Baseado na obra “O
clube do Bang Bang” que faz um retrato real baseado na história de
vida de quatro jornalistas que presenciaram e fotografaram os
conflitos finais do Apertheid na África do Sul, longa conta, por
meio de uma história simples, a vida desses quatro personagens e
como estes vivenciaram essa experiência.
Ao final da década de
90, a pressão sobre a África do Sul para que se colasse um fim em
seu regime segregacionista que separava por lei, território de
negros e brancos e realizava um governo altamente racista, estava em
seu ápice e próximo de seu fim. Para conter as revoltas internas
que aumentavam, o governo colocou em rivalidade duas grandes e fortes
tribos, promovendo uma verdadeira chacina entre ambos. Com a polícia
e governo local promovendo essa guerra sangrenta entre eles, se
amenizava uma possível revolta contra o governo e por consequência,
esse regime separatista poderia continuar.
Nesse momento, quatro
jornalistas fotografaram esse momento e venderam essas imagens há
vários veículos de comunicação. Muitas das imagens lembradas até
hoje desse sistema, desse governo, veio pelas lentes destes
jornalistas. Devido a se colocarem em linha de frente com o perigo,
ficaram conhecidos como o “Clube do Bang Bang”, porém apesar dos
vários prêmios que muito deles ganharam, o saldo para essa ousadia
custou caro, Ken Oosterbroek, morreu em trabalho e Kevin Carter se
suicidou, depois das pressões que recebeu pós ganhar um prêmio por
uma fotografia tirada em trabalho. É nesse drama que o filme vai
focar e trabalhar, tendo como ponto de vista o jovem Greg Marinovich.
O drama é bem simples,
não há ousadia, não há algo que chame a atenção. Ele é
simplesmente correto. O diretor deixa por conta da história todo o
peso do filme. As cenas chocam, fotografias reais em preto e branco
ganham a tela, dando mais veracidade e pontuando o longa. O drama
desses personagens enquanto pessoa não é muito focado, o único a
ter isso um pouco melhor trabalhado é Marinovich, o protagonista
dessa história. Porém, nunca realmente sabemos o que eles sentem,
eles estão lá, presenciam tudo, registram tudo, mas o que pensam
disso ou que lado defendem, jamais ficamos realmente sabendo.
Um dos temas levantados
pelo filme e bem trabalhado no drama é com relação a ética na
profissão. Eles enquanto jornalistas, não podem interferir na
realidade, mas ela por si só é extremamente dolorosa. A questão
que fica constantemente é o que é certo fazer diante do fato:
registrar, não registrar, interferir no meio ou não. Kevin, famoso
por ser dono de umas das imagens mais chocantes do fotojornalismo,
vivenciou esse drama. Sua foto provocou reações, mas ao mesmo
tempo, muitos lançaram críticas ferozes contra ele, questionando
até que ponto vai o profissionalismo e começa os valores humanos.
Mas não é apenas a
questão da ética que prevalece nesse filme, mas também a da dor
diante dessa realidade tao crua e dolorosa. O que se fazer frente a
esses acontecimentos? Como reagir, ou como se comportar? Eles apenas
registram, mas também veem, observam e ficam calados, paralisados e
imóveis diante desses acontecimentos. Mas o que se fazer para mudar
essa realidade, essa verdade. A forma como a câmera fica disposta,
trêmula, nos causa essas mesmas questões, afinal, estamos vendo o
que eles viram, então, estamos sentindo os que eles sentiram e
estamos paralisados do mesmo modo que eles também. Que lado eles
defendem não é nos revelado, mas saber que essas cenas os chocaram
e os destabilizaram, isso é percebível.
Bem recebido em alguns
festivais, pouco comentado e divulgado no Brasil, é um bom drama que
conta uma boa história, tendo um bom elenco para dar vida a esses
personagens. Básico sim, mas muito bem feito. Poderia ter sido
melhor trabalhado, mas também, não se rendeu ao modo mais fácil,
entregando um bom filme. Não é melodramático, segue mais uma
cartilha documentário.
A trilha é suave, a direção sempre segura,
questões políticas estão a parte, pois o registro desse filme fica
por conta mesmo de como é registrar a morte, a dor e como se manter
diante desse fato. É ficar e como ficar diante da dor dos outros.
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