quinta-feira, 12 de março de 2015

Para Sempre Alice



“Para sempre Alice” aborda com sinceridade e honestidade um tema pouco abordado no cinema, o Mal Alzheimere. Por meio desta trama, o longa nos convida a mergulhar nas profundezas de um mar sem fim de uma mulher diagnosticada com essa doença que vê se  presa a uma verdade a qual não terá como escapar.

Alice (Julianne Moore) tem cinquenta anos, é uma professora da área da linguística muito respeita no meio acadêmico e está sempre ministrando aula, conferências e palestras. Com o avançar da idade, ela percebe alguns detalhes que lhe confere um mal estar, esquece algumas palavras, datas e lugares.

Quando numa palestra ela simplesmente esquece sobre o assunto que irá falar no meio do evento, ela resolve procurar ajuda médica. Faz inúmeros exames. O médico, sempre com muita cautela, pede para refazer alguns até chegar ao diagnóstico que a deixa sem reação. Ela está desenvolvendo o Mal Alzheimere

Após comunicar a família, começa uma verdadeira descida a um mundo desconhecido. Alice teme o seu futuro, é afastada da universidade e tenta a todo custo espantar o medo dessa doença, seja com palavras cruzadas, olhar diversas vezes o álbum de fotos ou tentar a todo custo relembrar datas, nomes e pessoas.

Numa estratégia de puro medo diante do mal que se chegará a ela, Alice deixa um vídeo com instruções para ela mesma, explicando o que fazer caso a doença atinja um grau elevado.

Sua família não sabe como se comportar diante da doença. O marido, John (Alec Baldwin), se afasta e a filha, Anna (Kate Bosworth) que tanto passava horas conversando ela, cada vez mais fica distante. Entretanto, diante desse fato, Lydia (Kristen Stewart), a filha que era objeto de desgosto de Alice por não ter uma carreira acadêmica, se aproxima da mãe lhe dando apoio, tentando compreender suas dores, medos e temores e tomando uma decisão ao final do filme que marcará fortemente sua vida.




“Para sempre Alice” mostra um lado dessa doença ainda pouco compreendida atualmente. “Longe dela”, longa com direção de Sara Polley focava no mesmo tema, porém com um olhar mais intimista. Aqui, neste drama, a direção resolve trazer para as telas do cinema toda a sensação de medo que pode se estabelecer numa pessoa que possui essa doença.

Vemos o medo de Alice, suas tentativas impróprias de lutar contra a doença. Sua fissura em acertar as palavras das palavras cruzadas. Sua busca visceral em compreender a doença, em olhar, visitar e revisitar os álbuns da família, em guiar a si mesma, para que no dia seguinte, ela venha lembra de quem é ou o que possui em sua vida. Mas para Alice, a verdade é essa e não há outro caminho, o da aceitação enquanto tiver tal consciência que se pode aceitar essa doença.

Pouco a pouco Alice perde suas lembranças, a noção de coisas simples. Seu olhar perdido que tenta achar uma luz no fim do túnel é comovente e doloroso. Vemos, por meio dessa personagem, uma verdadeira morte em vida, não apenas dela, mas de todos os que estão a sua volta.



O filme não possui grandes realizações, é apenas correto em suas ações e deixa para a protagonista Julianne Moore todo trabalho e beleza do longa.  Julianne, por esse drama, recebeu seu tão merecido Oscar de melhor atriz. Houve papeis mais profundos dessa atriz em sua carreira de cinema, longas como “Pecados Inocentes”, “Ensaio sobre cegueira” ou até mesmo “As Horas” e “Um homem solteiro” em que atuava como coadjuvante, possui mais profundidade dela como atriz. 

Aqui, em “Para sempre Alice”, ela dá vida, contexto, olhar, ternura, voz e voracidade a essa mulher, a esse mal, a essa luta. Seu olhar perdido, sua expressão de medo e suas lágrimas ao perceber que não possui um futuro de certezas promovem comoção e nos arrebata.

O Mal Alzheimer ainda é uma doença pouco estudada e compreendida. Ela arranca não apenas as lembranças das pessoas, mas também toda sua referência de vida, consciência e existência. Se os familiares sofrem diante deste mal, os acometidos por essa doença também sofrem ao saber que irão chegar em tal condição.


Diante dessa verdade inevitável, o que ela pode fazer é tentar viver da melhor forma que pode, sempre lutando, sempre vivendo cada momento, pois serão estes que farão a diferença em sua vida, apenas seu presente. Não mais apenas o passado ou o ontem, mas apenas o hoje e o presente. 



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