Branca de Neve e o caçador
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”
Essa é uma história antiga, um clássico que muitos conhecem. A busca de ser a mais bela, um espelho mágico, um linda e inocente moça, uma maçã envenenada, um príncipe encantando e um “viveram felizes para sempre”. Porém, por trás desse clássico conto, imortalizado pelos estúdios da Disney com o desenho “Branca de Neve e os sete anões”, há uma história sombria, densa e pesada.
Criação dos irmãos Grimm, esse conto antes de ser adocicado visando um público infantil, era voltado mais ao terror do que a fabula inocente. Mesmo nesse conto infantilizado, pode-se perceber esses traços mais densos: a rainha má que deseja ser a mais bela e o caçador que arranca o coração de um animal e dá como prova de missão comprida a vilã dessa história. Enfim, o terror está ali, porém, pelos detalhes.
Em “Branca de Neve e o Caçador”, esse peso se sobressai. Aqui, o elemento terror tenta prevalecer, contudo o filme não chega a esse nível. Há no drama uma seriedade, uma nova roupagem, num estilo meio épico, com tons medievais, calcada no instituto pela sobrevivência e com um toque feminista em todo o roteiro.
Após a série de Tv “Era uma vez”, ao trágico e horrível “Espelho, espelho meu”, chega essa nova versão dessa história. Ou seja, em menos de 12 meses, se tem três trabalhos distintos de uma mesma obra. A série é boa, escorrega as vezes no roteiro, porém faz um trabalho genial com essa trama, a comédia que apesar de ter tido Julia Roberts no elenco como a rainha maléfica, não deu certo, foi um verdadeiro gasto de investimento, num filme chato, sem sentido e péssimo. Com isso, as expectativas para esse filme não era das melhores. Porém, o filme surpreendeu e se mostrou bem acima da média.
Após a morte de sua esposa, o rei se lança num confronto com um exército fantasma. Após destruir a todos, ele liberta uma jovem camponesa, Ravenna (Charlize Theron). Ele fica encantado pela beleza da jovem e a leva consigo. Após chegarem ao reino, os dois se casam, mas na noite de núpcias ela o mata e abre espaço para os verdadeiros soldados. Estes tomam o reino e domam a todos os soldados, com alguns poucos conseguindo fugir.
Anos passam mas a beleza de Ravenna permanece a mesma, porém para mantê-la, ela precisa se lançar a inúmeros sacrifícios. Ela é uma rainha poderosa, a fonte desse pode vem da sua beleza, mas tudo tem um fim, tudo passa e ela teme isso. Quando seu espelho, um espírito que somente ela pode ver, lhe revela que há alguém no reino capaz de destruir seu império, ela se atemoriza, porém ele revela também que essa jovem poderá salvá-la, pois se a rainha comer o coração dela, obterá a imortalidade e beleza eterna que tanto deseja. Essa jovem é a filha do Rei, Branca de Neve (Kristen Stewart).
Ela pede para que o seu irmão a pegue do calabouço e a traga para ela, mas ele falha nessa empreitada e Branca de Neve consegue escapar. Começando a ficar inquieta, ela contrata os serviços de um homem, um caçador experiente (Chris Hemsworth) que conhece todos os cantos da Floresta Negra, lugar para onde Branca fugiu. Ele aceita a proposta, mas ao descobrir que a rainha apenas quer tê-la de volta para matá-la, ele a ajuda a escapar se juntando a essa fuga.
O longa tem uma pegada de aventura constante. Não há momentos para descanso, desde a cena em que Branca foge do castelo, numa sequência ótima e de tirar o folego, até o confronto com Ravenna, o drama se mantém nesse ritmo. Alguns detalhas do conto foram deixados de lado, mas a base da história está ali. Há a rainha má, uma jovem, um príncipe, contudo estes estão repaginados com outros motivos, razões e personalidades.
Ravenna é bela, mas ela sabe que isso passará, por isso teme, pois ao seu ver, seu poder está associado a sua beleza, somente assim ela consegue dominar os homens a sua volta, foi assim com o pai de Branca, foi assim com todos os outros. Numa época em que ser mulher estava ligada a uma vida de prisão e sem palavra, Ravenna tem peso, voz e é temida. Por esse motivo que ela deseja jamais perder essa “benção”, mesmo que isso signifique assassinar e sugar toda a força de vida de outras mulheres.
Em contraposição há Branca de Neve, ela não é extremamente linda, mas ela tem um extinto de sobrevivência incrível e uma pureza em seus atos. Diferentemente da donzela em perigo que foge para a floresta e encontra abrigo com os anões e passa a ser uma dona de casa, aqui ela briga, enfrenta, se lança e lidera soldados. Seu poder não está na sua beleza, mas em seus atos. Nesse sentido, há todo um jogo de feminidade sendo trabalhado no filme, pois quem prevalece na história são essas duas mulheres e estas não estão presas ao julgo dos homens, mas fazem suas próprias escolhas. Aqui, os homens são guiados por essas escolhas, é nesse aspecto que se encontra o melhor do filme.
Outro ponto muito positivo do longa são com relação a algumas ideias colocadas e outras remodeladas. A floresta negra com suas alucinações, as mulheres com os rostos marcados (num melhor sentido guerreiras amazonas), a capacidade de Ravenna de sugar a beleza de outras mulheres, a cena da maçã que ao meu ver foi a melhor e o beijo que a desperta apenas intensificam e qualificam o longa. É acrescentada a esse drama um tom de predestinação, simbolizado no filme pelo santuário das fadas, esse seria o lado fraco dessa história. Apesar disso, esse santuário foi muito bem construído com relação ao seu visual.
O confronto final é bacana, as cenas de lutas são boas, o longa não se rende ao romantismo, ele estabelece um triangulo amoroso, ma nada que estrague a ação constante do longa. O elenco está competente, destaque para Kristen Stewart e Charlize Theron e, os homens desta historia ficam irregulares, mas o peso dessas duas mulheres compensam esse lado fraco.
Enfim, um bom filme que superou as minhas expectativas. Alguns afirmam que irá ter uma continuação, não sei como isso se dará, é esperar pra ver e torcer que não estraguem esse primeiro trabalho.
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