terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Uma Vida Comum


John May (Eddie Marsan) trabalha no conselho de um pequeno distrito da Inglaterra. A função dele é achar familiares de falecidos, ditos como desconhecidos e promover um enterro digno a eles.

Cuidadosamente ele colhe informações dos falecidos, seus gostos e modo de ser. Tenta traçar a vida de cada um deles, seus valores e medos, tudo com um olhar cuidado e atento sobre os objetos do morto. Após fazer isso faz uma busca minuciosa sobre os possíveis parentes e tenta acioná-los, mas quase nunca consegue. Ou estes parentes se recusam a ir ao funeral, ou simplesmente não recebem a May. Os motivos para isso são vários.

Então, nesse sentindo, ele mesmo realiza todos os procedimentos do funeral, escolhe as músicas fúnebres, escreve o discurso, as honrarias e se faz presente no funeral. Quase sempre todos os velórios que ele promove, sempre são as mesmas pessoas: o defunto, John e o padre.
May é calado, reservado, solitário. Vive sozinho, sua vida é seu trabalho. Todo o dia realiza todos os passos, todas as ações, sempre do mesmo modo, sempre no mesmo ritual. Ao receber a notícia que o conselho em que trabalha irá fazer cortes de gastos e que ele será demitido, ele fica primeiramente sem reação, entretanto calado. O que se pode fazer? Nada.

Após um ataque de fúria, ele então pede para realizar seu último trabalho. Um homem, vizinho seu, falecera e não há familiares que possam velá-lo. May se dispõe então a realizar este último trabalho e depois deixar o conselho.

É nessa busca, em tentar compreender quem foi esse falecido em vida que esse homem irá mergulhar em sua própria existência. Pouco a pouco May percebe que sua vida muito se assemelha a destes mortos: homens e mulheres solitários, sozinhos, sem ninguém. Uma vida vazia, uma vida solitária, uma vida calada.

Ele vai até o passado e descobre um antigo amor deste falecido, uma filha, antigos amigos e a cada descoberta, seu envolvimento com este homem torna-se claro. Aqui o trabalho não se trata apenas em achar algum parente que queira participar das últimas homenagens a este homem que morreu, mas é achar a si mesmo, é buscar razões em sua própria existência. Perder o emprego é perder toda referência de sua vida. May não tem amigos, familiares ou algo que o faça sentir vivo, apenas seu emprego.




“Uma vida comum” é um grande achado do cinema inglês. Um drama seco, porém comovente, áspero, entretanto cheio de vida. Cores opacas, trilha sonora quase imperceptível e um protagonista que mesmo sem expressão facial, nos conquista.

John May persegue e percorre por lugares e em seu último trabalho, como se fosse os últimos momentos de sua vida, percorre os labirintos de seus sentimentos. Nesse drama, não há manipulação de sentimentos. Tudo é tratado com tanta simplicidade, veracidade e ternura.

A cada ação, somos envolvidos por este homem e já nem importa mais quem seja este falecido, mas importa saber o que acontecerá depois a este homem tão calado e tão solitário chamado John May. Queremos saber quais são seus medos, desejos e sonhos. Ele é um homem simples que não possui uma grande vida ou algo extraordinário, entretanto mesmo assim, ele vive, de forma simples ele vive.

Ao final do longa, o diretor não se deixa levar pelo caminho fácil e nos entrega um drama sóbrio. A cena final é cheia de vida, ternura e nos revela um homem que mesmo calado, mesmo não tendo tido grandes realizações em sua vida, viveu da melhor forma que pôde. É interessante perceber como o longa constrói essa questão de “viver a vida”. May em seu último trabalho realiza as mesmas tarefas, as mesmas ações, não muda sua rotina, não muda seus planos.


É como se no decorrer desta jornada ele percebesse quem é nessa vida e mais importante de perceber quem é, é compreender quem não é. Uma vida simples, uma comum, uma vida calcada em pequenas realizações, em pequenos feitos. 



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