terça-feira, 6 de outubro de 2015

"Entre abelhas" e a beleza do cinema nacional


Quando o silêncio ecoa, a solidão prevalece e a morte entra em cena.

Bruno (Fábio Porchat) terminou seu relacionamento recentemente, no caso, terminaram com ele. Ele ainda ama a esposa e não compreende porque chegaram onde chegaram. Voltando a morar com sua mãe, ele claramente está deprimido.

Seu amigo, Davi (Marcos Veras) tentando ajuda-lo, o chama constantemente para sair, seja bares, baladas ou qualquer lugar, menos ficar em sua casa. Ele aceita, mas não possui vontade, desejo ou algum motivo que o mova.

Entretanto, em meio há tantos problemas, algo de estranho acontece. Pouco a pouco, todas as pessoas a sua volta começam a desaparecer, no caso, ele não consegue mais vê-las. Por qual motivo? Como resolver este problema?

Sua mãe ao saber disso, não entende, ela até tenta acreditar, mas parece algo impossível isso. Ela então o leva a um psicanalista. Durante as análises, um dos motivos dados pelo especialista é que Bruno está tão mergulhado em seus problemas que simplesmente ele não deseja mais ver as pessoas ao seu redor; ou no caso, estas pessoas não tem mais importância para ele, por isso esta invisibilidade. 

A alegação do psicanalista faz sentindo, pois as primeiras pessoas a simplesmente sumirem são desconhecidos ou antigos amigos. Bruno entra em pânico, porém num primeiro momento nós, espectadores, não vemos isso dessa forma. Entretanto, pouco a pouco a lista dos invisíveis torna-se maior que a dos visíveis. Após uma cena em específico, o drama muda de direção e o que era engraçado, torna-se preocupante e Bruno se vê numa situação delicada. Então o que fazer?





“Entre abelhas” se utiliza de uma metáfora para abordar um tema interessante, a depressão. Ora, quando a tristeza vem, ela chega de forma avassaladora. Perdemos a razão, os motivos ou qualquer outro ponto de referência. Simplesmente tudo torna-se sem chão. Bruno está passando por este processo de luto, porém há sobre ele além desta tristeza necessária, um egoísmo que sempre existiu sobre ele. Bruno se fecha em seu mundo e só dá atenção a sua dor, ao seu mal-estar, a sua mágoa. Não percebe os problemas que estão relacionados ao seu amigo e ele sempre os comenta para ele, não percebe os problemas que envolvem sua mãe e há todo momento, o longa nos dá indícios que ela não está bem. O único problema que ele está interessado em resolver é voltar com sua esposa.

Nada o preocupa mais, nada o faz pensar em mais nada, todo seu mundo está direcionado a resolver este problema. É neste aspecto que se encontra a graça deste longa, ele trabalha com um tema pesado de forma leve e a medida que o problema revela sua seriedade, o longa também torna-se sério e dramático.

Neste longa percebe-se dois filmes, numa primeira parte há um tom de comédia perdurando sobre todo o longa. As cenas iniciais do drama se apoiam numa comédia moldada pelo cotidiano. É um humor leve, despretensioso, cheio de graça com inteligência e jogadas que dão certo. Não há aquela manipulação, personagens estereotipados ou cenas forçadas para promover a rizada. Tudo soa tão naturalmente. Até este momento a trilha é leve e damos rizada de todos os elementos que envolvem ao Bruno.


A partir de uma cena em particular, a estrutura do filme muda radicalmente. Sai de cena a comédia e o drama ganha força. Neste momento percebemos que o problema que envolve a este personagem é mais sério do que imaginávamos. A trilha muda o foco e o instrumental torna-se mais pesado.

“Entre abelhas” brilha ao seu modo, entretém, contudo, quando o momento pede, trata o tema com seriedade. O personagem de Fabio Porchat consegue dar vida a um homem amargurado, solitário e que não vê mais sentindo em sua vida. Tudo permanece lá como sempre esteve e ele tem essa ideia, mas ele apenas não consegue mais visualizar as pessoas que fazem parte de sua vida, o motivo, ele simplesmente não deseja.


Ao final do drama, quando achamos que não há mais saída para este homem, uma luz brilha ao final de todas as trevas e a morte dá sinais de vida. Um rosto sempre presente, nunca importante, se revela a ele e ele se dá conta de sua existência. Drama nacional com roteiro, dramaticidade e profundidade. Assim é este filme, calcado em uma boa ideia, moldado por uma excelente equipe técnica e que revela um cinema em plena expansão. 


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