quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A Casa De Alice



Num drama sobre uma mulher, vemos, observamos e deixamos ser levados pelas imperfeições que regem a vida. 

Alice (Carla Ribas) tem quarenta anos, possui três filhos, mora com o marido, filhos e a mãe Jacira (Berta Zemel) em São Paulo. Ela é manicure, faz o que pode para manter a estrutura da família unida. Para isso fecha os olhos, se cala e deixa de ver algumas verdades.

Seu marido a trai constantemente, inclusive com uma adolescente, vizinha de Alice, jovem essa que sempre vive pedindo conselhos para ela sobre a arte do amor. Seus filhos não se entendem, ela não se entende com sua mãe ou seu marido.

No fundo, vemos uma família marcada por feridas, desunião e desestruturada. Cada um vive de um modo, tentando a seu modo viver, sem olhar para o outro, sem se preocupar com o outro. Jacira, a velha, é apenas a ver, perceber e compreender tudo o que cerca a essa casa, mas ela está ficando cega, surda, muda e louca, coisas da velhice.



Em “A casa de Alice” muito se fala, mas pouco se diz. Há uma economia nas palavras e uma superexposição nas imagens. Tudo é dito indiretamente. A infelicidade de Alice, as traições de seu marido, a relação próxima de dois do filhos do casal, a falha de base dessa família. Todos são movidos por sentimentos e instintos, a única a seguir a razão é Jacira. Mas ela já está velha e ninguém dá ouvidos a ela.

Em “A casa de Alice” temos a construção de um cinema no estilo documentário. A câmera trafega pela vida de seus personagens e nos revela suas inquietações e seus medos. Ela diz e não diz e deixa para aquele que vê a cena entender o que está acontecendo.

Um filme intimista e introspectivo que foca em Alice e por meio dela descobrimos a imperfeição da vida. O que dizer dessa mulher? Ela é forte, é fraca, é racional e ao mesmo tempo tão sonhadora. Seus olhos demonstram tristeza, mas revelam esperança.



Ao se lançar num caso extraconjugal, sente o prazer pela vida novamente, sente-se desejada e querida. Mas ao final, percebe que a realidade é dolorosa e não tão bela assim. Esse drama nos mostra que toda a beleza de fato não é bela e essa esconde dores, desprazeres e medos. Nos revela uma vida perfeita, porém ao vermos de perto, percebemos que é a mais pura mentira e imperfeição.

Vivemos de máscaras para enganar os outros ou a nós mesmos? O pior cego é aquele que não quer ver. Ou nos caso, se ele vê, mas prefere fechar os olhos? Diante de tantas dúvidas, ficam as incertezas e são estes os questionamentos que veremos em cada ato, em cada fala, em cada atitude destes personagens. Alice, nossa protagonista, é dotada de falhas e acertos.


“A casa de Alice” é profundo, visceral, poético e belo. Muito se fala, pouco se diz. Podemos perceber tantas coisas, como não percebemos nada. Assim é o cinema, assim é a vida. 


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Eu, eu mesmo, Verônica



As ondas do mar são fortes. O céu está numa cor azul tão bela. Corpos se batem, sorrisos e olhares, tudo é tão perfeito que só pode ser um sonho.

Um mergulho na dor de uma jovem. Uma dor sem explicação, um vazio que assola e maltrata. Uma ferida que sangra e persisti em sangrar. "Eu, eu mesmo, Verônica",o que filme quer perguntar é: Quem é Verônica? Ou quem sou eu diante de tantos outros?

Verônica (Hemilda Guedes) é uma jovem residente em psiquiatria. Os estudos chegaram ao fim, agora ela atua num hospital público de Recife diretamente com os pacientes e estes que lhe aparecem são dos mais diversos. Tudo que aprendeu em teoria, agora irá vivenciar na prática.Ela tem como função tentar curar as dores, feridas e sentimentos de repulsa que nos aflige, mas ela mesmo sente um vazio e um mal estar que não compreende. 

Mora com seu pai em um bom apartamento, tem um relacionamento de amizade e sexo com Gustavo (João Miguel). Seu pai deseja que os dois passassem a namorar, pois ele vê o rapaz com bons olhos, mas ela não deseja, ela não deseja, no fundo, ela não sabe de praticamente nada, ou não deseja nada, vive a deriva. 

Quando ela descobre que seu pai possui uma doença que faz com que tenha pouco de tempo de vida, ela chora, se cala, não sabe como reagir. Como reagir? Diante desse vazio, dessa realidade, ela se tranca em seu quarto e passa a se analisar e se perguntar: "Quem é Verônica? Verônica, paciente de mim mesma".




Do mesmo direto de "O céu de Suely" e "Viajo porque preciso, volto porque te amo", esse drama é um mergulho na dor e no vazio de uma jovem e porque não de uma geração? Verônica conquistou tudo o que podia conquistar até o momento, mas ainda sim algo lhe falta, algo que ela ainda não sabe.

Pessoas trafegam por ela, ela se destaca no emprego, dança pelas ruas, pula o carnaval, mas ainda seu semblante é de um olhar perdido, como se estivesse perdida. Um vazio nos move e ela percebeu esse vazio e quer entender de onde ele vem.

Um filme de sentimentos, não de palavras, de sentir, de perceber, de vivenciar. Algumas dores jamais poderemos curar de fato, algumas feriadas jamais poderemos ver, quanto mais cicatrizar. Deixe sangrar, deixe sofrer. 

Nesse drama, os diálogos são corriqueiros, mas as perguntas levantadas são fortes. Não se chega a alguma resposta de fato, pelo contrário, apenas a mais perguntas. A câmera foca nos olhos, nos lábios, na boca e nos movimentos. Na trilha sonora, o som natural se destaca, o som das ruas e dos ruídos de uma cidade que cresceu e se perdeu em seu crescimento. A atuação é exuberante e a direção intimista. 



Ao final, não se tem uma resposta, se tem uma aceitação. As ondas do mar são fortes e o longa nos leva à cena inicial do filme. Corpos se batem, sorrisos e semblantes de felicidade, banhados por um olhar de tristeza. E Verônica está ali, calada, com um sorriso calmo e leve, um olhar direto e concentrado. 

"Eu, eu mesmo Verônica" se centra num estilo de cinema nacional que ganha força aos poucos na industria independente. Não é ideia do autor abordar as questões sociais, econômicas, mas o sujeito, o "eu" dessa historia. Ele é dotado de ideologias, de fatores sócio-econômicos, mas também de dúvidas, de incertezas, de questionamentos e de um existencialismo. É esse o sujeito que esse drama quer abordar.

Verônica possui tudo e ao mesmo tempo nada, no filme se fala sobre tudo, ao mesmo tempo não nos diz nada. Uma falta está sobre esse longa, um silêncio gostoso e prazeroso toma conta do drama, nos conduzindo e nos levando, como as ondas do mar. 



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sociedade Dos Poetas Mortos


Capitão, Meu Capitão

Robin Willians é John Keating. Ele retorna ao lar, seu antigo colégio preparatório, para ministrar aulas de literatura aos jovens estudantes.

Bem recebido pela academia, devido ao seu histórico, ele possui uma visão diferente sobre o “ensinar” e esse seu método baterá de frente com o modelo seguido pela direção do colégio. Sua idéia é propor que os alunos pensem, sintam, bradem, chorem, mas que faça apenas aquilo que estejam sentido. Sem regras, sem cobranças, sem medo.

Porém esse colégio funciona como um sistema preparatório para grandes médicos, advogados e futuros empresários. Estes alunos não são simples alunos, mas são jovens que tem que ser grandes na vida e não podem pensar pequeno. Seus pais não desejam que seus filhos se percam num caminho de sentimentalismo, mas querem que eles alcancem tudo o que eles não puderam ter. Enfim, não há tempos para sonhos bobos.

Com uma direção segura e tradicional, esse drama trabalha de forma bem calma e lenta possível o elo entre estes personagens. A amizade que nasce entre ambos e como os conceitos deste professor conquistam a cada um.




Liberdade, ser livre para pensar, amar e ser o que deseja ser. Essa é a idéia que esse professor quer passar aos seus alunos e essa será a lição mais difícil. Seus alunos vêm de famílias que já traçaram todos os passos deles. Eles não teem vozes ou vez.

É diante deste cenário que Keating irá trabalhar a poesia. Será por meio da poesia que mostrará aos seus alunos que eles são livres, nada os prende, nada, nem mesmo um nome de família. Alguns destes jovens serão despertados por tais ensinamentos e juntos re-fundarão a “Sociedade dos Poetas Mortos”. 

O grupo formado por Keating, quando aluno, se baseava na idéia de reunir um grupo de amigos e em numa gruta/caverna ficarem recitando poesias, dos grandes autores ou deles mesmo. Apenas recitar, sentir a liberdade das palavras. Sentir as próprias palavras.

Após essa série de atos, esses jovens serão transformados. Overstreet (Josh Charles) conseguirá conquistar a garota que tanto deseja, Perry (Robert Sean Leonard) entrará para o grupo de teatro, que é algo que sempre desejou, mas que teve medo da negação de seu pai e Anderson (Ethan Hawke) saíra da sombra do irmão e se focará em seu próprio caminho.



O que estes jovens conseguem é se libertarem de seus medos, de seus receios, das cobranças. Seus pais, irmãos e famílias representam algo que os oprimi e os sufoca.  O amor que eles não tiveram com seus pais, será reestruturado na figura de Keating. Para estes alunos, ele não é apenas um professor, mas é um mestre, um capitão.

Sociedade dos Poetas Mortos fez sucesso por nos trazer um drama bem trabalhado, uma história terna e o mais interessante: foi trazer o drama sobre um professor que ousou e quebrou regras para libertar seus alunos. Estes não estavam presos à violência, ou falta de perspectivas, mas estavam presos pelas ambições de suas próprias famílias, seus pais. Ora, liberdade é viver para si e não para o outro.


A trilha soberba, o elenco jovem e a direção sempre eficiente conferem a esse drama uma suavidade, uma ternura e uma força incrível. Indicado ao Oscar de Melhor Ator e Roteiro, Sociedade dos Poetas Mortos nos leva a sentir nossa dor, a falar sobre ela, a recitar sobre ela, seja por meio da poesia, do grito ou do ato de atuar. 


Gravidade


Não se entregue

O que dizer sobre Gravidade? Alfonso Cuarón em seu mais novo filme, entrega um longa grande e intenso. Um drama sobre a dor, sobre o silêncio, sobre a vida, morte e renascimento. O que fazer quando tudo que a sua volta se desmorona? Agarra-se a algo e tenta permanecer vivo. 

Ryan Stone (Sandra Bullock) está com uma equipe de astronautas realizando um pequeno trabalho de rotina no espaço. Tudo segue normal. Seu comandante Matt Kowalski (George Clooney) observa a vista, está em sua última viagem e sentirá saudades daquele lugar tão silencioso. Ryan está concentrada no serviço. Nos primeiros minutos percebemos como ela é séria, fechada e reservada e ele, sempre tentando obter a melhor piada de todos os momentos.

Após alguns instantes é dado um aviso de que eles estão em risco. Pouco tempo se passa e já não há mais nada que possa fazer. A nave e toda tripulação é atingida por destroços de um satélite. Nesse momento, há o confronto e depois o silêncio. Ryan se perde da nave e dos outros, e roda e roda perdida, sem ter em que se apegar. Seus olhos veem apenas o universo e mais nada e ela fica a deriva, rodando, rodando, tentando se comunicar com alguém e nada.

Kowalski chega até ela, se prende a ela e tentam retornar para a nave. Porém, eles são os únicos sobreviventes desse acidente. O que fazer agora é apenas tentar sobreviver e voltar para casa. Mas aí que fica a questão. Pelo que vivemos, pelo que iremos voltar para a casa? Ryan possui um passado marcado pela dor que é nos revelado em poucos minutos. É estranho como tanta dor, tantos anos de lágrimas e amargura podem ser dito em apenas segundos. Nesse momento, compreendemos o motivo dela estar lá e estar fazendo o que faz.




"Gravidade" fala sobre a falta de termos a o que nos apegar, é um retrato sobre uma mulher que está perdida em sua vida, inerte em seu próprio mundo, vivendo um dia após o outro e mais nada. É nesse ponto que está o grande do filme. O drama possui uma história simples de certa forma, pois mostra um grupo de tripulantes em trabalho rotineiro, um imprevisto acontece, apenas dois permanecem vivos e assim lutam para poderem voltar à Terra com vida. Mas não, Cuarón vai mais longe  e revela todo o lado de dor dessa personagem.

Não serão apenas os obstáculos que se levantarão contra ela para se manter viva e voltar com vida à Terra. Será seu próprio desejo de permanecer viva. Para Ryan falta a vontade de viver, o desejo pela vida. Na verdade, esse drama não fala somente sobre uma mulher que tem que enfrentar todas as impossibilidades para se manter viva, mas fala sobre alguém que está perdido na vida, sem motivos, que apenas abre e fecha os olhos e mais nada.

Pelo que vivemos? Pelo que morremos? A busca por compreender a dor que nos cerca, entender seus motivos e não se entregar à morte em vida, esse será o caminho dessa mulher. "Gravidade" nos fala sobre isso. Há um espaço e um silêncio tão reconfortante. Mas ele também pode nos levar a morte, uma morte silenciosa e imperceptível. Todo filme trabalha em cima dessa questão, o confronto com a dor, o reconhecimento desta e a percepção de que estamos vivos e por esta vida lutarmos. 




Durante o drama cenas são mostradas, o filme nos conquista pela seus efeitos especiais. A cena inicial em plano único, é dotada de uma técnica cinematográfica que dificilmente se vê no cinema, tamanho trabalho que dá para realizá-la. As cenas fazendo uma alusão ao nascimento de Ryan, ao confronto com sua dor, a conversa singela e sincera com Kowalski e a cena final em que faz toda uma alusão a um renascimento. São cenas como estas e trabalhos como estes que nos revelam a grande força do cinema.

Em "Gravidade" não temos apenas um filme de ficção cientifica que nos prende do começo ao fim, mas uma trama sobre o homem, sobre suas dores, seus sentimentos, sentimentos estes tão abstratos e difíceis de se compreender, mas que ganham forma diante dos nosso olhos.

Mas se filme consegue chegar onde chega, isso se deve também ao excelente trabalho de Sandra Bullock. Sozinha na grande parte do tempo, só vemos ela e por meio dela vemos tudo. Seus olhos são nossos olhos, sua respiração é a nossa respiração. Sua vontade passa a ser a nossa vontade. Um  trabalho incrível, difícil tecnicamente e emocionante. Essa atriz que até o momento havia se lançado em comédias fracas, apos o drama "O lado cego", se lança nessa trama profunda e poderosa, num trabalho cansativo e desgastante e arranca uma atuação grande e avassaladora. 

Enfim, o que dizer sobre "Gravidade" se não que ele é um grande filme, uma obra que com toda certeza, ganhará força com o tempo e com os anos. 





sexta-feira, 11 de outubro de 2013

E sua mãe também




Um caminho, uma estrada. A vida nos reserva muitas surpresas e muitas mudanças e transformações. Não é fácil crescer e amadurecer. Perceber a vida em sua mais dura realidade, perceber que deixamos de sermos crianças e que todo aquele mundo inocente se foi é algo que marca, que toca e que nos muda. Cada um tem um caminho a seguir, mas todos nos levarão a um único final.

E sua mãe também poderia ser uma comédia, afinal, podemos considerá-la como tal. Mas não, não é. É um drama calcado na mais profunda dor, mudança e aceitação. Um filme sobre dois amigos, sobre duas vidas e sobre uma mulher também. Um filme sobre verdades, sobre mentiras e sobre como nos comportamos diante delas. 

Tenoch (Diego Luna) e Julio (Gael García Bernal) são dois jovens em busca do prazer. Sempre amigos, estão sempre juntos. Num certo dia, numa festa de casamento, conhecem Luiza (Maribel Verdú), namorada do irmão de Tenoch. Impressionados com a beleza da moça, a convidam para uma viagem. Encontrar uma praia linda, deserta e que possui umas das paisagens mais intocadas e mais puras que eles já viram. 

Lógico que tal local não existe, essa praia inventaram no momento, apenas para tentar convencer Luiza a viajar com eles. Mas como se era de esperar, ela nega. Após uma notícia que a desaba, ela resolve aceitar a proposta dos garotos e tem-se aí uma viagem marcada por paisagens desérticas, fortes e intensas. 


E sua mãe também é intenso, divertido, terno e sensível. Nos toca profundamente e pouco a pouco nos entrega estes três personagens tão falsos e tão verdadeiros ao mesmo tempo. O longa segue uma linha erótica, afinal, eles são dois jovens em busca do prazer. Os dois namoram e sempre se dizem fiel, mas aos poucos vamos percebendo que nem tudo é assim tão belo ou correto. 

Durante a viagem, verdades são ditas, jogadas e lançadas. A cada fato revelado, uma ferida se abre, uma mudança é gerada. Os dois rapazes estão interessados por Luiza. Primeiramente ela se interessa por Tenoch, deixando o amigo possesso de ciúmes, porém depois é a vez de Julio e a partir daí, tudo se complica, tudo entra em choque. 

Os dois apesar de serem grandes amigos, possuem realidades bem diferentes. Tenoch pertence a uma classe média/alta, possui rendas, um pai com uma boa estrutura, mas ausente e um futuro garantido. Suas convicções permeiam pela sua estrutura econômica. Julio é mais humilde, não possui toda estrutura que o amigo tem. Isso de certa forma o atinge, mas nunca o deixa de se sentir menor, porém nem tudo é fácil pra ele e aos poucos ele percebe essa mais dura realidade. O que ele espera da vida? Não, ele não sabe, nenhum dos dois sabem. 

Com o desenvolvimento da viagem e a incerteza maior que essa praia não existe de fato, os cenários vão mudando e o clima também. Se no começo, tudo era lindo, belo e perfeito com os três num maior clima de descontração, a partir do momento em que a paisagem vai tornando-se mais seca, pobre e violenta, eles também vão passando por uma mudança. Os dois vivem num mundo a parte, nada os toca, nada. Mas ao entrarem em contato com um pais desconhecido aos olhos deles, porém tão perto, eles se chocam com a dura realidade, a dura verdade. Essa verdade revela neles uma outra verdade ainda mais dura, a verdade sobre eles mesmo. 


Outro ponto que muda com o desenrolar do filme é a intensidade do longa. Se no começo tudo era leve, a fotografia clara e a trilha divertida, com o passar dos minutos o drama ganha força, a comédia perde seu espaço, a fotografia se torna mais seca, o calor mais intenso e insuportável e os três já também não são mais os mesmos. 

Cada um destes três tem um caminho a seguir, uma estrada a percorrer, uma trilha em que se descobrirão a si mesmo, aos seus medos e seus desejos. Mas tanta proximidade poderá também significar uma separação. E assim como estes dois jovens Luiza tem um caminho a seguir, uma dor a superar, uma verdade a aceitar. No final, tudo se enquadra a verdade que nos cerca e que tentamos a todo custo não aceitar. Lutamos contra ela, criamos mundo, vidas, desejos e valores, mas essa está ao nosso lado, nos ferindo, nos tocando, nos revelando. Aceitação não é conformismo, é aceitar e deixar-se levar por esta. 

A verdade nos liberta e nos transforma. E assim estes três serão transformados. Afonso Cuaron realiza aqui um filme primoroso e delicado. Aos que pensam que verão um longa envolvendo sexo e cenas de nudez, se enganam. E sua mãe também é um drama profundo e leve, divertido e pesado, enfim, um longa que ganha força com o tempo.


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sobre Meninos e Lobos




Essa é uma história sobre meninos que se tornam homens. Homens que ser tornam lobos e lobos que devoram meninos.

Uma trama densa, um filme gélido, acinzentado, onde a fotografia opaca e sem vida se mostra bela, porém distante. Um elenco competente, uma direção segura e uma trilha soberba fazem deste filme uma experiência intensa onde mergulhamos profundamente num universo de dor, vingança, ódio e violência. Um ciclo de maus tratos, onde tudo se repete e nada é capaz com que se quebre essa força. 

Jimmy (Sean Penn), Dave (Tim Robbis) e Sean (Kevin Bacon) são amigos de infância. Tudo segue normal até que um fato acontece. Um senhor que diz ser policial leva Dave consigo, ele afirma para os garotos que levará o menino para sua casa, já que os três estão fazendo bagunça na rua. Sem entenderem nada, as duas crianças não interferem em nada. Chamando aos seus pais e contando sobre o ocorrido, descobrem  o pior, mas agora já era tarde demais. Dave fora sequestrado, violentado e abusado sexualmente. Após esse ocorrido, anos se passam e cada um destes toma caminhos diferentes. 

Anos mais tarde um fato acontece e os uni novamente. Um crime ainda mais violento. A jovem filha de Jimmy, então com 19 anos, é encontrada morta e violentada. Tem-se então uma busca descontrolada para saber o autor do crime. Nesse contexto, estes três amigos se reencontram, mas agora a amizade entre eles não existem mais, e eles tem consciência disso. 

Jimmy é dono de um pequeno comércio e também chefe de uma pequena máfia local. Há tempos fora preso e condenado e desde de liberto, tem permanecido na linha. Porém, por fora, ainda controla o pequeno grupo familiar. Sean agora é agente do FBI e está encarregado do caso, juntamente com seu parceiro, Whitney (Laurence Fishburne) e por fim Dave agora é um homem formado, trabalha num emprego, é casado, tem um filho. Sem grandes ambições, apenas vive e segue vivendo sua vida. 




Diante desse crime, duas linhas de investigação são criadas. Uma, coordenada pelos agentes do FBI e outra pelos capangas de Jimmy. Após alguns fatos, as duas linhas se intercalam num mesmo sentido, num mesmo suspeito, no caso, Davi e aí que começa o grande do filme. Com essa rota nesse que fora um grande amigo, feridas do passado são revisitadas e tem-se nesse momento, toda uma carga de dor, ódio, rancor, e traumas que são revisitadas num momento de fragilidade e tensão. 

Toda violência gera um ato de violência. Esse é o eixo do filme. Toda ferida causada, sangra e não superada, gera um trauma, um confronto, uma dor sem fim e essa, uma hora ou outra, se choca com a realidade. É no passado que se obtém as respostas pra esse presente.Tanto o passado de Davi, como o de Jimmy possuem fragmentos marcados pela violência que serão revisitados neste presente.

De onde vem tanta violência? Não é desejo do filme responder. Como homens se tornam lobos e meninos se tornam assassinos. É como um lobo que ao morder sua vítima, não apenas o fere, mas o contamina com um veneno mordaz e letal. 

Sobre meninos e lobos toca justamente nesse ponto, a pedofilia. Apesar do filme ter como figura desse abusador uma velho, de aspecto horrendo que chega a causar repulsa, muitas vezes quebrando e não acertando o tipo de homem que é um abusador, o filme acerta na construção do mal gerado na vítima. Após o fato, Davi se retrai, se mantém numa eterna defesa. Sua fala, seu olhar e sua vida expressam sua dor. Talvez a ideia do diretor foi construir um abusador diante dos sentimentos despertados pelo garoto. Aquele velho que o abusou, aos olhos dele era um homem repugnante, asqueroso, nojento. 


O longa segue uma linha policial, a investigação segue, todos ficamos apreensivo quanto ao final e esse chega. O clima, a fotografia e a bela montagem, dando destaque para os pensamentos e lembranças do Davi, preso e fugindo numa floresta com um lobo a sua espreita, apenas intensificam o drama. 

O grande desse filme é sua carga dramática e seu elenco fenomenal onde todos conseguem se destacar. Um longa de atores, de diretor e de roteiro. Com ótimos diálogos em que encontra seu ápice ao final, Sobre Meninos e lobos fala sobre a dor que traumatiza, sobre a violência que provoca a violência, sobre o homem, como ele pode ser tão sádico, tão intenso e tão complexo. 

O lenhador é outro drama que trabalha com essa temática. Diferentemente deste Sobre meninos e lobos, esse filme foca na relação do pedófilo e tenta mostrar toda a complexidade desse homem, marcado por desejos que o perseguem e o afronta. O abuso sexual, em particular a pedofilia são tema delicados e ainda tabus. Como se dá esse desejo? Como se dá o processe de cura da criança? Estes são filmes que de certa forma, tentam compreender a dor por de traz de todo mal. 

Aqui em especial, uma personagem se destaca, uma personagem oculta, mas sempre presente, a violência. É ela que rege todos os personagens e suas ações. Sempre presente em nós, sempre presente em nossas mentes e corações.  






domingo, 6 de outubro de 2013

True Blood: 6 Temporada




Toda vida tem seu valor.

O que é a dor? Ela nos move, ela nos faz perceber a vida, a morte e tudo que nos cerca. Damos tanto valor a ela. O sofrer é algo que está no centro de nossas atenções. Queremos decifrar a dor, seus estágios, seus modos. Ora, ela faz parte da vida assim  como a morte, assim como a vida. Somos limitados, estamos sujeitos ao sofrer. Ninguém vive para sempre. Esse é o enredo do sexto ano de True Blood.

Mas o que dizer sobre a sexta temporada dessa série? Ela foi intensa e tensa, isso sem a menor sombra de dúvidas. Ousada e bizarra, ao mesmo tempo que foi extremamente violenta, foi também tão terna e sensível em certos momentos. Mas algo não deu certo, algo ficou a desejar. Ela teve inúmeras tramas que não tinham tempo a perder e mesmo diante de toda essa agilidade, conseguiu nos dar momentos de paz e calma para o seu derradeiro final. Mas ainda sim houve falhas.

Com uma temporada mais curta, a série chegou a sua sexta temporada, mas a impressão que ficou é que a série andou e andou e não chegou a lugar nenhum. Alguns personagens mudaram, outros permaneceram em sua mesmice. A impressão que fica é que a série não soube elevar seus personagens e suas tramas. Tudo ficou no mesmo. Seis anos se passaram e nada praticamente aconteceu. E a sétima temporada será a sua temporada final.

Mas o sexto ano também teve momentos bons, ainda nos trouxe momentos excelentes, únicos e bizarros também. Com uma história mais simples, os personagens voltaram ao centro da trama. O que importa agora não é mais uma grande trama envolvendo seres mitológicos ou algo parecido, apenas o homem e seus medos. E o que não foi esse sexto ano, se não um confronto contra aquilo que mais tememos.O sexto ano serviu de fato para arrumar a casa e trazer os bons ares ao seriado novamente. Tudo isso para preparar o terreno para a sua temporada final.

Após o final apocalíptico do quinto ano, a sexta temporada teve como função consertar tudo aquilo que não deu certo nas  temporadas anteriores e o saldo para essa missão foi positivo. Mas eis um problema: o reconhecimento que toda a história guiada até aqui não deu certo. Em True Blood sempre a fantasia teve um terreno fértil e forte, afinal precisamos do sonhar  para poder  viver. Essa era a ideia de Ball, trazer a imaginação e toda sua mitologia para este mundo e revelar que mesmo em toda imaginação, ainda sim não seriamos felizes. É a falta que nos move, que nos eleva e que nos torna pessoas melhores. Porém, diante de tanta fantasia, o que as pessoas sentiram falta foi da mais pura e simples realidade. 






Com a ascensão de Bill (Stephen Moyer), todos temem o que irá acontecer agora. Algo imprevisível aconteceu e eles não sabem como se comportar diante de tal fato. O que é Bill? Quais serão seus objetivos? Até que ponto vai seu poder? Esse é um arco que será desenvolvido por toda a temporada.

Por fora outro fato ganha importância. Com as inúmeras mortes dos humanos, o governo toma as rédeas da situação e declara guerra aos vampiros. Desde a primeira temporada, sempre houve um clima de tensão no ar, mas isso nunca de fato aconteceu, tirando apenas pela presença da Sociedade do Sol na segunda temporada e Marmie na quarta. Fora isso, nunca os humanos se levantaram contra os vampiros. Guerra, o sexto ano será uma verdadeira guerra declarada entre humanos e vampiros. Morte, levante e tentativas serão feitas, cada ato de violência provocará um outro ato mais forte ainda. Diante da dor, o que podemos fazer?

Os vampiros serão presos, perseguidos, confrontados e exterminados. Um campo de concentração será criado para estudos. Nesta temporada, haverá uma inversão de valores com relação a quinta temporada. Os vilões agora serão os próprios humanos. Não há heróis ou vilões de fato, há apenas homens e mulheres com seus medos e suas dores. Quais são os nossos limites e os nossos desejos mais profundos. O mal o bem caminham lado a lado de mãos dadas dentro de nós. Enquanto isso, Bill tentará compreender qual será seu objetivo em tudo isso e terá a ajuda de Jéssica (Deborah Ann Woll) nessa busca. Seu desejo de impedir o futuro o transformará num herói, porém, num forte vilão.

A missão de Bill e a guerra entre humanos e vampiros serão o centro da trama, mas por fora, os outros arcos vão correndo e fazendo pouco a pouco uma junção com o arco principal. Esse foi outro ponto positivo para o sexto ano. Desde a terceira, muitas foram as tramas, muitos foram os personagens e pouco foi a conexão com a história principal. Aqui não, todos serão interligados e no penúltimo episódio será mostrado apenas dois lados, de um os vampiros, e de do outro, os humanos.

Andy (Chris Bauer) e suas filhas fadas terão seus destinos cruzados com os de Jessica e Bill, assim como o arco de Sookie (Anna Paquin) , Jason (Ryan Kwanten) e Ben/Warlow (Robert Kazinsky) serão interligados ao de Liliht. Do outro lado, Erick (Alexander Skarsgård) e os outros vampiros serão alvos do Governador que estará a espreita caçando a todos os vampiros. Mas já na metade da temporada, essas duas tramas se cruzam e a verdadeira vilã dará as cartas. Sarah (Anna Camp), a esposa correta e religiosa devota é que estará por de traz de todos os passos do governador e ela que guiará os fatos finais.





Caminhando paralelamente a isso, temos Alcides (Joe Manganiello) e sua matilha de lobos em busca de se manterem unidos e longe das influências dos vampiros e cruzando o caminho deles estará Sam (Sam Trammell). Após fugir da Autoridade, Luna morre e ele fica com os cuidados de sua pequena filha, mas Marta deseja a garota, afinal, ela é a única família que lhe restou. Além disso, Nicole, uma garota idealista que acredita ferozmente na convivência entre humanos e vampiros descobrirá a identidade dos lobisomens e metamorfos e tentará convencê-los de se apresentarem à sociedade. Esse desejo e essa busca por uma vida pacífica apenas colocará sua vida em risco e provocará a morte de todos o seus amigos. 

Essas são as tramas que guiarão o sexto ano de True Blood. Dentre essas o arco do Bill fica confuso. Ora ele é um profeta, ora um semi-deus, ora um mensageiro. Sua função nunca fica clara, da mesma forma que a figura de Lilith. Quem de fato é essa vampira? Toda mitologia criada na quinta temporada era verdadeira? Junto a essa trama eis que aparece Warlow. 

Um dos vampiros mais antigos, se não o mais. Ele que é um ser da luz, ou seja uma fada, foi transformado ainda jovem por Lilith, no desejo dela de tentar fazer com que os vampiros pudessem andar sob o sol. Ele deseja mais do que tudo a Sookie e ela chegará como Ben. Se aproximará dela e tentará ganhar sua confiança. Esse foi um personagem interessante, pois ele representou essa mudança de valores, ser "vilão" ou "herói" é uma questão apenas de ponto de vista. Sobre Sookie descobrimos mais um detalhe sobre sua vida e seu passado. Ela descende de uma linhagem real de fadas e seu sangue é nobre, por isso o desejo de Warlow de tê-la.

Envolvendo o governador, está a melhor articulação e os melhores momentos. A ele se juntam todos os vampiros. A tentativa de Erick de finalizar essa guerra apenas desencadeará outros fatores. Nessa roda de acontecimentos, a filha do governador ganha importância na trama e simpatia, permanecendo até o final da temporada e sendo garantida na sétima temporada. Tara e Pam se destacam também, cada uma ao seu modo, Pam pelos ótimos comentários e Tara pela sua ousadia. Mas quem se destaca nesse arco é Sarah. 

Vista como uma boa religiosa e facilmente manipulada na segunda temporada, ela retorna a este sexto ano com força e muito ódio. Ela sem sombra de dúvidas, foi uma verdadeira vilã. A forma como ela mata a dona das fábricas de True Blood é uma mostra de sua loucura, perversidade e violência. A fé cega e serve de motivo para explorarmos o nosso lado mais sombrio e perigoso. 


A temporada que teve apenas 10 episódios tem sua trama principal sendo encerrada no penúltimo episódio. O último ficou por conta da finalização da trama envolvendo Sookie e Warlow. Mas o que se percebe é que se a série tivesse seus 12 convencionais, mas sobre esse vampiro iríamos ver. O que ficou ao final foi uma mudança de valores e sentimentos. Houve sentido, houve coerência, mas como sempre, a forma como a trama foi encerrada foi rápida e sem emoção. 

Toda vida tem seu valor, essa é ideia principal da série neste ano. A morte de um personagem querido revelou esse pensamento. Ninguém vive para sempre, por isso a vida tem tanto valor e como tal, deve ser respeitada. A dor está presente, assim como a raiva e o ódio. O bem o e mal caminham lado a lado dentro de nós, do mesmo personagem que pode vir um ato de carinho a afeição, pode vir um ato de dor e raiva. Assim somos nós, são os homens.

A sétima temporada será a última. Muitos arcos foram encerrados ainda neste, assim como núcleos de personagens que não deram certo. Os lobisomens e as fadas são um destes, assim os metamorfos. O eixo principal se dará entre vampiros e humanos, afinal, a série começou com essa ideia e será com esta que será encerrada. Ao final da temporada, temos de volta uma certa referência a primeira temporada e uma chamada para a temporada seguinte. 

A ideia da sétima temporada é forte, com a proliferação da Hepatite V, criada pelos humanos, muitos vampiros foram contaminados e eles procuram sangue sadio para matarem sua sede. Estão descontrolados e fora de si e são extremamente perigosos. A ideia é para cada vampiro sadio e um humano também com boa saúde e não contaminado, onde um dará seu sangue e o outro sua proteção. Uma ideia forte e ousada que representa bem a série. As diferenças existem e são elas que nos definem. O que podemos fazer? Nada, apenas aceitar e conviver da melhor forma possível. 




sábado, 24 de agosto de 2013

Touch - Temporada final




Todos estamos conectados, apenas esperando simplesmente sermos tocados. Touch nos mostra a história do pequeno Jake(David Mazouz), um garoto que tem a capacidade de perceber o mundo de uma forma diferente. Ele vê padrões numéricos e estes revelam a esse garoto todos os mistérios da vida. Sua função é conectar as pessoas, ajudá-las a superarem suas dores e seus medos. Se algo não está no seu caminho certo, seu toque promove a mudança, a cura e o reencontro. 

Após a primeria temporada, Martin (Kiefer Sutherland) consegue salvar seu filho, com a ajuda de Clea (Gugu Mbatha-Raw). A primeira temporada se encerra tendo bons episódios, mas se revelando desgatadas em alguns elementos. Ao final da temporada, conhecemos um pouco sobre a mitologia que rege a série. No caso, Jake pertence a um grupo de 36 justos. Estes existem para a permanência dos humanos na Terra. Eles conseguem sentir as dores dos outros e tem como função ajudá-los.

Na segunda temporada de Touch, o que se percebe é uma mudança brusca com relação ao formato da série. Não que isso tenha sido ruim, pelo contrário, deu um excelente fôlego ao seriado, mas ficou uma impressão estranha. Apesar de serem os mesmos personagens, ter o mesmo drama, a mesma mitologia, tudo está modificado, dando a sensação de que estamos vendo uma outra série completamente diferente. 

Após Martin deixar a cidade, fugindo da Artes Corps, vão em rumo para Los Angeles. Guiado por Jake, eles se deparam com Lucy (Maria Bello), mãe de Amélia (Saxon Sharbino) que ainda está em busca da filha, mesmo com as autoridades terem declarado que ela está morta. Após Martin se abrir para Lucy e dizer tudo o que sabe sobre sua filha, os dois então partem juntos com um único propósito: achar Amélia e destruir as organizações Aster Corps. Porém essa empreitada não será nada fácil, já que essa é uma organização poderosa com ligações em várias partes do mundo. 




Para esse segundo ano, além de Lucy, novos personagens são inseridos neste universo. Calvin (Lukas Hass) é um cientista que trabalha com números. Ligado a Aster Corps, vai se desligar da empresa. No começo da temporada, ele é mostrado como alguém com muitos segredos. Seu desejo no caso, é encontrar a sequência de Deus, um conjuntos de números que é capaz de responder aos grandes mistérios que regem a vida e até capaz de prever o futuro. Para isso, muitas de suas ações seram guiadas por atos não tão bons assim. Esse será um personagem que estará entre o certo o errado sempre. Suas atitudes são ambíguas, mas seus motivos nobres. 

Guilhermo Ortiz (Said Taghmaoui) é um sujeito que aparece aos poucos. Não conhecemos seus motivos e sobre ele, tudo será revelado aos poucos, de forma continua no decorrer da série. Mas sua presença é forte na trama. Ele tem como propósito elemiar os 36 justos. E é isso que faz. Chega, conquista a confiaça, releva sua missão e o mata. No segundo episódio da trama, Perto, sua presença foi forte, sua aproximação foi tensa e seu desfecho foi trágico. Com essa história, King mostrou que não teme matar seus personagens se isso for preciso. Uma lição que aprendeu em Heroes.Nessa gama de novos personanges, Ortiz é um dos mais ricos. Em suas tramas se concentraram os momentos de maior tensão até os momentos finais em que esteve.

Mas quem se destaca do começo ao fim dessa temporada é Lucy. Maria Bello é uma excelente atriz e em Touch prova isso. Ela encanta, conquista, mostra força e determinação. Consegue mostrar fraqueza e delicadeza de forma impressionante. Sempre estando presente em toda trama, a meu ver, ela de certa forma, roubou toda trama para si, até ofuscando o protagonista da série, Martin. A busca pela sua filha a levará a um caminho dificil e doloroso. Seu introsamento com Jake, sua postura e seu olhar, enfim, uma bela atuação. Infelizmente, ela não permanece até o final da temporada, deixando uma dúvida e colocando numa situação delicada Amélia. 

Amélia é reservada. Assim como Jake ela é capaz de prever os padrões. Ela e Jake estarão intimamente interligados. Cada um a seu modo, ajudará o outro. Ela é o outro achado da série. Sempre calada e fechada, ela se mostrará como uma garota que tenta ser forte, mas que ao final se revela normal, ou seja, frágil, como uma criança que necessita de proteção. A cena em que Lucy e Amélia se despedem é marcada por fortes diálogos e um intenso introsamento. 


É assim que Touch nos conquista em sua segunda temporada. Se na primeira, toda a trama esteve presa a personagens e com suas tramas paralelas que ao final se intercalavam. Para esse segundo, tudo está intimamente ligado a mitologia. Não há personagens que entram do nada e saem do nada, não há muitas histórias paralelas. Todos os personagens estão apenas ligados a mitologia da série, os 36 justos. 

O que se percebe é que no primeiro ano, o diretor ficou tão preocupado em mostrar como seria a série que esqueceu de mostrar o que é de fato esse garoto e como é sua história. Essa falha foi colocada como eixo princial na segunda temporada. Em compensação, os dramas dos "outros" que eram o destaque de Touch, saem de cena. Neste segundo ano a importância está sobre Jake, Astes Corps e toda a trama que os prende, ou seja, o resto perde importância. 

É essa mudança que ficou e que marcou. Talvez se o diretor tivesse dosado isso entre as duas temporadas, talvez teria dado mais ligação entre os dois anos. Mas em se tratando de roteiros, ao final da primeira temporada, pecebia-se um certo desgastes nas tramas. Elas não nos impactavam mais, mas nesse segundo ano, todos os episódios conseguiram marcar, conquistar e nos prender. O episódio que mostra o primeiro confronto entre Guilhermo e Jake é marcado por uma tensão do começo ao fim. Sabemos que algo vai acontecer e acontece. Assim como o drama vivido por Amélia e Lucy. Em todos os episódios, houve um trabalho mais elaborado com o roteiro envolvendo os personagens principais. A ideia não é mais simplesmente emocionar e mostrar uma ligação onde menos se poderia ter, mas apenas abordar esse personagens da melhor forma que se pode fazer, dando humanidade a eles. 

Humanização, essa é uma característica fundamental a todos. Todos foram guiados por algo, seja ambição, desejo de reparação, reconquista ou fé. Em todos os atos, haviam pessoas sendo movidas por sentimentos humanos. Nesse sentido, perde-se um pouco a noção do "vilão" e "herói".

A trama que se encerra na sua segunda temporada, não se renovando para uma terceiro ano, conseguiu dar um bom desfecho a todos os personagens. Faltou explicações, faltou mais dos personagens, faltou um pouco mais da mitologia, houve uma forte ausência daquela caracteristica fundamental que formou a série, "todos estamos interligados, esperando apenas sermos tocados", porém apesar de tudo isso, a série entregou uma trama bem elaborada e tocante.