domingo, 21 de dezembro de 2014

Fim de Semana





“Fim de semana” poderia até ser um drama simples, a primeira vista que fala apenas sobre sexo, drogas e coisas banais, entretanto não, esse longa vai mais além. Uma trama baseada em personagens que numa primeira vista são fechados, calados e reservados, mas que com o desenvolvimento do drama vemos que não, são sensíveis e sonhadores. Com o desenrolar da história, conhecemos melhor seus sentimentos e passamos a nos identificar e a compreender seus medos, devaneios e desejos mais contidos. 

Russel (Tom Cullen) está saindo de uma confraternização na casa de um amigo. Apesar dos sorrisos e da sua tentativa de ficar a vontade, percebe-se no seu olhar um mal estar em não querer estar ali. Voltando para casa, resolve descer numa boate, lá entra e permanece e acaba conhecendo um cara com quem vai para cama, Glen (Chris New).

No dia seguinte, Russel então leva café para Glen na cama que sorri da atitude dele, nessa hora percebemos as diferenças sutis entre estes dois sujeitos. Russel é mais fechado, calado, sentimental e que deseja no fundo encontrar alguém bacana com que possa ter um compromisso mais sério. Já Glen não, é mais solto, ousado e não está ligado a este tipo de relações ou sentimentos.

Durante a conversa, Glen pede para que Russel faça uma declaração do que ele achou da relação sexual que tiveram, sobre ele e sobre a noite. Segundo Glen, é para um trabalho da faculdade, é uma pesquisa que ele está desenvolvendo para compreender as atitudes do outro que nos cerca. Em certa altura dessa cena, Glen relata que quando uma pessoa chega a um lugar desconhecido, ela pode ser o que deseja ou transparecer quem ela deseja ser. Entretanto, ela não consegue, há uma barreira que não a permite fazer isso. Entre esse desejo de ser o que deseja de fato e esta barreira que a impossibilita, há uma camada, uma parede e esta que revela de fato quem a pessoa pode ser nessa vida, mas que não consegue ser. 

Assim que os dois se conhecem, uma informação é nos dada, Glen está de viagem para os Estados Unidos e só terá apenas mais um fim de semana em Londres. Ou seja, estes dois sujeitos só terão um fim de semana para poderem viver esse breve caso, romance ou lance e assim fazem, continuam saindo, se encontrando, ficando e conversando.



 


“Fim de semana” aposta num drama intimista, profundo, calcado no diálogo e na presença apenas de seus dois personagens. Nada mais vemos nesse drama, outros personagens não ganham importância, tudo está ligado entre Russel e Eduardo. Não há muito o uso de espaço ou lugares abertos, sempre as cenas são em lugares os mais fechados possíveis, apenas para demonstrar a relação destes dois sujeitos. Ora vemos este dois homens em diálogos entre si na casa de Russel, seja na cama, sala ou terraço.  Ora em espaços mais abertos, entretanto mesmo quando se usa espaços abertos, como bares, parques, ainda sim, todo o resto perde a importância e ficam como plano de fundo, como se nada importasse, apenas a interação entre Russel e Glen.

“Fim de Semana” trabalha com uma estrutura que nos lembra muito outro filme, “Antes que o dia termine” e suas continuações, “Antes do por do sol” e “Antes da meia noite”. Nessa trama, o roteiro e as atuações dos atores se sobressaem. Num começo temos apenas uma troca de olhares, onde cada um mostra o que deseja. Com o desenrolar da projeção, vemos que cada um revela de fato quem é e a conversa entre eles fica mais ácida, verdadeira, crua e nua. Há um choque entre as verdades e entre os pensamentos de ambos. Cada um revela de fato quem são, ainda sim mergulhados em suas mais diversas máscaras. 

Nesse sentindo, o que esse drama faz é uma análise do comportamento de tantos e tantos nesta vida. Homens e mulheres em suas defesas que tentam apenas se manterem vivos. Russel, apesar de saber o que deseja, tem dificuldade em aceitar sua homossexualidade. Eduardo, mesmo tendo uma maior aceitação de quem realmente é nessa vida, possui sérias dificuldades em aprender a confiar no outro. Todos vêem de traumas passados, seja a ausência de uma referência, ou dores vindas de relações que não deram certo.


Nesse universo, estes dois jovens se fecham e vivem enclausurados, cada um ao seu modo. É nesse choque de pensamentos, entre Russel e Glen, que o longa se concentrará todo o seu drama e cada elemento cinematográfico será usado ao máximo e com delicadeza para nos transpassar isso. 

Ambientes fechados, promovendo um grau a mais de intimidade, como se nada mais importasse ali, a ausência de qualquer trilha sonora, sendo apenas moldada pela paisagem sonora, promovendo um silêncio avassalador, onde quando todas as vozes se calam, ainda sim podemos perceber o som da vida. A troca de olhares constantes e a câmera sempre focada na face e nos olhos de seus protagonistas,tentando expressar o que eles sentem, sofrem, mas sem o uso das palavras.

Os diálogos são incríveis, sempre tocando nos mais diversos temas, mas nunca entrando em contato direto com as feridas que mais doem na vida destes sujeitos. É como se eles quisessem falar sobre o que sentem ou sofrem, mas não tivessem coragem ou estrutura para isso. 

Apesar de ser um filme com temática gls, esse drama aborda as dores, sofrimentos, receios de todos, sem exceção.  

Ao final do longa, algumas atitudes são refeitas, mas de outras formas, como se a percepção que cada um tem sobre a vida mudasse. Pessoas nos marcam de diversas formas, tanto para o bem quanto para o mal e isso é inevitável e essa cena nos traz essa Ideia.  Outra cena que nos chama a atenção é quando Russel está a observar o horizonte, mas o modo como ele o vê já é diferente, não é um olhar marcado pela solidão ou tristeza, mas apenas de confiança e certezas.  



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