As aventuras de Pi é mágico e irreal, meche com nossa imaginação e nos ousa a acreditar no que parece ser impossível. Duas vertentes caminham sempre lado a lado nesse drama: a fé e a razão. De um lado está a fé que nos move, nos faz acreditar no impossível, do outro a razão, que nos mantém, nos segura e nos faz mais serenos enquanto à vida.
Pi é um garoto de dúvidas, suas incerteza o guia por caminhos complexos. Foi dessa forma que conheceu a Deus de diversas formas e por várias correntes. Essa parte é interessante, pois percebemos como é a fé desse pequeno garoto. Seu desejo é conhecer a Deus, simplesmente a Deus e por conta disso se lança nos cristianismo, no islamismo, no budismo e por aí vai.
Seu pai não aprova a postura do filho, a considera fraca e frágil. Quando não se sabe o quer da vida, não consegue chegar a lugar algum. Mas Pi chega e sofre, chora e sente a dor da perda, da vida e é essa busca pela fé que o mantém vivo, que o move.
Quando seu pai afirma que toda família irá deixar a Índia para começar uma nova vida no Canadá, Pi não aceita, mas acata a decisão. Seu pai tem um zoológico e resolve levar consigo todos os animais, a idéia é vendê-los e começar de novo. Mas durante a viagem, o cargueiro em que estão entra numa forte tempestade e afunda. Pi é o único sobrevivente. Toda sua família se perde, e ele fica perdido nesse mundo num lugar desconhecido do Oceano Pacífico. Ele se descobre meio sozinho nesse mundo, já que junto dele estão apenas uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parker.
Ainda nos primeiros momentos, Pi presencia o pior, a hiena mata a zebra, que já está fraca e o orangotango. Isso o machuca e o fere, faz com que ele perceba a vida de uma forma mais violenta. Mas se isso o marca, a presença do tigre junto dele o ainda deixa mais preocupado e atento.
É sobre essa convivência nada natural que o drama vai explorar. Pi precisa ficar atento a cada instante, pois sabe que esse tigre, apesar de ter um nome e ter sido cuidado por ele, é uma fera e seus instintos falarão mais alto quando o momento pedir.
É com um drama intenso e cheio de belas imagens que Ang Lee realiza um belo trabalho mesclando realidade e ilusão, sonhos e verdades. Tudo caminha lado a lado e quanto a nós, espectadores, jamais percebemos essas diferenças.
Pi é a representaçao da busca, da procura. A busca em compreender Deus, a vida e tudo mais que o cerca fará com que ele tenha um propósito maior nessa vida: se manter vivo. O tigre representa esse lado selvagem e incontrolável que está em todos nós. Se num começo ele tenta domar, com o passar dos dias percebe que é somente treinando esse animal que ele conquistará a sua confiança.
As imagens são belas, Lee capta com toda intensidade e beleza esse mundo tão isolado e selvagem da vida. Esse drama é ousado, pois durante boa parte de sua hisória se fixa nesse barco salva-vidas e na relação de Pi com o animal, nos mais, temos um começo em que conhecemos toda a vida de Pi e as vezes somos quebrados pela história para voltarmos ao presente, em que ele já adulto, relata toda o drama vivido por ele quando adolescente ao escritor.
A trama toda é posta sob metáforas, imagens que são e muitas vezes não são. Nesse sentido, esse filme se aproxima um pouco de outra grande obra do cinema, "O labirinto do Fauno", em que duas formas de se ver uma trama caminham juntas e que cabe ao espectador a escolha em que acreditar. Ao final é nos dado uma outra versão para todos os acontecimentos, uma versão mais ácida e dolorosa sobre tudo, ela também faz sentido, mas fica a dúvida: e tudo que vimos então, não foi real? O que de fato aconteceu? Pi responde: depende do que você prefere acreditar.
Um filme cativante, com uma bela trilha sonora e imagens que nos conquistam e nos prendem. Um drama sobre a dor e sobre crescer. Sobre a vida e como a vemos ou a sentimos.
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