Vida, morte, a vida continua. Como
um ciclo, como um eterno retorno sem fim. Alguns ciclos se fecham, outros
jamais se encerrarão. Assim é a vida.
Na quarta e última temporada de The Big C temos Laura Linney dando vida
pela última vez a uma professora que nestes quatro anos aprendemos a amar.
Cathy é correta, coerente, uma dona
de casa exemplar. Entretanto todo o seu mundo entra em colapso ao descobrir ter
um câncer em estágio terminal. Para se ter ordem, precisa se estabelecer o
caos. Nestas três temporadas, essa
professora passou por acertos, erros e falhas. Momentos de ternuras a de
felicidades, momentos de raiva a dor.
Na primeira temporada, ao descobrir
o diagnóstico da doença, Cathy negou seu tratamento, sua doença e guardou para
si toda a verdade. “Negação”, foi essa a instância que direcionou a personagem.
No segundo ano, um sentimento de
fúria a tomou. Ao perceber a vida que tinha e tudo ao seu derredor, sentiu uma
ânsia em viver e uma raiva por estar morrendo. No terceiro ano, há um clima de
trocas de valores, de importâncias. Tanto a morte como a vida ganham destaque.
E assim foi por três anos. E eis que The
Big C veio para encerrar sua trama na quarta temporada.
Para este quarto ano a série fez
apenas um especial com quatro episódios com uma hora de duração cada. Dentro
dessa temporada dois estágios foram abordados: o luto/depressão e a aceitação,
finalizando assim o enredo da série que seria abordar os cinco estágios da
morte: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.
Neste quarto ano a série chega ao
seu ápice e entrega uma trama bela, comovente e esplêndida. Desde sua abertura
que é modificada até a trilha sonora, tudo recebe um tratamento especial,
cuidadoso, apurado e dedicado. O drama ganha força e o humor fica um pouco de
lado.
Nesta última temporada o arco é
apenas centrado em Cathy, em sua vida e morte. Tudo gira em torno desse drama,
dessa idéia. Não há subtramas, enredos ou dores envolvendo os outros, apenas
Cathy.
Entra em cena uma personagem
recorrente, a psicóloga de Cathy. Ela terá um papel fundamental na série,
colocando nossa protagonista sempre contra a parede com as próprias afirmações
desta. Num primeiro momento, essa personagem entra em cena como a profissional
que irá guiar Cathy para aceitar seu derradeiro fim, mas ao final, percebe-se
uma outra função à essa personagem.
Nesse sentindo, em The Big C temos apenas o fim, o começo
ou apenas uma continuidade. A vida continua, não há ciclos para se fecharem,
ideias para serem compreendidas, verdades para serem aceitas. Ainda ao final,
três correntes religiosas tentam explicar a vida e a morte. Não há como saber o
que de fato nos espera, mas temos a fé para nos dar uma breve certeza.
Aceitação, esse é um processo
difícil e doloroso. Aceitação não é conformação, é compreender a vida em suas
conquistas e perdas e ter a consciência que deu o melhor de si.
Quando a morte entra em cena, a
vida mostra sua face, mostra sua beleza, mostra sua riqueza. Nesse sentido,
vida e morte são extremos que se completam e o caminho entre estes dois
percursos já não são apenas de dores, mas são experiências cheias de vida, de
ternura e beleza. Ate nos conflitos já vemos grandiosidade. Cada ato, acerto ou
falha nos revelará acertos e caminhos.
The Big C com ternura e
simplicidade brilhou, ao seu modo brilhou. Com graça entregou uma trama rica,
profunda e que deixará saudades. Laura Linney em seu último ano está soberba,
assim como o roteiro, a direção e todo elenco. Não há muito que dizer, The Big C foi de fato uma grande série.
Enfim, a vida continua.