quinta-feira, 12 de março de 2015

Cake - Uma razão para Viver



Em “Cake” drama constrói com honestidade e sinceridade o difícil caminho de uma mulher que está imersa em suas dores, mergulhada em seus traumas, adormecida pela vida e que não vê mais em sua existência uma razão para viver.

Jennifer Aniston neste drama dá vida a Claire Simmons, uma mulher amargurada pela vida. O motivo, nós não sabemos. Ela participa de um grupo de ajuda para pessoas com depressão. Mas neste grupo sempre esta a ironizar todas as participantes. Ela é viciada em medicamentos para dor, se relaciona sexualmente com homens que não conhece e não se ajuda em nenhum momento, seja no grupo de apoio, ou na fisioterapia ou em sua vida. Sua rotina é acordar, tomar seus medicamentos, reclamar, dormir e viver pelos cantos. 

Quando Nina (Anna Kendrick), uma das moças do grupo de auto-ajuda, comete suicídio, ela se vê interessada pelo caso, em compreender quem era essa mulher e quem ela deixara nessa vida. O motivo que a leva a conhecer essa moça, nem ela sabe.

E dessa forma vai até o local onde ela se matou e depois entra em contato com o viúvo de Nina, Roy (Sam Worthington). Ele tem um pequeno filho que tenta criar da melhor forma possível, mas ele ainda sente a falta da esposa. Claire então mergulha na vida destes dois sujeitos e a partir destes desconhecidos, se depara com sua própria vida e existência.

Calire tem levantes, seguidas por recaídas, mas ainda sim, não aceita a dor. Ela possui um rosto com sérias cicatrizes, anda com dificuldades, está sempre a sentir dores. A única forma que encontra para viver é abusar dos medicamentos que compra ilegalmente. Enfim, a dor que possui ela não quer sentir, mas ao mesmo tempo, não quer se levantar de sua posição de vítima de toda sua vida.

A todo o momento, ela é assombrada pelo fantasma da falecida. Essa mulher que a assusta tenta convencê-la a também a se matar questionando sobre quais os motivos que a fazem viver. São com estas indagações e em não aceitar o fim de fato que Claire irá lutar e tentar se levantar do seu próprio descaso.




“Cake” é um drama sincero que não está interessado em manipular sentimentos ou trazer a redenção a sua protagonista, mas analisar como a dor nos consome e como sair desse cenário de morte em vida é um trabalho árduo e trabalhoso.

Claire é uma personagem que não conhecemos, mas aos poucos percebemos suas dores e  compreendemos por qual motivo ela está assim, mas nada nunca é falado de fato. Esse distanciamento do fato faz com que venhamos vê-las pelos olhos do presente, não pelo passado.

A dor nos fere, nos consome e nos mata e Claire encontra-se neste estado. Nada muda em sua vida, nada. Mas o contato com essa mulher que se matou, abre os olhos dela para a sua vida. Não há milagres ou um grande amor. Apenas a percepção da dor e da vida.

Dizem que toda dor deve ser sentida. Numa sociedade marcada pelo alívio da dor mediante a todos os tipos de medicamentos, ficamos dopados e anestesiados com relação a vida. Ficamos desligados do mundo, quando na verdade, deveríamos sentir a ferida sangrar e o luto nos mover.



Em “Cake” essa mudança se dá aos poucos, pois afinal toda mudança é lenta e gradual. Nada brusco. Mas ate ela chegar a essa verdade, essa aceitação, muitas lágrimas serão derramadas, muito do seu passado será revelado.

Com uma direção segura e consistente, “Cake” nos banha com toda profundidade de Jennifer Aniston em sua melhor atuação até o presente momento. Sempre presa as comédias românticas, aqui Jennifer deixa sua zona de conforto e surpreende numa atuação dramática e intensa. Deixa de lado toda beleza e sensualidade e dá a vida a uma mulher com um olhar perdido, solitário e triste.


“Cake” não teve a menção ou o destaque merecido, pois o filme possui um belo roteiro que consegue estabelecer sinceridade, honestidade e dignidade a sua personagem. Jennifer não obteve a merecida indicação ao Oscar, porém mostrou sua força como atriz e isso que vale a pena. 


Para Sempre Alice



“Para sempre Alice” aborda com sinceridade e honestidade um tema pouco abordado no cinema, o Mal Alzheimere. Por meio desta trama, o longa nos convida a mergulhar nas profundezas de um mar sem fim de uma mulher diagnosticada com essa doença que vê se  presa a uma verdade a qual não terá como escapar.

Alice (Julianne Moore) tem cinquenta anos, é uma professora da área da linguística muito respeita no meio acadêmico e está sempre ministrando aula, conferências e palestras. Com o avançar da idade, ela percebe alguns detalhes que lhe confere um mal estar, esquece algumas palavras, datas e lugares.

Quando numa palestra ela simplesmente esquece sobre o assunto que irá falar no meio do evento, ela resolve procurar ajuda médica. Faz inúmeros exames. O médico, sempre com muita cautela, pede para refazer alguns até chegar ao diagnóstico que a deixa sem reação. Ela está desenvolvendo o Mal Alzheimere

Após comunicar a família, começa uma verdadeira descida a um mundo desconhecido. Alice teme o seu futuro, é afastada da universidade e tenta a todo custo espantar o medo dessa doença, seja com palavras cruzadas, olhar diversas vezes o álbum de fotos ou tentar a todo custo relembrar datas, nomes e pessoas.

Numa estratégia de puro medo diante do mal que se chegará a ela, Alice deixa um vídeo com instruções para ela mesma, explicando o que fazer caso a doença atinja um grau elevado.

Sua família não sabe como se comportar diante da doença. O marido, John (Alec Baldwin), se afasta e a filha, Anna (Kate Bosworth) que tanto passava horas conversando ela, cada vez mais fica distante. Entretanto, diante desse fato, Lydia (Kristen Stewart), a filha que era objeto de desgosto de Alice por não ter uma carreira acadêmica, se aproxima da mãe lhe dando apoio, tentando compreender suas dores, medos e temores e tomando uma decisão ao final do filme que marcará fortemente sua vida.




“Para sempre Alice” mostra um lado dessa doença ainda pouco compreendida atualmente. “Longe dela”, longa com direção de Sara Polley focava no mesmo tema, porém com um olhar mais intimista. Aqui, neste drama, a direção resolve trazer para as telas do cinema toda a sensação de medo que pode se estabelecer numa pessoa que possui essa doença.

Vemos o medo de Alice, suas tentativas impróprias de lutar contra a doença. Sua fissura em acertar as palavras das palavras cruzadas. Sua busca visceral em compreender a doença, em olhar, visitar e revisitar os álbuns da família, em guiar a si mesma, para que no dia seguinte, ela venha lembra de quem é ou o que possui em sua vida. Mas para Alice, a verdade é essa e não há outro caminho, o da aceitação enquanto tiver tal consciência que se pode aceitar essa doença.

Pouco a pouco Alice perde suas lembranças, a noção de coisas simples. Seu olhar perdido que tenta achar uma luz no fim do túnel é comovente e doloroso. Vemos, por meio dessa personagem, uma verdadeira morte em vida, não apenas dela, mas de todos os que estão a sua volta.



O filme não possui grandes realizações, é apenas correto em suas ações e deixa para a protagonista Julianne Moore todo trabalho e beleza do longa.  Julianne, por esse drama, recebeu seu tão merecido Oscar de melhor atriz. Houve papeis mais profundos dessa atriz em sua carreira de cinema, longas como “Pecados Inocentes”, “Ensaio sobre cegueira” ou até mesmo “As Horas” e “Um homem solteiro” em que atuava como coadjuvante, possui mais profundidade dela como atriz. 

Aqui, em “Para sempre Alice”, ela dá vida, contexto, olhar, ternura, voz e voracidade a essa mulher, a esse mal, a essa luta. Seu olhar perdido, sua expressão de medo e suas lágrimas ao perceber que não possui um futuro de certezas promovem comoção e nos arrebata.

O Mal Alzheimer ainda é uma doença pouco estudada e compreendida. Ela arranca não apenas as lembranças das pessoas, mas também toda sua referência de vida, consciência e existência. Se os familiares sofrem diante deste mal, os acometidos por essa doença também sofrem ao saber que irão chegar em tal condição.


Diante dessa verdade inevitável, o que ela pode fazer é tentar viver da melhor forma que pode, sempre lutando, sempre vivendo cada momento, pois serão estes que farão a diferença em sua vida, apenas seu presente. Não mais apenas o passado ou o ontem, mas apenas o hoje e o presente.