Em “Flor do deserto” o que tem de peso sobre esse filme é a sua história. O drama real da modelo Waris Diries (Liya Kebede), uma garota que fugiu da miséria de sua terra para conquistar, anos mais tarde, as passarelas de vários países.
Essa história até poderia soar batido ou clichê, já que retrata o sonho da grande maioria das garotas. Mas aqui, a diretora não está interessada em abordar o caminho da menina humilde que é descoberta por um homem e transformada num ícone de beleza e da moda, mas no drama de uma garota que presa à sua cultura, ainda quando pequena é marcada por um sinal e uma tradição que a muda por completo.
O filme começa com Waris nas ruas da Inglaterra procurando por comida até que encontra por acaso Marylin (Sally Hawkins), uma balconista de loja. Ela, por insistência da garota a seguindo, a acolhe e arruma um simples emprego pra ela numa lanchonete. Essa é a primeira pessoa que mudará por completo de Waris. A segunda será Terry Donaldson (Timothy Spall), um fotógrafo que admirado com a beleza dela, a convence, com muita dificuldade, a ser fotografada por ele.
Após esses dois sujeitos mudarem, de forma distinta a vida dela, o longa mostra pouco a pouco sua ascensão como modelo e a dificuldade em conseguir um visto como cidadã inglesa, já que o seu passaporte expirou e ela pode ser deportada a qualquer momento.
Conseguido a realização desse caminho, o longa parte para o que realmente importa e veio: deflagrar e mostrar os horrores de uma tradição sobre a vida das mulheres de sua terra. Até esse momento da história, por meio de flash-back, já conhecemos praticamente todo o seu passado, do ponto em que era apenas uma garota que foi prometida em casamento a um velho da aldeia, de sua fuga para a casa de sua avó, até o ponto em que ela vai para a Inglaterra.
“Flor do deserto” não quer ser um conto de fadas, mas um filme denúncia sobre a miséria que assola a África, em mais específico a Somália e sobre a circuncisão que mesmo diante da inexistência desse fato no Alcorão, ainda acontece com fatores ligados a religião. Essa circuncisão consiste em cortar a região da genital feminina, retirar a clitóris e pós isso, costurar a ferida com espinhos dos cactos do deserto.
Esse procedimento, devido a precariedade com que é feito somado ao mal cuidado com a ferida, pode levar a uma infeção generalizada com consequência de morte e durante toda a vida da mulher esse procedimento ainda poderá causar fortes dores e problemas mais sérios. O motivo para tal prática está relacionado à pureza da mulher, somente assim é que elas poderão deixar de serem sujas.
Com relação ao filme, ele tem algumas falhas na estrutura de sua montagem. Aparecem no decorrer do longa cerca de quatro flash-back. O primeiro e o último têm sua importância, mas os outros dois quebram a fluência do roteiro. O uso em excesso desse recurso não faz bem ao filme e isso se percebe claramente nesse longa.
Outro ponto que de destoa de todo o drama é a inserção de um possível caso amoroso de Waris. Ele aparece em três momentos. Sua ponta é costurada ao final, mas sua presença não tem de fato uma importância para essa história. Deixa a entender que a diretora esqueceu desse detalhe na construção do roteiro e o colocou de última hora, prejudicando o todo.
Mas se há essas falhas, o peso do drama/história, o elenco e as fotografia ajudam. No começo do longa e ao final são mostradas belas paisagens de uma África desértica, seca e pobre. As cenas em que mostram de cima para baixo a pequena Waris andando no deserto são de uma beleza única.
A diretora soube mostrar com cautela e sem melodrama as dificuldades pelas quais essa população passa. No elenco a diretora optou por dar o papel principal a uma modelo africana, essa escolha dá mais veracidade ao drama e para dar um certo apoio e consistência ao elenco, ela optou por dois atores ingleses de peso, Timothy Spall e Sally Hawkins. Eles ao centro da trama são ótimos, destaque para Sally Hawkins
“Flor de deserto” é um tipico drama que aparentemente vai contar o mais do mesmo, mas que surpreende pelos rumos que tomam ao final e o desfecho é o clímax de todo esse drama. O discurso que encerra essa trama é comovente e serve como um recado, um claro recado.
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