Carismática, divertida e ousada. Em
“Looking”, nova série da HBO, temos histórias, amores e desilusões de um grupo
de personagens que não vemos com muitas frequência nas séries atuais, mas que a
cada dia, tem mostrado sua face.
“Looking”, série norte americana do
canal fechado HBO, ousa em sua temática. Traz para o centro da trama uma
histórica focada em três amigos que vivem na cidade de São Francisco, abordando
suas vidas, seus amores, seus sonhos e suas vivências. Uma série como qualquer
outra, com personagens, dramas, traições, desilusões e amores. O tabu está no
fato de que os autores abordam o mundo gls e tem como protagonistas três homens
homossexuais.
Patrick/Paddy (Jonathan Groffé) é um
rapaz bacana, sensível e carente. Possui um bom emprego, sempre sorridente,
sempre um pouco meio melancólico. Deseja encontrar alguém que busque algo
sério, mas sempre nestas buscas, acaba entrando em situações constrangedoras.
Dom (Murray Bartlett) trabalha como
garçom há dez anos num mesmo restaurante. Possui um sonho de abrir seu próprio
negócio, mas ainda está preso a dificuldade e também a sua própria incapacidade
de seguir adiante com tal ideia. Está solteiro há um tempo, seu último
relacionamento não acabou muito bem e ele ainda sente-se preso a este sentimento.
Mora com uma amiga, Doris (Lauren Weedman), personagem esta que é um dos pontos
mais hilariantes do seriado.
E por fim, Augustin (Frankie Alvarez)
mora com Patrick. Ele se considera um artista, intelectual e sempre se mostra
muito arrogante. Namora um rapaz bacana, mas possui uma visão do relacionamento
marcado por uma liberdade que o namorado não aceita.
O que se percebe neste seriado é como
este tema tão delicado, a homossexualidade, ainda visto como tabu pela
sociedade, é colocado em cena com tanta naturalidade. Há na série a presença do
preconceito e do julgamento, entretanto tais práticas se estruturam no exterior
deste seriado, ou seja, daqueles que estão fora da vida destes sujeitos, seja
na representação da família que não aceita, que não compreende ou simplesmente
que não toca no assunto.
Quando se fala em tais relações
homossexuais, tudo bem, podemos conviver belamente e lindamente com tais
diferenças. A partir do fato em que vemos e presenciamos tais práticas e fatos,
nossos olhares mudam o foco e passamos a questionar tais ações e atitudes,
agindo muitas vezes com pré-conceitos.
Apesar da trama mostrar um
preconceito envolvendo a estes personagens, o enredo do seriado não se preocupa
em se resumir a isto. Os diretores querem mostrar mais, querem ir além e
revelar o cotidiano destes sujeitos. Eles trabalham, caminham, namoram, brigam,
traem, enfim, tem uma vida. Uma vida tão natural, tão corriqueira e tão normal.
Neste sentido, fica a pergunta, onde que está a diferença e a “não normalidade”?
Dom busca abrir um negócio, Augustin
se encontrar como artista e Patrick um relacionamento estável. Em cada
episódio, os títulos são guiados por tal procura, por tal busca. Uma busca
constante que muitas vezes não encontramos ou achamos de fato, ou quando a
encontramos, a perdemos novamente para que em seguida, venhamos voltar a
procurar por ela.
Nesta primeira temporada, temos Dom
querendo abrir seu próprio negócio. Saindo de um relacionamento que o marcara
fortemente, ele apenas se envolve sexualmente com outros homens, nunca deixando
de fato por envolver-se. Por acaso conhece Lynn, um sujeito mais velho que ele.
Entre uma ajuda e outra, um conselho e outro, nasce entre estes dois homens uma
certa tensão, desejo e insinuações. O envolvimento entre estes dois acontece da
forma mais natural possível, sem ser premeditada ou realmente desejada.
Augustin é um rapaz que nesta
primeira temporada se mostra muito arrogante. Ele possui um pensamento liberal
quanto a relacionamentos e aceita a relação sexual com outros homens de forma
natural. Seu namorado, Frank, não. Mesmo tendo este pensamento contrário, Frank
aceita algumas posturas de Augustin. Tais ações provocarão ao desenrolar da
temporada um desgaste sem retorno entre estes dois sujeitos. Com este casal, a
série trabalha um tema caro ao homossexualismo: é possível uma relação
tranquila entre dois homens, sem ter terceiros envolvidos?
Já com Patrick temos uma maior
participação sua na trama. Ele é um jovem bacana e carente, em busca de um
amor, de um namorado. Patrick busca algo sério nos lugares mais errados. Neste
sentido, suas tentativas de namoro nunca dão certo e ao final da história ele
sempre acaba sozinho. Nesta primeira temporada ele conhece Richie, um jovem
divertido, meio calado e muito focado no que deseja. Os dois se conhecem por
acaso e por este mero acaso continuam seu envolvimento.
Paralelamente a Richie ele também
conhece Kevin, seu chefe. Este outra rapaz também provocará em Patrick uma
forte confusão de sentimentos. Se a temporada se inicia com Patrick iniciando
uma relação com Richie, ela se encerra com o desfecho deste relacionamento, ao
mesmo tempo que abre o leque para possíveis novos casos.
Nesta primeira temporada de
“Looking”, os diretores apenas nos trazem para a trama a apresentação destes
personagens, fazendo com que se crie entre o público e os protagonistas desta
série uma certa intimidade e carisma. A trilha cumpre bem o seu papel. As cenas
de sexo são medianas, nada muito intenso. O seriado revela um outro lado do mundo
gls, um lado romântico, terno e mais sensível. Mostra homens que choram, se
declaram, que são emotivos.
A temporada tem um total de oito
episódios apenas, com uma duração de apenas meia hora. Pouco, mas diante da
temática apresentada e pelo canal por traz de tal produção, a HBO, é algo muito
forte e representativo. Se antes, os homossexuais estavam representados por
alguns personagens dentro de uma trama maior, nesta, eles tomam para si toda a
história.
O seriado teve apenas mais uma temporada, com 10 episódios, porém
infelizmente foi cancelada em seu segundo ano. Mas mostrou ter qualidade,
carisma, belos personagens e um roteiro bem construído. Uma bela aposta do
canal, que apesar de sua vida curta, realizou um belo trabalho e conquistou uma
excelente percepção da crítica, ao mostrar com naturalidade, sem estereótipos,
este mundo gls, com seus problemas, diferenças, normalidades, vivencias e por
ai vai.