A falta nos move, um vazio nos completa
Frances
Há” é divertido, leve, despretensioso, um verdadeiro achado no cinema
independente. Depois da comédia ácida não tem bem recebida assim pela crítica,
“Margot e o Casamento” que teve sim suas qualidades, Noah Baumbach acerta com
seu mais novo filme.
Frances
(Greta Gerwig) é sorridente, divertida e esforçada, porém também é insegura,
atrapalha e levemente triste. Tentando se encontrar, acaba sempre se perdendo.
Tentando demonstrar afeto e lealdade, acaba sentido-se traída e deixada de
lado. Mas apesar de todos esses males, ela vai tentando, mesmo quando seu
sorriso parece forçado e o momento em que esteja vivendo faça com que ela pense
“o que estou fazendo aqui na verdade?”
Quando
seu namorado pede para que ela venha morar com ele, Frances reluta, afinal sua
melhor amiga Sophie (Mickey Summer) não pode pagar um aluguel sozinha e as duas
são muito próximas. Essa atitude faz com que o namoro entre em crise e
posteriormente chegue ao fim. Mas Frances sente que fez o que era o certo a
fazer, e em sua opinião, sua amiga em mesma situação, faria o mesmo por ela.
Entretanto ela não faz.
Uma
amiga chama Sophie para dividir o apartamento com ela numa região nobre da
cidade, uma região em que ela sempre quis morar. Ela não pensa duas vezes e
aceita a proposta deixando Frances numa situação delicada, traída pela amiga e
tendo que arcar com o aluguel sozinha.
Frances
participa de uma companhia de balé, seu desejo é participar do grupo principal.
Apesar de ser boa, não é excelente, então nunca consegue a tão desejada vaga. São
nessas idas, subidas, descidas e perdas que Frances vai tentando, sempre
focando em seu objetivo maior, torna-se numa grande bailarina.
Em
“Frances Ha” há uma ternura, uma falta e uma leveza. A falta nos move e move
também a essa jovem. Seu silêncio expressa esse desejo e seu olhar sua
esperança. Um filme feito com delicadeza, ternura e poesia. Frances é
sorridente, atrapalhada, sonhadora, e não deseja mudar, não deseja desistir.
Corre de um lado a outro, muda de casas, viaja, assume os empregos mais loucos.
Porém
nesse drama há uma contraposição interessante, se de um lado temos nossa
protagonista que busca realizar seus sonhos, sempre batendo de frente com
dificuldades, e sempre se sentindo incompleta. Do outro lado há sua amiga
Sophie que consegue concretizar tudo o que deseja, morar num apartamento dos
sonhos, um excelente emprego, um belo casamento, se mudar de país. Entretanto
mesmo diante destas conquistas, sente-se ainda mais perdida e vazia.
Baumbach
com sua comédia leve e sutil nos mostra os caminhos pelos quais percorremos
para alcançar nossos sonhos e como as vezes estes são apenas sonhos e que perceber
a hora de mudar a rota de nossas vidas, só nos fará bem. O longa caminha,
caminha e caminha e cada vez mais Frances vai se perdendo e sentindo-se
perdida. Até que num encontro inesperado com sua melhor amiga que tanto já lhe
machucou, muda seu olhar, muda seu foco e se ela lança em novos objetivos.
Belamente
iluminado por uma fotografia em preto e branco que apenas confere mais poesia a
essa comédia/drama, “Frances Ha” fala sobre uma geração que busca e busca, mas
sente-se cada vez mais perdidas em seus objetivos, sonhos e metas. Jovens que
vão e ousam, batem de frente, mas que não conseguem obter a felicidade que
tanto desejam. Talvez o filme fala sobre essa falta que nos move, essa busca
por esse sentimento de completude que nunca nós iremos alcançar de fato.
Ter
um apartamento próprio, essa é a materialização de Frances de sentir que chegou
realmente a um local seu de fato. Não mais dividir uma casa, uma cama, mas
saber que isso lhe pertence, porém mesmo quando essa conquista ela obtém, algo
fica incompleto, agora seu nome, sua identidade. Mas diante dessa incompletude,
ela sorri.
A
falta nos move, o vazio nos completa e nos faz trilhar por caminhos e caminhos.
Por um local que seja nosso, por um sonho que possa realizado, por um amor que
possamos vivenciar. Todos esses são os desejos dessa jovem e porque não tem de
uma geração? E Baumbach com sua câmera, capta a essência esses dilemas. Greta
Gerwig como Frances mergulha profundo nessa personagem. Participando também na
produção do roteiro confere peso e naturalidade em sua atuação. Enfim, um belo
acerto no cinema
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