domingo, 7 de abril de 2013

360º: a vida em ciclo perfeito


Vidas que se cruzam, caminhos que se entrelaçam. Pessoas que se encontram e se reencontram numa grande ciranda de personagens, personanges estes em busca de uma redenção ou de um novo começo. Assim é 360º, novo longa do diretor brasileiro Fernando Meirelles.

Mirkha (Lucia Siposová) é uma prostituta que deseja entrar no mercado de garotas de programa de luxo. Seu primeiro cliente é um executivo inglês, Michael (Jude Law), que veio à Viena para fechar um negócio. Ele é casado com Rose (Rachel Weisz), que mora em Londres com a pequena filha. Ela mantém um caso com o fotógrafo brasileiro Rui (Juliano Cazarré) que por sua vez mora com a namorada, Laura (Maria Flor).

Laura ao saber da traição do namorado, parte de volta para o Brasil, mas no meio do caminho encontra duas pessoas, um senhor (Anthony Hopinks) que está a procura da filha desaparecida e Tyler (Ben Foster), um ex-presidiário preso por crimes sexuais.

Ainda percorrendo estas tramas, temos Sergei (Vladimir Vdovichenkov), um russo que trabalha como guarda-costa para um mafioso, que por sua vez, pede para que ele contrate os serviços de uma garota de programa, que no caso será Mirkha. Ele por acidente irá conhecer Anna (Gabriela Marcinkova) a irmã desta garota de programa.

Assim é 360º, uma trama em que personagens se cruzam, se ligam e se chocam. Pessoas que se conhecem e estão interligadas a outras, que por sua vez estão conectadas a outros personagens, fechando assim um ciclo. Uma escolha que fazemos pode mudar a rotina não apenas nossa, mas a de inúmeras outras pessoas que nos cercam ou não.

Composto por um grande quebra-cabeças, "360º" se num começo causa dificuldades em compreender sua ideia principal, conforme os minutos vão passando, percebemos suas ligações e compreedemos seus personagens. Dor, redenção, traição, culpa e receios cercam essas vidas. Homens e mulheres movidos pelo desejo, pela ambição, pelo amor e pela vontade de recomeçar.

É o ato de trair que fere, que faz com que a pessoa que está traindo se sinta culpada. Não é objetivo entender como se deu tal ato, mas sentir e tentar entender as consequências destas escolhas. Se tal fato não tivesse acontecido, tal pessoa não iria cruzar o caminho de outra, que não faria com que ela percebesse tal verdade, que não seria dito a outra personagem e que não faria por sua vez outra escolha. Complicado, assim também é a vida, ou seja, uma escolha está ligada a outras que promovem um efeito dominó imcompreensível. 

"360º" começa de forma fria, talvez aí que resida seu pecado, pois quando o longa começa a dar sinais de vida, de calor humano entre as histórias, já estamos chegando ao seu fim. Alguns arcos não dão muito certo, outros se destacam e outros nos roubam a atenção. A trama envolvendo os personagens de Jude Law e Raquel Weisz, ao meu ver é a mais fraca. Tudo é muito falso e frio, não nos apegamos às dúvidas ou dores destes, tudo fica meio perdido, sem motivo. 

Já com Laura, a situação muda de lado. Maria Flor imprimi suavidade e delicadeza à sua personagem. Movida pela dor, ela parte e nessa fuga contracena um dos melhores momentos do filme. Sua relação com o personagem de Anthony Hopinks é cativante e terna. Assim como com Ben Foster, há toda uma tensão que se percebe nos olhares, nas falas e nos gestos. Foster, apesar de ter um pequeno papel, ainda sim se destaca. Seu personagem é forte e intenso, movido pelo desejo e pelo medo assim como a pequena participação, mas vigorante de Anthony Hopinks. Outro arco que se destaca e move toda força do filme em seus minutos finais é a que envolve Mirkha, Anna e Sergei. 

O que se percebe é que há sim muitos personagens e isso faz com que o diretor se perca no peso que cada trama terá no decorrer da história. Cada arco funciona unicamente. Há ligações entre eles. Mas buscar essas conecções só fará com que se perceba as falhas no filme, agora se ver cada trama por si só, se perceberá dramas e dramas. Alguns dão certo, outros nem tanto. 

O longa tem um clima moderno, frio e gélido. O inverno está sempre presente, as cores quentes quase não aparecem, a trilha é suave e nada pesada. O roteiro é bom, se num começo ele demora pra decolar, com os momentos finais, toma folêgo. Talvez o único problema tenha sido ter dado mais destaque a personagens que nao tiveram grandes empatias, como é o caso de Law e Raquel. Apesar de serem eles os atores com mais peso no filme, as melhores cenas ficaram com o restante do elenco. 

360º é um grande mosaico de vidas que se completam. Todos estamos ligados de uma forma e nossas escolhas nos mostram isso. Um ato, uma fala, pode desencadear acontecimentos que jamais teremos total compreensão em sua totalidade. Assim é a vida, assim é esse drama.  

Finais Felizes

 


Num drama envolvendo três tramas paralelas que ora se encontram, orla se distâciam, comédia dramática trabalha com questões morais, sobre o que é certo e errado, num tom agridoce e simpático. 

Mamie (Lisa Kudrow) quando adolescente, engravidou do seu meio-irmao Charlie (Steve Coogan). Os pais queriam que ela abortasse, mas ela continuou e ao dar a luz, entregou a criança para a adoção. Passado vinte anos, Nicky (Jesse Bradford), um rapaz que diz saber sobre onde está essa criança tenta convencê-la a reencontrar esse filho, mas com uma condição: filmar esse episódio. 

Nick deseja entrar para uma faculdade de cinema, mas precisa de um  bom material pra conseguir isso e ele nao é bom nessa área e muito menos criativo. Mamie nao concorda, mas propôe que ele faça um outro documentário envolvendo Javier (Bobby Canavale), seu namorado atual. A idéida dela é que Nick grave o namorado, Javier, realizando um "serviço completo" de massagem. Javier, querendo ajudar Mamie, concorda. 

Numa outra linha temos Charlie, agora gay assumido, convivendo com seu namorado Gil (David Sutcliffe). Os dois tem uma união estável, mas Charlie está desconfiado que seu namorado seja o pai do filho de um casal de amigas suas. Pra isso, ele então comeca a criar situações irreais para saber essa verdade. Porém, vai acabar se ferindo nessa busca. 

E finalizando esse mosaico de personagens, temos ainda Otis Mckee (Jason Ritter). Ele é rico, tem uma banda e é gay, mas seu pai, Frank (Tom Arnold), não sabe ainda disso e ele pensa que ninguem desconfia de sua orientação sexual. Se aproveitando disso, Jude (Maggie Gyllenhaal), a nova vocalista da banda, dá em cima dele e depois no pai do rapaz. Chantageando Otis sobre sua sexualidade, vai tentar se dar bem na vida. 

É nessa mistura de personagens que estas três tramas serão construídas e desenvolvidas. Mamie é a personagem que guiará todo o elenco. Comédia e drama caminham lado a lado para dar o tom certo a esse filme. As vezes dá certo, as vezes não, mas em todo o momento, uma linha se sobressai a outra, promovendo uma maior torcida e desejo por continuar a história e saber como seus personagens irão continuar na trama.

Em Mamie, o tom cômico prevalece. Ela ajudando Nick na edição do documentário é a melhor parte. Nick é um jovem que não sabe o que quer da vida, mas que vê em Mamie um porto seguro. E ela quer apenas conhecer essa criança que deixou no passado. Na sinopse, a primeria impressão que se tem é que ela é uma mulher manipulativa, mas não, pelo contrário, é mais fácil ela ser manipulada. 

Em Charlie, a busca dele compreender a verdade sobre o filho de suas amigas é guiado pelo lado engraçado, mas ao final, quando um segredo é revelado, o drama ganha espaço e temos um melhor aproveitamento de deus personagens. Nesse núcleo temos uma Laura Dern quase imperceptível, mas muito comovente. Sua expressão de ternura e de uma mulher meiga sede espaço a um olhar mais duro e forte num piscar de olhos. 

Com Otis, o destaque é Maggie, ela sinceramente é uma excelente atriz. Sua rizada irônica, seu olhar de deboche, sua expressão de arrependimento e medo por não saber direito o que está fazendo são incríveis. Dentro de todo o elenco, ela se destaca, além de ter uma voz linda. Outro destaque para esse filme é a trilha sonora, muito bem produzida. 

Um lado engraçado da trama são as explicações que surgem ao lado da tela, no começo e fim do longa. Esses textos nos dizem sobre os personagens, seus receios, sobre fatos que aconteceram e sobre o que vai acontecer. É um bom recurso, mas que se deve tomar cuidado, pois se não bem utilizado, pode apenas confundir a quem vê o longa e é isso o que acontece aqui. Em alguns momentos dá certo, só que em outros, não sei, faz com que perdamos o encanto pelo personagem. Antes mesmo do vínculo entre personagens começar, já sabemos como irá acabar, isso perde a mágia e o desejo de querer acompanhar a trama. 

Mentiras, é sobre mentiras que todos os personagens dessa história vão se sustentar. Mentiras grandes e pequenas, inocentes ou sérias. Escondemos o que sentimentos, o que fazemos ou o que somos. Mentimos sobre nós e sobre o nosso passado, seja por medo, por receio ou apenas com o desejo de querer recomeçar em nossas vidas. É um filho que foi deixado para tráz, uma traição, um fato do presente, sobre o que realmente desejamos em nossas vidas. Porque mentimos? É algo complicado. 

"Finais felizes" chega ao fim com essa proposta, mas nem todos terminam assim de fato. Jogando com questões sobre o que é certo e errado, o diretor nos mostra que enganar e mentir, tendo essa consciência, é errado e que que mais cedo ou mais tarde, teremos sobre os nossos ombros, o peso dessas escolhas. Basicamente, o mundo dá voltas e ao final, nada do que realmente aparenta ser, permanece para sempre.
Um filme bem simples, bem independente, que trabalha com casais que parecem ser felizes, mas que na verdade, escondem muita infelicidade ou traições. Na busca dessa felicidade, erramos, falhamos e mentimos, mas ainda sim, tentamos acertar.