Almodovar é um grande diretor, seus
filmes são marcados por personagens fortes, bizarros, extravagantes e que
caminham entre o amor e o ódio, enfim vivem de extremos. Em toda película,
percebe-se um segredo que é capaz de mudar o destino de todos os envolvidos em
sua trama.
Apesar de que nos últimos anos seus
filmes tem-se mostrado frágeis, em sua trajetória há ainda grandes obras para o
cinema. Eu particularmente considero “Tudo sobre minha mãe” como seu grande
filme, entretanto esse “Carne tremula” não fica tão atrás.
Victor (Liberto Rabal) nasce a
caminho do hospital, o parto é feito no ônibus. O tempo passa e ele cresce,
torna-se num jovem de certa forma inocente e sincero nas palavras. Um
personagem que se não mudar seu modo de ser, poderá sofrer as amarras da vida.
Ele está interessado numa jovem, Elena
(Francesca Neri). Mas ela não o deseja. Victor não consegue entender o motivo,
afinal ficaram há uns tempos atrás e tiveram uma relação sexual. Para ele isso
já é de fato o suficiente para se ter algo, um compromisso. Porém ela não pensa
assim. Victor vai até o apartamento dela, tenta convencê-la dos seus
sentimentos e os dois acabam brigando.
Dois policiais estão passando pela
região, vêem a briga e sobem para interferir. Sancho (José Sancho) está bêbado,
acabara de brigar com a esposa. Ele suspeita que ela o esteja traindo. David
(Javier Bardem), seu amigo, está com receio, com medo que o amigo cometa alguma
burrice.
Os dois entram no apartamento e
após uma discussão forte, um acidente acontece e Davi é atingindo por uma bala
no momento em que Victor e Sancho estão brigando pela arma. Victor é preso,
Davi se envolve com Elena e Sancho permanece casado com sua esposa. A vida
segue.
Após seis anos presos, Victor sai da cadeia com o desejo de se vingar, tanto de Elena quanto de Davi. Ele se envolve por coincidência com Clara (Ángela Molina), esposa de Sancho. Pronto, o cerco está armado e um final trágico está à espera de todos.
Em “Carne Tremula” Almodovar nos
entrega um drama cheio de reviravoltas, uma trama marcada pelo amor, ódio e
desejos. A carne deseja, cobiça e quer sentir, desde um toque de puro prazer,
até um toque de ternura e amor e será por isso que seus personagens viverão. As cores como sempre marcam a obra
do autor. Nada muito forte como foi visto em outros filmes, mas ainda sim,
sempre presentes. O vermelho ganha um destaque especial. A cidade de Madri
recebe um tratamento belo e extraordinário do diretor.
Almodovar gosta do diferente, do
extremo e do bizarro, para se perceber essas características em sua filmografia
é só lembrar-se de filmes que marcaram sua carreira, como os longas “Tudo sobre
minha mãe”, “Má Educação”, “Fale com ela”, ou mesmo o mais singelo “Volver”.
Seus filmes nos apresentam historias fortes, que comovem e arrebatam, um
verdadeiro dramalhão, porém com qualidade, bem trabalhado e direcionado.
Outro destaque em seus filmes são
suas personagens femininas que sempre se destacam. Mulheres fortes, ousadas,
sobreviventes que se num momento de suas vidas são mostradas como frágeis, após
sofrerem um impacto pela vida, tomam as rédeas de suas dores e se levantam. Ou
seja, é quando pensamos que somos fracos, que vemos o quão somos fortes.
E em “Carne Tremula” não é
diferente, mas aqui, os personagens masculinos também se destacam. Victor
carrega as dores sobre seus ombros, quando tenta fazer algo movido pelos seus
sentimentos, é marcado pelo destino. Quando tem a chance de bater de frente,
ele se resguarda e se mantém calado. Elena em seus primeiros momentos mostra-se
forte, destemida, insensível, porém se revela mais adiante como frágil e
desprotegida. Clara é oposto, começa o longa como frágil e injustiçada, que
sofre nas mãos do esposo, entretanto com o desenrolar do drama, mostra um lado
mais voraz, forte, determinado e incrivelmente forte. Davi se contrapondo a
Victor se apresenta como correto, honesto e compassivo. Ao final, revela também
defeitos e falhas, um lado vingativo e desonesto.
Enfim, seus personagens são humanos
e por serem tão humanos, os sentimentos os guiam. Nunca a razão prevalece de
fato e as cores vêem para demonstrar isso, cores fortes, quentes e ousadas. As
cenas de sexo também são fortes, intensas e vorazes. Os corpos estão a mostra,
o suor cai do rosto, o prazer está presente em suas faces.
“Carne Tremula” segue a estrutura
de um filme de Almodovar, um drama intenso e forte, vibrante e quente, onde a
trama que conduz seus personagens beira o trágico, mas ainda sim são
personagens trabalhados com muita sensibilidade, ternura e humanidade. Seus
trabalhos são marcados por esses detalhes, por essas bizarrices que em alguns
promove um desgosto, em outros uma forte admiração.
Como não se encantar pela
personagem extremamente profunda de Penelope Cruz em “Volver” ou pela história
sobre dor, vida, morte e redenção em “Tudo sobre minha mãe”. Assim como estes
filmes já citados, “Carne tremula” é tudo isso, seguro, firme, forte, comovente
e poderoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário