Leandra Leal encarna com competência e maestria uma personagem intensa, ousada, perdida, forte e auto-destrutiva. Ela é Camila, uma jovem que sonha em ser escritora e vê nos fracassos de sua vida amorosa, a densidade necessária para lever essa história adiante. Ela se expõe e deixa revelado a todos que a cercam seus medos e desejos. Se fere, se machuca, sangra, xinga e vive ao extremo, mas sempre tentando.
O longa começa com Felipe (Juliano Cazarré) expulsando Camila do seu apartamento. Ela o traiu, ele nao aceita mais a relação, ela insiste que ele ainda a ama e que aquela traição foi por culpa dele também. De nada adiante, ela então vai morar por alguns dias na casa de um amigo, Marcio (Munir Kanaan). Lá, tenta se recompor, mas não, ela está em desespero, não aceitando tudo o que aconteceu.
Limpa constantemente a casa, numa atitude de tentar organizar sua vida, fuma inúmeros cigarros e toma remédios pra tentar controlar sua ansiedade. Ela quer ter o controle de tudo, mas devido a não o ter, se sente cada vez mais perdida. Presa no apartamento, sem emprego ou dinheiro, só lhe resta escrever e escrever. Primeiramente com fatos pessoais de sua vida que ela publica em seu blog, fato esse que deixa Felipe irado com ela. Depois de todas as suas desilusões amorosas, incluindo suas falhas e seus erros.
Camila tem o desejo de se tornar escritora. Vai buscar nas suas
desilusões amorosas a força que precisa. Primeiro do término do seu
namoro, depois com um caso, com seus erros e com tudo depois o que lhe
acontece. Depois, de todas as escolhas que faz, sendo erradas ou não.Como
em uma montanha russa ela cai, levanta, cai novamente, chega ao mais
puro e profundo poço e tenta novamente.
Os dias seguem e quando pensamos que tudo pode se ajeitar em sua vida, só piora. Muitos são as pessoas que tentam ajudá-la, mas todas ao fazer isso, acabam se ferindo. Ela quer fazer o que é certo, mas sempre faz o que é errado. Quando sente que conseguiu se encontrar, percebe a dor da desilusão e sabe como é ser traída, ela chora, mas se levanta, em busca de um nome próprio, uma indetidade que é exclusivamente sua.
"Nome Próprio" com direção de Murillo Salles é um filme intenso. Baseado na obra de Clarah Averbucks, ele retira dessa história toda carga dramática. Não é um drama fácil, pois Camila, nossa protagonista, erra e erra feio. Trai o namorado, briga com ele, usa todos a sua volta como objetos, transa com o namorado da amiga na sua frente. Tudo que uma protagonista jamais faria e com isso, fica difícil torcemos por ela. Mas ainda sim, torcemos.
O longa tem um direção segura, uma trilha sonora suave que nao pesa as cenas. A iluminação deixa a todos mais cru e revela todas as imperfeições de seus personagens. Vemos uma Leandra Leal verdadeira, sem beleza e com susa ansiedades estampadas em cada movimento seu. Algums cenas dizem muito, os pés que não se param de bater quando ela está em frente ao computador, ou no banho, quando o ralo está intupido. A tentativa constante de limpar a casa, tudo ao seu redor está, aos seus olhos, errado, sujo, errado e ela tenta, mas sabe que nao pode dominar toda sua vida. A tentativa de lavar as escadarias do apartamento é uma prova disso.
"Nome próprio" foi bem recebido pela crítica, mas infelizmente exibido em poucas salas. Um filme intenso e que nos prende. Um pouco demorado, poderia ter uma edição melhor. As falas em off, com as escritas aparecendo na tela e nas paredes, deixam o drama ainda mais belo. A cena final, tão poética e profunda, deixam esse longa ainda mais encantador. Duas Camilas diante de nós, com seus medos e ousadia, tentando e tentando, mesmo se ferindo. Essa é a sua busca, a de se encontrar em meio a dor, se punindo, se machucando. Ela vê na dor e no erro um motor para a sua vida. Assim é esse filme, um drama onde não há momentos de risos, em que a dor se estabele como impulso que rege a vida.
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