domingo, 4 de novembro de 2012

J. Edgar


Com um drama lento, calmo, boa trilha sonora e um competente elenco, Clint Eastwood tenta humanizar uma figura muita emblemática da história dos Estados Unidos.

Edgar  (Leonardo Di Caprio) é uma das figuras históricas estadunidense mais instigantes. Criador do FBI, a polícia federal norte-americana, esteve a frente do cargo pelos incríveis 48 de existência, ou seja, desde a sua criação até o momento de sua morte, ele coordenou e dirigiu essa que é uma das agências mais conhecidas e fortes atualmente. Mas para se manter no cargo, precisou usar muitos recursos ilegais, chantagens e ameaças.

Sua vida particular nunca esteve a mostra, sempre muito reservado, nunca se casou e tinha como um grande amigo e único praticamente, Clyde Tolson (Armie Hammer). Essa relação é até hoje vista como segundas intenções. É sobre a vida deste homem, sobre o nascimento e concretização de sua FBI, passando por alguns detalhes de sua vida pessoal que esse filme vai abordar. E isso de forma sempre delicada e terna, sempre tentando compreender, nunca julgando, mas sempre tentando compreender o lado homem dessa figura, o lado de dor, de erro, de busca, de desejo, enfim, aquele lado nosso humano que esquecemos de abordar.

Buscando o passado, num momento de pura tensão entre capitalistas e comunistas, Edgar vai dando seus primeiros passos, ganhando confiança, fazendo e desfazendo amigos. No meio disso tudo, algumas pessoas de extrema importância irão trafegar por esse caminho, pessoas que serão determinantes em sua vida. Anne Marie Hoover (Judi Denchi), sua mãe, uma mulher de presença forte, muito ligada ao seu filho e conservadora. Helen Gandy (Naomi Watts), sua secretária, uma pessoa de extrema confiança, estará com ele a todo o momento, do nascimento do FBI até a sua morte e por fim Clyde, grande amigo de Edgar, que conforme alguns relatos, era seu companheiro e que esteve com ele em todos os momentos de sua vida, sejam eles bons ou não. 


 
Clint realiza aqui um filme magnifico e esse elogio se dá pelo fato que ele consegue imprimir  nessa biografia uma humanização sobre essa figura central, sem se esquecer de alentar os defeitos do protagonista. Ele não é perfeito, nós já sabemos disso e podemos ver isso em suas atitudes, pois ele é arrogante, prepotente, orgulhoso, sistemático e jamais gosta que sua opinião seja desacatada. Não respeita o próximo e manipula a todos ao seu bem proveito. Geralmente numa biografia, os diretores, para tentar dramatizar suas história, modificam a personalidade, amenizam os defeitos, manipulam opiniões. Mas aqui não, ele mostra os dois lados desse personagem, e faz com que venhamos ver como ele realmente é, um homem de desejos, ambições, medos e defeitos.

Essa não é a melhor obra de Clint, isso é claro, mas também não é a pior. Um dos pontos positivos, ao meu ver, é que ele segura um pouco o lado dramático do filme, deixando a película um tanto fria, não deixando com que o espectador venha derramar lágrimas facilmente. A história é densa, não melodramática. 

Em Menina de outro, por exemplo, o diretor trabalha todos os planos, tomadas e detalhes para nos comover e sofrer com ela. Já em Edgar, ele tenta deixar o drama o mais sóbrio possível e isso engrandece a película. Há dor nas cenas, podemos perceber seu olhar diante do espelho, na briga com Clyde, mas estes momentos nunca se sobressaem, tudo é muito bem orquestrado para não trazer lágrimas fáceis.

Um ponto interessante é ver como essa agência foi obtendo respeito e isso com a ajuda do próprio cinema e como todos os jogos políticos estiveram à frente de todas as ações e jogadas políticas. Nessa drama, vida privada e pública se entrelaçam, trazendo poder, mas também sofrimento à Edgar, pois seus desejos não podem ser simplesmente vivenciados e isso por medo, por reputação ou preconceito. 



Tudo está claro, mas nada confirmado, a relação com seu amigo se estabelece dessa forma. Tudo está a nossas vistas, a troca de olhares, os jantares, os pedidos, as brigas, mas não, não está nada declarado. Isso nos mostra um lado que façamos com que nos sensibilize com esse personagem, pois nesse momento, está aí a figura humana, dona de medos e desejos e não aquela registrada pelas fotos, pelas notícias ou pela história oficial, ali está um homem e não apenas uma figura histórica. 

A trilha sonora é competente, forte e intensa, mas não se sobressaindo sobre a imagem, presente e nem tão presente. A fotografia é meio gélida, com um tom clássico e o elenco está formidável, com todos os elogios para Leonardo Di Caprio. Um excelente ator que vem desempenhando papéis fortes e com atuações esplêndidas dignas de indicações ao Oscar. Judi Dench está correta, Naomi Watts fica apagada, não percebível, não é que ela esteja ruim, não, ela não está, mas também não se destaca e Ammy Hammer também surpreende, se bem que seus trejeitos tentando se passar por um velho soam meio falso. O único ponto falho no filme foi com relação a maquiagem nos personagens de Helen e Clyde, elas ficaram sobrecarregadas e falsas demais.

Apesar desse detalhe, é um filme muito bem feito, não é a melhor obra desse grande diretor, mas também não decepciona. Sóbrio, correto e forte, com boas atuações e uma história interessante.


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