Simples em seu contexto, porém com belas atuações e um clima de tristeza envolta de beleza sobre os seus personagens.
Harvey (Dustin Hoffman) vai para Inglaterra ver o casamento da filha que não vê há um bom tempo. Durante a viagem, ele tem problemas com seu emprego e chegando ao casamento, toda as desgraças que poderiam acontecer ao longo de sua vida, acontecem em menos de 24 horas: perde o emprego, fica hospedado num hotel sozinho, pois todos os convidados estão numa casa alugada pela ex-mulher e por fim, fica sabendo que a filha convidou o padrasto para levá-la ao altar. Após esses fatores,Harvey sente-se perdido e desorientado.
Paralelamente conhecemos também Kate (Emma Thompson). Ela é uma mulher simpática, sozinha e que tem uma mãe um pouco neurótica, ela liga a cada momento inoportuno para a filha informar que seu vizinho pode ser um assassino em série e que ela está em perigo. Kate perdeu as esperanças de encontrar alguém e no meio de tudo isso, tem que suportar sua mãe dando conselhos nada virtuosos ou animadores sobre a sua solidão. A vida para ela também não é nada fácil e percebemos sua angústia ainda nas primeiras cenas do filme, quando uma amiga do trabalho tenta lhe arranjar um encontro com a amigo da esposo. O que era para ser uma noite apenas agradável, torna-se num momento doloroso, a cena dela no banheiro é de uma profundidade imensa.
Nesse caminho tão perdido desses dois sujeitos, eles se encontram num restaurante. Ela pra almoçar, ele pra tentar ficar bêbado até o seu próximo voo chegar, já que perdeu o anterior. O que começa com tentativas de conversas nada rentáveis por parte dele, aos poucos, um certo companheirismo vai aproximando esse casal. Eles não tem nada em comum, seja nos gostos por literatura ou na forma de ver a vida, mas ainda sim eles conversam, trocam piadas nada engraçadas, caminham e caminham esperando o tempo passar.
O tempo passa e mesmo eles se despedindo diversas vezes ao decorrer do dia, Harvey sempre volta a querer encontrá-la, pois é como se ele quisesse apostar nesse encontro inesperado, uma chance para tentar ser feliz, se não feliz, algo parecido. E ela está nesse mesmo embate, nessa mesma sensação e expectativa.
O filme tem em sua estrutura um clima e ares de maturidade, de aceitação da vida. Tanto Harvey quanto Kate já passaram por relacionamentos, casos e não esperam grandes surpresas em suas vidas. Quando há esse encontro repentino entre eles, os dois percebem que há ainda algo esperando por eles. Não há ilusão ou grandes planos, pois a realidade é firme e forte sobre eles, porém mesmo assim, eles tentam. Nessa ideia entram em cena a euforia dele ao final do drama, as uvas dela empacotadas com todo o cuidado esperando por ele.
Outro grande destaque do longa é como seus personagens foram trabalhados e construídos com tanta delicadeza e isso também só é possível graças ao ótimo trabalho de Dustin Hoffman e Emma Thompson. Os dois estão incríveis em seus papéis, transparecem todos os sentimentos possíveis. Não sabemos por quais motivos Harvey se afastou de fato de sua família ou por qual razão Kate não tenha encontrado alguém em sua vida, mas é perceptível uma dor e tristeza em seus semblantes, uma ligeira melancolia em seus olhos, uma falta de algo.
O título não poderia ser melhor, “Tinha que ser você” obtém mais ternura e cumplicidade do que o original, isso ao meu ver, que no caso é “A última chance de Harvey”. Esse é um drama em que o peso do tempo e da vida estão sobre os ombros dos seus protagonistas, porém, mesmo diante desse fardo irreversível, eles ainda sonham e agem. Ao final, o que podemos sentir é um certo conforto misturado a uma alegria, uma sensação de aceitação envolta de um clima de maturidade pairando sobre o ar.
Poucas vezes uma comédia romântica se mostrou tão madura, e me fez sentir tão bem.
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