sábado, 4 de junho de 2016

Beirar-mar: Um tempo de descobertas, um tempo de amadurecimento


Um tempo de descobertas, um período de novas experiências.

O cinema nacional tem experimentado novos olhares, novas narrativas e novos pontos de vista sobre o homem. Se antes, apegado a um cinema marginal, como denuncia social, agora tem aumentado seu leque de produções e desenvolvido tramas que dialogam com novos públicos, novos personagens e novos enredos.

Em “Beira-mar”, temos Martin (Mateus Almada) e Tomaz (Mauricio José Barcellos), dois amigos de infância que por algum motivo desconhecido, ficaram um breve tempo sem se verem. Neste tempo, seguiram caminhos diferentes, mas resolveram então viajar juntos pare rever a amizade.

Martin precisa resolver uma pendência de seu pai e Tomaz vai para fazer companhia. O destino é uma cidade litorânea ao sul do Rio Grande do Sul. Em meio a um inverno rigoroso, nesta cidade que não acontece nada e onde apenas o silêncio reina assustadoramente, vemos estes dois adolescentes reverem sua amizade e restabelecerem seus diálogos.





A história do filme então é esta: dois jovens nesta cidade, andando pelas praças e pela praia, se dividindo entre fumar, beber e conversar. Uma cidade onde o sol não tem força e a noite é quieta, revelando uma beleza que somente as cidades pequenas possuem.

Num primeiro momento, esta estrutura gera um desconforto, mas talvez proposital, pois talvez represente a própria presença destes personagens. Eles são amigos que estão há um longo tempo sem se verem. Não há mais aquela intimidade entre eles, então os diálogos são sempre lançados para quebrar o silêncio, o tempo que não passa ou o constrangimento que tenta reinar.

Com o desenrolar da trama, vemos o motivo que os leva a esta cidade. Uma dívida familiar, mas isso não fica muito claro. Talvez o diretor do longa não queira explicar tudo, talvez esta falta de explicação é o que prevalece sobre a vida destes jovens. Eles vivem um dia após o outro sem terem noção do que talvez esteja acontecendo ou por qual motivo que tais experiências estejam vivenciando.

Com a chegada de uma amiga de Tomaz, vem também os jogos, as conversas, as risadas, os ruídos que quebram o silêncio. Três rapazes, três moças. Muita bebida, jogos e brincadeiras. Mas também as primeiras insinuações, revelações e percepções sobre a sexualidade.

Tomaz já sabe o que deseja, apenas guarda para si sua sexualidade. Martin ainda tem um caminho a seguir. A parte final do longa revela um tensão sexual, um jogo de insinuações, de desejos, de busca por descobertas. Assim é a sexualidade, um momento de descobertas, onde os prazeres vão ganhando vida e forma e mostrando o caminho pelo qual devemos trilhar, sendo apenas pautado pelos nossos desejos e não por uma sociedade que tenta se impor sobre nós.
  

“Beira-Mar” é sobre descobertas. Os garotos que protagonizam este longa são bem novos, isso gera um desconforto, talvez um mal-estar. Mas o longa caminha com muita ternura, sem desrespeito, sem cenas desnecessárias. Martin e Tomaz tem suas intimidades aos poucos sendo restabelecidas e percebe-se que entre eles um sentimento mais intenso e forte começa a brotar. Por mais que não haja diálogos, há os olhares, os gestos e o silêncio que constrange e que a todo momento tentam materializar desejos antes calados e reprimidos.

Este longa estabelece uma conexão com um novo cinema, um cinema mais introspectivo e mais intimista. A preocupação deste longa não é apresentar uma história de fato, pois história não há, mas é abordar esta descoberta da sexualidade, dos sentimentos tão abstratos, das dúvidas tão presentes.

A fotografia do longa acompanha a estrutura do enredo, cores frias e apáticas, fazendo referência a este inverno tão intenso que se estabelece nesta cidade. A trilha sonora é composta pela paisagem sonora, uma paisagem formada por silêncios e pelo som do mar, das ondas do mar e o mar ganha uma conotação interessante. 

Apesar do filme se chamar “Beira-mar”, este não vemos nunca praticamente no longa. Sua referência se estabelece pelo som das águas que podemos ouvir ou pela visão parcial da orla da praia, mas o mar mesmo nunca vemos, com exceção da cena final em que o personagem de Martin vai em direção a este, sendo confrontado pelas águas, pelas ondas, pela força do mar.

Talvez este mar represente os desejos contidos que ganham proporção ao final da trama, talvez sejam as dúvidas que transcorrem sobre ele devido aos desejos que ele realiza ao final da história. Talvez representem outras coisas ainda.


Um filme de silêncios, de olhares, de gestos, de desconforto que revela descobertas, olhares, dúvidas e desejos.



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