terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Interiores





Uma obra densa, serena e introspectiva. Um mergulho na dor, uma tentativa de entender o silêncio que fica entre diálogos. Wood Allen traz com “Interiores” um dos seus filmes mais emblemáticos, dramáticos e singular.

Três irmãs convivem com uma dura realidade. A separação dos seus pais, divórcio esse que está sufocando e matando e vida Eve (Geraldine Page), a mãe delas. 

Renata (Diane Keaton) é a mais velha. Séria, ousada, fria e criativa. Não poupa palavras, é uma talentosa escritora, porém está passando por uma crise na produção. Respeitada no meio, é casada com um professor que não tem o mesmo prestígio que ela. Ele se sente menor que a esposa e essa sensação está aos poucos destruindo o casamento. 

Flyn (Kristin Griffith) é a do meio, sensível e muitas vezes frágil. Muito ligada com o pai, sempre está perto de sua mãe, porém a instabilidade e frieza por parte de Eve a machuca. Não sabe o que quer da vida, na verdade sempre protegida, não conseguiu se encontrar ou enfrentar algo. 

Joey (Mary Beth Hurt) é a mais nova e mais distante delas. Ela um misto das duas, sensível e forte, áspera e doce. Sobre ela não vemos muito já que o longa se centra apenas entre as duas irmãs mais velhas e tendo como motor de ira e movimento Eve. 




É com esse drama tão denso que Allen vai tentar trabalhar esse universo de dores e incertezas. “Interiores” faz uma alusão a esse espaço interno das casas, mas também ao espaço que está em nós. Os apartamentos e casas são uma representação de cada um destes personagens. A tentativa de Eve demoldar o apartamento de Fly é um modo dela querer ainda moldar os gostos e a vida de sua filha. Ela quer dominar os sentimentos desta filha que aos seus olhos é a mais distante dela. A casa de Renata sempre com tons escuros demonstrando incertezas com relação aos seus sentimentos, tanto que ela é a única a fazer análise. Não se conhece por completo. 

Tudo é tão gélido, tão vazio e tão espaçoso, sobram sentimentos. Não há sentimentos vivos, não há choques ou confrontos, não há nada. Nada é dito, nada. É nesse silêncio de palavras que Allen irá trabalhar toda dor presente nesta família. 

Fazendo uma forte referência a Ingmar Bergman, esse filme com nada se parece com a cinebiografia de Allen. Aqui não há aquele humor ou piadas sobre a vida. Os planos são estáticos, a abertura é ótima e seu desfecho esplêndido. Há tanto silencio nessa abertura e tanta calma, promovida pelos sons da maré no desfecho, um excelente trabalho do diretor. A personagem de Pearl (Maureen Stapleton) representa a vida que toda família não tem. Seu vermelho é pungente, é quente, é vivo, mexe e balança, chama a atenção e provoca. Não há como não percebê-lo, ela traz a vida a tanta morbidez e ao final, a uma personagem. 

Referencia final a Bergman é a cena final. A discussão entre Eve e Flyn é forte, dura e dilacerante. Todas as palavras não ditas são jogadas com tanta voracidade. Realidade e delírio se entrelaçam, jamais temos consciência do que esta acontecendo de verdade. Essa cena, essa discussão é uma total alusão a grande obra de Bergman, “Sonata de Outono”. Todas as palavras, sentimentos e dores são vividos nesse momento.

Luto, dor e angustia são sentimentos que merecem serem trabalhados. Eles fazem parte de nós, são eles que nos movem e nos fazem ser quem somos e “Interiores” trabalha nessa temática. Uma bela obra de Allen. Não é a sua melhor, mas é especial, porque ele trafega por um caminho não muito confortável e realiza um excelente filme.


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