“Sense8”: Num misto de desejos,
sentimentos e pensamentos, sensações se cruzam numa constante contínua, onde o
espaço é apenas um mero detalhe.
Will (Brian J. Smith), um policial de
Los Angeles; Riley (Tuppence Middleton) uma dj irlandesa; Lito (Miguel Ángel
Silvestre), um ator mexicano; Karla (Tina Desai) uma farmacêutica indiana;
Capheus (Aml Ameen) um motorista de Nairobi; Sun (Doona Bae) uma executiva japonesa;
Nomi (Jamie Clayton) uma hacker americana e Wolfgang (Max Riemelt) um ladrão
alemão. O que estas vidas tem em comum? Estes são indivíduos com suas vidas,
suas escolhas, seus traumas e passados, mas que tem suas vidas abaladas e
mudadas quando passam a compartilhar entre eles suas experiências, medos e
vivências. Algo impossível, algo improvável, mas que ganha contornos reais
nesta nova série da Netfilix
“Senset”, nova aventura dos irmãos Wachowski,
mergulha profundo numa trama moldada por pessoas comuns, com vidas comuns. Mas
que se veem tendo habilidades não explicadas pela ciência ou compreendidas pela
razão.
Nesta série, estes oito sujeitos tem
seus sentidos e pensamentos interligados entre si. Tudo o que um vivencia, é
vivenciado por todos, não apenas vivenciado, mas também eles podem interagir
entre si, onde um consegue ajudar o outro em algumas ocasiões. Nesta busca por
compreender tais percepções, a série nos entrega momentos únicos, marcados pela
comicidade ou pelo mais profundo e terno drama.
Entretanto, em meio a descobertas
destes novos sentidos e compartilhamentos, estes sujeitos não compreendem o que
está acontecendo a eles, e veem isso como loucura, nervosismo ou stress. Diante
desta realidade há também um grupo ou organização que procura saber quem são
eles e os motivos que guia a este grupo são desconhecidos.
A trama do seriado é simples em si. As habilidades que
cercam estes sujeitos são moldadas pela sensibilidade, seja pelo olfato, pela
visão, tato ou experiências. Assim como estes personagens, somos apresentados a
este mundo e num primeiro momento não entendemos nada do que está acontecendo.
Tudo segue, tudo caminha e todas as experiências são compartilhadas, mas nada é
explicado. Conforme a trama vai avançando, vamos compreendo o que cerca estes
indivíduos e quais são as habilidades que estes possuem.
“Senset”, nova aposta da plataforma
Netflix, foi um dos achados de 2015. Com um belo roteiro e direção excepcional,
o seriado conquistou público e crítica. Moldada em dez episódios, em cada trama
seus protagonistas são apresentados e trabalhados, mas algo maior rege a série.
Nos primeiros episódios somos
apresentados a cada sujeito. Vemos quem são eles, como vivem, o que fazem. De
forma inesperada, eles passam a compartilhar vivencias entre si. Tudo se inicia
com uma mulher a quem não conhecemos numa casa abandonada. Ela está
simbolizando dores de parto, mas numa atitude de altruísmo ou o por outros
motivos, ela tira sua vida. Porém, antes, ela convoca e dá vida a cada deste
senset. Neste exato momento, todos estes sujeitos compartilham desta visão.
Após esta morte, todos, em algum
momento de suas vidas, terão experiências que não lhe pertences e aos poucos,
vão se conhecendo entre eles. Alguns terão uma ligação muito mais do que simples
compartilhamento, criando entre si sentimentos mais profundos. É o caso de Will,
Rileys, ou a farmacêutica karla com o alemão Wolfgang.
Estas relações amorosas serão um ponto
forte da trama, promovendo serenidade, ternura e sensibilidade. Porém, não é
somente de amor que vive a série, outros temas percorrerão o seriado e um dos
grandes emblemas é a questão de identidade, gênero e sexualidade que a série
aborda. Lito é o ator mexicano que faz papel de homens viril que leva as
mulheres a loucura pela sua masculinidade, entretanto ele é homossexual, é
casado com um homem, mas esconde de todos esta verdade. O motivo, é o medo que
isso possa prejudicar sua carreira.
Nomi, a hacker, é uma transexual que
mudou seu nome, sua identidade e sua vida, deixando para traz o passado da
identidade masculina e assumindo seu lado feminino, porém em suas relações
amorosas, acaba por se envolver com outra garota. Neste momento, entra em debate
uma tema problemático, uma questão complexa, subjetiva e delicada. A trama não
trabalha apenas com o fato de um homem se aceitar enquanto homossexual, mas
está ligada a gênero. E aqui o gênero não está ligado ao corpo físico, mas ao
que a pessoa sente enquanto indivíduo. Esta personagem entra como umas das mais
que recebe destaque por parte do enredo do seriado e talvez um dos motivos
esteja no fato que ela possa representar o álter ego de Lana Wachowski, que
recentemente optou pela mudança de sexo e assumiu uma nova identidade.
Outro ponto interessante do seriado é
que ele respeita cada cultura que representa, neste sentido, em cada país temos
suas culturas sendo mostradas e respeitadas e elas fazem parte da vida destes
sujeitos. Percebemos o poder da tradição na cultura japonesa, as dificuldades e
a força da resistência em permanecer vivo em Nairobi, África; as instabilidades
culturais ainda presentes na Alemanha contemporânea, um machismo exacerbado e
uma cultura de violência no México.
Num primeiro momento, os diretores nos
apresentam estes personagens, após isso, constroem sobre cada um deles, arcos a
serem trabalhados. Mas pouco a pouco, revelam toda mitologia da série, para
próximo ao final, unificar todos os personagens num desfecho comovente.
Após o sucesso mundial alcançado com a trilogia Matrix,
estes dois irmãos nunca conseguiram mais emplacar um grande sucesso. “Cold
Altas”, drama instigante sobre erros e acertos, envolvendo tempos diferentes,
foi recebido com ressalvas. Alguns o amaram, outros o desprezaram.
Contudo,
esta nova série é unânime, recoloca estes diretores no centro das atenções,
apresentando uma trama complexa e simples, profunda e bela, ousada e intensa.
Ousada porque as cenas que move a alguns personagens são fortes e quentes e
profunda porque os temas debatidos pelos diretores são universais e merecem serem
abordados.
Em meio a um objetivo por apresentar uma trama moldada por
cenas de ação, drama e com um leve tom de comédia, estes seriado nos entrega um
roteiro calcado em questões mais emblemáticas como preconceito, lealdade,
questão de gênero, passado e presente, família e amores.
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