Emblemático
e profundo, com fortes diálogos e excelentes atuações, “Um método perigoso”,
drama com direção de David Cronenberg, mergulha fundo no mundo da psicanálise
para falar sobre dois grandes homens envolvendo esse campo do conhecimento,
Freud e Jung.
O
mundo ainda não conhecia a psicanálise, porém alguns estudos sobre essa área
começam a ser desenvolvidos por Freud (Viggo Mortensen), entretanto ainda sim,
a comunidade cientifica não a aceita com plena exatidão essa nova linha do
conhecimento.
Neste
período Jung (Michael Fassbender) começa então a tratar umas de suas pacientes,
Sabina (Keira Knightley), por meio da cura pela fala. Métodos estes
desenvolvidos por Freud. A teoria que emana deste judeu passa a ser colocada em
pratica por este alemão. E aos poucos, num trabalho longo e contínuo, Sabina
vai apresentando melhoras do seu quadro clínico.
A partir
deste fato desenvolve entre Freud e Jung uma grande amizade, baseada numa
relação de professor e aluno. Freud via em Jung o discípulo que precisava naquele
momento para levar seus estudos adiante e por sua vez, Jung via em Freud o
homem que lhe poderia ensinar mais sobre essa nova área de pesquisa.
O
primeiro encontro deles é marcado por fortes diálogos, pensamentos que revelam
já desde cedo seus pontos diferentes sobre vários temas. Um tema percorre todo
longa indiretamente, mas que vai ganhando força no desenvolver do drama e que
se materializa num sonho de Jung, a grande Segunda Guerra Mundial.
Conforme
vai passando os anos, Jung sede aos seus desejos e acaba se envolvendo
sexualmente e sentimentalmente com Sabina, sua paciente, fato esse que Freud
desaprova, já que na visão do judeu, toda paciente transfere para o
psicanalista, o objeto de seus desejos, sendo normal esse desejo do paciente
pelo médico.
Entretanto,
outros atritos vão ganhando forma entre estes dois homens, principalmente com
relação as bases da psicanálise. Para Freud, a sexualidade era um dos grandes
motivos que movem os homens em seus desejos, receios e repressões, ou seja, a
base para os estudos de Freud concentram-se na questão sexual. Já para Jung
este é apenas um dentre vários elementos existentes que podem ser analisados.
Outros também devem ser levados em conta, como os mitos que nos regem, então
neste sentindo, ele vai adentrar em campos não aceitos por Freud, como a
telepatia e o misticismo.
Estes
desentendimentos irão gerar uma quebra nas relações destes dois homens,
revelando outro lado destas duas figuras, como inveja, orgulho, ressentimento e
fraquezas. Ou seja, o que este drama faz é transformar estas duas figuras
históricas em homens com qualidades e defeitos. Ambos os personagens, como
Freud e Jung, também tinham seus problemas, suas inseguranças, seus traumas,
não eram convictos do que sentiam.
Além
disso, outro medo estava pairando sobre a sociedade, uma iminente nova grande
guerra. Freud por ser judeu, sentia o
peso dessa verdade ganhando forma. Jung num sonho dito a Freud ao final do
filme, nos revela esse destino fatídico da humanidade. É interessante perceber
como o diretor constrói esse medo e como esta dura verdade histórica será o
desfecho para estes personagens. A guerra entra como um elemento não importante
no filme, entretanto que vai ganhando forma, sendo visualizada, percebida e que
ao final, se revela totalmente.
“Um
método perigoso” possui uma fotografia bela e elegante, um figurino impecável.
Se estes aparatos técnicos dão peso ao filme, a direção, o roteiro e atuação do
elenco elevam o longa a um patamar grandioso. Numa primeira vista, o longa
parece ser tradicional, quadrado, apenas baseado numa história real. Porém, o
filme vai além disso e consegue imprimir a marca deste diretor. E isso se dá
por meio das cenas, dos desejos que tomam seus protagonistas.
Toda historia se
passa pelo olhar de Jung, são seus medos e dúvidas que observamos atentamente.
Freud entra na história como uma figura que apesar de não estar sempre
presente, ainda causa desconforto e uma culpabilidade. Já Sabina representa o
desejo sempre presente, pulsando, tentando e levando o seu protagonista a
realização dos seus desejos sexuais mais reprimidos, fato este que causa
desconforto em Jung.
Outro
ponto interessante está em perceber como os conceitos de Freud sobre a questão
da sexualidade se concretizam sobre as ações de Jung e como a personagem de
Sabina, apesar de toda sua instabilidade, se revela ao final do longa como a
personagem mais equilibrada com relação aos seus desejos.
“Um
método perigoso” pode ser um drama a primeira vista simples, mas que guarda em
suas camadas mais profundas grandes complexidades, envolvendo medos, traumas,
desejos reprimidos, verdades incapazes de serem aceitas e que tememos com a
nossa própria vida.
Um
filme grande que revela a grandiosidade deste diretor, mas que dever ser visto
com calma e atentamente, pois os grandes momentos deste drama se concentram nos
não ditos, nos comentários insignificantes, nas cenas não marcantes, nas
camadas mais profundas.
Parabéns, muito boa sua sua perspectiva sobre o modo no qual você visualizou todo o contexto da historia narrada..
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