Quando a morte entra em cena, a
vida mostra sua face.
The
Big C em seu
terceiro ano apresentou bons momentos, entretanto algumas falhas foram
perceptíveis, porém apesar destes detalhes, a série ainda conseguiu brilhar com
ternura, leveza e um humor negro maravilhoso.
Cathy (Laura Linney) é uma mãe,
dona de casa e professora sistemática, comportada e que faz tudo conforme o
sistema pede. Porém tudo em sua vida
desmorona ao descobrir que possui um câncer em estágio terminal. Mas o que
poderia ser um começo para se lamentar, ela sente como um sopro de liberdade,
pois já pode ser livre das amarras que a prendem em sua vida. É por este
caminho que a série trilha, ora tocando no lado engraçado da vida, ora nos
banhando com um belo drama.
Nesta terceira temporada Cathy
recebe boas notícias. O tratamento para sua doença está surtindo efeito e seus
tumores estão regredindo, ou seja, seu tempo de vida aqui na terra está sendo
prolongado. Diante dessa notícia, ela vibra e fica feliz. Quando a morte mostra
sua face, a vida retribui na mesma medida.
Seu marido, Paul (Oliver Platt) na
última temporada, teve um enfarto e ficou entre a vida e a morte. Porém ainda
não chegou a hora dele e ele se recupera, mas assim como ela, ele passar a
olhar tudo em sua volta de forma diferente. Então ele passa a escrever um blog
contando toda a sua experiência de vida.
Nesta terceira temporada entra para
o elenco fixo uma personagem magnífica, belamente interpretada por Susan Sarandon.
Ela é Joy, uma mulher que depois de ter lutado contra o câncer e tê-lo vencido,
passa a viajar por todo pais realizando palestras de auto-ajuda para mulheres.
Joy terá uma função de extrema importância nesse terceiro ano, pois se começa o
ano como uma personagem que poderá trazer bons ares a Cathy, se revela ao final
como alguém que não tem boas intenções assim.
Além desse arco principal, outros
personagens da série ganham suas tramas paralelas e tem seus arcos encerrados
de forma interessante ao final da temporada. Adam (Gabriel Basso) passa a ter
uma maior aproximação com a fé, como uma forma de conseguir superar esse
momento delicado de sua vida. Andrea (Gabourey Sodibe) se liga a suas raízes
africanas e busca colocar toda essa identidade em destaque e por fim, Sean
(Phyllis Somerville), o irmão pirado de Cathy, se envolve num relacionamento
nada convencional.
Neste terceiro ano, apesar destas
tramas estarem bem estruturadas e os personagens ainda se manterem cativantes
como sempre, algo não deu certo. Um arco construindo em torno de Cathy e que
não foi bem explicado, se mostrou interessante, mas devido a temporada ter
neste ano apenas dez episódios, penso eu que não se mostrou muito eficaz. Nossa
protagonista, devido as suas idas ao hospital, acaba por passar a freqüentar um
bar perto do hospital e lá se dá outra identidade totalmente diferente.
O que é interessante de se perceber
nessa trama é que esse bar representa um refúgio para essa professora. Ou seja,
se este local entra como uma fuga, isso quer dizer que sua vida ainda continua
fora de suas mãos, sem seu controle e isso lhe faz mal. Outro ponto bacana a se
perceber nesse arco é o modo como ela constrói essa nova personalidade, onde
tudo o que deseja se torna real ali. Quando nos deparamos com o novo, podemos
ser quem quisermos, entretanto esse “podemos” jamais se concretiza de fato,
pois ele fica sempre no campo do desejo e nunca da realidade. Essa trama foi
interessante, porém entrou do nada e saiu do nada e isso prejudicou a
temporada.
Outra história não muito bem
estruturada foi com relação ao desejo de Cathy em ser mãe novamente. Foi algo
inesperado e fora do contexto. Mais pareceu que esse arco esteve ali apenas para
preencher uma história.
Mas se estes momentos foram fracos,
outros compensaram e a presença melhor foi a de Joy e a forma como ela deixa a
serie também marcou. Nada podemos controlar nessa vida, para se receber a morte,
basta termos o dom da vida e Joy representa isso. Desde o começo do seriado,
essa noção da imprevisibilidade que rege a vida foi mostrado de leve e de forma
singela pelos roteiristas e se fecha belamente na figura de Joy. Ela é ousada,
deseja viver e move a todos os outros ao seu redor com sua voracidade pela
vida. Entretanto, ainda sim, somos frágeis e nada podemos controlar nessa vida
e a morte é a materialização desta falta de controle. Quando a morte chega, ela
simplesmente chega e não há nada que podemos fazer para impedir isso e Cathy
compreende isso.
Negociação, essa foi a idéia deste
terceiro ano. Cathy ao perceber que pode vencer seu câncer, doença essa que é a
materialização da morte, ela busca vorazmente viver. Ela agora não deseja mais
a morte, pelo contrário, deseja ainda mais a vida. Há nesse sentindo um balanço
entre a vida e a morte, entre estes dois extremos de nossa existência. É nesse
momento que a série acerta e encontra seu momento de destaque.
Num primeiro momento a serie
embarcou no tema da negação, no segundo ano foi um sentimento de fúria e raiva
que tomou todo o seriado. Neste terceiro ano há um jogo, ou seja, um balanço
entre a vida e a morte. Vida e morte caminham lado a lado, lados opostos que se
completam.
The Big C em seu terceiro ano não
agradou a todos os fãs e o último episódio deixou muitas dúvidas no ar, uma
certa incerteza pairou sobre a trama, tipo “para onde estamos indo?”. Mas ainda
sim, a série se encerou de forma encantadora e bela e foi levada para mais uma
temporada, o quarto e último ano desta série. Apesar dos seus poucos dez
episódios, o seriado conseguiu dar conta do eixo principal da trama e cumpriu a
que veio: entregar uma história divertida, cativante e ao mesmo tempo, marcada
pela dor, pelo medo e pela morte.
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