domingo, 4 de novembro de 2012

Jovens Adultos


Sabe aquela fase pela qual todos passamos, em que percebemos que a vida não é perfeita, que nada é como realmente queremos, mas que simplesmente são assim e que devemos seguir adiante, deixando assim a adolescência/juventude e enfim, crescendo. Isso geralmente acontece a todos, essa é a ideia. Bom, mas nem todos passam exatamente por todas essas fases, alguns meio que param numa parte deste caminho e simplesmente não amadurecem, não crescem e Mavis (Charlize Theron) está nesse momento.

Ela é uma escritora, dona de uma série de livros adolescentes. A série teve ótima recepção quando lançada e lhe rendeu muito prestígio e dinheiro, mas acabou e ninguém mais quer saber. Ela ainda não percebeu esse detalhe. A editora quer um final para a trama e a cobra constantemente, porém ela não sabe qual seria esse final, pois afinal, nem sabe como dar um final aos seus próprios dramas. Achar um desfecho coerente, adulto e maduro para uma personagem que se assemelha a própria autora é complicado, pois esse drama é a pura trama de sua vida.

Ao ficar sabendo que seu ex está casado e acabara de ser pai, ela olha, pensa e pensa. Olha a foto da criança e não se contém. Quer voltar a sua antiga cidade, não apenas para rever todos, mas para tentar conquistar de volta seu ex, afinal, eles foram feitos um para o outro. Ele era popular, ela também, namoravam, algo não deu certo, ela não quer saber o que deu errado, apenas que tê-lo novamente. Ele sendo casado e pai é um empecilho, mas Mavis nem liga pra isso, é apenas um detalhe da vida.

Quando volta, percebe que quase nada mudou, somente as pessoas que estão as sua volta. Mas mesmo assim, tudo ainda permanece chato, sem graça e com aquela cara de interior, movidas por pessoas sem futuro que vivem um dia após outro de suas pacatas e ridículas vidas.  Ela, pelo contrário, é a materialização de tudo com que sonhou. Mora numa cidade grande, foi bem sucedida na carreira, mesmo que seu ápice tenha chegado ao fim, ainda continua bela e atraente, isso ainda nos seus 37 anos de vida. Ela está bem, vive bêbada, andando com um cão que não para de latir, tentando dar um fim a uma série, mas nunca conseguindo produzir nada. Sim, ela está bem, ela está muito bem, ela pensa.



É com esse drama solto, com um roteiro muito bacana que Jason Reitman e Diablo Cody voltam a trabalhar juntos. O primeiro filme “Juno” foi soberbo, divertido e gostoso na medida certa, lá uma adolescente dava o tom a história, aqui é uma mulher que tenta guiar e fazer a coisa certa, isso aos seus olhos, mas que sempre faz tudo errado, e quando você pensa que ela irá crescer, ela simplesmente mata um personagem e continua.

O drama tem uma direção bem maneira e deixa para Theron toda graciosidade dessa personagem. Mesmo Mavis sendo arrogante e egocêntrica, gostamos dela. Charlize embeleza essa personagem entregando uma atuação profunda, intensa e divertida. Suas crises de bebedice e até o ponto mais forte do longa são bem levados pela atriz. O restante do elenco dá um belo de apoio ao filme, mas é Charlize Theron que dá estrutura e forma ao filme.

A trilha é bem trabalhada e os atos impensáveis dessa louca escritora também. Não é fácil amadurecer, alguns jamais conseguem, outros ficam no meio termo. Aceitar tudo e partir para novos rumos, sem mágoas e seguir não é tão simples, mas isso faz parte da vida. Mas Mavis fica preso a esse idílico mundo de uma forma muito divertida, mas aos poucos ela percebe que tudo que era especial para ela, particular, não era tão bem assim. O melhor exemplo disso é a música que ela escuta inúmeras vezes no carro, aquela canção era especial para ela, representava toda uma era, mas essa mesma música também era especial para outras pessoas, essa quebra a desperta e faz perceber que sim, nem tudo é belo, “mas” ..., esse mas a mantém presa nesse paraíso de arrogância até que o pior ela faz.

Um filme divertido, solto, leve e descontraído, tentando mostrar como pessoas podem crescer, outras nem tanto, mas ainda sim, todos tentam e tentam, ao seu modo, viver e superar a perda, a dor, a não realizações dos sonhos e a tentativa de revivê-los. Todos tivemos um momento de nossas vidas que foram mais do que importantes e nos prendemos a eles, mas estes fazem parte do passado, simplesmente do passado, sem nenhuma ligação com o presente. Assim é a vida, é contínua, ele pode ser lembrado, rememorado, mas não, ele não pode ser mais revivido. Isso é doloroso, isso é a vida.


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