Terror, suspense, escuridão. Uma trama envolvente e instigante.
Inglaterra, época vitoriana, época
de medos e incertezas. Numa era escura e sombria onde a noite prevalece,
figuras obscuras trafegam pelo imaginário popular. Nas cidades, a falta de
estrutura evidencia uma sociedade marcada pela precariedade, pelo abandono,
pobreza e dificuldade. Os subúrbios revelam uma Inglaterra longe da perfeição,
onde a presença da peste se instalará e a morte será presente constante.
Vanessa Ives (Eva Green) é uma
mulher misteriosa, bela e sedutora. Sua expressão facial é seca e fria. Sua voz
é poética e sua ousadia para enfrentar o que não se compreende é assustadora. A
impressão que se tem é que ela sabe que possui uma força interna que a move e a
protege. Ela trabalha para Sir Malcolm Murra (Timothy Dalton), aventureiro que obteve
sua riquezas com a exploração de terras longínquas da África, mas que ao final
de sua vida, colecionou solidões, perdas e mortes. A filha, grande amiga de
Vanessa, foi raptada por uma criatura desconhecida que pertence as trevas mais
escuras da noite. Desejando revê-la, juntará um grupo de pessoas para romper as
fronteiras do dia e adentrar num mundo sombrio.
Dentre estes que ajudarão a Malcom
está Ethan Chandler (Josh Hartnett). Vindo dos Estados Unidos por motivos
desconhecidos, aceita trabalhar em troca de dinheiro, para ajudar seu interesse
amoro, Brona Croft (Billie Piper). Chandler tem um passado que não sabemos e
deste não teremos conhecimento, a não ser pela cena final da temporada. Ele
possui um lado com a fé que não compreendemos já que possui uma grande função
no penúltimo episódio do primeiro ano.
Brona é uma prostituta marcada pela
morte por ter tuberculose. Não há chances de cura para ela, o que ela faz é
apenas tentar se manter viva. Noite após noite trabalha vendendo o corpo, se
negando aos seus sonhos e desejos. Encontra em Chandler uma possível esperança
e conforto.
O jovem Dr. Victor Frankenstein
(Harry Treadaway) é outra figura enigmática. Atraído pela morte, tem no seu
passado as respostas por esta atração tão doentia e voraz. Ele é o responsável
por dar a vida a um ser, uma criatura (Rory Kinnear), entretanto será
assombrado por tal criação. Um pai, um monstro, uma vítima da vida. Com Malcom
adentrará um mundo desconhecido e descobrirá verdades antes nunca tocadas. Como
a morte faz parte de sua vida, o temor não estará sobre ele. Nunca sabemos
quais são seus motivos ou razões, pelo que vive ou pelo que luta. Outro
personagem que terá sua participação na temporada, mas sem mostrar a que veio é
Dorian Gray (Reeve Carney). Dotado de beleza e juventude, ele terá um
envolvimento com todos os personagens da série, mas será atraído fortemente por
Vanessa.
O que rege este primeiro ano é a
busca de Mina, a filha de Malcom. Ela está sob as forças de um mestre que não
sabemos quem é. Protegendo a este mestre, há varias criaturas que rondam toda
temporada, vampiros. Estes seres, nós já temos uma ideia do que sejam, porém os
personagens desta série ainda não. Nesta época, estas criaturas vivem sob a
escuridão, mas ninguém ainda tem conhecimento sobre sua existência. Rastros de
mortes são deixados por eles, e por outras criaturas, mas quem provoca tais
assassinatos, além dos vampiros, não sabemos.
Algo de mistério envolve Vanessa,
seu passado e este possível mestre. Algo a deseja, deseja o que ela esconde ou
que ela renega. Nesta primeira temporada conheceremos sua personagem, seus
traumas, seu difícil passado e sua relação com o sobrenatural.
Outro personagem
que terá força neste primeiro ano é o jovem Frankenstein. Iremos ver seu
passado e veremos como a morte desde cedo já se fez presente na vida deste
garoto. É interessante notar que este seriado é protagonizado por figuras
ligadas a escuridão, mas que nesta trama serão humanizados, dotados de
sentimentos e medos.
Aposta do canal ShowTime, esta
série mergulha profundo num mundo sombrio, escuro, onde os pesadelos se tornam
reais. Dotado de uma bela fotografia de época, um figurino impecável e uma
trilha sonora densa, Penny Dreadful nos arrebata. A abertura do seriado flerta
com elementos da morte, do sobrenatural e do terror.
Os diálogos são densos, as
referências aos personagens históricos das tramas de terror são revelados aos
poucos e cada personagem guarda uma figura emblemática em si. Vanessa Ives
percebemos que possui uma presença forte ao decorrer da temporada. Chandler ao
final. O clima do seriado é o melhor, um clima frio, sempre pouco iluminado,
sempre com cenários ganhando tonalidades escuras. Nem as gravações que são
feitas durante o dia, exaltam a beleza do sol. A caminhada na praia é banhada
por um céu nublado e acinzentado. É como se há todo momento o seriado nos
remetesse a um mundo onde não há esperança, paz, ternura ou amor.
Neste universo de Penny Dreadful a
dor move a todos os personagens. São pessoas movidas por seus desejos mais
obscuros, que se entregam a estes sem vazão. Homens e mulheres movidos por
incertezas, assombrados pelo passado, abandonados pela fé. O argumento do
seriado é de John Logan, é dele todos os roteiros do seriado e a direção se
subdivide entre a equipe de produção da trama.
Penny Dreadful que tem um total
de dez episódios, consegue manter uma tensão do começo ao fim do seriado. O
penúltimo episódio intitulado “Possuída” é um dos mais traumáticos, fortes e
densos de toda temporada, sua tensão cresce conforme os fatos vão avançando
chegando a um clímax sem saída. A segunda temporada está mais do que confirmada
e os segredos envolvendo outros personagens serão aos poucos sendo revelados,
com a importância de cada sendo desenvolvida dentro da mitologia da série.
Assim caminha essa série, envolvendo terror, seres marcados pela dor, raiva, rancor. Personagens abandonados a própria sorte, sem ter um consolo, fé ou algo que os proteja. Este seriado consegue invocar uma sobre a sociedade da época um pessimismo impressionante, ao mesmo tempo que atraente, por meio de uma beleza gótica, estranha e bizarra.