Um filme de contradições: denso e leve; complexo, mas simples.
Transamérica poderia ser um filme simples, afinal, as cores predominantemente rosa e as músicas que tocam durante todo o longa tentam deixá-lo com um olhar de um drama road movie calmo e light. Porém o tema que estamos vendo na trama não é nada comum ou simples assim.
O filme conta a história de um transexual Bree (Felicity Huffmam). Ele está prestes a fazer uma cirurgia de mudança de sexo, mas descobre que possui um filho chamado Toby (Kevin Zogers) e este quer conhecê-lo. Devido ao rapaz estar em maus bocados, Bree vai então ajudá-lo, mais por pressão da sua psicóloga do que por si próprio. Em uma longa viagem rodando por vários lugares, estes dois tentarão descobrir um ao outro. Bom, a sinopse parece simples, porém não é.
O jovem está envolvido com drogas, se prostitui para manter seu vício e ele possui segredos em seu passado que faz com que ele não queira voltar para sua antiga cidade. Por fim, Toby quer conhecer seu verdadeiro pai, mas nem sonha que ele está em sua frente só de uma forma diferente.
Mas não é somente o rapaz que tem problemas, ela também possui vários. Prestes a realizar a cirurgia que mudará sua vida, Bree se vê presa numa relação paternal que não queria nesse momento e além do mais, nunca havia imaginado que tinha um filho. Nesse drama, a relação desses dois sujeitos será trabalhada com muita ternura, nunca forçando nenhum sentimento.
Vários são os elogios para esse filme: a direção é segura, não deixa cair no melodramático e o roteiro é inteligente. Durante o começo da trama, são feitas várias perguntas a Bree, nelas podemos de uma forma ainda superficial ver o que vem pela frente.
De todos os aspectos do longa, o que mas impressiona é a atuação de Huffmam, seja pelo seu carisma e ou pela sua presença em cena, ela simplesmente encarna uma transexual. Sua postura, sempre caminhando tentando esconder aquilo que lhe faz ser um homem ainda, é hilária. Por ainda ter um pênis, ela se sente como uma mulher incompleta. Por meio da maquiagem, tenta esconder suas feições, suas roupas e seu corpo. Os aos olhos dela, por mais que tenha passado por inúmeras cirurgias, ela sempre ainda se lembrará do velho homem que era.
Mas de todas as características deste filme, o trabalho da atriz com relação a voz é o mais engraçado. Treinando várias vezes para afinar o tom, provoca vários risos, um trabalho belíssimo da atriz, merecendo sua indicação ao Oscar de melhor atriz e levando o Globo de Ouro na mesma categoria.
Além dos aspectos físicos, sua atuação é marcante. Nos comovemos com ela. De forma discreta, ela consegue mostrar que apesar de ser um homem, sua alma é de uma mulher. Ela sofre com isso, sofre por sua família e sofre por seu filho. Mas no decorrer da história, ele também se envolve com ela, mas sem saber da verdade e por se sentir protegido ao lado dela ele acaba misturando seus sentimentos. Como prova dessa mistura, sem nos apegarmos a cena clara ao final do filme, é o que ele faz pelos dois pra conseguir levantar grana.
Transamérica é um filme que trabalha com uma temática pouco mostrada no cinema normalmente. Lado Selvagem, filme europeu, desenvolveu uma mesma ideia sobre esse assunto, só que de forma mais crua, forte e dramática. Já este trabalha com o cômico para tratar um assunto sério.
O orçamento do filme foi de 1 milhão, valor bem pequeno até para os padrões de filmes brasileiros, mas conseguiu uma bilheteria muito mais do que generosa, ultrapassou os oito milhões somente nos Estados Unidos. Isso nos mostra que aos poucos estamos perdendo o moralismo preconceituoso que nos cegava e estamos deixando com que os outros simplesmente vivam suas vidas sem precisarem de se preocupar com a que a sociedade irá pensar de suas ações.
Adoro este filme! Bonito, sensível e também engraçado.
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