Um grito de liberdade, um clamor de
esperança
A busca pelos direitos dos negros é
marcada por perdas e conquistas. Por pessoas que fizeram história e marcaram
vidas. Na vasta história que envolve os negros, tanto no Brasil, quanto nos
Estados Unidos, tivemos a vida de homens e mulheres que ao seu modo, lutaram,
bradaram e resistiram.
Este drama “Selma” vem contar uma
história muito já conhecida. Mas não muito bem explicada. Martin Luther King (David
Oyelowo) foi um dos grandes líderes negros que os Estados Unidos já conheceu.
Sempre pregava a paz, a não violência e por meio dos seus discursos, conquistou
a milhares de pessoas, brancos e negros.
Neste novo drama, muito bem recebido
pela crítica, voltamos ao tempo para a cidade de Selma para acompanhar as
manifestações de King em torno ao direito dos votos para os negros.
Estados Unidos, 1963, aos negros era
concedido o direto a votar, mas para isso, precisavam de uma autorização de
repartições especificas e quem liberava tais pedidos eram brancos, em muitos
casos, contra o direito aos negros para votarem. É neste clima de forte
racismo, violência e segregação que King chega à Selma para tentar levar esta
proposta adiante.
O drama apenas faz um recorte da vida
deste líder, recontando esta história da vida dele, do momento em que ele chega
a Selma ao momento em que consegue, depois de muito custo, alcançar esta
conquista.
“Selma” faz uma leitura básica e
simples da vida deste homem. Na trama o que se sobressai é o poder da história
da vida do personagem. Indicado ao Oscar de Melhor filme, o filme foi o achado
do cinema independente do ano de 2014.
Mas é pela sua simplicidade que este
longa nos conquista. Há pontos falhos neste drama, como uma manipulação nos
sentimentos para que possamos comprar as ideias de King e uma falta de
compreensão para com os racistas.
Neste filme, vemos o lado dos negros, e como
tais são desenhados como grande vítimas da história e os brancos, como grandes
vilões. Mas entre o branco e o negro, há muitas tonalidades. Compreender de
onde vem tanta violência ou como a questão do diferente nos causa tanta
estranheza, seria um caminho mais complexo, entretanto interessante de se
trabalhar.
Em “Selma” a cultura negra está
impressa em cada tonalidade, cada veste, cada penteado, cada fala, cada prato
culinário. É como se estivemos observando um outro Estados Unidos. Não há cores
vivas, suco de laranja ou sucrilhos. O que vemos são negros, com seus louvores,
com suas cores fortes e intensas, com sua fala cantada, seu estilo musical
marcada pelo blues e soul.
Um ponto se notar no filme é que toda
trama é guiada por informações confidenciais da FBI, revelando como que o
governo esteve envolvido com a vida este homem. Neste sentindo, a diretora nos
dá a ideia que o próprio King era também investigado pelo FBI.
Mas se o filme talvez possa pecar
pela forma como guia a história, manipulando nossos sentimentos, traz para o
centro da trama um olhar intenso sobre a conquista dos direitos dos negros e
como estes tiveram dificuldade em conquistá-los. O que torna-se interessante
analisar neste filme é tentar compreender o motivo de tanta indiferença ou ódio
envolvendo a cor de uma pele e como direitos tão básicos foram negados a esta
população.
Vemos estes homens e mulheres negros
tendo que buscar uma forma de luta. Diante desta luta, há dois caminhos, uma
direção marcado pela violência, materializado na figura de Malcon X, que mostra
sua presença na história.
Por outro lado, há uma direção mais tolerante, mais
pacifica, na figura de King. Estes dois caminhos e duas formas de pensar,
guardam consigo muitas rivalidades e dores. É com beleza e maestria que a
diretora foca nesta relação.
Outro ponto interessante é com
relação a presença da mulher negra nesta história. Elas não são deixadas de
lado ou colocadas apenas como um rosto bonito. Elas tem voz e presença,
influenciam e têm presença. Não chegam a ter o papel principal, mas não são
meras figuras de elenco de apoio. Elas tem tanta importância dentro deste
drama, que a cena inicial do longa começa com uma negra tentando tirar o
direito ao voto. Não um homem, ou um jovem, mas uma mulher negra.
São detalhes como estes que conferem
peso e força a este filme.
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