“Fim de semana” poderia até ser
um drama simples, a primeira vista que fala apenas sobre sexo, drogas e coisas
banais, entretanto não, esse longa vai mais além. Uma trama baseada em
personagens que numa primeira vista são fechados, calados e reservados, mas que
com o desenvolvimento do drama vemos que não, são sensíveis e sonhadores. Com o
desenrolar da história, conhecemos melhor seus sentimentos e passamos a nos
identificar e a compreender seus medos, devaneios e desejos mais contidos.
Russel (Tom Cullen) está saindo
de uma confraternização na casa de um amigo. Apesar dos sorrisos e da sua
tentativa de ficar a vontade, percebe-se no seu olhar um mal estar em não
querer estar ali. Voltando para casa, resolve descer numa boate, lá entra e
permanece e acaba conhecendo um cara com quem vai para cama, Glen (Chris New).
No dia seguinte, Russel então
leva café para Glen na cama que sorri da atitude dele, nessa hora percebemos as
diferenças sutis entre estes dois sujeitos. Russel é mais fechado, calado,
sentimental e que deseja no fundo encontrar alguém bacana com que possa ter um
compromisso mais sério. Já Glen não, é mais solto, ousado e não está ligado a
este tipo de relações ou sentimentos.
Durante a conversa, Glen pede
para que Russel faça uma declaração do que ele achou da relação sexual que
tiveram, sobre ele e sobre a noite. Segundo Glen, é para um trabalho da
faculdade, é uma pesquisa que ele está desenvolvendo para compreender as
atitudes do outro que nos cerca. Em certa altura dessa cena, Glen relata que quando
uma pessoa chega a um lugar desconhecido, ela pode ser o que deseja ou
transparecer quem ela deseja ser. Entretanto, ela não consegue, há uma barreira
que não a permite fazer isso. Entre esse desejo de ser o que deseja de fato e
esta barreira que a impossibilita, há uma camada, uma parede e esta que revela
de fato quem a pessoa pode ser nessa vida, mas que não consegue ser.
Assim que os dois se conhecem,
uma informação é nos dada, Glen está de viagem para os Estados Unidos e só terá
apenas mais um fim de semana em Londres. Ou seja, estes dois sujeitos só terão
um fim de semana para poderem viver esse breve caso, romance ou lance e assim
fazem, continuam saindo, se encontrando, ficando e conversando.
“Fim de semana” aposta num
drama intimista, profundo, calcado no diálogo e na presença apenas de seus dois
personagens. Nada mais vemos nesse drama, outros personagens não ganham
importância, tudo está ligado entre Russel e Eduardo. Não há muito o uso de
espaço ou lugares abertos, sempre as cenas são em lugares os mais fechados
possíveis, apenas para demonstrar a relação destes dois sujeitos. Ora vemos
este dois homens em diálogos entre si na casa de Russel, seja na cama, sala ou
terraço. Ora em espaços mais abertos,
entretanto mesmo quando se usa espaços abertos, como bares, parques, ainda sim,
todo o resto perde a importância e ficam como plano de fundo, como se nada
importasse, apenas a interação entre Russel e Glen.
“Fim de Semana” trabalha com
uma estrutura que nos lembra muito outro filme, “Antes que o dia termine” e
suas continuações, “Antes do por do sol” e “Antes da meia noite”. Nessa trama,
o roteiro e as atuações dos atores se sobressaem. Num começo temos apenas uma
troca de olhares, onde cada um mostra o que deseja. Com o desenrolar da
projeção, vemos que cada um revela de fato quem é e a conversa entre eles fica
mais ácida, verdadeira, crua e nua. Há um choque entre as verdades e entre os
pensamentos de ambos. Cada um revela de fato quem são, ainda sim mergulhados em
suas mais diversas máscaras.
Nesse sentindo, o que esse
drama faz é uma análise do comportamento de tantos e tantos nesta vida. Homens
e mulheres em suas defesas que tentam apenas se manterem vivos. Russel, apesar
de saber o que deseja, tem dificuldade em aceitar sua homossexualidade.
Eduardo, mesmo tendo uma maior aceitação de quem realmente é nessa vida, possui
sérias dificuldades em aprender a confiar no outro. Todos vêem de traumas
passados, seja a ausência de uma referência, ou dores vindas de relações que
não deram certo.
Nesse universo, estes dois
jovens se fecham e vivem enclausurados, cada um ao seu modo. É nesse choque de
pensamentos, entre Russel e Glen, que o longa se concentrará todo o seu drama e
cada elemento cinematográfico será usado ao máximo e com delicadeza para nos
transpassar isso.
Ambientes fechados, promovendo
um grau a mais de intimidade, como se nada mais importasse ali, a ausência de
qualquer trilha sonora, sendo apenas moldada pela paisagem sonora, promovendo
um silêncio avassalador, onde quando todas as vozes se calam, ainda sim podemos
perceber o som da vida. A troca de olhares constantes e a câmera sempre focada
na face e nos olhos de seus protagonistas,tentando expressar o que eles sentem,
sofrem, mas sem o uso das palavras.
Os diálogos são incríveis, sempre
tocando nos mais diversos temas, mas nunca entrando em contato direto com as feridas
que mais doem na vida destes sujeitos. É como se eles quisessem falar sobre o
que sentem ou sofrem, mas não tivessem coragem ou estrutura para isso.
Apesar de ser um filme com
temática gls, esse drama aborda as dores, sofrimentos, receios de todos, sem
exceção.
Ao final do longa, algumas
atitudes são refeitas, mas de outras formas, como se a percepção que cada um
tem sobre a vida mudasse. Pessoas nos marcam de diversas formas, tanto para o
bem quanto para o mal e isso é inevitável e essa cena nos traz essa Ideia. Outra cena que nos chama a atenção é quando Russel
está a observar o horizonte, mas o modo como ele o vê já é diferente, não é um
olhar marcado pela solidão ou tristeza, mas apenas de confiança e
certezas.