sexta-feira, 3 de outubro de 2014

The Big C - Terceira Temporada



 
Quando a morte entra em cena, a vida mostra sua face.

The Big C em seu terceiro ano apresentou bons momentos, entretanto algumas falhas foram perceptíveis, porém apesar destes detalhes, a série ainda conseguiu brilhar com ternura, leveza e um humor negro maravilhoso.

Cathy (Laura Linney) é uma mãe, dona de casa e professora sistemática, comportada e que faz tudo conforme o sistema pede.  Porém tudo em sua vida desmorona ao descobrir que possui um câncer em estágio terminal. Mas o que poderia ser um começo para se lamentar, ela sente como um sopro de liberdade, pois já pode ser livre das amarras que a prendem em sua vida. É por este caminho que a série trilha, ora tocando no lado engraçado da vida, ora nos banhando com um belo drama. 

Nesta terceira temporada Cathy recebe boas notícias. O tratamento para sua doença está surtindo efeito e seus tumores estão regredindo, ou seja, seu tempo de vida aqui na terra está sendo prolongado. Diante dessa notícia, ela vibra e fica feliz. Quando a morte mostra sua face, a vida retribui na mesma medida.

Seu marido, Paul (Oliver Platt) na última temporada, teve um enfarto e ficou entre a vida e a morte. Porém ainda não chegou a hora dele e ele se recupera, mas assim como ela, ele passar a olhar tudo em sua volta de forma diferente. Então ele passa a escrever um blog contando toda a sua experiência de vida.

Nesta terceira temporada entra para o elenco fixo uma personagem magnífica, belamente interpretada por Susan Sarandon. Ela é Joy, uma mulher que depois de ter lutado contra o câncer e tê-lo vencido, passa a viajar por todo pais realizando palestras de auto-ajuda para mulheres. Joy terá uma função de extrema importância nesse terceiro ano, pois se começa o ano como uma personagem que poderá trazer bons ares a Cathy, se revela ao final como alguém que não tem boas intenções assim. 




 Além desse arco principal, outros personagens da série ganham suas tramas paralelas e tem seus arcos encerrados de forma interessante ao final da temporada. Adam (Gabriel Basso) passa a ter uma maior aproximação com a fé, como uma forma de conseguir superar esse momento delicado de sua vida. Andrea (Gabourey Sodibe) se liga a suas raízes africanas e busca colocar toda essa identidade em destaque e por fim, Sean (Phyllis Somerville), o irmão pirado de Cathy, se envolve num relacionamento nada convencional. 

Neste terceiro ano, apesar destas tramas estarem bem estruturadas e os personagens ainda se manterem cativantes como sempre, algo não deu certo. Um arco construindo em torno de Cathy e que não foi bem explicado, se mostrou interessante, mas devido a temporada ter neste ano apenas dez episódios, penso eu que não se mostrou muito eficaz. Nossa protagonista, devido as suas idas ao hospital, acaba por passar a freqüentar um bar perto do hospital e lá se dá outra identidade totalmente diferente. 

O que é interessante de se perceber nessa trama é que esse bar representa um refúgio para essa professora. Ou seja, se este local entra como uma fuga, isso quer dizer que sua vida ainda continua fora de suas mãos, sem seu controle e isso lhe faz mal. Outro ponto bacana a se perceber nesse arco é o modo como ela constrói essa nova personalidade, onde tudo o que deseja se torna real ali. Quando nos deparamos com o novo, podemos ser quem quisermos, entretanto esse “podemos” jamais se concretiza de fato, pois ele fica sempre no campo do desejo e nunca da realidade. Essa trama foi interessante, porém entrou do nada e saiu do nada e isso prejudicou a temporada. 



 Outra história não muito bem estruturada foi com relação ao desejo de Cathy em ser mãe novamente. Foi algo inesperado e fora do contexto. Mais pareceu que esse arco esteve ali apenas para preencher uma história.

Mas se estes momentos foram fracos, outros compensaram e a presença melhor foi a de Joy e a forma como ela deixa a serie também marcou. Nada podemos controlar nessa vida, para se receber a morte, basta termos o dom da vida e Joy representa isso. Desde o começo do seriado, essa noção da imprevisibilidade que rege a vida foi mostrado de leve e de forma singela pelos roteiristas e se fecha belamente na figura de Joy. Ela é ousada, deseja viver e move a todos os outros ao seu redor com sua voracidade pela vida. Entretanto, ainda sim, somos frágeis e nada podemos controlar nessa vida e a morte é a materialização desta falta de controle. Quando a morte chega, ela simplesmente chega e não há nada que podemos fazer para impedir isso e Cathy compreende isso. 

Negociação, essa foi a idéia deste terceiro ano. Cathy ao perceber que pode vencer seu câncer, doença essa que é a materialização da morte, ela busca vorazmente viver. Ela agora não deseja mais a morte, pelo contrário, deseja ainda mais a vida. Há nesse sentindo um balanço entre a vida e a morte, entre estes dois extremos de nossa existência. É nesse momento que a série acerta e encontra seu momento de destaque. 

Num primeiro momento a serie embarcou no tema da negação, no segundo ano foi um sentimento de fúria e raiva que tomou todo o seriado. Neste terceiro ano há um jogo, ou seja, um balanço entre a vida e a morte. Vida e morte caminham lado a lado, lados opostos que se completam. 

The Big C em seu terceiro ano não agradou a todos os fãs e o último episódio deixou muitas dúvidas no ar, uma certa incerteza pairou sobre a trama, tipo “para onde estamos indo?”. Mas ainda sim, a série se encerou de forma encantadora e bela e foi levada para mais uma temporada, o quarto e último ano desta série. Apesar dos seus poucos dez episódios, o seriado conseguiu dar conta do eixo principal da trama e cumpriu a que veio: entregar uma história divertida, cativante e ao mesmo tempo, marcada pela dor, pelo medo e pela morte. 



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