John May (Eddie Marsan) trabalha no
conselho de um pequeno distrito da Inglaterra. A função dele é achar familiares
de falecidos, ditos como desconhecidos e promover um enterro digno a eles.
Cuidadosamente ele colhe informações
dos falecidos, seus gostos e modo de ser. Tenta traçar a vida de cada um deles,
seus valores e medos, tudo com um olhar cuidado e atento sobre os objetos do
morto. Após fazer isso faz uma busca minuciosa sobre os possíveis parentes e
tenta acioná-los, mas quase nunca consegue. Ou estes parentes se recusam a ir
ao funeral, ou simplesmente não recebem a May. Os motivos para isso são vários.
Então, nesse sentindo, ele mesmo
realiza todos os procedimentos do funeral, escolhe as músicas fúnebres, escreve
o discurso, as honrarias e se faz presente no funeral. Quase sempre todos os
velórios que ele promove, sempre são as mesmas pessoas: o defunto, John e o
padre.
May é calado, reservado, solitário.
Vive sozinho, sua vida é seu trabalho. Todo o dia realiza todos os passos,
todas as ações, sempre do mesmo modo, sempre no mesmo ritual. Ao receber a
notícia que o conselho em que trabalha irá fazer cortes de gastos e que ele
será demitido, ele fica primeiramente sem reação, entretanto calado. O que se
pode fazer? Nada.
Após um ataque de fúria, ele então
pede para realizar seu último trabalho. Um homem, vizinho seu, falecera e não
há familiares que possam velá-lo. May se dispõe então a realizar este último
trabalho e depois deixar o conselho.
É nessa busca, em tentar compreender
quem foi esse falecido em vida que esse homem irá mergulhar em sua própria
existência. Pouco a pouco May percebe que sua vida muito se assemelha a destes
mortos: homens e mulheres solitários, sozinhos, sem ninguém. Uma vida vazia,
uma vida solitária, uma vida calada.
Ele vai até o passado e descobre um
antigo amor deste falecido, uma filha, antigos amigos e a cada descoberta, seu
envolvimento com este homem torna-se claro. Aqui o trabalho não se trata apenas
em achar algum parente que queira participar das últimas homenagens a este
homem que morreu, mas é achar a si mesmo, é buscar razões em sua própria
existência. Perder o emprego é perder toda referência de sua vida. May não tem
amigos, familiares ou algo que o faça sentir vivo, apenas seu emprego.
“Uma vida comum” é um grande achado do
cinema inglês. Um drama seco, porém comovente, áspero, entretanto cheio de
vida. Cores opacas, trilha sonora quase imperceptível e um protagonista que
mesmo sem expressão facial, nos conquista.
John May persegue e percorre por
lugares e em seu último trabalho, como se fosse os últimos momentos de sua
vida, percorre os labirintos de seus sentimentos. Nesse drama, não há
manipulação de sentimentos. Tudo é tratado com tanta simplicidade, veracidade e
ternura.
A cada ação, somos envolvidos por este
homem e já nem importa mais quem seja este falecido, mas importa saber o que
acontecerá depois a este homem tão calado e tão solitário chamado John May.
Queremos saber quais são seus medos, desejos e sonhos. Ele é um homem simples
que não possui uma grande vida ou algo extraordinário, entretanto mesmo assim,
ele vive, de forma simples ele vive.
Ao final do longa, o diretor não se
deixa levar pelo caminho fácil e nos entrega um drama sóbrio. A cena final é
cheia de vida, ternura e nos revela um homem que mesmo calado, mesmo não tendo
tido grandes realizações em sua vida, viveu da melhor forma que pôde. É
interessante perceber como o longa constrói essa questão de “viver a vida”. May
em seu último trabalho realiza as mesmas tarefas, as mesmas ações, não muda sua
rotina, não muda seus planos.
É como se no decorrer desta jornada
ele percebesse quem é nessa vida e mais importante de perceber quem é, é
compreender quem não é. Uma vida simples, uma comum, uma vida calcada em
pequenas realizações, em pequenos feitos.
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