quarta-feira, 23 de julho de 2014

Adore / Amor sem Pecados





Em “Amor sem pecados” ou no título original “Adore” temos Naomi Watts e Robin Wright em atuações esplendidas numa trama que envolve amores, desejos e traições.

Lil (Naomi Watts) e Roz (Robin Wright) são duas amigas inseparáveis. Sempre juntas, passam dias, noites e horas entre si. A união é tanta que muitos da cidade, inclusive o esposo de Roz, acham que as duas tem um caso de amor as escondidas. Mas não, na verdade elas são apenas grandes amigas e possuem uma ligação forte, talvez amor, mas sem conotação sexual.

Lil tem um filho, Ian (Xavier Samuel) e Roz Tom (James Frecheville). Os dois, devido a proximidade das mães, crescem juntos e tornam-se posteriormente também dois grandes amigos. Na adolescência, eles sempre estão juntos, conversam e sempre estão com suas mães. Numa certa noite, Ian como de hábito, posa na casa de Tom. Na madrugada ele provoca Roz a beijando. Ela tenta resistir, porém sede ao rapaz. 

Tom presencia a cena, inquieto, fica movido por um sentimento de fúria e traído vai até Lil, conta-lhe tudo e tenta fazer o mesmo.  Ela resiste, mas movida pelos mesmos sentimentos de Tom, se entrega a ele. A partir desse fato, apesar de Lil e Roz acharem errado e entrarem num acordo que tal situação não pode ser levada a diante, elas continuam com estes relacionamentos e vivenciam esse breve e polêmico caso.



 É interessante perceber nesse filme como a diretora aborda o despertar dessas relações de forma lenta, cativante e bacana no caso dos sentimentos de ambos, entretanto ao mesmo tempo, sem tempo a perder, pois já no meio do longa temos inseridos novos personagens e mudanças radicais acontecem a vida de todos. 

O tema é complicado, afinal, as duas são como mães para esses garotos. Se em Ian e Roz há um forte sentimento que se percebe desde a primeira cena, em Tom e Lil há uma tensão sexual movida por raiva e fúria, porém mais adiante, os dois também estão fortemente ligados por sentimentos mais profundos. Mas elas sabem que essa situação não irá durar para sempre e quando os primeiros sinais aparecem, a razão tenta prevalecer. 

Algumas cenas são extremamente belas, o trabalho envolvendo o medo da velhice, do tempo que passa, das vivências que nos marcam é incrível. Tanto Naomi quanto Robin deixam a mostra sua beleza, porém uma beleza marcada pelo tempo, pelos dias, pelos anos, pela vida. Seus olhos expressam um medo, receio e temor. 

Todos sabem que estão vivendo uma ilusão e em breve terão que despertar. E esse despertar acontece e todos, sem exceção, sofrem essa dor. Destaque para os momentos entre as duas mulheres, onde a dramaticidade chega ao seu ápice e a câmera fixada em seus olhos e semblantes nos transpassa toda dor, sem nos revelar uma única palavra. Um drama de olhares, profundos olhares. 



O longa possui uma fotografia muito boa e é recheado por belas paisagens. Uma cidade com belas praias, dias com sol sempre presente e um céu de dar inveja. Sempre os personagens estão a beber, nadar e se encararem. Pode-se perceber uma verdadeira redoma de vidro entre eles, pois quando toda verdade é vista pelos quatro, todos tentam levar da melhor forma possível essa relação. Porém, nem toda beleza do local impede que tudo permaneça bem constantemente. 

A direção é de Anne Fontaine, são delas ainda os trabalhos “Coco antes de Chanel” e “A garota de Monaco”. O roteiro pertence ao vencedor do Oscar Chritopher Hampton, autor dos ótimos “Ligações Perigosas” e “Desejo e Reparação”. O drama foi adaptado do livro “As Avós" de Doris Lessing. 

Quanto ao elenco, destaque mesmo para Naomi Watts e Robin Wright que vivem com beleza e profundidade suas personagens. Watts que ficou negativamente marcada por sua atuação como a Princesa Daiana, com esse papel mostra qualidade e profundidade, apagando seu último papel e Robin leveza, maturidade e complexidade. 

O longa foi duramente criticado por alguns festivais, sendo considerado polêmico e tratado com sarro devido as cenas de sexo, que nem são tantas (True Blood mostra muito mais) e devido ao teor forte que bate de frente com alguns tabus. Entretanto, tirando esses moralismos, o drama apresenta uma história terna, sensível e feita com delicadeza, sem apelar ou partir para o sensacionalismo barato e polêmico. 



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