terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Nome Próprio



Leandra Leal encarna com competência e maestria uma personagem intensa, ousada, perdida, forte e auto-destrutiva. Ela é Camila, uma jovem que sonha em ser escritora e vê nos fracassos de sua vida amorosa, a densidade necessária para lever essa história adiante. Ela se expõe e deixa revelado a todos que a cercam seus medos e desejos. Se fere, se machuca, sangra, xinga e vive ao extremo, mas sempre tentando. 

O longa começa com Felipe (Juliano Cazarré) expulsando Camila do seu apartamento. Ela o traiu, ele nao aceita mais a relação, ela insiste que ele ainda a ama e que aquela traição foi por culpa dele também. De nada adiante, ela então vai morar por alguns dias na casa de um amigo, Marcio (Munir Kanaan). Lá, tenta se recompor, mas não, ela está em desespero, não aceitando tudo o que aconteceu. 

Limpa constantemente a casa, numa atitude de tentar organizar sua vida, fuma inúmeros cigarros e toma remédios pra tentar controlar sua ansiedade. Ela quer ter o controle de tudo, mas devido a não o ter, se sente cada vez mais perdida. Presa no apartamento, sem emprego ou dinheiro, só lhe resta escrever e escrever. Primeiramente com fatos pessoais de sua vida que ela publica em seu blog, fato esse que deixa Felipe irado com ela. Depois de todas as suas desilusões amorosas, incluindo suas falhas e seus erros. 

Camila tem o desejo de se tornar escritora. Vai buscar nas suas desilusões amorosas a força que precisa. Primeiro do término do seu namoro, depois com um caso, com seus erros e com tudo depois o que lhe acontece. Depois, de todas as escolhas que faz, sendo erradas ou não.Como em uma montanha russa ela cai, levanta, cai novamente, chega ao mais puro e profundo poço e tenta novamente.

Os dias seguem e quando pensamos que tudo pode se ajeitar em sua vida, só piora. Muitos são as pessoas que tentam ajudá-la, mas todas ao fazer isso, acabam se ferindo. Ela quer fazer o que é certo, mas sempre faz o que é errado. Quando sente que conseguiu se encontrar, percebe a dor da desilusão e sabe como é ser traída, ela chora, mas se levanta, em busca de um nome próprio, uma indetidade que é exclusivamente sua.



"Nome Próprio" com direção de Murillo Salles é um filme intenso. Baseado na obra de Clarah Averbucks, ele retira dessa história toda carga dramática. Não é um drama fácil, pois Camila, nossa protagonista, erra e erra feio. Trai o namorado, briga com ele, usa todos a sua volta como objetos, transa com o namorado da amiga na sua frente. Tudo que uma protagonista jamais faria e com isso, fica difícil torcemos por ela. Mas ainda sim, torcemos.

O longa tem um direção segura, uma trilha sonora suave que nao pesa as cenas. A iluminação deixa a todos mais cru e revela todas as imperfeições de seus personagens. Vemos uma Leandra Leal verdadeira, sem beleza e com susa ansiedades estampadas em cada movimento seu. Algums cenas dizem muito, os pés que não se param de bater quando ela está em frente ao computador, ou no banho, quando o ralo está intupido. A tentativa constante de limpar a casa, tudo ao seu redor está, aos seus olhos, errado, sujo, errado e ela tenta, mas sabe que nao pode dominar toda sua vida. A tentativa de lavar as escadarias do apartamento é uma prova disso.

"Nome próprio" foi bem recebido pela crítica, mas infelizmente exibido em poucas salas. Um filme intenso e que nos prende. Um pouco demorado, poderia ter uma edição melhor. As falas em off, com as escritas aparecendo na tela e nas paredes, deixam o drama ainda mais belo. A cena final, tão poética e profunda, deixam esse longa ainda mais encantador. Duas Camilas diante de nós, com seus medos e ousadia, tentando e tentando, mesmo se ferindo. Essa é a sua busca, a de se encontrar em meio a dor, se punindo, se machucando. Ela vê na dor e no erro um motor para a sua vida. Assim é esse filme, um drama onde não há momentos de risos, em que a dor se estabele como impulso que rege a vida.




segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A vida de outra mulher



Marie (Juliette Binoche) esta numa casa com sua mãe cuidando do pai doente. Nesse fim de semana conhece Paul (Matthieu Kassovitz). Eles trocam olhares, e então, sua amiga o convida para a uma festa na casa de Marie. Os dois conversam, ficam e tem uma noite de amor. Ela então acorda e percebe que está num lugar diferente. Não consegue entender nada, está mais velha, num apartamento de luxo em Paris, com um filho e uma empregada. Se olha no espelho e não se reconhece, percebe que é uma outra mulher. Se passaram 15 anos de sua vida e ela não se lembra de nada. 

Nesse momento vamos juntos com ela descobrindo o que aconteceu em sua vida. E assim ficamos sabendo que ela se casou, formou uma familia, se tornou numa empresária de sucesso e salvou a fortuna da famílida do marido. Porém, diante de tantas descobertas boas, descobriu também que seu casamento está em processe de separação. Todos a temem, e ela possui um caso com um funcionário da empresa. O pai faleceu e ela cortou as relações com sua mãe. Enfim, apesar de sua vida profissional ter alcançado as alturas, ela como pessoa caiu num profundo mar de infelicidades e desgoto. 

"A vida de outra mulher", drama francês, é um longa divertido e engraçado. Nunca sendo profundo, nunca sendo raso. Um filme bacana. É com graciosidade e leveza que vemos todo o desenrolar dessa trama. A trilha sonora é muito bem usada, ela é ótima, desde o instrumental as músicas, tudo é muito cativante. 

O drama se apóia na comicidade pra ganhar o público e consegue. A trama nao quer entender a causa desse esquecimento, mas fazer com que Marie perceba onde sua vida a levou. A vida que possui é a que realmente ela queria ter?



Tentando entender o que lhe aconteceu que tentará reconquistar seu marido, viver os dias com seu filho e buscar compreender em que pondo de sua vida ela mudou tanto. A relação com sua mãe tentará compreender também assim como se deu o falecimento do pai e ficará sabendo que não esteve tão presente assim na vida dele. Marie é vista pelos outros como uma mulher rude, grossa, sistemática e impaciente, que faz com que todos a temem e ela não consegue se ver nessa mulher que se transformou. 

Esse longa segue aquele caminho de filmes como "De repente nos 30" ou "Quero ser grande" em que a pessoa ve seu passado e não consegue se enxegar nesse futuro tão mudado. O roteiro não chega a explicar algumas informações e seu desfecho complet essa ideia deixando o longa mais belo. Não é ideia da diretora explicar a causa, mas apenas mostrar a Marie o que lhe aconteceu.

Com essa ideia que a atriz francesa Sylvie Testud estreia no cinema com uma comédia/drama simples, mas muito bem conduzindo. Porém, o que prende todo o drama e segura o filme ainda sim é a presença magnifíca de Juliette Binoche. Ela que é uma atriz mais ligada a dramas, aqui dá vida a uma personagem mais suave, engraçada, leve. Ela encanta e diverti, mas também consegue dar dramaticidade quando a cena pede e a cena final é uma prova disso. O diálogo final entre ela e Paul é intenso e tocante. 

Um filmes simples, mas que consegue agradar. Não é profundo, porém nao é raso, enfim, encanta e diverti

500 dias com ela



 
Esse é um daqueles poucos filmes que conseguem ser engraçados e dramático na mesma intensidade, enfim na medida certa. Uma comédia sobre o fim de um relacionamento, um dram sobre como aceitar esse fim e como seguir adiante.

Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem bacana, normal. Sem grandes qualidades, sem grandes defeitos, enfim, comum. Ele conhece Summer Finn (Zooey Deschanel) no emprego e fica perdidamente encantado pela beleza dela. Conforme os dias vão passando ele tenta um encontro e  numa noite tem sua grande chance, os dois conversam, trocam rizadas e ficam, começa aí então esse relacionamento. 

Mas na vida nem tudo dá certo e o namoro deles chegam ao fim. Hansen então parte para as lembranças do passado, do momento que a conheceu até o momento que tudo acabou para tentar entender o que deu errado.

Passado e presente se entrelaçam, numa mistura contínua. Ora vemos ele feliz e sorridente, cantando e dançando, sabendo que namora uma garota que gosta. Ora vemos ele triste, depressivo, prester a perder tudo o que conquistou na vida, devido a esse fim do namoro. 



"500 dias com ela" é uma bela comédia romântica sobre a dor. É nesse aspecto que está a beleza desse filme, ele consegue ser engraçado, mas ao mesmo tempo, sentimos a dor e mágoa desse rapaz. Tudo chegou ao fim e ele nao consegue entender isso. Seus amigos tentam e tentam, mas não, ele não quer ver, nçao quer perceber. 

Hansen se desespera, chora, tem crises de raiva e implora. Ela ouve, não dá atenção, tenta. Mas não há como, as vezes dá certo, as vezes não e ela tem esse conhecimento. As lembranças que vemos sãso sempre de um tempo alegres dele, lembranças essas que vem dele. Porém, as brigas, os momentos em que nada está tão bem assim, não são lembradas, não são visitadas. 

É no desfecho que se dá o melhor desse drama, ele a encontra, a reencontra, a vida dela segue e ele se lança em raiva. O mundo gira, mas ele ainda fica preso a ela. Nenhum sentimento some do nada, ele se vai aso poucos e é somente aos poucos que ele vê o que não queria e percebe que o amor entres eles ja tinha se perdido há mais tempo. 

Um filme doce e delicado com uma trilha sonora gostosa e uma direção contida, segura e terna, que consegue retirar o melhor do seu elenco. Joseph Gordon-Levitt se destaca nesse filme pelo seu carisma e competência de levar o drama a sério. Apesar da beleza de Zooey Deschanel, é ele quem leva os créditos. Engraçado, divertido e carismático.

O longa também segue esse caminho, divertido quando o momento pede, intenso quando o drama cede lugar. A cena final dele com Summer no parque é a prova disso. Um diálogo pautado por verdades, sinceridade e muita dor. 

"500 dias com ela" consegue ser isso e muito mais, um filme para se ver e se sentir.


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Interiores





Uma obra densa, serena e introspectiva. Um mergulho na dor, uma tentativa de entender o silêncio que fica entre diálogos. Wood Allen traz com “Interiores” um dos seus filmes mais emblemáticos, dramáticos e singular.

Três irmãs convivem com uma dura realidade. A separação dos seus pais, divórcio esse que está sufocando e matando e vida Eve (Geraldine Page), a mãe delas. 

Renata (Diane Keaton) é a mais velha. Séria, ousada, fria e criativa. Não poupa palavras, é uma talentosa escritora, porém está passando por uma crise na produção. Respeitada no meio, é casada com um professor que não tem o mesmo prestígio que ela. Ele se sente menor que a esposa e essa sensação está aos poucos destruindo o casamento. 

Flyn (Kristin Griffith) é a do meio, sensível e muitas vezes frágil. Muito ligada com o pai, sempre está perto de sua mãe, porém a instabilidade e frieza por parte de Eve a machuca. Não sabe o que quer da vida, na verdade sempre protegida, não conseguiu se encontrar ou enfrentar algo. 

Joey (Mary Beth Hurt) é a mais nova e mais distante delas. Ela um misto das duas, sensível e forte, áspera e doce. Sobre ela não vemos muito já que o longa se centra apenas entre as duas irmãs mais velhas e tendo como motor de ira e movimento Eve. 




É com esse drama tão denso que Allen vai tentar trabalhar esse universo de dores e incertezas. “Interiores” faz uma alusão a esse espaço interno das casas, mas também ao espaço que está em nós. Os apartamentos e casas são uma representação de cada um destes personagens. A tentativa de Eve demoldar o apartamento de Fly é um modo dela querer ainda moldar os gostos e a vida de sua filha. Ela quer dominar os sentimentos desta filha que aos seus olhos é a mais distante dela. A casa de Renata sempre com tons escuros demonstrando incertezas com relação aos seus sentimentos, tanto que ela é a única a fazer análise. Não se conhece por completo. 

Tudo é tão gélido, tão vazio e tão espaçoso, sobram sentimentos. Não há sentimentos vivos, não há choques ou confrontos, não há nada. Nada é dito, nada. É nesse silêncio de palavras que Allen irá trabalhar toda dor presente nesta família. 

Fazendo uma forte referência a Ingmar Bergman, esse filme com nada se parece com a cinebiografia de Allen. Aqui não há aquele humor ou piadas sobre a vida. Os planos são estáticos, a abertura é ótima e seu desfecho esplêndido. Há tanto silencio nessa abertura e tanta calma, promovida pelos sons da maré no desfecho, um excelente trabalho do diretor. A personagem de Pearl (Maureen Stapleton) representa a vida que toda família não tem. Seu vermelho é pungente, é quente, é vivo, mexe e balança, chama a atenção e provoca. Não há como não percebê-lo, ela traz a vida a tanta morbidez e ao final, a uma personagem. 

Referencia final a Bergman é a cena final. A discussão entre Eve e Flyn é forte, dura e dilacerante. Todas as palavras não ditas são jogadas com tanta voracidade. Realidade e delírio se entrelaçam, jamais temos consciência do que esta acontecendo de verdade. Essa cena, essa discussão é uma total alusão a grande obra de Bergman, “Sonata de Outono”. Todas as palavras, sentimentos e dores são vividos nesse momento.

Luto, dor e angustia são sentimentos que merecem serem trabalhados. Eles fazem parte de nós, são eles que nos movem e nos fazem ser quem somos e “Interiores” trabalha nessa temática. Uma bela obra de Allen. Não é a sua melhor, mas é especial, porque ele trafega por um caminho não muito confortável e realiza um excelente filme.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Margaret




 “Margaret, por que estás de luto?
Porque estás sofrendo ao longo da Unleavung Goldengrove?
Folhas, como as coisas do homem e você com seus pensamentos a cuidar.
Ah! Como o coração envelhece, ela virá, a mais fria sensação, aos poucos, nem sobrará um suspiro.
Embora muitos mintam, você ainda vai chorar e saber o porquê. Agora não importa, criança o nome: Molas e tristeza são os mesmos.
Nem boca tinha, sem nem nada em mente.
O que eu ouvi falar de coração, fantasma adivinhou: O Homem nasceu para a ferrugem, é você Margaret a chorar”



O que dizer sobre Margaret?
Com direção de Kenneth Lonergan. O mesmo que fez o terno e simples “Conte Comigo”. Aqui ele volta com destaque num filme mais denso, dramático e de certa forma, até confuso. Porém é doloroso, provocador e nos instiga a tentar compreender tanta dor. Amadurecer não é nada fácil, ainda mais quando situações pelos quais nós ainda não estamos prontos nos atingem, nos moldam, e nos fazem aceitar a vida, como ainda nós não a tivéssemos aceito. 

Lisa (Anna Paquin) é uma garota normal, com todos os medos e dúvidas de qualquer garota de sua idade. Mas nessa vida tudo muda na vida dessa garota ao presenciar um trágico acidente em que uma mulher morreu.

Após isso, ela entra num luto em que sentimentos e atitudes entrarão em conflito. Ela se sente culpada já que o acidente aconteceu devido a uma parcialidade sua, mas o motorista (Mark Ruffalo) que também teve contato direto com o incidente não assume esse peso. Isso provocará nela uma ira e sentimento de injustiça. A partir desse fato tudo se confunde e se perde em atos e movimentos pelo mais puro sentimento.



Margaret é complicado de entender. Lisa apenas quer que todos reconheçam o peso da morte, mas o fato de motorista não aceitar a sua parcela na culpa, fará com que ela o cobre por outras vias. Talvez seja ai que esteja o problema. O que move suas atitudes, esse processo e seus pensamentos? Lisa tem um grande diferencial, ela é muito humana, se comove com o outro. Seus erros estão a movendo em todos os lados, ela é impulsiva e egoísta, arrogante e carente, indecisa e medrosa, tão normal, tão adolescente.

Talvez a única falha do longa esteja na sua duração. Chega a cansar um pouco, algumas cenas ficam na dúvida, será que realmente elas precisavam aparecer, são muitos personagens. Mas a resposta para essa pergunta está também na sua duração. Um dos motivos desse drama ter ficado tanto tempo na ilha da edição esta nesse detalhe: tempo de duração. O diretor Lonergan.  queria que a obra final do seu longa ficasse em torno das três horas, tempo correto para expor todas as nuances do longa, mas os estúdios envolvidos não quiseram. Com sua negação, o filme entrou em diversos processos, até que um editor ligado a Martin Scorsese, finalizou a obra e obteve a aprovação do diretor.

Apesar dessa questão do tempo, o longa possui toda um delicadeza e profundidade. O que vemos é a crise de uma jovem que se vê diante de algo pelo qual ela não está preparada. Sua postura, sua visão de mundo, suas experiências não lhe dão todas as ferramentas básicas para enfrentar isso. Suas atitudes no longa demonstram isso, ao mesmo tempo que ela é uma jovem que deseja perder a virgindade com um adolescente qualquer, ela se joga no seu professor, como se fosse uma mulher já experiente na vida. 



O longa começa com um trilha sonora linda, tocante e terna. A tomada rodada em câmera lenta nos mostra o cotidiano das pessoas. Seus passos são lentos, suas atitudes são calmas, tudo é revelado, é nessa ideia que o longa vai tocar, um filme suave, calmo, lento que tenta visualizar aquilo que não podemos ver com clareza, as dores, as inquietações e os receios. Essas pessoas estão vivendo, andando, caminhando, o que podemos perceber por essa abertura é que na vida, nada podemos prever. A vida segue, os dias correm e as horas transpassam e nós nada podemos fazer para mudar isso. Esse acidente talvez tenha sido uma enorme fatalidade.

Há um poema lido em sala de aula que sintetiza toda obra e é a personagem desse poema que dá nome ao filme. Margaret, porque está de luto? A vida vem com suas dores, com seus pesares e você está a chorar por qual motivo? A vida segue, o mundo gira, a morte é assim. Não chore, não fique triste, o homem passa. Essa é a Lisa, uma garota que não entende o que lhe aconteceu e acha que deve compreender e aceitar. Mas na vida, não podemos controlar o amanhã, nosso atos tem consequências, isso é fato, mas ainda sim, não saberemos que nos acontecerá caso tomemos certas escolhas.

O elenco está ótimo. Ana Paquin lidera o drama com competência, graciosidade e ternura. Completam o time Matthew Broderick, Matt Damon, Jean Reno e J. Smith-Cameron.  O roteiro é consistente, uma verdadeira poesia sobre a vida e mudança dos sentimentos. Um filme que se vê e revê inúmeras vezes, um longa que fica em sua mente após a projeção e apesar do passar dos dias, você ainda está preso a esse drama, tentando compreender tudo a o que viu.

Um filme que gera dúvidas e que toca profundamente.





sábado, 10 de novembro de 2012

True Blood: 5 Temporada



O que é você?

É com essa pergunta, de certa forma simples, mas ao mesmo tempo, complexa, que se resume o quinto ano de True Blood.

O que dizer sobre o quinto ano dessa série? Não foi ruim, porém, não foi boa. Faltou algo, mais drama, mais junção dos arcos, muitos personagens soltos, bom, os problemas são os mesmos de sempre. Mas neste ano, algo deu certo e algo também deu errado, hilário dizer isso e complicado compreender. Talvez, por eu ser fã da série, não consiga ver só falhas.

Para esse quinto ano, o tema principal voltou a ser a fé que cega, mas agora ligada a um outro ponto que já foi abordado pelos diretores, que é a questão política. Muito se falou sobre a Autoridade, mas nada sobre o que seria, como seria formada, sobre o que estava baseada. Neste ano, tem -se a resposta para algumas perguntas, mas ao final, novas são feitas.

Após o término da quarta temporada, o seriado deixou vários pontos em aberto. Todos os pontos se fecharam ainda no começo do primeiro episódio. Algumas tramas deram certo, outras nem tanto. Mas o que ao meu ver deu certo, é que essas pequenas tramas paralelas conseguiram prender a atenção e trazer bons momentos ao seriado. Nas primeiras duas temporadas, todo enredo da série se concentrava em apensa dois arcos ao máximo, a partir da terceira, personagens de apoio tiveram espaço e foram ganhando peso dentro da série, isso não deu muito certo, já que são muitos personagens, muitas tramas, muito difícil acompanhar. Esse lance de todos os personagens estarem envolvidos em algo é legal, mas perigoso. Legal pois os deixa dentro do mundo e não solto para aparecerem e falarem algo sem importância, deixam de ser um mero elenco de apoio e ganham vida dentro do contexto da série. Perigoso pois se há muitos personagens e não tiver um bom roteiro que una esses arcos, tudo se perde e foi isso que aconteceu principalmente na terceira temporada. 


Neste quinto ano, houve mais tramas, mas estas conseguiram ser bem trabalhadas. Tara e sua difícil aceitação como vampira, seus dramas com Sookie e Lafayette e posteriormente, sua boa interação com Pam, rendendo ótimos momentos. Jason e sua complicada relação com Jéssica e Hoyt, dando um dos finais mais ternos e sensíveis de todo seriado. Sookie, suas origens e sua relação com as fadas, Lafayette enfrentando seus demônios, já que adquiriu os poderes dos ancestrais de Jesus. Arlene e seus problemas envolvendo espíritos e fantasmas e por fim, a Autoridade, o grande tema da temporada.

Após Tara ser morta por Debby, ela é vampirizada por Pam, a pedido de Sookie. Tara como vampira, fica apreensiva e perdida nesse caminho, pois ela se tornou naquilo que ela mais desprezava e odiava. Essa trama envolvendo essa personagem passa por dois momentos, um drama comovente ao lado de seu primo e de sua melhor amiga, e numa segunda parte, sua relação com Pam, a educando e mostrando como é ser vampira. Esse momentos serão engraçados e intensos. Com essa trama, essa personagem recupera aquele carisma perdido ainda na segunda temporada.

Lafayette com o passar dos episódios, ganha uma história própria, ela não tem importância ao contexto da temporada, mas torna-se tocante pela despeda final entre ele e Jesus. A cena do carro possui tanta delicadeza, conforto e dramaticidade. Nada se diz, nada, apenas um olhar de despedida, de respeito e amor. Nesses momentos True Blood mostra seu potencial, apesar de ser uma série vampírica, sua grande força está nos dramas de seus personagens, em suas escolhas e nos seus medos.

Sookie nesse quinto ano fica meio apagada, sem relevância. A busca da verdade sobre seus pais a leva a conhecer seus poderes, sua essência e um perigoso segredo: ela está prometida a um vampiro muito antigo. Um dos seus parentes fez um pacto com sangue de fada e como oferta a ofereceu. Claude conhecia esse vampiro e o espírito dele aparece a jovem fada numa noite e além do mais, a fada anciã afirmou que toda sua ligação com vampiros está relacionada a esse pacto. 



 

Arlene serviu pra encher linguiça, mas eu gosto das tramas envolvendo essa personagem. A do quarto ano foi tocante, terna e envolvente. Perdão e redenção guiaram aquele arco, a desse está preso ao passado, aos atos cometidos. Todo pecado será cobrado e ele vem. O fim desse arco é forte, tenso e nos faz pensar o que é certo ou errado. Haveria outra forma?

O principal núcleo desta quinta temporada fica por conta da Autoridade. Não houve um vilão de fato neste quinto ano, mas apenas o mal que foi representado por uma ideia e um pensamento e esse se materializou em diversos personagens no decorrer dos episódios. Após Bill e Eric matarem Nam, eles fogem, mas são pegos pela Autoridade, no meio do caminho são libertos por Nora, irmã de criação de Eric.

Primeiramente conhecemos Roman, a autoridade. Ele é a figura máxima da ordem dos vampiros. Ele acredita fielmente mesmo numa coexistência entre humanos e vampiros. Para eles, os homens são à base de toda a existência e não apenas alimentos. Ligados a fé, teem como mãe de todos os vampiros, Lilith. Ela foi a primeira vampira e criada a imagem de Deus. Dentro dessa fé, há a explicação de toda existência vampírica, humana e de outras criaturas. 


Dentro da autoridade, outra linha de pensamento ganha força e adeptos. São os que vão ao extremo dessa fé e acham que os humanos são apenas alimentos e nada mais. Eles acreditam que os vampiros devem assumir sua posição de filhos e tomar a terra. Enfim, pregam uma guerra santa, estes são os sanguinistas e toda trama está ligada a esse movimento sanguinista e todos os passos são dados para que se cumpra esse desejo. A libertação de Russel, a prisão de Bill e Eric e a morte prematura na série de Roman.

Após ser revelado todos os planos, nos é mostrado os vilões, mas estes ainda sim não são. São os pensamentos e a fé que os guia. Sendo assim, Nora, Salomé, Bill, Roman são apenas objetos dessa fé. A própria figura que aparece, como sendo a própria Lilith é uma referencia a isso. Ela é algo em que eles possam acreditar, ela é a que causa toda morte e destruição. Segundo Godric, o vampiro criador de Eric, ela é uma deusa ateia, decida a propagar o terror. Para os vampiros ela é Lilith. Enfim, é a materialização de uma crença.

É nesse sentido que se encontra o grande dessa temporada. Unindo a ideia que deu certo na segunda temporada que foi a fé mais o tom político da terceira, tem-se uma mistura perigosa. Com os sanguinistas dentro da autoridade como força principal, inicia-se uma fase sanguinária, onde humanos são mortos descontroladamente. O governo dá um ultimato aos vampiros, se continuarem dessa forma, irão revidar propondo a extinção dessa raça. Romam sabia dessa probabilidade, por isso, pregava tanto a união pacífica. Mas os sanguinistas não, sendo guiados pela fé, irão até as últimas consequências.

Com os vampiros sedentos por sangue e várias mortes humanas acontecendo, o clima fica tenso e todos se voltam contra eles, incluindo as fadas. Ao final da temporada, um clima de guerra é estabelecido, mas não chega a ser tornar real. Como de costume e isso que deixou a série morna, toda uma carga de fatos acontecem nesse último episódio e nada se fecha e tudo se abre.

Apesar de todas as falhas e foram várias, muitos pontos deram certo. As tramas paralelas foram bem trabalhadas, muito bem trabalhadas, conseguindo dosar drama e comédia no tom certo. Até no arco envolvendo Arlene ou do Andy deram certo. Alguns personagens saem de cena, Hoyt é um deles e a despedida dele é uma das cenas mais comoventes de toda as temporadas de True Blood. Outras personagens ganham presença, como é o caso de Holly, como eu gosto dela, isso achei ótimo e o clã das fadas tiveram mais presença. Ainda falta estabelecer uma história melhor, envolvendo a rainha da fadas, aquela que enfrentou Sookie no começo da quarta temporada. 



 

True Blood soube abordar os dramas, os levando ao seu ápice, mas ainda sim, são muitos os personagens e isso cansa. Allan Ball fez seu último trabalho frente a série, agora o seriado ficará com outro diretor, isso pode melhorar o caminho desta série, ou arruinar de vez. Ball é um diretor ligado ao drama, nesse sentido, quando a série quis invocar estes momentos, foi muito bem direcionado. Seu olhar para o humano é ótimo. Porém, quando tentou criar algo grande, perigoso, aquele clima de tensão e batalha, foi falho.

O que é você? Ou, o que nós somos ou desejamos? Todos os personagens passaram por essa dúvida e ao assumir uma ideia, uma identidade, enfim uma resposta para esse pergunta, nos leva também a aceitar todos os lados dessa figura, o bom e o mal. Podemos mudar quem somos, mas se mudarmos, estaremos sendo nós mesmos. Mas se não gostamos do que somos, o que podemos fazer? São dúvidas como estas que nos movem, nos guiam e nos fazem ser quem somos, uma busca infinita de nos compreender e de tentarmos ser pessoas melhores.

Essa foi a busca dessa temporada e a esse fim alguns personagens chegaram. Jason e seu desejo por vingança contra os vampiros, Jéssica e seu total desamparo. Sookie e seu medo do que lhe poderá acontecer e Bill assumindo um lado escuro seu, buscando poder, ódio e rancor, o fazendo como o grande vilão do quinto ano e provavelmente do sexto também. 



domingo, 4 de novembro de 2012

Jovens Adultos


Sabe aquela fase pela qual todos passamos, em que percebemos que a vida não é perfeita, que nada é como realmente queremos, mas que simplesmente são assim e que devemos seguir adiante, deixando assim a adolescência/juventude e enfim, crescendo. Isso geralmente acontece a todos, essa é a ideia. Bom, mas nem todos passam exatamente por todas essas fases, alguns meio que param numa parte deste caminho e simplesmente não amadurecem, não crescem e Mavis (Charlize Theron) está nesse momento.

Ela é uma escritora, dona de uma série de livros adolescentes. A série teve ótima recepção quando lançada e lhe rendeu muito prestígio e dinheiro, mas acabou e ninguém mais quer saber. Ela ainda não percebeu esse detalhe. A editora quer um final para a trama e a cobra constantemente, porém ela não sabe qual seria esse final, pois afinal, nem sabe como dar um final aos seus próprios dramas. Achar um desfecho coerente, adulto e maduro para uma personagem que se assemelha a própria autora é complicado, pois esse drama é a pura trama de sua vida.

Ao ficar sabendo que seu ex está casado e acabara de ser pai, ela olha, pensa e pensa. Olha a foto da criança e não se contém. Quer voltar a sua antiga cidade, não apenas para rever todos, mas para tentar conquistar de volta seu ex, afinal, eles foram feitos um para o outro. Ele era popular, ela também, namoravam, algo não deu certo, ela não quer saber o que deu errado, apenas que tê-lo novamente. Ele sendo casado e pai é um empecilho, mas Mavis nem liga pra isso, é apenas um detalhe da vida.

Quando volta, percebe que quase nada mudou, somente as pessoas que estão as sua volta. Mas mesmo assim, tudo ainda permanece chato, sem graça e com aquela cara de interior, movidas por pessoas sem futuro que vivem um dia após outro de suas pacatas e ridículas vidas.  Ela, pelo contrário, é a materialização de tudo com que sonhou. Mora numa cidade grande, foi bem sucedida na carreira, mesmo que seu ápice tenha chegado ao fim, ainda continua bela e atraente, isso ainda nos seus 37 anos de vida. Ela está bem, vive bêbada, andando com um cão que não para de latir, tentando dar um fim a uma série, mas nunca conseguindo produzir nada. Sim, ela está bem, ela está muito bem, ela pensa.



É com esse drama solto, com um roteiro muito bacana que Jason Reitman e Diablo Cody voltam a trabalhar juntos. O primeiro filme “Juno” foi soberbo, divertido e gostoso na medida certa, lá uma adolescente dava o tom a história, aqui é uma mulher que tenta guiar e fazer a coisa certa, isso aos seus olhos, mas que sempre faz tudo errado, e quando você pensa que ela irá crescer, ela simplesmente mata um personagem e continua.

O drama tem uma direção bem maneira e deixa para Theron toda graciosidade dessa personagem. Mesmo Mavis sendo arrogante e egocêntrica, gostamos dela. Charlize embeleza essa personagem entregando uma atuação profunda, intensa e divertida. Suas crises de bebedice e até o ponto mais forte do longa são bem levados pela atriz. O restante do elenco dá um belo de apoio ao filme, mas é Charlize Theron que dá estrutura e forma ao filme.

A trilha é bem trabalhada e os atos impensáveis dessa louca escritora também. Não é fácil amadurecer, alguns jamais conseguem, outros ficam no meio termo. Aceitar tudo e partir para novos rumos, sem mágoas e seguir não é tão simples, mas isso faz parte da vida. Mas Mavis fica preso a esse idílico mundo de uma forma muito divertida, mas aos poucos ela percebe que tudo que era especial para ela, particular, não era tão bem assim. O melhor exemplo disso é a música que ela escuta inúmeras vezes no carro, aquela canção era especial para ela, representava toda uma era, mas essa mesma música também era especial para outras pessoas, essa quebra a desperta e faz perceber que sim, nem tudo é belo, “mas” ..., esse mas a mantém presa nesse paraíso de arrogância até que o pior ela faz.

Um filme divertido, solto, leve e descontraído, tentando mostrar como pessoas podem crescer, outras nem tanto, mas ainda sim, todos tentam e tentam, ao seu modo, viver e superar a perda, a dor, a não realizações dos sonhos e a tentativa de revivê-los. Todos tivemos um momento de nossas vidas que foram mais do que importantes e nos prendemos a eles, mas estes fazem parte do passado, simplesmente do passado, sem nenhuma ligação com o presente. Assim é a vida, é contínua, ele pode ser lembrado, rememorado, mas não, ele não pode ser mais revivido. Isso é doloroso, isso é a vida.


O despertar


Florence (Rebecca Hall) é uma cética quanto as questões que envolvem espíritos. Numa época pós Guerra, muitos fantasmas voltaram do além para dar mensagens a seus entes queridos, porém muitas destas aparições eram falsas, vindas de mentes que queriam lucrar com a dor alheia. Florence tem como trabalho quebrar e desvendar esses fenômenos, tendo como base de apoio a pura ciência.

Quando chamada para explicar as visões de um fantasma de uma criança que persiste a assombrar um colégio, Florence irá bater de frente com suas convicções e crenças que até então carregava consigo.

Com direção de Nick Murphy, criador e diretor das séries Glee e American Store Horror, esse drama segue a mesma linha destes seriados: baseado em clichês do gênero que tenta e tenta. O suspense tem suas qualidades e muitas, mas não chega a ser assustador, não chega a amedrontar. Fica nesse meio termo, mas ainda sim, é um bom filme.

Como de habitual nesse gênero, Florence chega a mansão, algumas pistas da verdade ainda são dadas no começo, mas elas ficam tão claras que o espectador já percebe que algo está errado com uma certa personagem, pois a forma como ela falou tal frase soou estranho demais. Mas como a verdade ainda não foi dita, nossa protagonista  segue e descobre e desvenda, mas em certa altura do campeonato percebe um ponto estranho no passado dessa casa. Essa mansão guarda segredos e é nesse passado que ela resolve focar. O problema que isso está ligado a ela. 




Nesse momento, o susto sede lugar ao drama e o filme ganha folego. Já não temos medo do espírito, afinal, nem todos são maus, assim como os homens e o drama caminha em direção ao um final de certa forma previsível e ambíguo.

Com uma excelente fotografia apoiada em tonalidades escuras, muito guiada pelo cinza e azul, e uma paisagem muito bela, “O despertar” é tipo uma síntese de tudo que já se viu em filmes de terror que envolve espíritos. A trilha sonora é boa, bem usada e tradicionalmente usada. Ela nos avisa a cena em que algo irá acontecer. A fotografia e a iluminação ganham vida e presença valorizando cenas, cenários e momentos. Os ambientes fechados são muito explorados, as salas escuras, o som que vem de um cômodo distante, os sustos que sabemos já sabemos de antemão, tudo é nos dado de forma muito normal, já vimos essas cenas em outros filmes. Enfim, “O despertar” é mais do mesmo

O melhor nesse drama fica por conta do elenco já que Rebecca Hall é uma excelente atriz. Ela encarna uma cientista muito competente, que tem um passado muito doloroso. No fundo, ela quer acreditar nessa verdade toda sobre espíritos, pois assim não se sentirá tão só ou solitária. Na visão que ela quer acreditar é que morrer não significa necessariamente partir. Completam o elenco Dominic West e Imelda Staunton. Essa última leva os créditos também. Consegue nos passar medo, pois sua aparência denota que ela sabe de toda verdade que está sobre essa casa, ao mesmo tempo que nos passa confiança e sinceridade em suas palavras.

A verdade está diante de nós o tempo todo, alguns a percebem no começo, outro no meio da película, mas infelizmente, essa realidade se vê facilmente e esse é o lado fraco do filme. Longas como “Os outros”, e “O orfanato” levaram essa verdade por mais tempo e nos deram mais momentos de dúvida, já este não. Mas ainda sim, é um bom drama, só pecando pelo final. Ao meu ver, ser mais claro com relação ao destino dessa personagem seria mais interessante.


J. Edgar


Com um drama lento, calmo, boa trilha sonora e um competente elenco, Clint Eastwood tenta humanizar uma figura muita emblemática da história dos Estados Unidos.

Edgar  (Leonardo Di Caprio) é uma das figuras históricas estadunidense mais instigantes. Criador do FBI, a polícia federal norte-americana, esteve a frente do cargo pelos incríveis 48 de existência, ou seja, desde a sua criação até o momento de sua morte, ele coordenou e dirigiu essa que é uma das agências mais conhecidas e fortes atualmente. Mas para se manter no cargo, precisou usar muitos recursos ilegais, chantagens e ameaças.

Sua vida particular nunca esteve a mostra, sempre muito reservado, nunca se casou e tinha como um grande amigo e único praticamente, Clyde Tolson (Armie Hammer). Essa relação é até hoje vista como segundas intenções. É sobre a vida deste homem, sobre o nascimento e concretização de sua FBI, passando por alguns detalhes de sua vida pessoal que esse filme vai abordar. E isso de forma sempre delicada e terna, sempre tentando compreender, nunca julgando, mas sempre tentando compreender o lado homem dessa figura, o lado de dor, de erro, de busca, de desejo, enfim, aquele lado nosso humano que esquecemos de abordar.

Buscando o passado, num momento de pura tensão entre capitalistas e comunistas, Edgar vai dando seus primeiros passos, ganhando confiança, fazendo e desfazendo amigos. No meio disso tudo, algumas pessoas de extrema importância irão trafegar por esse caminho, pessoas que serão determinantes em sua vida. Anne Marie Hoover (Judi Denchi), sua mãe, uma mulher de presença forte, muito ligada ao seu filho e conservadora. Helen Gandy (Naomi Watts), sua secretária, uma pessoa de extrema confiança, estará com ele a todo o momento, do nascimento do FBI até a sua morte e por fim Clyde, grande amigo de Edgar, que conforme alguns relatos, era seu companheiro e que esteve com ele em todos os momentos de sua vida, sejam eles bons ou não. 


 
Clint realiza aqui um filme magnifico e esse elogio se dá pelo fato que ele consegue imprimir  nessa biografia uma humanização sobre essa figura central, sem se esquecer de alentar os defeitos do protagonista. Ele não é perfeito, nós já sabemos disso e podemos ver isso em suas atitudes, pois ele é arrogante, prepotente, orgulhoso, sistemático e jamais gosta que sua opinião seja desacatada. Não respeita o próximo e manipula a todos ao seu bem proveito. Geralmente numa biografia, os diretores, para tentar dramatizar suas história, modificam a personalidade, amenizam os defeitos, manipulam opiniões. Mas aqui não, ele mostra os dois lados desse personagem, e faz com que venhamos ver como ele realmente é, um homem de desejos, ambições, medos e defeitos.

Essa não é a melhor obra de Clint, isso é claro, mas também não é a pior. Um dos pontos positivos, ao meu ver, é que ele segura um pouco o lado dramático do filme, deixando a película um tanto fria, não deixando com que o espectador venha derramar lágrimas facilmente. A história é densa, não melodramática. 

Em Menina de outro, por exemplo, o diretor trabalha todos os planos, tomadas e detalhes para nos comover e sofrer com ela. Já em Edgar, ele tenta deixar o drama o mais sóbrio possível e isso engrandece a película. Há dor nas cenas, podemos perceber seu olhar diante do espelho, na briga com Clyde, mas estes momentos nunca se sobressaem, tudo é muito bem orquestrado para não trazer lágrimas fáceis.

Um ponto interessante é ver como essa agência foi obtendo respeito e isso com a ajuda do próprio cinema e como todos os jogos políticos estiveram à frente de todas as ações e jogadas políticas. Nessa drama, vida privada e pública se entrelaçam, trazendo poder, mas também sofrimento à Edgar, pois seus desejos não podem ser simplesmente vivenciados e isso por medo, por reputação ou preconceito. 



Tudo está claro, mas nada confirmado, a relação com seu amigo se estabelece dessa forma. Tudo está a nossas vistas, a troca de olhares, os jantares, os pedidos, as brigas, mas não, não está nada declarado. Isso nos mostra um lado que façamos com que nos sensibilize com esse personagem, pois nesse momento, está aí a figura humana, dona de medos e desejos e não aquela registrada pelas fotos, pelas notícias ou pela história oficial, ali está um homem e não apenas uma figura histórica. 

A trilha sonora é competente, forte e intensa, mas não se sobressaindo sobre a imagem, presente e nem tão presente. A fotografia é meio gélida, com um tom clássico e o elenco está formidável, com todos os elogios para Leonardo Di Caprio. Um excelente ator que vem desempenhando papéis fortes e com atuações esplêndidas dignas de indicações ao Oscar. Judi Dench está correta, Naomi Watts fica apagada, não percebível, não é que ela esteja ruim, não, ela não está, mas também não se destaca e Ammy Hammer também surpreende, se bem que seus trejeitos tentando se passar por um velho soam meio falso. O único ponto falho no filme foi com relação a maquiagem nos personagens de Helen e Clyde, elas ficaram sobrecarregadas e falsas demais.

Apesar desse detalhe, é um filme muito bem feito, não é a melhor obra desse grande diretor, mas também não decepciona. Sóbrio, correto e forte, com boas atuações e uma história interessante.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Histórias Cruzadas


“Histórias cruzadas” é simples, é meigo, é bacana, enfim, na sua simplicidade ele nos conquista.

Estados Unidos, década de 60 em meio a efervescentes movimentos de contestação ao moralismo, discriminação e racismo da época. Em Mississipi as coisas não andam como no restante do país. Nessa região, ao sul da América, os negros não existem, não tem direito, não falam, não tem presença.

Skeeter (Emma Stone) é uma garota a frente do seu tempo. Possuindo pensamentos diferentes das garotas da sua cidade e vindo de uma Universidade, tem a ambição de ser uma escritora. Algo muito grande para uma mulher que na visão da sociedade, nem devia sair da cozinha. Vendo a forma como os negros são destratados, resolve escrever como é a sensação de vidas das empregadas da cidade: mulheres negras que saem de sua casa, deixando seus filhos a sorte, para cuidar dos filhos de outras famílias e serem tratados como verdadeiros objetos por algumas famílias.

A ideia de escrever esse livro não é bem visto por ninguém, nem pelos brancos ou pelos negros, mas ela não desiste e persiste até que duas mulheres concordam em testemunhar suas vidas, Aibileen (Viola Davis) e Minny Jackson (Octavia Spencer). É a partir dessa ajuda que tudo começa a ganhar vida e os ojetivos de Skeeter começam a ganhar forma. Mas não apenas o desejo dessa jornalista, mas também o dessas mulheres que querem ser ouvidas e querem propagar sua voz dentre a sociedade. O longa segue a cartilha normal, mas algo chama atenção para ele, talvez seja sua simplicidade, talvez o seu elenco, mas algo nos prende a essa história, pois ele e nos conquista.  



“Histórias Cruzadas” toca num tema delicado de forma leve. O racismo, ferida que já sangrou muito e ainda sangra, tanto nos Estados Unidos como aqui no Brasil também, de tempos em tempos é tema de longas. Alguns se sobressaem, outros não, alguns retomam o passado para compreender esse presente que em quase nada se modificou, outros partem do presente mesmo para perceber que esse problema tem suas raízes num passado muito distante. Enfim, a questão é complexa.

O que o filme quer aborda é como se dá essa relação, é como os brancos veem os negros. É algo natural pensar assim? É algo normal? O namorado de Skeeter representa essa ideia, essa forma de visão, assim como outros personagens que trafegam no longa. O título original faz uma melhor alusão ao drama, “A ajuda”. Mas essa ajuda pode representar inúmeros significados, desde os negros que necessitam da ajuda de uma jornalista branca para terem suas histórias contadas ou mesmo os brancos que precisam da ajuda dos negros para se verem e perceberem como são hipócritas e vivem uma vida de perfeição, baseada em falsidades.

Outro ponto a levar em consideração é o da figura das mulheres neste longa. São elas as donas das historias, das vozes, das ações. Sendo assim, nesse drama, são trabalhadas duas identidades, a das negras frente ao racismo da época e das mulheres, que estão subjugadas a serem apenas mulheres do lar. Skeeter então tenta quebrar, com a publicação desse livro, estes dois paradigmas, o preconceito às mulheres e aos negros. Por isso nesse filme são invocados estas personagens que estão geralmente escondidas nos cantos, sempre invisíveis que são as empregadas. 



Uma questão que envolve um ato de racismo dentro do drama revela o lado mais intimista que a história quer abordar. Ao tocar na questão de se ter um banheiro exclusivo para as empregadas, o diretor traz o foco para um tom mais intimista no filme, uma abordagem mais calcada em certas personagens específicas. Não é a questão econômica, ou o direito ao voto ou a sua representação, não são os estudos, mas as personagens, enquanto pessoas. Elas são mulheres, donas de sentimentos, medos e necessidades fisiológicas comum a todos e a não permissão de usar o banheiro comum, as sujeita a uma classificação abaixo das demais mulheres.

Com esse tom intimista, sem grandes fatos, o filme caminha e é nessa simplicidade que reside o grande desse longa, seja na simplicidade de suas personagens ou seja na atitudes, pois elas epenas relatam a história de suas vidas com relação a suas patroas. Sem uma grande trilha sonora, sem grandes momentos dramáticos ou cômicos, o drama segue contanto como se dá a publicação deste livro e como é a repercussão deste na sociedade, tudo de forma bem leve. Do mesmo modo que há personagens em que o lado dramático prevalece, como no caso de Aibileen, há o lado leve e engraçado, representado pelas personagens de Octavia Spencer e Jessica Chastain.

Histórias Cruzadas não quer ser uma grande analise do racismo que impera e se mostrou forte nos Estados Unidos, mas abordar com tom leve e simples, esse momento, esse lado da história. Ele toca no cotidiano destas personagens e arranca desse detalhe, todas a carga histórica e racismo, preconceito, ódio e ignorância dos homens com relação a outros homens.