quinta-feira, 16 de abril de 2015

Fringe: Acredite no Impossível



Acredite no Impossível

Criação de J. J. Abrams, essa série mergulha profundo num mundo desconhecido, onde toda verdade é apenas um ponto de perspectiva e toda realidade não é apenas uma mera realidade.

Após Arquivo-X, o mundo das séries nunca mais foi o mesmo. Se antes deste seriado, o universo destas estava apenas moldado por comédias simples e escrachadas, com duração de apenas meia hora e sem ter uma trama que interligasse os episódios, depois de Arquivo-X, as estruturas destes seriados mudaram drasticamente.

Com uma trama baseada nas mais profundas teorias de conspiração, envolvendo mitologias, espíritos, ocultismo e toda sorte de crenças que estão longe da realidade, Arquivo-X abriu um caminho para as mais diversas séries ganharem vida. Exemplos não faltam: Lost, Angel, True Blood, Supernatural, Guerra dos Tronos, Penny Dreadful.

Episódios densos, calcados no suspense, com personagens emblemáticos e contraditórios, com segredos e verdades. Com cerca de duração de uma hora cada episódio, este seriado durou nove anos. Apesar de ter um final que não foi o esperado, marcou para sempre os rumos dos seriados. Entretanto, nenhuma seria de ficção conseguiu ocupar o lugar deixado por esta série.


Fringe nasce com essa premissa, uma trama de ficção calcada em episódio fechados (começo, meio e fim) e que ao final, estão interligados com uma história maior que rege toda a temporada.
Criação de J. J.  Abrams, o mesmo criador do seriado odiado e amado aos extremos, Lost, Fringe caminha entre o drama, suspense e ficção e nos entrega um seriado profundo, complexo, com personagens marcantes, emblemáticos e que caminham numa linha tênue entre o bem e o mal, movido por desejo e amor.

Não há vilões de fato nesta história, não há heróis, há homens e mulheres tentando se manterem vivos. Apesar de se ter toda uma ficção que rege a série, um tema simples interliga todos os episódios que é o sentimento de redenção. Um seriado extremamente humano estruturado na mais pura ficção.

A sinopse num começo é simples. Após um acidente de avião onde toda tripulação foi achada morte, os agentes Olivia (Anna Torv) e John (Mark Valley) são encarregados de investigar o caso. Quanto mais investigam, mais se deparam com um mundo desconhecido.

Olivia descobre que há mais casos que nem estes, sem uma explicação de fato, que seguem certo padrão, dando a entender que estão interligados por algo maior. Então esta agente se depara com uma nova recente subdivisão criada pelo FBI chamada Fringe.

Essa nova organização tem como meta tentar solucionar casos não explicados pela medicina ou pela investigação comum. Quando seu parceiro é contaminado pelo vírus que matou a todos a bordo no avião, Olivia vai precisar da ajuda de um médico especialista neste assunto, o cientista Dr. Walter Bishop (John Noble). Ele está internado há vinte anos num hospital psiquiátrico. Seu único contato com o mundo externo é seu filho, Peter (Joshua Jackson).

Com a ajuda de Peter e Bishop, Olivia então parte para desvendar os casos mais estranhos, as mortes mais bizarras e as explicações mais fora do padrão da racionalidade humana. Durante as investigações, o departamento Fringe irá se deparar constantemente com a empresa Massive Dynamic, dirigida por Nina (Blair Brown), antiga amiga de Bishop. Neste sentindo, eles nunca sabem se Nina está de fato os ajudando ou apenas protegendo os interesses particulares da empresa.



No primeiro ano, a série começou bem, porém perdeu em audiência e qualidade. Entretanto após sua segunda temporada, todo roteiro foi reestruturado e percebeu-se um novo clima na série. O seriado finalmente achou seu ponto e seu caminho.

Na primeira temporada um vilão é revelado, no segundo, percebe-se que o problema que cerca a todos os personagens é muito mais emblemático. Na terceira temporada, universos se cruzam, neste momento a série alcança seu ápice. No quarto ano, toda a história é refeita e sentimos um recomeço, entretanto é um recomeço marcado por feridas do passado. É estranho e diferente, os roteiristas ousam com a trama e entregam um ano cheio de mudanças que conseguem dar conta de toda história. E na quinta temporada, os verdadeiros vilões são revelados e a série consegue encaixar num arco fechado todos os fatos acontecidos desde a primeira temporada ate a última, mostrando que todas as cinco temporadas caminharam de acordo com a trama original.

Alguns episódios são verdadeiramente belos, outros comoventes e todos os elementos cinematográficos apenas ajudam da melhor forma possível na construção deste seriado. Temas como amor, perdão, desejo, culpa, frieza e raiva são trabalhados na história. Conseguimos nos identificar com seus protagonistas e com cada personagem que cruza o caminho destes.

Um ponto que o seriado sempre trabalha é que toda ação gera uma reação e toda escolha gera uma série de consequências que não podemos controlar, apenas aceitar da melhor forma possível. Algumas verdades ou fatos não compreendemos de inicio, mas somente quando o tempo que nos cerca e nos move passa, é que percebemos como chegamos onde chegamos e sofremos o que sofremos. É como se tudo tivesse um motivo de fato e que nada fosse pelo mero acaso.



Predestinação, talvez destino, talvez apenas a vida. Assim Fringe move seus personagens. Sentimentos tão simples e tão complexos move a todos e ao final, o que prevalece é a tentativa de um personagem de sentir-se livre do peso das suas escolhas, livre dos fantasmas do seu passado. Culpabilidade, perdão e redenção. Sentimentos que nos cercam e nos moldam, também moldam a estes personagens.

O drama está no cerne da série e são os dramas de todos os personagens que vemos no decorrer das temporadas. É interessante ver como a complexidade da série ganha força, folego e vida com o passar dos episódios.

Da terceira temporada em diante, todos os casos conseguem trazer para o centro da investigação algo que está relacionado ao drama que rege Fringe. É como se a cada episódio, fosse revelado qual é o grande mal que nos cerca, mas ainda estamos imaturos para percebê-lo.

Alguns episódios ganham destaque, seja perca sua carga emotiva como pela sua execução. Perdão, redenção, acolhimento, aceitar a si mesmo, em suas mais complexas limitações, são estes os temas que Fringe trabalha e foca.

O mundo gira e nós somos marcados pelas nossas escolhas. Universos se cruzam, pessoas morrem e o motivo que está interligado a tudo isso é tão simples que parece ser bobo. Mas assim é a vida, quando vemos de perto, toda simplicidade ganha complexidade e notamos que nada que parece ser, de fato é.


A verdade é um ponto de perspectiva. 



sábado, 11 de abril de 2015

True Blood - Temporada Final



Quando cessa o temporal, o sol volta a brilhar.

Em sua sétima e última temporada, True Blood traz para o centro da trama uma história simples, calcada em seus personagens, dramas e temores. Não, não há grandes batalhas ou vilões que vão além da nossa compreensão. Apenas o homem frente ao seu maior temor, a morte. Perdão e redenção, vida e morte dão o tom a essa temporada.

Sookie Stackhouse (Anna Paquin) está num relacionamento estável com Alcides(Joe Manganiello). Sua vida envolta com os vampiros ficou no passado. Sam (Sam Trammell), agora como prefeito de Bom Temps, com a ajuda do reverendo Daniels (Gregg Daniel) e do vampiro Bill (Stephen Moyer) colocam em prática uma ideia perigosa. Frente ao crescente ataque de vampiros às cidades, devido a disseminação do vírus hepatite V, os três se unem com um propósito: para cada humano sadio, um vampiro sadio. Nessa relação, o humano lhe dará do seu sangue e o vampiro sua proteção.

Tudo segue certo para a concretização desse plano. No restaurante de Arlene(Carrie Preston) todos os preparativos estão feitos para os pactos serem realizados. Entretanto um grupo de vampiros contaminados invade a festa provocando morte, perdas e dúvidas. Entre os que morrem está Tara (Rutina Wesley), entre as sequestradas por estes vampiros estão Holly (Lauren Bowles), Arlene.

Após esse incidente, os ânimos se afloram e todos nesta cidade se deparam com o medo, o caos, a incerteza e a violência. A quem culpar por todas as mortes? Sookie. Ela é a culpada por todos os atos que aconteceram nesta cidade. Nada mais justo, afinal, foi após a chegada do vampiro Bill na vida dela e desta cidade que tudo mudou. Correndo por fora temos Pam (Kristin Bauer) em busca de seu criador, Erick (Alexander Skarsgård) e se deparando com uma dura realidade para seu criador.



É com esta temática simples, porém focada nos personagens que True Blood entrega sua última temporada. Ninguém vive para sempre. Esta é a única certeza que temos e será esta certeza que guiará a todos os personagens. 
Quando True Blood foi lançada há sete anos, os vampiros estavam na moda. Nos cinemas, a saga Crepúsculo ganhava seus fãs. Na tv “Diários Vampíricos” mostrava sua força entre os adolescentes. Neste território fértil, surge True Blood com uma temática ousada, nova, mergulhada em cenas quentes e fortes, onde o sexo e o sangue mostram sua cara.
A série começou bem, alcançou seu ápice na segunda temporada. Entretanto, após o terceiro ano se perdeu em tramas, subtramas e muitos personagens. O quarto ano trouxe um pouco de paz e calma ao seriado, promovendo uma temporada mais intimista, terna, sensível e tocante. O quinto ano novamente estragou tudo. Coube ao sexto ano do seriado arrumar a casa e preparar o terreno para a última temporada.
Neste sétimo ano, True Blood começou genial. A temporada por ter apenas dez episódios, mostrou um enredo que não tinha tempo a perder com nada. Talvez seja porque vi o seriado após ele ser encerrado, já sabendo com antecedência o que viria. Talvez seja porque vi os episódios numa sequencia única, ou sei lá, mas particularmente considerei a temporada boa em todo seu contexto. Houve falhas, entretanto houve muitos acertos.



Com a disseminação do vírus, um medo se alastrou por todos da cidade. Quando o medo prevalece, o caos mostra sua face e o pior do homem também. Os vampiros contaminados foram representados num primeiro momento como zumbis, seres sem consciência com apenas um instinto, permanecerem vivos. 

Porém, com o desenrolar dos episódios vemos que eles em nada mudaram. Permanecem os mesmos vampiros de antes, apenas com um diferencial: sabem que irão morrer em breve e não desejam a morte verdadeira e para isso farão o que for possível. Ao vermos de pertos estes seres, vemos seus medos e temores e compreendemos sua situação.

A temporada tem esse arco, os vampiros contaminados, como o principal arco da série e é este que une a todos os personagens. Essa trama dura até o quarto episódio, sendo encerrada ainda no começo. Até este presente momento, a série se preocupou em dar uma guinada na série, eliminar personagens e unir as tramas e deu certo. Esta trama conseguiu dar motivo, razão e existência a tantos personagens. Fazia tempo que não víamos todos os núcleos centrados numa única trama. No primeiro episódio tivemos o caos instalado, no segundo a certeza do que acontecerá a cidade de Bom Temps caso os moradores da cidade não façam nada. No terceiro tivemos mais uma morte e a libertação de Holly e no quarto o fechamento deste arco. 

Além do mais, esse arco foi belamente usado para nos mostrar como o “outro” pode ser construído diante de nós. Quando vemos de perto esse “outro”, este desconhecido, vemos que nada ele difere de nós. Neste sentindo, colocamos sobre o “outro” nossas próprias características e particularidades.




Após o quinto episódio, o que tivemos foi um encerramento de todos os personagens em seus respectivos arcos e dramas.

Tara e Alcides foram personagens que tiveram sua morte repentina. Foi algo que causou surpresa, entretanto era algo esperado, já que ambos os personagens não tinham mais o que agregar ao enredo da série. E eles também foram usados para mostrar como a morte é em nossas vidas, quando ela chega, ela simplesmente chega e não há nada que podemos fazer para mudar ou modificar isso. Apenas aceitar e viver o luto e a dor.

Tara ainda em espírito permaneceu na trama para encerrar um drama muito comovente, o de sua mãe. A relação dela com sua mãe sempre fora marcada por brigas e feridas. Por traz de toda dor sempre há um motivo, sempre e este foi revelado. Para que possamos continuar vivendo, é preciso aceitar a vida, aceitar as limitações, aceitar os traumas e deixar a dor nos tomar, como um rio que percorre todo o nosso ser. 

True Blood sempre focou neste tema, continue vivendo, continue respirando, apenas continue, mas antes que possamos continuar, é preciso aceitar que o passado não se pode mudar, apenas o nosso presente e futuro.

Jessica (Deborah Ann Woll) também caminhou por este percalço e seu reencontro com Hoyt (Jim Parrack) foi uma mostra que a vida é feita de momentos e reviravoltas que não podemos controlar. O que fazer diante da morte, do amor, da vida. Nada, apenas aceitar, da melhor forma possível aceitar. O mundo não para diante de nossa dor. Seu desfecho com Hoyt foi um dos mais ternos de toda série.



Dentre tantos encerramentos de arcos, o que mais chama a atenção é para Bill e Sookie. Quando passa o temporal, o sol volta a brilhar. Sookie é uma fada, tem a capacidade de ler mentes, ouvir os pensamentos de todos os que estão a sua volta. Quando chega a sua cidade Bill, seu mundo entre num profundo caos e toda cidade materializa essa mudança, esse caos, essa transformação. Para se ter a ordem, necessitamos do caos, para percebemos quem somos, o que realmente desejamos e queremos nessa vida.

E assim essa personagem percorreu por estes sete anos. Ao final, não haveria como dar continuidade a este casal. Bill representava na vida dessa fada o perigo, a morte, o medo e o passado. Ela se libertar dele é se libertar de todos os males que assombram sua vida e aceitar sua condição enquanto ser que é. Durante toda temporada, Sookie sempre desejou ser normal, ter uma vida pacata. Ao ter essa possibilidade, ela viu diante de si o que estava prestes a perder e quem realmente era em toda essa história. 

Assim ela se transformou de vitima, moça em perigo à uma garota com certeza do que quer, dos poderes que tem e da força que possui. Deixar de lado esse lado “vitima” é algo complicado. Quando aceitamos que somos nós que fazemos nossas escolhas e nos responsabilizamos por nossa vida, deixamos de sermos seres passivos com relação a vida e no tornamos pessoas ativas com relação ao nosso destino. Esse foi o caminho dessa fada, dessa telepata.

Tirando toda essa metáfora sobre a vida, True Blood entregou um sétimo ano básico em suas ações. No centro da trama, temas como preconceito, intolerância se fizeram presente, mas em menor escala. O motivo para a existência dessa temporada foi apenas o de finalizar estes arcos e dar uma morte verdadeira a toda temporada e assim foi. Cada personagem se deparou com seus sentimentos e nada muito grande foi criado, ou muito comovente. Arlene e seu novo caso amoroso, estabelece uma relação com ele, em apenas uma frase "tenho hepatite V, não podemos transar". E assim essa história segue.


Ao final, a cena final é a que prevalece: todos sentados a mesa comemorando a vida, a morte, a dor. Como um banquete a vida, com elementos que nos remetem a vida e elementos que nos remetem a morte. Ou seja, o amor é a morte verdadeira. 



quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sobre Homens, Mulheres e Filhos



Sobre homens, mulheres e filhos. Sobre amores, dores e superação. Sobre erros e acertos. Sobre confiança e proteção. Jason Reitman em seu mais novo filme traz uma trama envolta de vários personagens onde todos se cruzam entre si, mergulhados em suas vidas, perdidos e conectados a diversas redes sociais. Dialogam com o mundo que os cerca, mas se calam com as pessoas mais próximas às suas vidas. Um longa tocante e terno que consegue exprimir toda dramaticidade, complexidade e contrariedade existente na sociedade no momento.

Don Truby (Adam Sandler) e Rachel Truby (Rosemarie DeWitt) são casados há anos. Perderam entre si aquela paixão e calor na cama. vivem, se falam e transam meio que obrigatoriamente, numa relação quase robótica e agendada. Ele passa seus dias no quarto se masturbando vendo vídeos pornôs, ela procurando amantes pela internet.

Eles são pai de Chris (Traves Topi), um adolescente que joga no principal time de futebol da escola. Na flor da adolescência, está descobrindo seu corpo e assim como o pai, se perde nos vídeos eróticos da vida. Ele tem uma atração e um desejo por Hannah Clint (Olivia Crocicchia) (garota cantora popular que conseguiu a fama por meio de sua “beleza” e se perdeu em sua “maturidade”?), uma adolescente que se sente atraente, acima da sua idade e acha que sua beleza a levará a conquistar o que deseja nessa vida. Gosta de seduzir Chris e mostra-se sempre para suas amigas mais como uma mulher do que uma adolescente.

A mãe de Hannah, Joan (Judy Greer), tem um comportamento com a filha mais de amiga do que de mãe.  Sempre permissível, deseja com que a filha tente alcançar o que tanto deseja, ser uma estrela do cinema. E para isso, sempre estará tirando fotos de sua filha, fotos que em certos momentos chegam a serem fortes e ousadas. Na opinião dela, ela dando esse apoio e suporte para a filha, a ajudará em sua vida.



Joan num encontro sobre como criar os filhos, conheceu um homem, Kent (Dean Norris). Os dois se interessam um pelo outro e iniciam um relacionamento. Ele é calado e desde que sua esposa o abandonara não se envolveu com mais ninguém. Não sente desejo, vontade ou prazer. Apenas vive calado, amargurado, em silêncio. Nesse novo relacionamento, ele vê possibilidades e sente-se vivo como antes. 

Ele tem um filho, Tim (Ansel Elgort), que assim como ele, desde que sua mãe partiu, se fechou em seu mundo. Saiu do time de futebol, fato esse que ainda sempre é criticado por todos do colégio, inclusive pelos professores. Perdeu amigos e conhecidos e encontrou nos jogos online em rede um conforto e abrigo.

Ele se interessa por Brandy (Kaitlyn Dever), uma garota que assim como ele é reservada e calada. Não tem amigos com quem possa conversar. Os dois se olham, conversam e iniciam um relacionamento calmo, lento e comovente. Ela também possui seus problemas, sua mãe no caso, Patricia Beltmeyer (Jennifer Garner), uma mãe extremamente protetora e controladora. 

Ainda por fora há Alisson (Elena Kampouris), uma adolescente que não come, é apaixonada por um garoto do colégio mais velho e acha que alcançando um certo padrão de beleza vai conquista-lo.


Esse é o mosaico construído por Reitman em seu mais novo filme e no centro da trama estão ainda as relações sociais. Há todo momento vemos telas e conversas, elas representam as inúmeras conversas que todos os personagens têm em seus aparelhos e computadores. Todos mergulhados em redes sociais, mas que permanecem calados em suas vidas. Chega a ser engraçado algumas cenas em que três amigas conversam entre si enquanto duas delas mantém uma conversa em off por meio do celular debochando da amiga.

Nesse drama, o que o diretor faz é uma abordagem dessa sociedade tão contraditória entre si. Ao mesmo tempo em que temos contatos, mantemos amizades e conversamos com pessoas que estão tão distante de nós, não conversamos ou dialogamos mais com pessoas próximas de nós ou mais importantes. Todos conversam com todos, menos com as pessoas que realmente precisam conversar ou que precisam manter um elo de relação. Pais e filhos, maridos e esposas, amigos.

Em todos os relacionamentos entre estes personagens, o que se tem é um silêncio estarrecedor. O único casal que mais possui diálogo entre si, Tim e Brandy, são considerados os mais estranhos do colégio. Torna-se engraçado, os mais sociáveis, que não se perdem em redes e vivenciam suas vidas com mais intensidade e realidade, são colocados no filme como os mais estranhos. 

É interessante notar também o pôster do longa em que a figura de todos os personagens se perdem no espaço e não há como de fato visualizá-los, entretanto os personagens de deste dois jovens são mostrados ao centro, mais nítidos, mais claro, com mais cor, mais vida e mais intimidade e relação.



Seguindo a mesma linha de Crash, “Homens, mulheres e filhos” constrói seu drama em cima de vários personagens. Vários arcos em que nunca há um protagonista de fato. Neste drama todas as tramas se entrelaçam e o mais interessante, todas se destacam em suas particularidades. No começo, somos apresentados a todos os personagens, seus dramas e seus medos. Aos poucos vemos suas histórias e seus problemas ganharem forma ou sendo percebidos por eles mesmos e ao final, cada um vai tendo seu desfecho. Um fim marcado pela ternura, dor, maturidade e redenção.

Uma voz une a todos e essa voz é a de Emma Thompson. Ela retrata a vida de todos e os intercala com um fato, a grandeza do Universo. Quanto mais percebemos como o universo é infinito, mais percebemos que nossos problemas são pequenos diante da grandeza da vida. Entretanto, quanto mais vemos nosso problema, mais o achamos imensurável. 

Perceber a vida, a sua finitude, a sua grandeza e compreender que fazemos parte de um todo, nos ajuda a perceber o quão nossos problemas são pequenos diante de nós. Estes já podem serem suportados e aceitos. Os personagens deste drama caminham para essa verdade, para essa aceitação, para esse conflito e ao final, se deparam com suas dores e suas verdades.

Nesse sentindo, “Sobre Homens Mulheres e filhos” aborda um tema caro a sociedade, sua solidão e carência e como nos afastamos de quem devíamos estar próximos e como as relações reais vem perdendo força mediante as redes sociais que tem como objetivo fundamental tornar as relações mais vivas. Por fora, o longa ainda toca em temas como aceitação, dor, verdades e traumas do passado com muita delicadeza e ternura, nunca aprofundamento um tema em especifico, entretanto nunca o tratando com superficialidade.




sábado, 4 de abril de 2015

Caminhos da Floresta



Sombrio, envolvente e divertido. Em “Caminhos da floresta” uma gama de personagens se cruzam na busca de realizarem seus desejos e mostram as consequências destes. Em sua mais nova investidura no cinema, os estúdios da Disney relança seu mais novo olhar sobre os famosos contos de fadas.

Numa pequena vila há um padeiro (James Corden) e sua esposa (Emily Blunt) que desejam ter um filho, mas não podem. Neste caminho ainda há uma garotinha que precisa ir visitar sua vó na floresta, mas deseja viver novas aventuras. Uma jovem chamada Cinderela (Anna Kendrick) que deseja ir ao baile do príncipe (Chris Pine), entretanto não possui as condições e sua madrasta (Christine Baranski) não permite e um garoto, João (Daniel Huttlestone) que deseja uma melhor condição de vida, sem precisar vender a vaca que tanto ama.

Em meio a tantos desejos, uma bruxa (Meryl Streep) tenta realizar os desejos destes personagens, mas para isso precisará de certos objetos. Uma capa mais vermelha que o sangue, a vaca mais branca do que o leite, os cabelos mais louros que o milho e os sapatos mais puros do que o ouro.

Na busca destes desejos, estes personagens irão se cruzar, em meio a um musical que fala sobre desejos e consequências e sobre como somos os únicos responsáveis por nossas atitudes.



Os contos de fadas dos Irmãos Grimm, sempre foram lançados aos cinemas pela Disney com uma áurea mágica e inocente. Sendo tratadas como contos de fadas, valores como amor, ternura, força e garra foram abordados e sempre valorizados. O bem sempre vencia ao final da história e o mal e suas ações sempre eram castigados. Havia uma clara distinção entre o herói e o vilão.

Nessa nova abordagem os personagens perdem essas particularidades e a distinção entre o bem e o mal se esvai. Baseado na peça de teatro da  Broadway muito bem recebida pela crítica, “Caminhos da floresta” tenta capturar a essência dos contos de fadas dos irmãos Grimm,. Histórias mais sombrias, macabras, dotadas de complexidade, dramaticidade e onde o elemento do horror prevalece.

Neste novo drama, a Disney tenta manter essa dramaticidade. Apesar do elemento terror não prevalecer com grande força, ele ainda se encontra no filme, pelas suposições, pelos não ditos, pelos detalhes, silêncios e diálogos. A fotografia sempre é escura, a trilha possui em sua melodia tom pesados, seguidos por um musical gracioso e penetrante.

O longa começa bem, com uma boa desenvoltura entre todos os personagens. Os principais fatores das tramas dos contos são mantidos. Entretanto, nada com muitos detalhes. As histórias tem como elo de ligação a bruxa, o padeiro e sua esposa. São eles que guiam o filme, dando dramaticidade e alivio cômico também. Cada personagem nesse caminho tem algo a desejar e são por estes desejos que serão movidos.




Passado algum tempo de projeção, o longa meio que se perde em sua trama. Quando todos conseguem o tão final feliz, a impressão que temos é que algo está errado e não há mais para onde caminhar. É neste instante que o longa modifica toda sua estrutura e mostra sua verdadeira face. 

“Caminhos da floresta” aposta num belo musical para mostrar homens e mulheres em suas vidas e suas dores. Esqueça os finais felizes, ou o príncipe encantado dotado de qualidades. Neste drama/comédia, os estereótipos se desfazem e vemos o bem e o mal com a mesma proporção.

O príncipe encantando não é tão encantado assim, a bruxa que ameaça a todos, não é tão vilã assim. Enfim, o que o roteiro faz com estes personagens é humaniza-los, ou seja, dar mais pecados e falhas a estes homens e mulheres e mediar as perfeições, afinal, somos humanos, marcados e moldados tanto pelo bem, quanto pelo mal. Cada personagem deseja algo em particular e estes serão realizados, tais desejos provocará toda uma cadeia de acontecimentos que promoverão desfechos marcados pela dor, sofrimento e morte.



Em se tratando de características cinematográficas, o longa possui muitas qualidades. Com uma desenvoltura ágil, o drama intercala as tramas e personagens de forma gostosa e divertida. A fotografia é marcada por tonalidades escuras em que o preto e o azul prevalecem. As sombras ganham destaque e um tom sombrio decai sobre todos os personagens.

O musical é outro destaque. Sem ter números musicais de fato, os personagens apenas cantam suas falas numa melodia gostosa. O elenco está muito bem afinado, cantando e atuando em grande estilo. James Corden e Emily Blunt, assim acompanhado por Meryl Streep Anna Kendricklevam se destacam.

“Caminhos da floresta” é isso, é um divertido musical que agrega em seu roteiro toda essência das histórias dos Irmãos Grimm,. Um longa em que temos a possibilidade de rever essas tramas, impregnadas por essas primeiras características.


O longa possui um tom de moralismo, isso é fato, mas, ainda assim, esse moralismo não se sobressai sobre o drama e ao final, só temos uma certeza: “finais felizes” nem nos contos de fadas.