Em “Amor sem pecados” ou no título
original “Adore” temos Naomi Watts e Robin Wright em atuações esplendidas numa
trama que envolve amores, desejos e traições.
Lil (Naomi Watts) e Roz (Robin Wright)
são duas amigas inseparáveis. Sempre juntas, passam dias, noites e horas entre
si. A união é tanta que muitos da cidade, inclusive o esposo de Roz, acham que
as duas tem um caso de amor as escondidas. Mas não, na verdade elas são apenas
grandes amigas e possuem uma ligação forte, talvez amor, mas sem conotação sexual.
Lil tem um filho, Ian (Xavier
Samuel) e Roz Tom (James Frecheville). Os dois, devido a proximidade das mães,
crescem juntos e tornam-se posteriormente também dois grandes amigos. Na
adolescência, eles sempre estão juntos, conversam e sempre estão com suas mães.
Numa certa noite, Ian como de hábito, posa na casa de Tom. Na madrugada ele
provoca Roz a beijando. Ela tenta resistir, porém sede ao rapaz.
Tom presencia a cena, inquieto,
fica movido por um sentimento de fúria e traído vai até Lil, conta-lhe tudo e
tenta fazer o mesmo. Ela resiste, mas
movida pelos mesmos sentimentos de Tom, se entrega a ele. A partir desse fato,
apesar de Lil e Roz acharem errado e entrarem num acordo que tal situação não
pode ser levada a diante, elas continuam com estes relacionamentos e vivenciam
esse breve e polêmico caso.
É interessante perceber nesse filme
como a diretora aborda o despertar dessas relações de forma lenta, cativante e
bacana no caso dos sentimentos de ambos, entretanto ao mesmo tempo, sem tempo a
perder, pois já no meio do longa temos inseridos novos personagens e mudanças
radicais acontecem a vida de todos.
O tema é complicado, afinal, as duas são
como mães para esses garotos. Se em Ian e Roz há um forte sentimento que se
percebe desde a primeira cena, em Tom e Lil há uma tensão sexual movida por
raiva e fúria, porém mais adiante, os dois também estão fortemente ligados por
sentimentos mais profundos. Mas elas sabem que essa situação não irá durar para
sempre e quando os primeiros sinais aparecem, a razão tenta prevalecer.
Algumas cenas são extremamente
belas, o trabalho envolvendo o medo da velhice, do tempo que passa, das
vivências que nos marcam é incrível. Tanto Naomi quanto Robin deixam a mostra
sua beleza, porém uma beleza marcada pelo tempo, pelos dias, pelos anos, pela
vida. Seus olhos expressam um medo, receio e temor.
Todos sabem que estão
vivendo uma ilusão e em breve terão que despertar. E esse despertar acontece e
todos, sem exceção, sofrem essa dor. Destaque para os momentos entre as duas mulheres,
onde a dramaticidade chega ao seu ápice e a câmera fixada em seus olhos e
semblantes nos transpassa toda dor, sem nos revelar uma única palavra. Um drama
de olhares, profundos olhares.
O longa possui uma fotografia muito
boa e é recheado por belas paisagens. Uma cidade com belas praias, dias com sol
sempre presente e um céu de dar inveja. Sempre os personagens estão a beber,
nadar e se encararem. Pode-se perceber uma verdadeira redoma de vidro entre
eles, pois quando toda verdade é vista pelos quatro, todos tentam levar da
melhor forma possível essa relação. Porém, nem toda beleza do local impede que
tudo permaneça bem constantemente.
A direção é de Anne Fontaine, são
delas ainda os trabalhos “Coco antes de Chanel” e “A garota de Monaco”. O
roteiro pertence ao vencedor do Oscar Chritopher Hampton, autor dos ótimos
“Ligações Perigosas” e “Desejo e Reparação”. O drama foi adaptado do livro “As
Avós" de Doris Lessing.
Quanto ao elenco, destaque mesmo
para Naomi Watts e Robin Wright que vivem com beleza e profundidade suas
personagens. Watts que ficou negativamente marcada por sua atuação como a
Princesa Daiana, com esse papel mostra qualidade e profundidade, apagando seu
último papel e Robin leveza, maturidade e complexidade.
O longa foi duramente criticado por
alguns festivais, sendo considerado polêmico e tratado com sarro devido as
cenas de sexo, que nem são tantas (True Blood
mostra muito mais) e devido ao teor forte que bate de frente com alguns tabus.
Entretanto, tirando esses moralismos, o drama apresenta uma história terna,
sensível e feita com delicadeza, sem apelar ou partir para o sensacionalismo
barato e polêmico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário