quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

As Vantagens de ser Invisível



"Nós somos o infinito"


Sensível e terno, esse drama adolescente trabalha com delicadeza, graciosidade e ternura essa fase tão intensa de nossas vidas. Um trabalho impecável, uma trilha soberba, um elenco compente, enfim, um belo filme. 

Charlie (Logan Lerman) é um jovem tímido e reservado. Calouro no colégio, não possui amigos, o único que tinha se matou. Possui certos problemas que aos poucos vão nos sendo revelado, problemas esses envolvendo seu passado e sua tia Hellen. Seus pais tentam ajudá-lo, percebem que ele sofreu muito com a perda dela e fazem o máximo que podem, mas nem Charile compreende o que sente.

No novo colégio tudo é difícil, por ser calouro e por ser tímido. Numa atitude espontânea passa a conversar com Patrick (Ezra Miller), um veterano da sala dele. A partir dele, ele conhece também sua meia-irmã, Sam (Emma Watoson). Patrick é mais solto, desinibido e hilário. Sempre provocado por todos do colégio, tenta não levar nada a sério. Sam, sua irmã, também já sofreu um bocado e está sempre errando. Nesse círculo de amizades ainda há mais tres adoslescentes que ora estão presentes, ora estão apenas lá. Começa aí uma pura e verdadeira amizade que terá que enfrentar com o passar dos dias todas as dificuldades que são comuns da idade dele, a descoberta da dor, da desilusão, das frustações e tudo mais que nos cerca. 


"As vantagens de ser invisível" aborda com leveza temas sérios e fortes. O final é a prova disso, um tema espinhoso, complexo e emblemático. Somente nos minutos finais que conseguimos compreender toda dor de Charlie. Além dele enfrentar esse passado que surge na vida dele de forma contínua em seu presente, há os problemas convencionais. 

Seu professor, Mr. Anderson (Paul Rudd) tenta ajudá-lo o máximo que pode, mas na vida, infelizmente a dor está presente. Outro personagem de destaque na trama é Patrick devido a sua sexualidade. A dificil aceitação de quem realmente seja, as dificuldades de uma possível relação e saber que talvez não pode ter quem realmente queira por conta do medo, receio e não compreensão do que eles querem ou sentem de verdade, provocam nesse personagem uma mudança intensa. De um rapaz hilário e despreocupado para alguém que sente o peso da vida e de suas escolhas. 

"Nõs temos o amor que achamos que merecemos ter", essa frase resume essas vidas, esses jovens, enfim, nossa vida. Com um roteiro extremamente belo e uma  ótima trilha sonora, o longa nos conquista. A trilha ganha um peso a parte, cada um deles tem uma canção em especial e Heroes é que a marca uma das cena mais belas e também o desfecho do drama. 




Tendo como cenário a década de 90, o filme ganha ainda mais qualidade. Está lá a máquina de escrever, o fascínio em mandar cartas, as músicas, a inocência, e até um certa pureza. Essa pureza está materializada na vida de Charlie. Ele não consegue compreender o que é errado, ou a maldade em alguns atos, simplesmente, ele não entende. Essa inocência vai se perdendo a medida que ele percebe a dor, porém o desejo pela vida e a amizade em seu grupo de amigos também se intensificam


O elenco está incrível e Emma Watson se destaca em sua personagem, assim como Lerman. Rudd faz uma ponta, mas que emociona. A direção é ótima, competente e segura. Há momentos engraçados e divertidos, mas nada constrangedor, tipicos de comédia envolvendo esse público. O sexo está ali também, mas nada indelicado ou pervertido, tudo é tratado com respeito e ternura. 
 
"Nos somos infinitos", essa é sensação que estes três jovens tem com relação a vida, com relação ao laço que os mantém e que o filme consegue nos transmitir. A cena do carro num túnel poderia simbolizar a vida como um todo, uma grande e imensa estrada, em que corremos, loucamente, apressadamente, alguns conseguindo sentir o prazer de estar vivos, outros, apenas correndo em direção a alguma alvo em específico, mas todos em busca de algo que os motiva correr, andar e caminhar. 


sábado, 2 de fevereiro de 2013

As aventuras de Pi



As aventuras de Pi é mágico e irreal, meche com nossa imaginação e nos ousa a acreditar no que parece ser impossível. Duas vertentes caminham sempre lado a lado nesse drama: a fé e a razão. De um lado está a fé que nos move, nos faz acreditar no impossível, do outro a razão, que nos mantém, nos segura e nos faz mais serenos enquanto à vida.

Pi é um garoto de dúvidas, suas incerteza o guia por caminhos complexos. Foi dessa forma que conheceu a Deus de diversas formas e por várias correntes. Essa parte é interessante, pois percebemos como é a fé desse pequeno garoto. Seu desejo é conhecer a Deus, simplesmente a Deus e por conta disso se lança nos cristianismo, no islamismo, no budismo e por aí vai.

Seu pai não aprova a postura do filho, a considera fraca e frágil. Quando não se sabe o quer da vida, não consegue chegar a lugar algum. Mas Pi chega e sofre, chora e sente a dor da perda, da vida e é essa busca pela fé que o mantém vivo, que o move.

Quando seu pai afirma que toda família irá deixar a Índia para começar uma nova vida no Canadá, Pi não aceita, mas acata a decisão. Seu pai tem um zoológico e resolve levar consigo todos os animais, a idéia é vendê-los e começar de novo. Mas durante a viagem, o cargueiro em que estão entra numa forte tempestade e afunda. Pi é o único sobrevivente. Toda sua família se perde, e ele fica perdido nesse mundo num lugar desconhecido do Oceano Pacífico. Ele se descobre meio sozinho nesse mundo, já que junto dele estão apenas uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parker.


Ainda nos primeiros momentos, Pi presencia o pior, a hiena mata a zebra, que já está fraca e o orangotango. Isso o machuca e o fere, faz com que ele perceba a vida de uma forma mais violenta. Mas se isso o marca, a presença do tigre junto dele o ainda deixa mais preocupado e atento.

É sobre essa convivência nada natural que o drama vai explorar. Pi precisa ficar atento a cada instante, pois sabe que esse tigre, apesar de ter um nome e ter sido cuidado por ele, é uma fera e seus instintos falarão mais alto quando o momento pedir.

É com um drama intenso e cheio de belas imagens que Ang Lee realiza um belo trabalho mesclando realidade e ilusão, sonhos e verdades. Tudo caminha lado a lado e quanto a nós, espectadores, jamais percebemos essas diferenças. 

Pi é a representaçao da busca, da procura. A busca em compreender Deus, a vida e tudo mais que o cerca fará com que ele tenha um propósito maior nessa vida: se manter vivo. O tigre representa esse lado selvagem e incontrolável que está em todos nós. Se num começo ele tenta domar, com o passar dos dias percebe que é somente treinando esse animal que ele conquistará a sua confiança. 




As imagens são belas, Lee capta com toda intensidade e beleza esse mundo tão isolado e selvagem da vida. Esse drama é ousado, pois durante boa parte de sua hisória se fixa nesse barco salva-vidas e na relação de Pi com o animal, nos mais, temos um começo em que conhecemos toda a vida de Pi e as vezes somos quebrados pela história para voltarmos ao presente, em que ele já adulto, relata toda o drama vivido por ele quando adolescente ao escritor.

A trama toda é posta sob metáforas, imagens que são e muitas vezes não são. Nesse sentido, esse filme se aproxima um pouco de outra grande obra do cinema, "O labirinto do Fauno", em que duas formas de se ver uma trama caminham juntas e que cabe ao espectador a escolha em que acreditar. Ao final é nos dado uma outra versão para todos os acontecimentos, uma versão mais ácida e dolorosa sobre tudo, ela também faz sentido, mas fica a dúvida: e tudo que vimos então, não foi real? O que de fato aconteceu? Pi responde: depende do que você prefere acreditar. 

Um filme cativante, com uma bela trilha sonora e imagens que nos conquistam e nos prendem. Um drama sobre a dor e sobre crescer. Sobre a vida e como a vemos ou a sentimos.