quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Abrigo



Curtis (Michael Shannon) é um homem de família. Vive com sua esposa Samantha (Jessica Chastain), e sua filha Hannah numa  pequena e pacata cidade dos Estados Unidos. Eles teem uma boa casa, Curtis tem um emprego que lhe paga um bom salário e o plano de saúde necessário para que eles possam tratar da filha, já que ela tem problemas auditivos. 

Samantha fica com os afazeres domésticos e o cuidado com Hannah, além de produzir alguns bordados que dão uma certa renda. A filha deles está prestes as fazer uma cirurgia que poderá trazer boas mudanças ao seu estado de saúde. Enfim, eles tem uma vida normal e super tranquila, não há do que reclamar. Mas algo está errado, algo de muito grande está para acontecer.

Curtis começa a ter fortes pesadelos envolvendo uma tempestade e pessoas descontroladas querendo lhe fazer mal. Esses pesadelos não cessam e pouco a pouco vão afetando seu estado de saúde. Ele afirma que uma grande tempestade está para chegar à cidade e por conta disso, resolve se preparar e fortalecer seu abrigo contra esse possível mal, é esse o abrido que trata o título do longa. Mas ao mesmo tempo em que ele acredita em seus instintos, ele teme por estes pesadelos, já que sua mãe foi diagnosticada e internada com esquizofrenia. É nesse embate entre a razão e loucura que o diretor irá guiar os passos deste homem.


O drama aborda o delírio e um possível instinto de presságio com muita competência. Cortis sabe que seus sonhos podem retratar uma instabilidade, o início de uma doença, por conta disso, resolve procurar ajuda médica, entretanto mesmo diante dessa dúvida, ele resolve se preparar para esse mal. É como se uma força maior o obrigasse a se proteger, a agir. 

Durante toda película, não sabemos até que ponto estamos vendo reais sinais ou a mente de um homem o enganando. É nesse ponto que reside o grande do filme, pois o diretor não escolhe um lado. Do começo ao fim do drama, ele trabalha com essa temática: a dúvida. E a cena final representa muito bem isso

Um fato interessante a ressaltar é o cenário construído pelo diretor. A cidade em que moram, a casa em que vivem, a escola e a comunidade são simplesmente perfeitos. Não há falhas, erros, imperfeições ou miséria. A vida desse casal se assemelha a daquelas que vemos em filmes com finais felizes ou que um dia desejamos ter. Mas é nessa vida “perfeita” que há instabilidade, o erro e o grau de ameaça, é nessa normalidade que se encontra o mal.

A loucura de Curtis é tratada com naturalidade, pois Samantha se comporta com total apoio ao seu marido. Eles são um casal que não tem erros ou segredos, pelo menos, demonstram não ter. Curtis não tem olhos para outras mulheres, Samantha fica ao lado de seu esposo em todo momento, mesmo quando ela vê nele traços de verdadeira loucura. Toda essa perfeição nos mostra onde a loucura se instala, onde ela fica presente e como ela ganha força. A tempestade representa um mal, uma instabilidade, um medo da quebra de uma redoma de vidro de perfeição.

O elenco esta ótimo, dando destaque para Shannon como Curtis e Jessica como Samantha. Novos rostos no cinema americano, demonstram ter seriedade para compor papéis densos ou leves. Shannon já havia brilhado e sido indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por “Um sonho possível” e Jessica brilhou com leveza em “Arvore da Vida” e mostrou ser simpática e extremamente divertida em “Histórias Cruzadas”.

Com relação a trilha sonora, destaque ao uso muito competente do silêncio, do instrumental na cena final, invocando que algo muito grande está para acontecer e dos ruídos fazendo referência a  uma tempestade. A tensão fica por conta de duas cenas que estão próximas ao desfecho do longa. A direção é segura, pois mantém uma linha de dúvidas constantemente, não deixando nenhum lado (loucura, razão) prevalecer. 

A busca de compreender esse mal sem chegar de fato a uma explicação é ótima, pois não é ideia do longa explicar, mas apenas mostrar um homem e seus receios. Um sujeito preso ao medo da certeza que tem, de que algo muito grande está para acontecer e a certeza que também possui, de que sua  razão está prestes a desmoronar. Entre essas duas “certezas”, resta a dúvida de qual caminho deve seguir e o longa demonstra isso por meio das imagens de forma bela e firme. 


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