terça-feira, 18 de outubro de 2011

Bem Vindo a Dogville


Dogville, com direção de Lars Von Trier, conta a história de Grace (Nicole Kidman), uma fugitiva da máfia que encontra abrigo numa pequena cidade dos Estados Unidos. Nesta cidade, ela consegue a amizade e o apoio de Tom Edison (Paul Bettany), um morador da vila que convence todos a aceitá-la, em troca de pequenos serviços. Com o decorrer dos dias, o que parece ser um paraíso, aos poucos torna-se num verdadeiro inferno. Com a intensificação dos bandidos e também da polícia atrás de Grace, eles percebem que a segurança da vila está em perigo e por isso começam a cobrar algo muito mais do que apenas simples serviços, expondo Grace às piores humilhações, mal tratos e abusos. O que era para ser um refúgio mostra-se como uma prisão.
Dogville retrata um povoado em meio a Grande Depressão, na década de 30. A história do filme se passa no período após a queda da bolsa de Nova York, que levou os Estados Unidos e vários outros países dependentes deste, a uma profunda crise econômica. Sendo assim, o que se vê em toda cidade é a pobreza e pessoas tentando se manterem vivas. Grace entra nesse momento. Sem muito que fazer, passa a realizar pequenos serviços, singelos afazeres. Ajudar as crianças com as leituras, na limpeza e organização da cidade e na colheita das maças que é único meio de subsistência da vila.
A medida que as semanas vão passando, ela vai ganhando cada vez mais a admiração e aceitação por parte de todos em Dogville. Simplesmente, ela se sente feliz, mas não há felicidade ao final dessa história. Com o decorrer dos meses, a cidade começa a receber cada vez mais e de forma freqüente a visita de homens à procura de Grace, entretanto, não apenas da máfia, mas também da polícia que começa a caçá-la afirmando que ela é perigosa. A partir desse momento, todos da aldeia começam a repensar se foi uma boa ideia a terem acolhido. Com as dificuldades referentes a pobreza aumentando, a repressão por parte da máfia e polícia intensificando e a chegada do inverno, as pessoas de Dogville começam a mostrar um outro lado delas, uma face mais obscura e sem escrúpulos.
Deste momento em diante, pouco a pouco os habitantes vão agindo com frieza, desdém, impacientes e irritados com as ações e serviços de Grace. Tarefas essas que antes eram feitas voluntariamente por ela, transformam-se numa obrigação diária, levando-a a um imenso cansaço.



Violência, essa é a palavra que vai direcionar a história em Dogville. O filme consegue expor toda a fragilidade e sentimentos mais profundos e violentos dos moradores desta cidade, dos personagens mais característicos a cometer atos extremos até aos mais, aparentemente, inocentes. Ninguém está ileso, todos têm uma parcela de culpa, não há bons moços ou heróis nesta história. Toda violência cometida vai se tornar no estopim para o ato final.
Um dos pontos que mais chamaram a atenção para o filme, além da sua história, é a construção do cenário. No caso, não há uma cidade de fato, tudo se passa num palco de teatro, sobre um fundo escuro, ou claro, dependendo do momento da cena. Neste espaço estão desenhados traços que representam casas, janelas, portas, armazéns, jardins, árvores, as demarcações e as fronteiras da cidade. Enfim, todo o espaço físico da história é construído sobre esse chão.
O que de início pode soar estranho, faz com que o espectador use a imaginação para projetar sobre esses elementos o necessário para que a história possa fluir. Esse elemento pode fazer alusão também, a idéia de que todos estão à mostra revelando suas verdadeiras faces. Não há paredes que escondam seus sentimentos, pensamentos e ações e que somente o público que assiste ao filme pode perceber, e ou, o fato de que todos sabem o que acontece com Grace em quatro paredes, pois cada um dessa cidade conhece o outro como a si mesmo, e tem o conhecimento do que estes e todos são capazes de fazer e a não presença do cenário é a materialização dessa verdade que querem acobertar e ocultar. Todos veem o que acontece, mas fingem não ver, há uma falta de cenário, onde deveria haver.



O filme é divido em capítulos que separam a história e esses são nomeados conforme o que acontecerá no enredo. Uma voz em off nos apresenta a cidade, seus moradores, situação de vida e seus pensamentos e sentimentos. Um personagem não presente, mas que conhece cada um profundamente. Essa voz entrará constantemente na ação do filme, ela demarcará as fases pela qual Grace irá passar nesta cidade.
A trilha sonora desempenha a função de complementar o cenário, dando veracidade as ações e ilustrar os sentimentos dos personagens. O silêncio também está presente como forma de reflexão. A iluminação, de extrema importância ao final do longa, terá o papel de mostrar o interior das pessoas e revelar suas verdadeiras faces, uma luz que é capaz de clarear tudo.
Dogville, um filme forte, polêmico, audacioso e violento, consegue levar tanto seus personagens, quanto as pessoas que a ele assistem, ao extremo da violência e do limite desta. O longa foi amplamente aclamado em Cannes, na mesma proporção que foi criticado negativamente por expor uma violência crua e supervalorizada.  O filme faz parte da trilogia Estados Unidos – terra das oportunidades fazendo uma referência aos país, terra dos aproveitadores. Essa trilogia que se inicia com esta película, segue com Manderlay, que foi lançado em 2005 continuando com a história de Grace e finaliza com Washington, que como dito, ainda está em fase de produção. Tanto Dogville como Manderlay possuem a mesma estrutura em relação a construção dos cenários por parte do espectador.



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