Esse poderia ser mais um drama sobre judeus que sofreram os horrores do holocausto, mas vai muito além disso. Aqui a história é mais delicada e retrata um período ainda nebuloso e pouco conhecido da França. Há o holocausto sim, há também judeus sendo enviados a campo de concentrações, mas não pelas mãos do alemães e sim pelos franceses, como forma de apoio a ocupação nazista a época da Segunda Guerra.
Julia (Kristin Scott Thomas) está debatendo a pauta com seu editor e dois jornalistas. Um dos temas a serem levantados é sobre judeus deportados. Os dois jovens presentes a sala não tem conhecimento dessa história. Então ela resolve trabalhar em cima dessa reportagem. Julia tem seus 40 anos, um marido e uma filha de 16 anos e se descobre grávida novamente. O novo apartamento em que irá morar pertencia a uma dessas famílias que teve seus moradores deportados. Ela se intriga pela história da pequena Sarah (Mélusine Mayance) e seu irmão.
Em meio a essas informações, somo também levado ao passado para conhecer a história dessa garota. Quando os franceses estavam deportando todos os judeus para prisões e posteriormente para campos de concentração, Sarah na idéia de proteger seu irmão mais novo, o esconde no armário de casa. Em sua mente, ela em breve voltará, mas ao perceber que isso de fato não acontecerá, ela tentará fugir o mais rápido possível para poder salvá-lo.
Nesse meio tempo, enquanto ela tenta retornar ao seu lar, vemos Julia procurando e tentando montar esse quebra-cabeça para ao final se questionar qual o fim levou Sarah. Muitos personagens trafegaram nesse caminho e o destino não foi nada aceitável para essa pequena garota. Em cada momento de sua partida à prisão, algumas pessoas a ajudaram, demonstrando uma certa contrariedade contra os princípios nazistas, posição essa assumida pelo governo francês, pós término da guerra. Entretanto, ainda que poucas pessoas tenham tentado ajudá-la, ainda permanece a figura do estado francês como único responsável por essa barbárie.
É com essa linha que o diretor quer trabalhar. É com essa ferida que ele quer debater. Este é um tema delicado, não há registros deste acontecimento nos livros de história e poucos são os franceses que também conhecem esse fato, mas isso aconteceu. William (Aidan Quinn), personagem que aparece ao final da história, simboliza essa escolha, essa geração que não aceita esse passado e muito menos tinha conhecimento disso, mas que faz parte dessa parte da História.
O drama pesa muito a mão em todos os momentos do filme. Não há espaço para instantes de ternura, seja no passado com a pequena Sarah, seja no presente com Julia. Em falar nisso, essa personagem, apesar de fazer uma ponte entre estes dois tempos, tem um arco paralelo correndo com o filme sem muita importância com o eixo central da trama. Sua gravidez pode até fazer um sentido, mas isso não fica muito claro. É por meio dessa possível criança que virá ao mundo, que ela se questiona e toma essa reportagem tão pessoal, indo até o final, querendo realmente saber o paradeiro dessa garota.
Ao final da história, dá a entender que o diretor se perdeu no caminho, nem mesmo ele sabe onde isso vai acabar. Talvez uma falha no roteiro, mas a primeira parte do filme compensa essa desorientação e falta de rumo na parte final. Não que o desfecho seja fraco ou bom, mas não condiz com o tamanho da história criada na primeira parte da película. O diretor optou pelo caminho mais trágico e doloroso.
No elenco, Kristin Scott Thomas e a pequena Mélusine Mayance como Sarah ficam com o destaque. Outros atores que trafegam pelo filme também fazem bonito Mas o que impressiona nesse filme é a força de sua história e a garra e coragem de suas personagens em buscar o que desejam e por meio disso, fazerem o impossível e indo até o seus próprios limites, sem descanso ou sem nenhuma sombra de dúvidas sobre o que querem.
Um bom filme sobre o holocausto, mais um sobre essa história, pois afinal, o número de vitimas que se perderam nesse trágico acontecimento são inúmeras, e estas foram vidas e não apenas números. Para cada vida, há uma história para se contar.
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