sábado, 22 de outubro de 2011

Não Se Pode viver sem o Amor


 
Realidade e ilusão se mesclam nessa história sobre a vida e o amor, sobre personagens perdidos e sem espectativas. Uma drama mágico, terno, descomunal.

O que move essa história é a fantasia, pois outra explicação melhor não existiria. Há um “q” de surrealismo percorrendo os diálogos, as ações e os destinos desses sujeitos. Todos estão perdidos em suas vidas, sem expectativas e sem esperanças, mas mesmo diante de todo o infortúnio, eles vivem e tentam. Alguns erram em seus passos, outros já estão praticamente anestesiados diante de tanta dificuldade e dor e outros, sorriem, apenas sorriem.

Roseli (Simone Spoladore) vai para o Rio de Janeiro com o pequeno Gabriel (Victor Navega) na busca de tentar encontrar o pai do garoto. Lá, eles se deparam com Pedro (Angelo Vieira), um professor que recebeu uma oportunidade única de morar na Suíça, porém sua esposa não concorda e acaba por o abandonando, mais tarde, outra tragédia decai sobre a vida dele.

Ainda nessa cidade, há João (Cauã Reymond), um advogado desempregado que está arriscando toda a sua sorte nos concursos que presta pra tentar melhorar de vida. Ele está perdidamente apaixonado por Gilda (Fabíola Nascimento), uma dançarina de uma boate. O desejo dela é sair daquela vida e daquela cidade, mas com João será muito difícil. Por conta desse fato, ele começa a se arriscar em tentativas de assalto para poder levantar a grana que os dois precisam para mudarem suas vidas. Só que na vida, nada vem facilmente.

O garoto que acaba por interligar todos esses personagens tem sobre ele uma áurea de mistérios. Nunca fica comprovado, mas coisas estranhas acontecem ao seu derredor ou por atitudes tomadas por ele. É o vento que balança fortemente, a chuva que cai sobre a cidade, é o som do perigo que ele ouve de longe ou o desenho que pode prever uma tragédia, sem contar no ato final dotado de grande incompreensão e irrealidade. Se ele possui algum dom, isso não fica claro, mas o surreal acontece devido a presença dele.



As histórias tem seu ponto de ligação próximo ao final do filme, mas tudo de uma forma muito vaga. A impressão que temos é que essa ligação não pode ser verídica, mas ao ponto que todos os arcos vão se entrelaçando, o espectador percebe realmente que a hipótese mais distante da realidade é que de fato pode prevalecer.

O elenco é composto por grandes nomes do cinema nacional. Todos se saem muito bem. Simone Spoladore, Cauã Reymond estão incríveis, da mesma forma que Angelo Vieira. Em falar nisso, esse longa vem para comprovar o trabalho excelente que Reymond tem feito nos últimos anos, pautado por boas escolhas de personagens, de filmes e em ótimas atuações. Se distanciando um pouco dos apelos comerciais, tem se entregado a pequenas produções independentes. Spoladore, ao meu ver, á praticamente uma musa, diva (ou qualquer outro adjetivo que se prese à toda sua beleza e competência) do cinema nacional e o o pequeno garoto Victor é uma graça.

Na direção, Durán realiza um ótimo trabalho. Se distanciando do convencional, esse filme lembra de vago o excelente Em busca da terra do nunca, um drama em que a realidade e a fantasia caminham lado a lado, sempre juntas. A trilha sonora é gostosa, a fotografia mostrando uma Rio de Janeiro bem distante dos cartões postais foi uma boa opção. A montagem alternando as lembranças e delírios do garoto foi bem costurada, ela vem para quebrar a naturalidade do enredo.



Ao final, o que fica é um certo momento de dúvida e tentativa de compreender o que vimos na cena que encerra o filme. Esse desfecho não é tão fácil aceitar, pois como o diretor deixa claro durante todo o longa, é o irreal que irá guiar o destino destes personagens. Sendo assim, o diretor nos propõe a ideia de mergulhar nessas possibilidades, nessas circunstâncias. Não há muita explicação, mas apenas o interesse do diretor que é abordar como esses sujeitos irão se deparar com a vida diante da falta de certezas e como eles vão se manter.

O que resta no fim de tudo é o amor, a alegria, a esperança e a fé, não numa religião, mas em algo que não se pode ter a certeza, mas que sabe que ao final, tudo dará certo. É com ternura que o diretor Jorge Durán trabalha com esse drama, nunca apelando para o lado dramático, mas sempre buscando no escape da fantasia um refúgio para o mundo.


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