Não se entregue
O que dizer sobre Gravidade? Alfonso Cuarón em seu mais novo filme, entrega um longa grande e intenso. Um drama sobre a dor, sobre o silêncio, sobre a vida, morte e renascimento. O que fazer quando tudo que a sua volta se desmorona? Agarra-se a algo e tenta permanecer vivo.
Ryan Stone (Sandra Bullock) está com uma equipe de astronautas realizando um pequeno trabalho de rotina no espaço. Tudo segue normal. Seu comandante Matt Kowalski (George Clooney) observa a vista, está em sua última viagem e sentirá saudades daquele lugar tão silencioso. Ryan está concentrada no serviço. Nos primeiros minutos percebemos como ela é séria, fechada e reservada e ele, sempre tentando obter a melhor piada de todos os momentos.
Após alguns instantes é dado um aviso de que eles estão em risco. Pouco tempo se passa e já não há mais nada que possa fazer. A nave e toda tripulação é atingida por destroços de um satélite. Nesse momento, há o confronto e depois o silêncio. Ryan se perde da nave e dos outros, e roda e roda perdida, sem ter em que se apegar. Seus olhos veem apenas o universo e mais nada e ela fica a deriva, rodando, rodando, tentando se comunicar com alguém e nada.
Kowalski chega até ela, se prende a ela e tentam retornar para a nave. Porém, eles são os únicos sobreviventes desse acidente. O que fazer agora é apenas tentar sobreviver e voltar para casa. Mas aí que fica a questão. Pelo que vivemos, pelo que iremos voltar para a casa? Ryan possui um passado marcado pela dor que é nos revelado em poucos minutos. É estranho como tanta dor, tantos anos de lágrimas e amargura podem ser dito em apenas segundos. Nesse momento, compreendemos o motivo dela estar lá e estar fazendo o que faz.
"Gravidade" fala sobre a falta de termos a o que nos apegar, é um retrato sobre uma mulher que está perdida em sua vida, inerte em seu próprio mundo, vivendo um dia após o outro e mais nada. É nesse ponto que está o grande do filme. O drama possui uma história simples de certa forma, pois mostra um grupo de tripulantes em trabalho rotineiro, um imprevisto acontece, apenas dois permanecem vivos e assim lutam para poderem voltar à Terra com vida. Mas não, Cuarón vai mais longe e revela todo o lado de dor dessa personagem.
Não serão apenas os obstáculos que se levantarão contra ela para se manter viva e voltar com vida à Terra. Será seu próprio desejo de permanecer viva. Para Ryan falta a vontade de viver, o desejo pela vida. Na verdade, esse drama não fala somente sobre uma mulher que tem que enfrentar todas as impossibilidades para se manter viva, mas fala sobre alguém que está perdido na vida, sem motivos, que apenas abre e fecha os olhos e mais nada.
Pelo que vivemos? Pelo que morremos? A busca por compreender a dor que nos cerca, entender seus motivos e não se entregar à morte em vida, esse será o caminho dessa mulher. "Gravidade" nos fala sobre isso. Há um espaço e um silêncio tão reconfortante. Mas ele também pode nos levar a morte, uma morte silenciosa e imperceptível. Todo filme trabalha em cima dessa questão, o confronto com a dor, o reconhecimento desta e a percepção de que estamos vivos e por esta vida lutarmos.
Durante o drama cenas são mostradas, o filme nos conquista pela seus efeitos especiais. A cena inicial em plano único, é dotada de uma técnica cinematográfica que dificilmente se vê no cinema, tamanho trabalho que dá para realizá-la. As cenas fazendo uma alusão ao nascimento de Ryan, ao confronto com sua dor, a conversa singela e sincera com Kowalski e a cena final em que faz toda uma alusão a um renascimento. São cenas como estas e trabalhos como estes que nos revelam a grande força do cinema.
Em "Gravidade" não temos apenas um filme de ficção cientifica que nos prende do começo ao fim, mas uma trama sobre o homem, sobre suas dores, seus sentimentos, sentimentos estes tão abstratos e difíceis de se compreender, mas que ganham forma diante dos nosso olhos.
Mas se filme consegue chegar onde chega, isso se deve também ao excelente trabalho de Sandra Bullock. Sozinha na grande parte do tempo, só vemos ela e por meio dela vemos tudo. Seus olhos são nossos olhos, sua respiração é a nossa respiração. Sua vontade passa a ser a nossa vontade. Um trabalho incrível, difícil tecnicamente e emocionante. Essa atriz que até o momento havia se lançado em comédias fracas, apos o drama "O lado cego", se lança nessa trama profunda e poderosa, num trabalho cansativo e desgastante e arranca uma atuação grande e avassaladora.
Enfim, o que dizer sobre "Gravidade" se não que ele é um grande filme, uma obra que com toda certeza, ganhará força com o tempo e com os anos.
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