Em “Cake” drama constrói com honestidade e
sinceridade o difícil caminho de uma mulher que está imersa em suas dores,
mergulhada em seus traumas, adormecida pela vida e que não vê mais em sua
existência uma razão para viver.
Jennifer Aniston neste drama dá vida a Claire
Simmons, uma mulher amargurada pela vida. O motivo, nós não sabemos. Ela
participa de um grupo de ajuda para pessoas com depressão. Mas neste grupo
sempre esta a ironizar todas as participantes. Ela é viciada em medicamentos para
dor, se relaciona sexualmente com homens que não conhece e não se ajuda em
nenhum momento, seja no grupo de apoio, ou na fisioterapia ou em sua vida. Sua
rotina é acordar, tomar seus medicamentos, reclamar, dormir e viver pelos
cantos.
Quando Nina (Anna Kendrick), uma das moças do grupo
de auto-ajuda, comete suicídio, ela se vê interessada pelo caso, em compreender
quem era essa mulher e quem ela deixara nessa vida. O motivo que a leva a
conhecer essa moça, nem ela sabe.
E dessa forma vai até o local onde ela se matou e
depois entra em contato com o viúvo de Nina, Roy (Sam Worthington). Ele tem um
pequeno filho que tenta criar da melhor forma possível, mas ele ainda sente a
falta da esposa. Claire então mergulha na vida destes dois sujeitos e a partir destes
desconhecidos, se depara com sua própria vida e existência.
Calire tem levantes, seguidas por recaídas, mas
ainda sim, não aceita a dor. Ela possui um rosto com sérias cicatrizes, anda
com dificuldades, está sempre a sentir dores. A única forma que encontra para
viver é abusar dos medicamentos que compra ilegalmente. Enfim, a dor que possui
ela não quer sentir, mas ao mesmo tempo, não quer se levantar de sua posição de
vítima de toda sua vida.
A todo o momento, ela é assombrada pelo fantasma da
falecida. Essa mulher que a assusta tenta convencê-la a também a se matar
questionando sobre quais os motivos que a fazem viver. São com estas indagações
e em não aceitar o fim de fato que Claire irá lutar e tentar se levantar do seu
próprio descaso.
“Cake” é um drama sincero que não está interessado
em manipular sentimentos ou trazer a redenção a sua protagonista, mas analisar
como a dor nos consome e como sair desse cenário de morte em vida é um trabalho
árduo e trabalhoso.
Claire é uma personagem que não conhecemos, mas aos
poucos percebemos suas dores e
compreendemos por qual motivo ela está assim, mas nada nunca é falado de
fato. Esse distanciamento do fato faz com que venhamos vê-las pelos olhos do
presente, não pelo passado.
A dor nos fere, nos consome e nos mata e Claire encontra-se
neste estado. Nada muda em sua vida, nada. Mas o contato com essa mulher que se
matou, abre os olhos dela para a sua vida. Não há milagres ou um grande amor.
Apenas a percepção da dor e da vida.
Dizem que toda dor deve ser sentida. Numa sociedade
marcada pelo alívio da dor mediante a todos os tipos de medicamentos, ficamos
dopados e anestesiados com relação a vida. Ficamos desligados do mundo, quando
na verdade, deveríamos sentir a ferida sangrar e o luto nos mover.
Em “Cake” essa mudança se dá aos poucos, pois
afinal toda mudança é lenta e gradual. Nada brusco. Mas ate ela chegar a essa
verdade, essa aceitação, muitas lágrimas serão derramadas, muito do seu passado
será revelado.
Com uma direção segura e consistente, “Cake” nos
banha com toda profundidade de Jennifer Aniston em sua melhor atuação até o
presente momento. Sempre presa as comédias românticas, aqui Jennifer deixa sua
zona de conforto e surpreende numa atuação dramática e intensa. Deixa de lado
toda beleza e sensualidade e dá a vida a uma mulher com um olhar perdido,
solitário e triste.
“Cake” não teve a menção ou o destaque merecido,
pois o filme possui um belo roteiro que consegue estabelecer sinceridade,
honestidade e dignidade a sua personagem. Jennifer não obteve a merecida
indicação ao Oscar, porém mostrou sua força como atriz e isso que vale a pena.