quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Um Método Perigoso




Emblemático e profundo, com fortes diálogos e excelentes atuações, “Um método perigoso”, drama com direção de David Cronenberg, mergulha fundo no mundo da psicanálise para falar sobre dois grandes homens envolvendo esse campo do conhecimento, Freud e Jung.

O mundo ainda não conhecia a psicanálise, porém alguns estudos sobre essa área começam a ser desenvolvidos por Freud (Viggo Mortensen), entretanto ainda sim, a comunidade cientifica não a aceita com plena exatidão essa nova linha do conhecimento.

Neste período Jung (Michael Fassbender) começa então a tratar umas de suas pacientes, Sabina (Keira Knightley), por meio da cura pela fala. Métodos estes desenvolvidos por Freud. A teoria que emana deste judeu passa a ser colocada em pratica por este alemão. E aos poucos, num trabalho longo e contínuo, Sabina vai apresentando melhoras do seu quadro clínico.

A partir deste fato desenvolve entre Freud e Jung uma grande amizade, baseada numa relação de professor e aluno. Freud via em Jung o discípulo que precisava naquele momento para levar seus estudos adiante e por sua vez, Jung via em Freud o homem que lhe poderia ensinar mais sobre essa nova área de pesquisa.  

O primeiro encontro deles é marcado por fortes diálogos, pensamentos que revelam já desde cedo seus pontos diferentes sobre vários temas. Um tema percorre todo longa indiretamente, mas que vai ganhando força no desenvolver do drama e que se materializa num sonho de Jung, a grande Segunda Guerra Mundial. 




Conforme vai passando os anos, Jung sede aos seus desejos e acaba se envolvendo sexualmente e sentimentalmente com Sabina, sua paciente, fato esse que Freud desaprova, já que na visão do judeu, toda paciente transfere para o psicanalista, o objeto de seus desejos, sendo normal esse desejo do paciente pelo médico. 

Entretanto, outros atritos vão ganhando forma entre estes dois homens, principalmente com relação as bases da psicanálise. Para Freud, a sexualidade era um dos grandes motivos que movem os homens em seus desejos, receios e repressões, ou seja, a base para os estudos de Freud concentram-se na questão sexual. Já para Jung este é apenas um dentre vários elementos existentes que podem ser analisados. Outros também devem ser levados em conta, como os mitos que nos regem, então neste sentindo, ele vai adentrar em campos não aceitos por Freud, como a telepatia e o misticismo.

Estes desentendimentos irão gerar uma quebra nas relações destes dois homens, revelando outro lado destas duas figuras, como inveja, orgulho, ressentimento e fraquezas. Ou seja, o que este drama faz é transformar estas duas figuras históricas em homens com qualidades e defeitos. Ambos os personagens, como Freud e Jung, também tinham seus problemas, suas inseguranças, seus traumas, não eram convictos do que sentiam. 

Além disso, outro medo estava pairando sobre a sociedade, uma iminente nova grande guerra.  Freud por ser judeu, sentia o peso dessa verdade ganhando forma. Jung num sonho dito a Freud ao final do filme, nos revela esse destino fatídico da humanidade. É interessante perceber como o diretor constrói esse medo e como esta dura verdade histórica será o desfecho para estes personagens. A guerra entra como um elemento não importante no filme, entretanto que vai ganhando forma, sendo visualizada, percebida e que ao final, se revela totalmente. 







“Um método perigoso” possui uma fotografia bela e elegante, um figurino impecável. Se estes aparatos técnicos dão peso ao filme, a direção, o roteiro e atuação do elenco elevam o longa a um patamar grandioso. Numa primeira vista, o longa parece ser tradicional, quadrado, apenas baseado numa história real. Porém, o filme vai além disso e consegue imprimir a marca deste diretor. E isso se dá por meio das cenas, dos desejos que tomam seus protagonistas. 

Toda historia se passa pelo olhar de Jung, são seus medos e dúvidas que observamos atentamente. Freud entra na história como uma figura que apesar de não estar sempre presente, ainda causa desconforto e uma culpabilidade. Já Sabina representa o desejo sempre presente, pulsando, tentando e levando o seu protagonista a realização dos seus desejos sexuais mais reprimidos, fato este que causa desconforto em Jung. 

Outro ponto interessante está em perceber como os conceitos de Freud sobre a questão da sexualidade se concretizam sobre as ações de Jung e como a personagem de Sabina, apesar de toda sua instabilidade, se revela ao final do longa como a personagem mais equilibrada com relação aos seus desejos.

“Um método perigoso” pode ser um drama a primeira vista simples, mas que guarda em suas camadas mais profundas grandes complexidades, envolvendo medos, traumas, desejos reprimidos, verdades incapazes de serem aceitas e que tememos com a nossa própria vida. 

Um filme grande que revela a grandiosidade deste diretor, mas que dever ser visto com calma e atentamente, pois os grandes momentos deste drama se concentram nos não ditos, nos comentários insignificantes, nas cenas não marcantes, nas camadas mais profundas. 





Um comentário:

  1. Parabéns, muito boa sua sua perspectiva sobre o modo no qual você visualizou todo o contexto da historia narrada..

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