“A
imigrante” drama com direção de James Gray percorre uma ciranda de sentimentos
e vidas. Ewa (Marion Cottilard) é uma imigrante polonesa que chega aos Estados
Unidos com a irmã, Magda (Angela Sarafyan), na esperança de conseguir uma nova
vida e esquecer os horrores da guerra.
Chegando
ao país, Magda é barrada ao seu estado de saúde e é levada “presa”. Ewa segue
adiante com o intuito de tentar retirar a irmã de lá, entretanto seu visto é
negado e ela segue para deportação.
Sem
a quem recorrer, pois seus únicos parentes não estavam a sua espera, ela confia
sua vida a Bruno (Joaquim Phoefenix), um sujeito sedutor. Entretanto Bruno tem
outros interesses para ela e acaba a colocando numa rede de prostituição. Ewa
se nega até quando pode, porém quando vê que não há saída, deixa-se levar por Bruno neste caminho.
Ewa
é calada, bela e sedutora. Em pouco tempo atrai a atenção de todos. Bruno é
impulsivo e ambíguo. Em pouco tempo percebe-se uma proteção dele para com ela
muito forte, beirando a um ciúmes incontrolável. Entretanto, com a chegada de
Orlando (Jeremy Renner), primo de Bruno, os ânimos de exaltam. Orlando se
interessa por Ewa provocando a ira de Bruno e em consequência uma grande
tragédia.
James
Gray com este drama constrói um triângulo amoroso marcado pela exploração,
ciúmes e uma severa dificuldade em expor sentimentos. O personagem de Bruno se
num primeiro momento aparece como uma figura emblemática revela-se dotados de
sentimentos, do amor ao ódio, da exploração e insensibilidade à proteção. Suas
garotas são mais que garotas, são seu investimento, entretanto ainda sim, ele
as tem como pessoas com sentimentos e fragilidades que necessitam de proteção.
Orlando
é um personagem que nunca sabemos o que realmente deseja. Sua história com
Bruno é marcada por atritos que não são revelados de fatos, mas com o
desenrolar da trama, este mágico se revela também uma figura não muito
confiável.
O
que o diretor promove nesse drama é uma inversão de valores e sentimentos. Mesmo
Bruno sendo áspero e egocêntrico, mostra-se como alguém que se necessita ser
salvo. Com isso, torna-se fácil uma certa torcida para que ao final deste
drama, ele realmente conquiste a admiração de Ewa.
Mas
como em toda película de Gray, o caminho que estes personagens percorrem sempre
é calcado em situações complexas e o tão esperado “felizes para sempre” não
aparece, mas apenas o desfecho respaldado pela dura realidade da vida.
James
Gray reconstrói com beleza e charme um Estados Unidos em inicio de
desenvolvimento. Uma América vista ainda como local onde todos os sonhos podem
se realizar, mas que na verdade, esconde em seu interior pobreza, dificuldades
e empecilhos. Em todos os cenários, vemos uma Nova York marcada pela miséria,
pessoas sem estruturas, famílias ou bases, presas a prostituição ou a
exploração para conseguirem se manterem vivas. Ou seja, o sonho americano em
Gray mais está para um verdadeiro pesadelo.
Nessa
América, corpos se entregam por dinheiro e dinheiro é entregue no lugar de
corpos. Bruno apenas é mais um que usa e também é usado nessa relação de trocas
e desejos. Ele cede proteção, clientes, moradia e dinheiro. Elas cedem seus
corpos, prazeres, sorrisos e prazeres. Nessa dura realidade, cada pessoa tem
seus motivos e Ewa apenas materializa um destes. O motivo que a levou a este
mundo de prostituição está ligado ao desejo de tentar reencontrar a irmã e
assim como ela, há outras mulheres com tantos outros motivos. Nesse sentindo,
Gray dá humanidade a estas mulheres e assim como dá humanidade a elas, também
concede sentimentos à Bruno, o explorador desta trama.
Ao
final, o diálogo contraria os atos e revela muito mais do que as palavras podem
dizer. Assim também foi em “Dois Amores”. “A imigrante” revela o melhor e o
pior do homem de forma sútil e delicada. Com uma fotografia gélida, cores
opacas e um figurino impecável, esse drama é denso e profundo. Sua profundidade
encontra-se em camadas que só se percebe ao olhar bem atentamente para esse
longa, assim como olhamos atentamente para estes personagens.
No
elenco Marion Cottilard, Joaquim Phoefenix e Jeremy Renneer entregam atuações
esplêndidas, dando destaque para Marion e Phoefenix. Ela com seu olhar fechado,
semblante frio e uma pureza que desperta encantos. Ele por seu jeito reservado,
instável, espontâneo e sedutor.
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