passar. A abertura do seriado é bela, com uma fotografia envelhecida, meio gótica, imagens de objetos de cemitério e ao som de uma trilha sonora extraordinária.
No segundo ano, todos os dramas apresentados na primeira temporada foram intensificados, Nate, após um acidente de carro, descobre que tem uma grave doença que o poderá matá-lo a qualquer instante, por esse motivo, ele começa a rever tudo em sua vida, desde o que passou até pelo o que está passando. Porém, ele tenta esconder esse segredo de todos, mas não será nada fácil, sendo que aos poucos ele revelará essa verdade, a última a saber desse fato será Ruth. Brenda entrará num profundo abismo sem explicação, sentirá atração e desejos sexuais por diversos homens a ponto de começá-los a colocar em prática, provocando serias brigas e um rompimento com Nate, que a essa altura havia a pedido em casamento.  


David tentará encontrar uma nova pessoa em sua vida, mas as lembranças de seu antigo namorado permanecerão, até que se entenderão, mas ainda sim continuarão a brigar. Claire tentará levar um normal, longe de antigo namorado, até que a presença de sua tia a influenciará a guiar outros caminhos. Jeremy volta a série, agora mais sóbrio, será um bom amigo, conselheiro e uma pessoa muito próximo dela. Um personagem interessante que irá ganhar mais presença, porém sairá ao final da temporada é o conselheiro da escola que ajuda Claire com seus problemas. Nessa temporada, Patricia Clarkson faz uma participação especial, como a irmã de Ruth, uma mulher que é o oposto de sua irmã, liberal, nada consumista, super zen.
A série nessa segunda temporada continuou apresentando ótimos episódios, boas histórias, personagens densos e interessantes. O enredo que moveu o personagem de uma mulher que após sofrer um acidente e morrer, mostrou a questão da solidão de forma extremamente contida e bela. Foi com roteiros como esses que o seriado abordou temas tão delicados e difíceis. Questões como traição, homossexualismo e preconceitos também voltaram ao centro da trama, lado a lado com a questão da morte e como ela é algo que está tão perto e tão distante de nós ao mesmo tempo. Um drama contundente, um seriado soberbo.






O retrato de Dorian Gray


O Retrato de Dorian Gray, nova adaptação da obra clássica do escritor Oscar Wilde, conta a história de Gray, jovem que chega à Londres para assumir a herança do tio. Dotado de uma beleza descomunal, ele torna-se modelo para o pintor Basilo e amigo de Lord Wotton, um homem rico que possui um único objetivo em vida: viver todos os prazeres que ela possui. Convivendo com esses dois homens, ele descobrirá um outro lado da vida que até aquele momento desconhecia.
Basilo terá uma louca obsessão pela sua beleza e pintará um quadro que irá conseguir retratar toda a pureza e juventude de Gray. Esse quadro mais a obsessão de Basilo por ele fará com que Dorian perceba o quanto é belo e admirado por todos. Já a forte amizade e os conselhos nada virtuosos de Wotton despertarão nele uma busca incontrolável por prazer, sejam esses acessíveis ou não, o levando a desejar que todos os pecados de sua alma, assim como as marcas do tempo, fiquem presos na pintura e a ele, seja permanecida a beleza e juventude eterna. Realizado esse pedido e compreendido o que aconteceu, Gray cometerá os pecados, crimes e práticas nunca antes sonhadas, fazendo com que ele crie uma fascinação doentia pelo quadro. Como forma de afronta, ele fará de tudo para tentar deixar a pintura a mais perturbadora possível, já que ele não é acometido pelos seus pecados.



A história de Wilde já foi levada ao cinema diversas vezes, muitas são suas adaptações, como apenas vi a essa, não poderia dizer qual é mais interessante e fiel a obra. Nesse longa, há pontos positivos e negativos quanto a fidelidade ao livro. Alguns elementos são retirados, outros são expostos, outros inseridos e personalidades são modificadas com o decorrer do drama.
O filme tenta se apegar ao terror, mas não consegue obter essa premissa. Devido a alguns elementos como a fotografia e a trilha sonora, o longa caminha entre o drama de um homem que se vê preso a um pedido que com o decorrer dos anos mostra-se como maldição, e o suspense, de um jovem que fará de tudo para guardar esse segredo e será assombrando pelos seus pecados.



Em comparação com a obra, alguns elementos foram atenuados, como o envolvimento dele com a jovem Siby. A forma como se dá a separação entre eles soa mais convincente no filme do que na obra. O momento em que Gray declara seu desejo vendendo sua alma, fica mais clara e nítida no longa, isso por meio da trilha que entra no momento e a imagem focada em seu rosto, ponto de fundo o quadro. Na obra, essa passagem acontece de uma forma quase indireta e imperceptível. A obsessão de Basilo pela beleza de Gray e seu desejo de tê-lo é mostrada com mais clareza, o que era lançado subjetivamente no livro, no filme ganha contornos mais reais e por fim, o personagem de Colin ganha mais destaque, importância e presença ao final da trama.
Essas mudanças conseguem dar mais densidade a obra. O caminho pelo qual Dorian atravessa é muito bem trabalhado e mostrado. Se no livro usávamos a imaginação, aqui o diretor não poupa imagens para retratar um jovem sem escrúpulos ou represálias às questões da moralidade. Mas como na vida tudo tem um preço, o dele será cobrado, sua reputação e sua alma ficarão fortemente marcadas.



O longa possui uma fotografia muito bacana, as paisagens são frias e escuras, com cores sempre ligadas ao cinza, preto e azul escuro. A forma como a Inglaterra é demonstrada pela vida boêmia com seus bares e tabernas é também um ponto positivo. O tom gótico também está presente. A trilha sonora tentado deixar o clima mais sombrio não chega a destoar a película, seu uso é correto, nada inovador, apenas correto. O elenco está muito bem. O único ponto fraco seria mesmo Bem Barnes como Dorian Gray, no começo do filme, sua atuação soa meio falsa, a pose que ele tenta criar de bom e ingênuo moço não convence. Somente no meio do filme, em que o personagem revela seu lado perverso é que o ator fica mais confortável no papel, dando mais veracidade a atuação. Colin Firth está muito bem em seu papel e Rececca Hall é um dos destaques, uma excelente atriz, gostei muita dela no Vick Cristina Barcelona e aqui ela está também formidável.
A direção é boa e o roteiro bem construído. As mudanças em relação ao livro conseguem dar mais agilidade e consistência ao drama. A única fraqueza na história seria com relação a ideia que o longa tentar impor para supor como era conturbada a relação de Gray com seu tio, mas nada que estrague a obra como um todo. Dorian Gray é um filme que consegue colocar a questão dos prazeres e da putrefação da alma com relação aos nossos atos de forma bem metaforizada e instigante. Nem toda beleza é verdadeiramente bela. 

sábado, 16 de abril de 2011

Passos

Com passos resgurdados, lentos e receosos, caminhamos.
Um sopro de vida, um fresco de liberdade. Pensamentos desconexos, semblantes perdidos.

A noite vem, o dia chega, os anos rodam, a vida prevalece. Passo e mais passos, em busca de algo que nos complete, que nos comova, que nos choque.

Olhares inseguros, sentimentos brandos, vidas vazias

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ensaio sobre Cegueira

Quem tem olhos veja e quem pode ver, que enxergue

Uma história forte, densa, cheia de detalhes, nunces, metáforas, mensagens e pensamentos. Um filme para ser sentido e percebido, onde vemos o pior do homem, mas também o seu melhor. Baseado na obra de José Saramago, esse filme obteve opiniões ao extremos, alguns os consideraram vulgar, violento e distante, outros viram nessa obra um grande filme, perturbador sim, mas nunca distante. Uma análise do homem em seus medos e devaneios.

O argumento em si é simples, um homem (Yusuke Iseya) fica cego enquanto dirige o carro, um homem (Don McKellar) o ajuda, o leva para casa, porém rouba o seu carro. A esposa (Yoshino Kimura) desse cego ao chegar em casa e ficar sabendo do fato, o leva para um especialista. No consultório estão uma jovem de óculos escuros (Alice Braga), um velho (Danny Glover) com uma fenda no olho e um garoto. O médico (Marck Ruffalo) atende primeiramente o cego, mas fica surpreso com o caso. Passa algumas orientações e o dispensa. O oftalmo ao chegar em casa, comenta o caso com a esposa (Julianne Moore), ao acordar percebe que também está cego. A partir desse fato, uma cegueira branca repentina ataca a todos, primeiro os que estavam com o primeiro cego: o médico, a jovem de óculos escuros, o ladrão, o garoto e o senhor, depois, todos os outros com quem eles tiveram contanto. Todos são levados em quarentena, mas a única a poder ver tudo o que está acontecendo é a mulher do médico. Nesse local, eles ficam e permanecem, porém a situação começa a se complicar quando mais pessoas são enviadas para o local. Com o passar dos dias, o que se vê é o homem em suas condições mais primitivas.



O longa apesar de ter um enredo curto, possui muita profundidade. A ideia do filme não é entender o que é essa cegueira, caracterizada como uma superfície leitosa, ou sua cura, mas como as pessoas, por meio dessa falta de visão, perdem toda a sua estrutura, toda sua base de civilização, se rendendo ao seu lado mais primitivo, em que apenas tentam se manter vivas. Por meio dessa história, o pior do homem é revelado, visto, suportado, pois muitos crimes são cometidos durante a quarentena, mas alguns tentam manter o pouco de dignidade, humanidade e moralidade que lhe restam e a única a poder ver tal situação em que todos se encontram é a mulher do médico. Ela é o nossos olhos, é por meio dela que podemos ver, sentir e perceber as fraquezas e limitações humanas.


Na obra, são levantados vários pontos para tentar entender o motivo dessa cegueira, mas no longa, a questão não fica sobre esse critério, o que o diretor quer é mostrar, apenas observar o grau de humanidade que pode ou não restar de todos diante de tal fato. Porém, uma das ideias colocadas no longa, no começo e ao final do filme, para essa epidemia está ligada a não compreensão das coisas, basicamente seria como se estivéssemos vendo tudo a nossa frente, porém não pudéssemos compreender o que estamos vendo ou, no fato de simplesmente deixarmos de vermos por um desejo, porque não queremos mais ver ou reconhecer tanta dor e desprezo, essa explicação estaria ligada a cena da igreja e dos santos.

Mas não importa, o longa tem toda uma estrutura técnica muito bem pensada para supervalorizar cada sentimento, fala e situação no longa. A fotografia esbranquiçada, a ótima trilha sonora, o elenco mais do que perfeito, a direção competente de Meirelles.



A fotografia imprimi mais personalidade ao longa, sempre clara, chegando a ficar quase que difícil a leitura das legendas (isso no cinema), ela é mais do que um acessório ou um detalhe para embelezar o longa, ela interage com o drama de tal forma que torna-se num personagem de extrema importância à história. Em falar nisso, muitas das cenas do filme foram gravadas em São Paulo, pois o drama é um trabalho realizado em parceria com os países Brasil, Japão, Uruguai e Canada e todas as cenas foram gravadas entre esses países.

 A trilha sonora assinada pelo grupo Uakti é outro ponto positivo, ela dá sensibilidade a algumas cenas e ameniza outras. Algumas melodias lembram muito as do filme As horas, do compositor Philip Glass, é um ritmo gostoso, agradável, que causa tensão e ansiedade. Muito boa para se ouvir e ser levado por essa melodia.

Julianne Moore liderando o elenco está formidável, uma atriz de excelente qualidade. Sua face de cansaço, sua expressão e seus olhos vendo tudo e todos se desmoronando e ela nada podendo fazer para ajudar, além de tentar dar o mínimo de ajuda possível que aos pouco a leva a um cansaço sem fim, desejando e temendo cegar também, enfim, uma atuação e um trabalho da atriz impecável.

Mark Ruffalo consegue nesse papel mostrar maturidade e profundidade. Um ator que faz umas escolhas interessantes, ao mesmo tempo em que obtém papéis densos e bons em filmes seguros como Minha vida sem mim, Zodíaco, Conte comigo, Tentação e tantos outros, trabalha em filmes rasos como De repente 30, Voando alto, Dizem por aí, mas tudo bem, num geral, é um excelente ator que neste filme, consegue obter um agradável resultado. Alice Braga é outra atriz muito competente que aparece no longa, uma brasileira que vem tendo bons trabalhos no cinema internacional e em projetos bem diferentes.



Outro ponto que chama a atenção para esse filme é que seus personagens não possuem nomes, apenas são descritos pelas suas características principais (cego, médico, esposa do médico) e não é dito em qual cidade essa epidemia acontece. Isso faz com o longa crie diversas teorias sobre isso, como a questão de que eles não tem nada que lhes faça ser importante, nem um nome, pois diante dessa terrível cegueira, todos são iguais, sem nomes, etnia, ou identidades e também o fato de que esse evento possa ter acontecido em qualquer lugar, pois no final, todos podemos passar pelas mesmas experiências e pelas mesmas fraquezas sem distinção de cor, raça ou passado.

Mas ao final de todo esse trabalho, o que prevale ainda é o longa e como ele aborda as relações humanas, as nossas fraquezas, limitações e medos. Como podemos ser ásperos, rudes e nos despir de toda a dignidade para podermos prevalecer e mantermos vivos, mas também como podemos nos sensibilizar com o outro, seja por meio de um gesto ou de atitudes.

Muitos alegaram que esse longa abordou a obra de forma muito gélida, mas não há como negar calor humano nas cenas em que todos estão ouvindo o rádio e compartilhando daquele momento ou como a personagem da jovem de óculos escuros toma para si a responsabilidade de cuidar do garoto que se vê sozinho sem o amparo da mãe, dando até da sua própria comida para ele ou na cena em que a mulher do primeiro cego se encontra com ele.

Um longa terno, entretanto, que não foi bem recebido como uma obra cheia de qualidade como deveria ser, porém, em meio a tantos questionamentos sobre a qualidade do drama, o próprio autor do livro, Saramago que por muitos anos relutou fortemente contra a qualquer adaptação de suas obras para o cinema, na opinião de que elas poderiam perverter e modificar a ideia da história, chorou ao ver o filme. Bom, se o drama teve aprovação do autor da história, é porque esse filme cumpriu o seu papel: transferir em imagens as palavras deste que é um grande livro.



sábado, 9 de abril de 2011

O leitor


 
Uma obra inquietante, um livro que nos leva a tentar entender os motivos que levaram uma geração a cometer uma das maiores atrocidades da História. A Segunda Guerra acabou, porém suas feridas ainda continuam, o passado sempre está presente em nossas vidas, seja para nos alertar de nosso erros, ou para tentarmos entendê-lo.
 
O Nazismo e o Holocausto foram fatos que provocaram várias mortes, sofrimento, dor e perdas. A própria Guerra em si foi algo que marcou muito. Vidas que se perderam, planos e sonhos que morreram, possibilidades que se desfragmentaram. Passados décadas após esse acontecimento, surgem na literatura e no cinema, algumas obras que tentam resgatar esse período, não para narrar uma história que já conhecemos, impregnados de reflexão sobre a vida, por meio de um romance, mas dramas que, sem tentar julgar, colocam os acontecimentos diante dos nossos olhos para que possamos repensá-lo e se é possível isso, encontrar algumas respostas. O leitor, do autor Bernhard Schilck é um desses exemplos.

A história é divida em três partes, na primeira conhecemos Michael, um garoto com saude frágil, que vive numa Alemanha em Guerra. Num dia de chuva, ele passa mal e é acudido por uma mulher chamada Hanna. Uma mulher de expressão gélida, fria e distante. Ela o leva para casa e cuida dele até melhorar. Em seguida ele agradece e eles se despedem. Aquela mulher, apesar de não ser tão bela, o instiga a procurá-la novamente. Michael vai até a casa dela, mas não encontra. Quando ela chega, ela o vê,trocam umas palavras, entram em casa e transam. Ela tira a virgindade dele, e ele, passa a desejá-la ainda mais. A partir daí, eles começam um caso, em que praticamente todos os dias ele vai visitá-la. Durante esse relacionamento, em todas as visitas, a pedido dela, ele lê para ela livros sobre os mais diversos temas, de literatura a história. Há uma ligação entre eles, pelos menos, é que pensa esse Michael. Dias e semanas se passam e Hanna simplesmente desaparece, sem deixar recados, ou algo do gênero. O mundo dele desaba, mas sua vida continua. Anos mais tarde, quando ele já está na faculdade de direito, ele entra para um seminário sobre os crimes nazistas e vendo uma audiência no tribunal sobre mulheres que foram acusadas de participarem de crimes envolvendo os campos de concentração, Michael a reconhece dentre as acusadas.

Por entre esses acontecimentos, o autor nos guia pelos pensamentos deste jovem que recorda esse momento tão inocente, delicado e doloroso de sua vida. Devido a história ser contada por ele, nunca sabemos quais são os reais sentimentos e pensamentos de Hanna, porém nem dele entendemos corretamente. Há um misto de dor, raiva, amor e saudades percorrendo sua mente. Aos olhos dele fica a questão: como ele pôde amar alguém que cometeu tantos crimes como aquele, a mulher que ele desejava e amava na sua adolescência e que o marcou fortemente, fez tais atrocidades. São essas dúvidas simbolizadas por esse romance, por essa dor que faz com que seja posto diante de nós essa dúvida. O personagem de Michael representa uma juventude que cresceu vendo os horrores da Guerra e suas consequências durante o decorrer dos anos, mas ainda não conseguiu assimilar a ideia que seus familiares, seus pais, amigos, professores, simpatizaram com a ideia.

Durante todo o livro, na segunda parte dessa história, são jogadas à Hanna e aos alunos, questões simples, porém que no fundo são emblemáticas e que guardam respostas ainda mais complexas e que jamais teremos uma resposta tão cedo. Uma delas dita por um juiz a Hanna fica explicito isso. Ele a questiona o motivo dela não ter libertado as prisioneiras quando teve oportunidades, mas ela rebate o perguntando o que ele teria feito. Duas perguntas que em sua essência há toda uma carga de incompreensão. Julgar é fácil, entender é o difícil. O que se percebe nessa história, nesse julgamento, é que todos querem fechar os olhos para o passado, mas eles devem vê-lo, devem visitá-lo e culpar alguém por esse crimes. É mais fácil punir um grupo de mulheres por tais fatos, do que toda uma nação assumir essa culpa. Outro ponto interessante abordado pelo autor é com relação ao segredo que Hanna guarda. Essa informação já se percebe desde o começo do livro, mas aos olhos dela, ninguém deve saber, ou jamais ter a certeza disso. Para ela, é melhor ser culpada pelas mortes das quais está sendo acusada do que revelar esse segredo. Isso nos faz pensar que o orgulho a guia em todos os momentos de sua vida, orgulho esse que pode estar ligado a toda uma nação.

O livro possui belos momentos que nos faz repensar sobre esse acontecimento, sobre esse fato. Jamais o autor julga, porém em contraposição, coloca o leitor diante desses fatos para que ele possa por sua consciência chegar a uma conclusão, lembrando que a pergunta que fica e permanece em nossas mentes é: o que você teria feito?

O final dessa história é comovente. Dor e raiva caminham lado a lado, de mãos dadas, tentando nos sufocar. Mas o amor, a compaixão e a solidariedade também. O autor, de forma simples, sem exageros ou falta de sentimentalismo, nos entrega um romance profundo e soberbo, cheios de questões e quase nenhuma resposta. Uma bela análise, sem julgamentos precipitados sobre um momento da história ainda tão doloroso para ser revisitado

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Penelope: um conto de fadas moderno

Um filme bem bobo, mas que consegue ser bem cativante. O longa conta a história de Penélope (Cristina Ricci) que nasceu com um nariz de porco devido a uma maldição lançada sobre a família dela tempos atrás. Quando um dos seus parentes se engraçou pela filha da empregada, a engravidou e acabou casando com uma outra mulher que pertence ao seu nível social, fazendo com que a moça desiludida se matasse, sua mãe, por vingança, lançou um feitiço sobre toda a família, a primeira garota que nascesse teria um nariz de porco e essa maldição só seria quebrada quando um do meio deles a aceitasse. Penélope então nasceu e permaneceu enclausurada em sua casa por anos, com sua mãe, Jéssica (Catherine O'Hara), temendo que ela fosse descoberta e vista pela sociedade.

Ao completar 18 anos, começou uma busca incessante para encontrar alguém do meio social deles para aceitar casa com ela, quebrando assim a maldição, entretanto, todas as vezes que os rapazes a viam, saiam correndo desesperados, frustando as expectativas da mãe e arrasando a ingênua Penelope. Porém, quando Edward (Simon Woods) um destes jovens que foge dela, quer provar da existência da garota para não ser mais considerado como louco se junta a um jornalista e contratam Max (James McAvoy) um jovem jogador falido, pra tentar tirar uma foto da garota é que os rumos de Penélope mudam de vez.


O longa é uma fabula moderna, um conto de fadas pincelados com toques da realidade, pois há como pano de fundo uma Inglaterra e inúmeras famílias de nomes trafegando pelo filme, tetando manter a imagem, pois nesse mundo onde o nome vale mais do que qualquer palavra e a imprensa está rodeando a todos para conseguir a melhor foto e o melhor babado, ninguém quer ficar com o filme queimando. No mais o drama é bem simples, com lições de moral bem claras e nítidas como valorizar a pessoa pelo o que ela é e se aceitar por isso, a beleza exterior é apenas supérflua, pois o que vale é o interior delas e bla, bla, bla. Porém, o que me chamou a atenção para esse longa é o seu trabalho técnico que está impecável: a fotografia, o figurino e até algumas locações estão ótimas.

A fotografia do filme é composta por cores fortes e vivas e além do mais, há um predomínio da tonalidade vermelha sobre todas as cenas, seja por meio dos figurinos, das casas, dos objetos postos em cena e até o lençol e cortina do hospital são dessa cor e venhamos, não é todos os dias em que você fica internado num leito em que a cor é de um vermelho sangue vivo, agora por qual motivo o uso abusivo dessa tonalidade não entendi. O figurino de todos no longa é bem interessante, pois temos uma Penelope usando roupas meio “filme de época”, com sua mãe tendo todo um armário moderno e o mocinho com um estilo boêmio. Coloco em destaque o quarto da protagonista, ele é totalmente estiloso, com seus vermelhos intensos, cores quentes e uma árvore de mentirinha super da hora, aquele quarto deve ter da um trabalho para a equipe do longa.


Outro ponto bacana é o elenco, apesar do drama ser raso, ele se torna tão cativante devido a química de seus personagens e o entrosamento entre eles. Todos estão muito bem em seus papéis, seja Cristina mostrando firmeza pra levar um filme como protagonista, McAvoy como mocinho que no início age como um cafajeste ou Catherine como a mãe de Penelope em seus medos e crises de nervosismo temendo que todos venham ver sua filha com um grande nariz de porco, por sinal ela é a personagem mais hilária. Há também uma Resse Witherspoon que aparece ao final do longa como amiga da mocinha, muito engraçada, apesar da pouca fala e em falar nisso é Resse a produtora desse longa.

Algumas curiosidades sobre o filme: ele ficou parado por dois anos depois das gravações e trabalhos finais e o grande ponto interessante é que ele foi lançado depois que o McAvoy se consagrou com o longa O último Rei da Escócia e obteve sucesso internacional com o Desejo e reparação, fazendo com o que o longa tivesse mais nomes de peso durante o lançamento, bom, isso é apenas uma constatação.


No mais, Penelope é engraçado de se ver, tem um cunho correndo por fora bem agradável que é a ideia de abordar como as pessoas da mais alta sociedade temem sua exposição na mídia e como são vistos, eles realmente se importam com que todos pensam. Fora isso, esse longa entretém, é gracioso, tem um instrumental bem gostoso e uma música que corre ao final do longa muito bonita.

Enfim, gostei, não decepciona e nem desfavorece os contos de fadas que nos últimos anos tem sido relançado ao cinema com outros olhares ou observações distintas, nesse sentido temos uma Cinderela vivendo numa Inglaterra da Idade Média e um Chapeuzinho Vermelho com tons mais sombrios e provocante. Assim é a industria cinematográfica, quando se percebe que se contou todas as histórias, as recontam novamente com outros moldes, e para finalizar, esse filme é uma adaptação da obra de Marilyn Kaye. Esse filme vale a pena conferir.



Vida de solteiro

Um filme um pouco antigo, década de noventa, com uma história simples, porém muito gostosa e divertida. O longa retrata as andanças de um grupo de amigos na eterna busca de encontrar um alguém, um amor ou algo do gênero, mas nessa busca, há muita confusão, caminhos tortos e situações duvidosas.

Steve Dunne (Campbell Scott) conhece Linda (Kyra Sedgwik) num show, os dois conversam e ficam e aos poucos vão se apaixonando, mas os dois guardam sérias feridas de outros relacionamentos em que ambos foram enganados ou não tiveram suas intenções valorizadas, por esse motivo eles caminham pisando na direção certa e dando dois passos na errada. Dunne tem um grupo de amigos mais perdido do que ele, Janet (Bridget Fonda), sua melhor amiga nutre uma paixão e um namoro meio complicado com Cliff (Matt Dillon), um roqueiro que tenta emplacar com sua banda e por fim Debbie (Sheila Kelley) tenta a todos os custos encontrar alguém e para isso produz um vídeo mostrando todas as suas qualidades e desejos, isso de forma bem excitante.


O que todos esses jovens tentam é encontrar alguém e isso não é nada fácil. Dunne e Linda, apesar de se darem bem, não sabem como agir e sendo guiados pelos conselhos dos seus amigos, sempre pegam a direção errada e quando tudo parece que irá acabar bem, um fato seguido por uma tragédia mudam seus planos. Janet quer conquistar Cliff de todas as formas a ponto de ficar decidida a se submeter a uma cirurgia de implante de prótese, achando que com seus seios maiores, ele vai olhar para ela e lhe dar mais atenção, só que ele curte ela, porém num relacionamento aberto, sem cobranças. Seu único objetivo nesse momento é a banda e a música e Debbie,bom, ela com seus vídeos até que conseguirá um bom partido, mas não dará muito certo.

O longa tem em sua trilha sonora seu maior peso, pois ela retrata bem uma época marcada fortemente por bandas de rock que decolaram, tendo sido em sua grande maioria de Seatle, cidade em que se passa a história. Durante todo longa esse som está presente, seja nos shows ou como fundo de diversas cenas e é nesse ponto que reside o melhor desse longa, sendo que ele esse filme é mais lembrado pelas suas trilha do que pela história em si.

O drama tem também em certas partes do filme pequenas frases em forma de capítulos demonstrando o momento pelo qual seus personagens irão passar, ou os erros que irão cometer, uma sacada boa que deixa o drama bem leve. De profundo não tem nenhuma análise, apenas um longa para se entreter. No elenco estão grandes nomes que na época estavam com peso ou ainda iniciando uma carreira de sucesso, dentre eles Matt Dillon, Kyra Sedgwik e Bridget Fonda, mas de todos os personagens, a mais carismática é a Debbie. Ela, com seu cabelo ruivo, sua busca frenética em conseguir uma namorado é hilário.

No final, como sempre tem que haver um final feliz nessas comédias românticas, todos encontram seus amores, mas de uma forma simples, descomplicada, sem seguir conselhos nada saudáveis, ou apelando para vídeos ou próteses de silicones. É por meio de frases bobas como: saude, seus brincos são tão lindos e por que demorou tanto é que tudo se resolve, ou seja, o que era tão complicado, torna-se em algo tão simples.

O drama rodeia bem esse território, com leveza, graciosidade e muita comédia, sem ser escachada ou irritante. O longa conseguiu retratar excelentemente bem uma década, com suas roupas, cabelos, músicas e cafés, bem diferentes do estilo que predomina hoje. Um bom programa de cinema em casa. 

Por um sentido na vida


Uma comédia bem simples, mas de muito bom grado que ao meu ver conseguiu ter uma Jennifer Aniston no melhor papel até agora de sua carreira.

Aniston vive Justine, uma mulher que tem uma vida bem calma, tranquila e muita chata e além disso, sente que falta algo nessa calmaria toda, alguma coisa que não sabe ainda, mas que a faz sentir meio perdida, ela busca um sentido. Trabalha como caixa de um supermercado, é casada com um homem boa praça, bacana e que vive fumando maconha com o amigo. Sua rotina se resumi a ir trabalhar, voltar para casa, ver tv, ir algumas noites na igreja e pronto.

Nesse mercado, entra um novo funcionário, Holden (Jake Gyllenhaal) um jovem bem fechado, recluso que mora com os pais e adora escrever histórias trágicas e ficar recitando o livro O apanhador no campo de centeio. O comportamento dele e sua forma de ver o mundo a atrai, pois ela, assim como ele, estão cheios de suas pacatas e tranquilas vidas, eles querem fugir, correr sem direção, viver sem barreiras, esquecer tudo: família, casas, amigos e cair no mundo tentando algo. Essa atração no pensamento faz com que eles criem uma amizade que mais tarde se tornará num caso extraconjugal, mas com um detalhe, ela sempre pagando o motel.


É com esse roteiro simples, porém muito bem conduzido e um time de elenco formidável que faz valer esse longa. Para haver ordem na vida, primeiro necessita-se do caus, é sobre esse ponto que o longa vai focar. Até ela perceber o que tem e o que realmente quer da vida, ele passará por maus bocados, situações trágicas e um momento de decisão forte. O desfecho do longa consegue surpreender até certo ponto, não por parte da personagem dela, mas pelo do jovem, eu realmente não esperava aquilo.
É uma comédia com pitada de drama e beirando a questão existencial, bem ao estilo de filme independe norte-americano, mas que se saiu bem e acima de média pela presença de Aniston. Ela caminhando meio arrastada, a mão apoiada no queixo sempre pensativa quando está no trabalho com o olhar perdido e distante convenceu nesse papel, isso porque durante as gravações desse filme, ela tinha uma vida praticamente perfeita, aos olhos de muitas mulheres, claro: ganhando uma grana preta por episódio de Friends e casada com o ator Brad Pitt, mas como na vida nada dura para sempre, eis que perdeu o marido, a série e os alto salários e o mais chato, essa continua sendo sua atuação mais marcante e interessante.




O longa não vai além disso, aborda o tema felicidade de forma bem honesta, sem clichês ou sentimentalismo, nos dá uma impressão de que ainda as pequenas coisas são as que importam e como nós como sempre, estamos com nossos olhos fixados em grandes fatos ou acontecimentos. Por um sentido na vida é uma tentativa de tentar encontrar algo que nos dê razão, por mais simples que ela seja. Não teremos uma vida regada a prazeres, com todos os dias felizes, cheios de vida, mas pelo contrário, tranquilidade, um casamento ou família que com o tempo se mostrará sufocante, agonizante e frio, mas ainda sim, essa é a realidade e é por causa desse detalhe, o de mostrar esses personagens mergulhados nessa vida, sem enfeites ou ilusões é que o longa merece o seu destaque. 

Porque eu gosto

Gosto do luar e da noite, pois ela é mais terna e mais gostosa, o céu é estrelado e a lua mais cintilante, as paisagens são mais escuras e a verdade encoberta.

Gosto de sentar no chão, na terra, no gramado, e admirar o horizonte e imaginar inúmeras histórias e aventuras que um dia poderei viver. A noite já é agradável e os pensamentos fluem de uma forma tão simples. Do horizonte, do alto de um morro, vejo a cidade, vejo as luzes das casas, das ruas e nelas há tanta simplicidade, há tanta ternura. Sinto uma paz calma e rara, um sentimento de descanso, posso fechar os olhos e me tranquilizar.

Gosto do frio e das brumas, do vento gelado e doa dia ensolarado que seja tão frio que congele e empalideça a alma, os lábios e as mãos. Gosto de acordar cedo e sentir esse frio tão intenso que chega a causar até ardor. Gosto de um café, do seu aroma, do seu forte e inconfundível sabor, enfim, gosto do inverno e do que ele pode me proporcionar.

Gosto de imaginar mundos, histórias, vidas e pessoas meigas, fortes, duras e tristes, vivendo a deriva e perdidas. Gosto dos finais tristes, das mortes trágicas, da dor que resiste e da aceitação que prevalece. Gostos dos livros com personagens fora do comum, vagando pela vidas, com seus problemas, com suas dores, com seus erros. Gostos de histórias que tentam me repassar algo, sem esse algo estar muito claro, nada didático, nada fácil. Sei o que é certo e também compreendo o que é errado e não preciso de um conto, de uma narração para perceber isso, mas desejo ver uma história que me confronte, que me ouse e me faça enxergar o que não poderia ver com total clareza.

Gosto do som que me acalma e me tranquiliza, que me faça viajar por sentimentos extremos e dolorosos.
Gosto do céu, do mar, da chuva, do frio, do sol, menos do calor. Gosto da dor, do prazer, da tristeza, da amargura, da felicidade, da alegria, menos da eternidade. Gosto porque gosto e não tento entender a razão para gostar do preto, ao invés do vermelho, do drama, ao invés da comédia, é simples como viver, eu gosto porque gosto


sexta-feira, 1 de abril de 2011

A redoma de vidro

Lançado na década de sessenta, a obra retrata a vida da jovem Esther Greenwood. Promissora na carreira em que segue, após finalizar um estágio numa importante revista de moda, volta para a cidade natal. A não aceitação num curso de literatura desencadeará em Esther uma série de sentimentos, dúvidas e depressão já existentes, mas que somente agora despertam em escala maior, levando a jovem a pensar em diversas maneiras de cometer um suicídio e a colocar em prática um. Passando quase pela morte, sendo internada numa clínica psiquiátrica e se considerando louca, ela vai chegar ao mais profundo abismo.

Escrita de forma não linear, a história segue a linha dos pensamentos da jovem. Ela descreve o dia que esteve na agência e subitamente pensa ou lembra-se de algo na infância e passa então a contá-lo. Dessa maneira, seremos apresentados a um pai ausente que morreu cedo, a uma mãe protetora e meio neurótica que teima em ensiná-la taquigrafia e uma jovem, no caso ela, inteligente e arrogante aos extremos. Mas não há apenas esses personagens, a história trará outros que também terão grande importância na vida dessa jovem.

A escrita da autora Sylvia Plath lembra muito a de outra autora, Virginia Woolf. Uma escrita liberal e livre das prisões da narração correta e linear com o começo, meio e fim perceptíveis. Nesse drama passado e presente se entrelaçam, ora estamos acompanhando Esther quando criança, ora trafegando pelas suas memórias. Outro ponto interessante da obra é que a autora declara seus pensamentos de um jeito tão natural, que ao ler, você realmente se questiona se ela está levando a sério algo em sua vida. No decorrer do drama, ela comenta tentativas de suicídios que falharam, mas isso com tanta naturalidade que chega a assombrar. É por meio dessa irreverência na escrita que percebemos a sua dor. É uma angustia presente, mas disfarçada. Os problemas pelo qual Esther passa ou sente são complexos. Uma depressão marcada pelas dúvidas. Como ela mesma descreve em certa altura do livro, ela se sente presa numa redoma de vidro vazia e sem vida, sem ter a quem pedir socorro.

Umas das passagens mais interessante do livro, que com certeza é mais lembrada dessa autora e que está presente nessa obra é quando Esther descreve sua vida como uma grande e bela figueira cheia de frutos, sendo que cada fruto significaria um sonho, escolher um seria negar a todos. Devido a isso, a essa incerteza, conforme a narração, ela ficou ali diante da árvore com fome parada sem reação e a medida que o tempo ia passando, um a um dos frutos iam caindo, apodrecendo e morrendo e a ela ainda permanecia a dúvida sobre qual escolher. Esse trecho simplesmente sintetiza toda a história da obra. Uma passagem extremamente bela, contundente, metafórica, rica e dotada de uma complexidade incrível.

A dor presente na vida de Esther é algo que simplesmente não compreendemos, tentamos entender, mas infelizmente, esse sentimento está presente sem explicação. Uma profunda depressão enraizada nos mais profundo do interior dela. Em todos os momentos, ela se questiona de sua felicidade, do que se pode fazer, do que tem e de quais são seus atributos, há a solidão em sua vida. Não há como não perceber uma forte depressão quando ela afirma que não terá com que se preocupar ao que irá fazer aos finais de semana, pois já está namorando.

Uma obra inquietante que analisa de certa forma nossos medos também, pois nossa protagonista é uma garota comum, com um futuro brilhante, mas que devido a fatores da vida, cai num abismo sem fim. Suas dores são comuns, seus questionamentos são sensatos e o mais bacana desse drama é que ela não possui todas as qualidades positivas de uma heroína, de uma protagonista de uma obra, pelo contrário, em certos momentos, ela chega a ser insuportável, como todos nós em alguns instantes de nossa existência.

Segundo pesquisadores da autora, muitos acontecimentos do livro são autobiográficos da própria autora. Assim como Esther, Sylvia teve diversas crises depressivas e só conheceu a fama e o reconhecimento literário que desejava após a morte. Ela suicidou-se numa manhã gelada de fevereiro do ano 1963 inspirando gás na cozinha de sua residência em Londres. Há conversações para se adaptar essa obra para o cinema, os direitos sobre o livro foram adquiridos pela atriz Julia Stile, mas ainda está em fase de produção do roteiro e de outras burocracias ligadas ao cinema.

“A redoma de vidro” é um livro sensível e instigante. Uma leitura não muito fácil, porém muito gostosa e prazerosa dessa que foi uma das grandes escritoras inglesas do século XX